23 de março de 2011

Abutres!


Bem sabemos que já voam os abutres do “interesse nacional”, mas hoje o único voto possível é aquele que chumba o austeritarismo e abre caminho à democracia. A estabilidade das nossas vidas exige a desestabilização dos vossos interesses!

Frase do dia aqui

Mónica Baptista, "a outra Senhora"

O Centro de Recursos em Conhecimento do Instituto de Segurança Social (ISS) recomenda na agenda do seu boletim, com data de dia 21, um banquete de celebração dos 122 anos do nascimento de Salazar. A sugestão remete para um site com o título “Salazar, obreiro da pátria”.

Contactada pelo PÚBLICO, a coordenadora do Centro de Recursos em Conhecimento do ISS, Mónica Baptista, explica que a agenda é feita com base em solicitações recebidas e que esta terá sido uma delas.

“São-nos enviadas informações sobre vários temas. Foi-nos enviada esta informação e divulgámos. E aquele foi o link fornecido para completar a informação. Também já divulgamos eventos de associações pró-aborto”, explica Mónica Baptista, a título de exemplo.

“Para nós não tem interesse, mas uma vez que nos foi solicitado achamos bem colocar. Estamos em democracia e as pessoas podem seleccionar aquilo que mais lhes interessa”, afirma.


através do @IvoRafaelSilva



Para os que embarcam no pensamento único

"Quer um PS? Com ou sem D?"

21 de março de 2011

Madeira: Onde as Empresas não têm trabalhadores


A Madeira é pioneira nas novas formas de trabalho e das próprias relações laborais. Na Madeira as empresas que não têm trabalhadores.

Do total das 2981 empresas instaladas na zona franca da Madeira, 2435 não possuem qualquer trabalhador declarado ao seu serviço que é cerca de 82%.

As empresas offshore em 2009 apresentaram resultados líquidos de 3,7 mil milhões de euros, mas apenas pagaram 5,9 milhões de euros em vez dos 750 milhões, taxa média de 20% como seria normal.

Mas com este PEC IV, sabemos que os pensionistas vão pagar a crise. O PS e o PDS têm dois pesos e duas medidas.


18 de março de 2011

A nova Morfologia do Trabalho: Conferência com Ricardo Antunes, na Universidade do Minho


Ricardo Antunes é um dos mais importantes especialistas na Sociologia do Trabalho dos últimos 20 anos. Professor e Investigador na Unicamp, publicou livros como o "Adeus ao Trabalho?"(1995) e "Sentidos do Trabalho" (1999). Estará na Universidade do Minho na próxima terça-feira, dia 22. A não perder!

17 de março de 2011

Não há revolução sem música

Há muito, que reflectia sobre uma questão: "Não há revolução sem música". E como a música não se ouvia... Estava longe de adivinhar em que dias iam brotar as canções que seriam apropriadas pela revolta popular: o "Parva que sou" dos Deolinda "E o povo, Pá?" dos Homens da Luta são definitivamente as mais marcantes no 12 de Março.

Esta, dos Blasted Mechanism, embora (ainda?) longe de se afirmar na linha da frente, também gostei dela... anima:



Venham mais cinco ou mais dez, que esta a revolta tem pernas para dançar!

"Eu posso dar aulas de Relações Internacionais a Maria Filomena Mónica"




Disse Maria Filomena Mónica no Público de 13 de Março: "Os promotores da manifestação de ontem [da Geração à Rasca] são todos licenciados em relações internacionais. Isto habilita-os a quê? Alguém se deu ao trabalho de olhar o conteúdo destes cursos? Os docentes que os regem sabem do que falam? Duvido."

MFM, Licenciada em Filosofia pela Universidade de Lisboa (1969), Doutorada em Sociologia pela Universidade de Oxford (1978) é investigadora-coordenadora emerita do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, é um nome incontornável nas ciências sociais contemporâneas em Portugal. Contudo, o seu curriculum não torna aceitável e até desaconselha este insulto a todas e todos os estudantes, investigadores, docentes e profissionais das Relações Internacionais.

É motivo de orgulho para as internacionalistas e os internacionalistas ter entre os seus colegas: Paula Gil, João Labrincha, Alexandre De Sousa Carvalho e António Frazão, as quatro pessoas que desencadearam um protesto que levou centenas de milhares de pessoas às ruas, por todo o país, continente, ilhas e até junto de alguns consulados e embaixadas.

Post-scriptum: Adere à comunidade do Facebook:
"Eu posso dar aulas de Relações Internacionais a Maria Filomena Mónica"

16 de março de 2011

A Madrinha Burguesa



A Moody's saúda o PEC4 e a união de facto PS-PSD, mas corta o rating português de A1 para A3 e diz que a austeridade ainda não chega. Como boa madrinha, a Moody's declara também que ou o PS e o PSD assumem a relação e se casam ou é melhor vir o FMI.

Frase do dia em
acomuna.net

Serviço Público?



Foi piada, montagem ou publicidade subliminar?

Aníbal de Boliqueime: O Cineasta Ultramarino

Já tinha postado aqui a minha opinião sobre o Aníbal e a Guerra Colonial.
As recentes e vergonhosas declarações de quem não sabe nem soube o que foi a guerra colonial, porque andava entretido a brincar aos realizadores, não surpreendem ninguém.
Os tiranetes sempre puseram e dispuseram da vida dos cidadãos com o maior desprezo.
Da minha parte já lhe estou a dar demasiado tempo de antena, mas fica a nota:
Aníbal de Boliqueime, o desprezo é mútuo.

15 de março de 2011

#Mar15

Hoje a revolução é na Síria.



Eleições?

Eleições? Belém/São Bento e Passos/Sócrates são disputas relevantes mas internas a um dos lados. O futuro joga-se entre os interesses do povo precário, à esquerda, e a governação falhada, ao centro e à direita. Crise política é não haver eleições. (também publicado aqui)

14 de março de 2011

Ai Renato, Renato...

A luta ideológica, quando feita por meras tentativas de decepar verdades, leva-nos obrigatoriamente ao caminho errado e o anelo de se provar um dogmatismo puro leva-nos à inflexibilidade de pensamento e à cegueira na argumentação. O 5 dias, na voz do Renato Teixeira, para obedecer à sua já ancestral tradição, pouco se preocupa com a verdade, com a difamação, com a falta de vergonha ou simplesmente com a forma vil e cobarde como tenta manchar imagens. Isto, claro, porque tudo serve para dizer que o Bloco de Esquerda é uma farsa. A argumentação é desnecessária, que o ódio é cego e a falta de vergonha também.

À mentira demagógica - e, diga-se de passagem, sem pés nem cabeça - publicada aqui, já o Fabian deixou a resposta da Marisa Matias e do Miguel Portas aqui.

Entretanto, o Renato vai continuar a dizer que somos maus, uma espécie de Lord Voldemort da política ou de um Dark Veder da ideologia. Se não disser que somos maus por ideias fantasiosas relativas à acção d@s eurodeputad@s, vai dizê-lo quando descobrir que o Francisco Louçã come cenouras ou que o Fernando Rosas gosta de nadar. Eu, entretanto, vou sair daqui antes que ele me venha chamar reaccionária por ter lido o Harry Potter.

Sócrates, a crise política e os mercados



Hoje Sócrates falou ao país e daqueles 17 minutos e mais qualquer coisa muita coisa (ou, no fundo, talvez nada de novo) saiu.

Uma das expressões mais utilizadas ao longo do seu discurso foi "crise política". Crise política que os outros estão a querer provocar, desde o PSD ao BE; pois bem, quer-me parecer que a crise política já foi provocada e foi pelo próprio senhor que discursou hoje, bem como pela sua aliança ao PSD, que Sócrates tanto atacou indirectamente hoje.

Esta é um dos sintomas de esquizofrenia mais graves a que eu já assisti. Por um lado, o PSD, como maior partido da oposição foi o único consultado antes da apresentação do PEC IV, como se se tratasse do único digno de tal comunicação. Por outro lado, é o mesmo PSD que Sócrates ataca como querendo provocar uma crise política; mais ainda, ataca o PSD, afirmando que ele têm na mira a vinda do FMI e das suas políticas neoliberais!!

Eu fico (quase) espantada, já que, melhor do que ninguém, Sócrates está a levar a cabo uma política de direita de forma exímia! Para quê tanto ataque ao partido que em termos ideológicos é, hoje em dia, siamês do PS?

Outra coisa que me ficou muito no ouvido deste discurso ao país foi a "confiança". Eu ainda tive esperança, até ao último minuto que Sócrates estivesse a pensar falar em dar confiança aos portugueses.....mas não!! O que Sócrates diz que conseguiu em Bruxelas "ganhar a batalha pela confiança", não dos portugueses, mas dos mercados, do BCE, da Alemanha, etc. E atenção, porque agora a Europa apoia-nos e estamos a evitar a ajuda externa e foi tudo uma vitória.

Infelizmente, tendo sempre em conta os mercados. Sócrates deixou bem claro várias coisas hoje:
1 - a confiança da Europa e dos mercados está a ser feita através do compromisso com políticas neoliberais que estão a prejudicar a maioria da população;
2- apesar do discurso algo agressivo face ao PSD, continua a ser clara a aliança entre os dois nas opções políticas tomadas;
3- Sócrates deixou, definitivamente, de pensar em Portugal (como tanto apregoa) para apenas agradar às instituições internacionais, aos mercados que nos emprestam dinheiro e que não podemos chatear e à Alemanha.

Tendo em conta este cenário, deixe-mo-nos de falinhas mansas: quem anda, de facto, a iludir e confundir os portugueses é Sócrates/PS/PSD com estas políticas que estão a destruir, lentamente, a vida d@s trabalhador@s, d@s estudantes, d@s reformad@s, d@s pensionistas, d@s precári@s, d@s desempregad@s. A política neoliberal é a escolha de um Partido Socialista (?) que já perdeu o rumo há muito tempo, a subjugação aos mercados financeiros é, também escolha do mesmo partido.

E quando escolhas destas são feitas deliberadamente nada mais resta a não ser um pingo de respeito pelo povo, principalmente depois da grande manifestação a nível nacional de dia 12 de Março, e ir de encontro às suas reivindicações!

Muito se gritou no sábado, muitas reivindicações se ouviram...no próximo sábado estaremos de novo na rua...até que estes ataques parem de vez e possamos, finalmente, dizer que estamos num país mais democrático e mais justo social e economicamente.

Estamos mesmo cheios de te ouvir Sócrates!



A mentira tem pernas curtas - Resposta dos eurodeputados do BE à infâmia de Renato Teixeira no 5dias

Sob o título BE vota a favor da intervenção da NATO na Líbia”, Renato Teixeira no blogue 5 dias decidiu promover uma infame campanha contra o Bloco de Esquerda através do ataque aos eurodeputados deste partido. Em situação normal nem comentaríamos. Mas como uma mentira mil vezes repetida faz o seu efeito, aqui vai:

1.

Na semana passada, Miguel Portas representou o grupo da Esquerda Unitária (GUE/NGL) nas negociações para uma resolução de compromisso sobre a Líbia e no debate em plenário.

Para quem não saiba, cada bancada apresenta a sua resolução e depois negoceia-se. Só se votam as resoluções de grupo se não existir compromisso ou este for chumbado. No caso da Líbia, o problema nem se punha: por razões diferentes, todas as bancadas procuraram um compromisso.

2.

A maioria dos grupos - conservadores, direita tradicional, liberais e verdes – queriam que a resolução defendesse explicitamente uma zona de exclusão aérea independentemente de um mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas e da especificação dos contornos dessa putativa decisão. Por outras palavras, existia uma razoável maioria no Parlamento Europeu para aprovar uma moção intervencionista a menos de 24 horas de um Conselho Europeu que iria decidir sobre o assunto. A importância desta Resolução decorria precisamente de poder ser usada como meio de pressão pelos governos que defendiam a intervenção.

3.

O GUE/NGL era o único grupo parlamentar com uma posição contrária à criação de uma zona de exclusão aérea. Os socialistas, por seu lado, encontravam-se divididos. Por isso propuseram uma redacção cautelosa: a zona de exclusão foi apresentada como “possibilidade” e não como “exigência” e subordinada a um objectivo estrito – “impedir o regime de atacar a população civil”. O parágrafo impunha ainda que esta eventual medida fosse “conforme com um mandato das Nações Unidas”, e que devia “assentar numa coordenação com a Liga Árabe e a União Africana (...) que deveriam conduzir os esforços internacionais”.

Entre esta posição – a que constou do compromisso final - e a defesa de uma intervenção militar da NATO, não é difícil descortinar as diferenças. A sério, é a que mede a distância entre a verdade e a calúnia; a brincar, é a que mede a fértil imaginação de alguém que acorda diariamente com uma única obsessão: “como é que eu, Renato, os vou tramar hoje”?

4.

Em face da concreta relação de forças na mesa de negociação, ou a esquerda se desinteressava do assunto – e o resultado mais do que provável seria um parágrafo imposto pelas forças mais à direita, neste caso com apoio dos verdes - ou procurava segurar e melhorar a versão proposta pelos socialistas.

Foi com pleno sentido das responsabilidades que o Miguel Portas optou pelo segundo caminho. O condicionamento da hipótese desejada pela maioria do Parlamento, sujeitando-a a um mandato do Conselho de Segurança, nada tinha de ingénuo. Com efeito, é público que a China, a Rússia e vários governos europeus preferem, de momento, a prudência à aventura.

Se a nossa preocupação fosse simplesmente ideológica e propagandística, o voto não apresentava dificuldade. Mas se o objectivo fosse, como foi, dificultar a instrumentalização do Parlamento em favor de uma operação de contornos mais do que imprecisos e decidida à margem das Nações Unidas, então a táctica que seguimos foi acertada.

5.

Esta decisão impunha, contudo, uma medida adicional obtida nas negociações – garantir uma votação electrónica separada para o parágrafo em questão. Com esta salvaguarda, a esquerda podia deixar bem clara a sua oposição à possibilidade de uma zona de exclusão aérea. Foi o que aconteceu. Ambos votámos contra esse parágrafo, aliás como a grande maioria da bancada. E foi porque o fizemos que pudemos, simultaneamente, dar um voto favorável a uma resolução que condicionava fortemente a possibilidade de uma medida desta natureza.

6.

Podíamos ficar por aqui, mas há mais duas ou três coisas que nos ocorre dizer em face da insultuosa campanha que está em curso. A primeira: o bloco não tem, nunca teve, uma posição de princípio contra intervenções de natureza militar sob mandato da ONU. Já as defendemos em situações de genocídio ou espiral de massacres. A segunda: uma das razões porque fomos contra a possibilidade de criação de uma zona de exclusão aérea é porque o parágrafo não esclarecia o que se queria dizer com isso. Com efeito, uma zona de exclusão aérea tradicional, aplicada a toda a Líbia, impõe, devido às dimensões do país, a destruição das posições anti-aéreas no terreno. Contra esta opção seremos sempre. Mas existe outra variante de “exclusão aérea”, reivindicada pelo levantamento popular armado e pela Liga Árabe: que a comunidade internacional impeça, por meios militares, qualquer tentativa de bombardeamento das cidades sublevadas pela força aérea do ditador. Se a situação se degradar e Kadafi optar pelo massacre da insurgência e das populações civis, esta possibilidade não deve ser posta de lado.

É que há momentos em que o pseudo-pacifismo de quem nunca foi pacifista se confunde perigosamente com a defesa do ditador. Esta atitude não é mais nem menos cínica do que a dos governos europeus que, debitando loas aos Direitos Humanos, apoiaram durante anos a clique de Kadafi. Sinceramente, para peditórios de cinismo é que já demos mesmo.

Miguel Portas e Marisa Matias

Sócrates ou o drama das oito da noite



O Zé que não faz falta ao país, prepara-se, à luz da concertação do espectro mediático para fazer uma declaração aos seus (in)subordinados à hora do costume.

Afinal que messianica declaração será esta? Será que vai apanhar de surpresa o Zé Povinho, que por essa altura até se poderá engasgar algures a meias entre uma lasca de bacalhau e a couve cozida...

Vamos lá ver os cenários:

1 - Vamos apenas assistir a um discurso estadonovista em que Sócrates pede a todos coragem para ultrapassar esta fase e deixa ainda as chantagens ao povo e à oposição no sentido de que se as (novas) medidas de austeridade (vulgo PEC IV) não forem aprovadas estamos tramados e o país será invadido pelo exército franco-germânico e anexado pela Espanha. Nota: Sócrates fará a sua entrada na sala de S. Bento com meia casca de ovo na cabeça como forma de inspiração.

2 - Perante a escalada dos juros da dívida pública não restou outra alternativa ao Conselho de Ministros reunidos esta tarde senão recorrer ao Fundo de Estabilidade Europeu. Será que vamos ter um Sócrates sem a sua capa de arrogância e admitir a falência das suas políticas e estratégias? Naaa...

3 - Sócrates é forçado institucionalmente a demitir-se por quebra protocolar por não ter notificado o Presidente da República nem a oposição das novas medidas de austeridade. Ai, coitadinho de mim, estava em Bruxelas, não podia, blá blá blá... mas ao menos avisei o meu irmão gémeo político Passos Coelho por telefone.

4 e 5 - Deixa cá ver quem é que eu vou entalar -pensa Sócrates, sentado no sofá da sua sala escura enquanto faz festinhas a um gato branco aninhado no seu colo

4 - Entalar Cavaco - Sócrates dirige-se aos jornalistas com ar apreensivo e decidido. O momento é histórico e a tensão na sala adensa-se. Tomando a palavra, coloca novamente a meia casca de ovo na nuca e avança informando os portugueses que o mundo está contra o governo, a crise está contra o governo, as agências de rating estão contra o governo, os números estão contra o governos, os jovens estão contra o governo e os trabalhadores estão contra o governo. Por isso demite-se e deixa Cavaco entalado. Quem decide agora passa a ser o Presidente da República. A próxima jogada do xadrez político é do PR, mas do outro lado, Sócrates tem xeque-mate em duas jogadas. Que faz Cavaco? Age em conformidade com o seu discurso de recandidatura e assina a demissão do Primeiro Ministro ou por outro lado não tem coragem e tenta a negociação pacífica em nome da estabilidade política e do país?
Objectivo cumprido: Sócrates sai como herói após cumprir o seu dever de renúncia perante a vontade popular mas sai por culpa e acção do sanguinário ancião da direita. Talvez seja a melhor estratégia para tentar capitalizar no discurso para futuras eleições enquanto ainda há alguma margem de manobra nas sondagens. Será que ainda a há na rua?

5 - Entalar Passos Coelho - Sócrates entra concentrado mas descontraído na sala. De imediato a tensão na sala dissipa-se um pouco. O nosso primeiro afirma que a estabilidade governativa está em causa e que vai apresentar na Assembleia da República de imediato uma moção de confiança. Hey!! Então nas o partido do governo não está em minoria na AR? Está, mas a ideia é essa. É forçar o PSD a engolir em seco e votar ao lado da moção de confiança ou então mostrar ao país a sua ânsia de poder, chumbar a moção e tornarem-se assim os verdadeiros responsáveis aos olhos do povo incauto da queda do governo e desta crise política que na realidade seria apenas da responsabilidade de Sócrates.

Qual é a vossa aposta?

13 de março de 2011

O que dizer agora a este povo que vimos a lutar 2



Antes de mais importa-nos reconhecer isto: que ir à rua exigir medidas de combate ao desemprego e à precariedade não significa necessariamente eleger as soluções da esquerda para estes problemas. A direita também tem a sua agenda de respostas para o desemprego e a precariedade, e o que nos importa agora é desconstruí-la e expô-la não só como uma não-solução, mas como a principal causa da situação actual.

É importante estarmos cientes de que CDS e PSD vão a partir de agora explorar ao máximo a retórica do “há limites para os sacrifícios que se podem pedir ao comum dos cidadãos” para, por um lado, envolverem o seu já mais que conhecido programa de precarização do trabalho e da protecção social com o papel de embrulho brilhante do novo e a etiqueta de “reformas estruturais”, e para, por outro lado, se demarcarem da colagem ao governo, feita nas aprovações dos PECs e OE e sublinhada com moção de censura apresentada pelo Bloco. A interminável declaração de Passos Coelho ontem sobre não apoiar mais pacotes de austeridade antecipa uma estratégia liberal de capitalizar simpatia entre a Geração à Rasca.

O desafio da esquerda passará pela desconstrução do discurso da direita sobre o emprego: que mais flexibilidade nos contratos e nos horários e menos custos com o trabalho e com os despedimentos aumentaria os incentivos à contratação e diminuiria o recurso a vínculos precários como os falsos recibos verdes.

A sustentar o discurso de que, num contexto em que medidas de austeridade comprimem a procura, as perspectivas de retorno do investimento em produção não são propriamente motivadoras da criação de emprego, e de que, neste sentido, num contexto de procura de emprego deprimida, a flexibilização da legislação laboral e facilitação dos despedimentos tem como consequência o aumento do desemprego, não faltam exemplos.

Em alternativa, deve ser banalizado – com tanta exaustão como a direita (PS incluído) banalizará a retórica do “mais barato despedir = mais emprego” – o discurso de que “mais rendimento disponível = mais emprego”, quer dizer, de que tornar antecipável um aumento do rendimento disponível das famílias, tanto por via directa (pela valorização dos salários), como por via indirecta (pela provisão pública gratuita de saúde e educação) - e, por conseguinte, do nível de consumo -, juntamente com políticas de crédito que privilegiem o investimento produtivo, estimula a procura de trabalho.

Ao povo que vimos ontem a lutar por mais e melhor trabalho a esquerda deve articular os três pilares fundamentais desta economia política orientada para o pleno emprego: i) o trabalho estável e com direitos, ii) o Estado Social e iii) orientação pública do investimento, por via de políticas industriais e políticas públicas de crédito da parte da CGD.

O que dizer agora a este povo que vimos a lutar 1


Ontem, entre mais de 300 mil pessoas que se manifestaram por todo o país, tod@s teremos visto amig@s ou familiares ou vizinh@s ou colegas, caras conhecidas de outros contextos mais e menos próximos de activismos. Quantas vezes pensámos ontem “est@ também está aqui?!”? Quantas vezes cumprimentámos alguém que não víamos há muito, muito tempo?, ou com quem sempre nos pegámos nas discussões de café por pensar de forma completamente oposta à nossa?, ou que fazia sempre cara de enfado a qualquer “politiquice”?, ou que sempre disse que nunca ia a nada destas coisas porque não vale a pena, não muda nada?...

E hoje no facebook vi outra tanta gente que não encontrei no protesto publicar fotografias suas lá pelo meio. Eu e muita gente vimos muita, mesmo muita gente a lutar.

O que dizer agora aos improváveis, aos “est@-também-está-aqui?!” e aos que “nunca-vão-a-estas-coisas-porque-não-vale-a-pena”? Esta é a pergunta que importa colocar ao debate, para dar direcção a um fenómeno único, não só pela sua dimensão quantitativa e sua descentralização (50 a 80 mil pessoas no Porto e 6 mil pessoas em Faro são números impressionantes), mas sobretudo pela revolução que significou não só para as formas institucionais reinvindicativas vigentes, como para o processo de formação de uma identidade colectiva de classe trabalhadora em contexto de precarização laboral.

Sem sindicatos nem partidos, mais de 300 mil pessoas juntaram-se em torno de bandeiras várias: mulheres, imigrantes, estudantes endividados junto dos bancos, artistas, estagiári@s não remunerad@s, recibos verdes, etc. E ontem um passo gigantesco foi dado no sentido da superação da atomização e isolamento do indivíduo na sociedade com que a precarização do trabalho e os motes de flexibilidade e empreendedorismo sabotam identidades colectivas e futuros desejados em comum. Ontem começámos a ver que Karl Polanyi tinha mesmo razão, que esse é um processo que não está completo sem o duplo movimento pelo qual a sociedade reage para se proteger dos efeitos nocivos dessa desagregação social decorrente da mercadorização do trabalho.

“O laissez-faire foi planeado; o planeamento não”[1], escreveu Polanyi sobre este duplo movimento. Quer dizer, o trabalho mercadoria é uma construção institucional programada e orientada pela agenda liberal do mercado laboral perfeito (isto é, em que é apenas a lei da procura e da oferta a determinar o preço e o volume do emprego, sem “contaminações institucionais” como contratações colectivas ou protecção social), ao passo que a reacção social ao desmantelamento de estruturas que, sendo não-mercantis, são o sustentáculo do funcionamento das leis de mercado numa sociedade é, primeiramente, instintiva e amorfa do ponto de vista conceptual ou ideológico.

A precariedade é produto de uma estratégia bem pensada; a Geração à Rasca precisa agora de encontrar a sua. O que tem uma esquerda socialista a dizer-lhe?


[1] Polanyi, K., A Grande Transformação

O primeiro dia do resto da nossa vida

A voz activa, de todos os que estiveram ontem na rua, deixou uma mensagem clara: são mais que um recibo, que um número estatístico, que um processo na Segurança-Social, nos Serviços de Acção Social ou nas Finanças e acima de tudo, bem mais que uma despesa corrente do aparelho de Estado.

Hoje no Esquerda.net

Uma geração pode acordar um povo? II

10 de março de 2011

da paciência do comum dos cidadãos, que também tem limites


“Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos”

É a frase épica que hoje ecoa do discurso de tomada de posse de Cavaco Silva nas bocas da direita, de Passos Coelho a Paulo Portas. O que querem dizer exactamente com ela das duas uma, ou é um insulto ao tal comum dos cidadãos, ou então – o que é igualmente provável, porque nunca é de subvalorizar a estupidez humana – nem eles sabem bem ao certo.

A minha teoria é que alguém dos gabinetes de comunicação do PSD e do CDS percebeu com isto da Geração à Rasca que a formulação estilo “a-malta-está-farta” até funciona e mobiliza. Só que este “Há Limites” do trio Cavaco, Passos Coelho e Paulo Portas nunca pode aspirar a ser mais do que só um cover direitoso mau da “geração à rasca”, porque esquece um pormenor fundamental, a saber, aquilo de que “a malta” e o comum dos cidadãos estão fartos.

Ao mesmo tempo que o single “Há Limites” vai começando a tocar na comunicação social, a Visão de hoje dá conta do projecto que o PSD tem para respeitar esses limites aos sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.

Para Passos Coelho, o comum dos cidadãos deve, acima de tudo, ter menos protecção no emprego (vínculos e horários mais flexíveis e despedimentos mais baratos), menos protecção no desemprego (com menos prestações sociais e de acesso mais restrito) e menos rendimento disponível, não só porque se reduzem os pagamentos por trabalho aos fins-de-semana e feriados e, se precisarem muito, as empresas podem reduzir os salários durante alguns meses, como lhes der jeito, mas ainda porque saúde e educação devem ser privatizadas.

No manual Passos Coelho, o comum dos cidadãos, se por acaso tiver o azar de viver em certas zonas do país, pode não ter acesso a um posto de correio ou a um centro de saúde, por exemplo, e isto na melhor das hipóteses, porque até pode acontecer que a sua junta de freguesia seja extinta, porque a coesão territorial passa a ser decidida, não por requisitos igualitários decorrentes do contrato social democrático, mas por critérios economicistas num país-empresa. E também corre o risco de ter o seu distrito sub-representado no debate parlamentar, com a redução do número de deputados com que o manual Passos Coelho quer amputar a democracia para poupar uns trocos.

E a justiça que é oferecida pelo PSD ao comum dos cidadãos é uma mercadoria aviada por juízes mercenários que ganham tanto mais quanto mais depressa despacharem a coisa (e não é muito difícil imaginar de que forma é que isto vem agravar o já desigual acesso à justiça).

E há-de continuar a pagar os rombos financeiros abertos pelo sistema financeiro, quer suportando uma carga tributária sobre os seus rendimentos que continuará a ser desproporcionada face àquela que incide sobre este sector, quer sendo forçado a endividar-se junto deste em função do recuo do Estado Social na educação, saúde e segurança social.

Porque até pode haver limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos mas, para a direita, apesar de tudo, eles são infinitamente mais elásticos do que os limites aos sacrifícios que se podem pedir ao capital.

O novo "velho" presidente

9 de Março de 2011 marca a tomada de posse de Cavaco Silva para o seu segundo mandato como Presidente da República. Do seu discurso digno de muitas notas, apenas três usarei para tecer o meu comentário a tão excelso senhor que ficará mais cinco anos a conduzir o país com o seu leme sempre tendencioso para aquilo que é a sua génese, a direita. Numa primeira citação Cavaco Silva diz: "Portugal vive uma situação de emergência económica e financeira, que é já também uma situação de emergência social." Ora a sua análise está correcta, até ai nada a apontar Sr. Presidente. Mas não terá sido Cavaco Silva quem iniciou o processo de privatizações? Quem fez com que os alunos do Ensino Superior tivessem de pagar propinas? Não terão essas medidas contribuido para que a situação do país se tenha degradado? A "Geração à Rasca" estudava nas universidades quando Cavaco Silva governava a seu belo prazer o país, pois é essa geração que no Sábado dia 12 vai sair à rua para demonstrar o quão enrascada ficou com tantos anos de "cavaquismo", seguidos é claro por muitos outros que gostaram tanto do exemplo que o seguiram e ainda fizeram pior. A situação de emergência social existe, e não foi no dia da tomada de posse que ela apareceu, muito menos durante a campanha em que se subia a carros e se esticavam os braços. A emergência social está cá com o Decreto Lei 70/2010 que retira o apoio às famílias, está cá cada vez que a subida dos salários não corresponde às verdadeiras necessidades das pessoas. Está cá cada vez que existe mais um sem abrigo, cada vez que uma pessoas perde o emprego, que é precarizada, que os estudantes perdem as suas bolsas e abandonam o Ensino Superior, está cá quando os reformado não recebem o suficiente para terem um resto de vida digno. Isto é a emergência social, e não é de agora.

Que bem ficava agora a outra citação: " Portugal vive numa situação particularmente difícil". Pois claro que vive. Como poderia um país onde os salários da função pública são reduzidos viver numa situação fácil? Não me parece que ao retirarem poder de compra ao mesmo tempo que o preço dos bens aumenta seja facilitar a vida a alguém. A dificuldade está no aumento do número de desempregados, no número de precários, no número de falsos recibos verdes, sem falar dos que não estão contabilizados. Bem, os 150 mil postos de trabalho propostos por Sócrates ainda não apareceram, aliás foram desaparecendo em contratos precários e em desemprego. Realmente Sr. Presidente, que situação difícil, ter de viver com pouco ou quase nada e ainda ter de apertar mais. Para mostrar que a emergência social não é de agora, do dia 9 de Março, da pompa e circunstância, o Primeiro Ministro Durão Barroso avisava para que se fosse apertando o cinto que isto ia melhorar. O cinto foi apertando e apertando, e para apertar aceitaram-se contratos de trabalho precários, foi-se saindo das universidades, foi-se deixando de trabalhar. Era a obrigação de apertar o cinto. Parece-me que o cinto não tem mais furos, não dá para apertar mais, ai que o cinto vai ficar à rasca também. E a particularidade da situação difícil reve-se nos 770 mil desempregados, que curiosamente vão ter de deixar de contar com o apoio do Estado, que tem de cortar na despesa não vá a Sra. Merkel ficar chateada e nos expulse do Euro, parece que assim o empreendedorismo de cada um é que vai safar a situação. Não me parece que assim seja.

Para última citação em análise deixo esta "...extremamente positivo que os jovens se assuimissem como protagonistas da mudança...". Os jovens que levaram bastonadas na Ponte 25 de Abril? Os jovens que hoje estão sem bolsa? Os jovens que não têm emprego? Se não são estes jovens, então que jovens serão? Queremos uma mudança sim, mas não a mudança que nos tentam impor todos os dias. Não queremos estágios não remunerados, não queremos ter de pedir empréstimos para estudar, empréstimos esses que provavelmente não vamos conseguir pagar. O que parece é que quem está desfasado da realidade é o Sr. Presidente Cavaco Silva. Quem não está a ver o que se passa à sua volta. Era bom que essa percepção surgisse no dia 12 de Março, e que surgisse outra vez dia 19, os protestos contra este desgoverno vão continuar. Cito agora a nova música de intervenção que corre pelo mundo de todas as pessoas que no Sábado se vão manifestar: "Que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar."

Sim, a parvoíce vem do exemplo de quem não percebe as reais necessidades das pessoas que querem estudar, trabalhar, ter uma reforma, no fundo querem ter uma vida que é aquilo que Cavaco Silva foi tirando e que Sócrates continua a tirar com o seu apoio.
Dia 12 vamos à luta.

9 de março de 2011

a sabedoria do FMI

Bosses e Wirepullers

José Lello é um case study que nos permite compreender melhor como os partidos continuam a funcionar em circuito fechado. Citando Robert Michels, um dos maiores autores clássicos especializados no estudo dos partidos políticos em democracia, José Lello faz parte "de um exército de dirigentes intermédios ou inferiores profissionalizados – os chamados bosses e wirepullers [literalmente: "os que manobram os fios", isto é, os "intriguistas") –, sem qualquer aprofundamento teórico a guiar a sua acção, mas sob as ordens de um dirigente superior com talento estratégico".
A obra fundamental de Robert Michels – "Para Uma Sociologia dos Partidos Políticos na Democracia Moderna. Investigação sobre as Tendências Oligárquicas dos Agrupamentos Políticos» – foi publicada pela primeira vez em 1910, mas só em 2001 foi traduzida e editada em português.
Cem anos passados, a sua actualidade continua impressionante. Michels apresenta-nos inúmeros exemplos do modo como a direcção das grandes máquinas políticas é progressivamente açambarcada por uma classe profissional que vai afastando paulatinamente os militantes.


Um bom artigo do Alfredo Barroso e um bom livro do Robert Michels, passe o sacrilégio ideológico.
Para quem se interessa pelo estudo dos partidos políticos sugiro também a obra "A Fórmula do Poder" de Sandra Balão, esta dedicada ao pensamento de Ostrogorsky.

8 de março de 2011

Adivinha quem veio para jantar

A escola Moniz/Sá Ferreira e Homens da Luta começa a dar frutos em termos de acção directa.


Entre-linhas

Movimento Geração à Rasca interrompe discurso de Sócrates

Um dos factores importantes que têm pautado a mobilização da (descentralizada, ainda bem) Manifestação da Geração à Rasca é a capacidade de unir pessoas contra a realidade de uma condição laboral e de uma realidade nacional (inegável, digam o que disserem as Isabéis Stilwells).

Deixo, então, uma pseudo-análise sobre a curtíssima notícia do Público sobre uma acção durante uma apresentação da moção política de José Sócrates:

"José Sócrates apenas tinha tido tempo para fazer os agradecimentos quando os jovens, munidos de um megafone"...
> Portanto, não lhe deram tempo para falar.

"...lamentou aos jornalistas Paulo Agante, do movimento, que agendou para sábado uma manifestação anti-Governo."
> Não está em escrito em qualquer sítio do Manifesto tornado público pela organização.

Obrigado Público. Na vanguarda por tornar claro aquilo que parece ser necessário. Escuso perguntar para quem. "Ups".

PS: A crítica ao Público é dupla, porque é também deriva da "comidela" acrítica das notícias da LUSA. Passem, aos responsáveis, a palavra do 'Senhor': "Protestamos por uma solução e queremos ser parte dela." (Manifesto da Geração à Rasca)

8 de Março: nem tudo são rosas


"De acordo com o Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA) neste último ano contam-se 43 vítimas mortais perfazendo um total nos últimos 7 anos de 250 femicídios. Estes números alarmantes exigem medidas políticas e sociais urgentes baseadas numa reflexão profunda sobre este fenómeno que atenta contra a humanidade e que anualmente põe termo à vida de várias dezenas de mulheres. A OMA denuncia um aumento de femicídios de 2009 para 2010 com 29 mortes contabilizadas em 2009 para as 43 anteriormente referidas no ano de 2010. Sem dúvida, um aumento sintomático de que as políticas tomadas não revelam efectividade ou não são devidamente cumpridas. Infelizmente, as denúncias levadas a cabo pelas vítimas junto dos organismos de segurança pública parecem não ser consideradas resultando inevitávelmente num crime cruel que poderia ser evitado. Também é relevante salientar que algumas das mulheres vítimas de femicídio já não se encontravam a residir com os agressores, o que implica que tenham sido vítimas também de perseguição e mesmo assim é comum responsabilizar a vítima pela sua morte e pelo desfecho trágico a que a sociedade e governo a condenam. (...)"

Artigo de Marta Cantanhede, publicado aqui

7 de março de 2011

Adeus ZéDu



Hoje é dia de manifestar o nosso apoio para com o povo Angolano que se expressa contra a Cleptocracia da La Famiglia Dos Santos.

aqui

3 de março de 2011

As realidades não são estáticas

"O progresso não é senão a realização das utopias."


(Oscar Wilde)


Essa ideia corrente que se espalha e multiplica, e que é construída voluntariamente e serve a alguém, de que é impossível conceber e construir mais do que os limites da realidade, é uma ideia permeável no senso comum que parte do pressuposto estrutural de que a realidade é a inevitabilidade do hoje e do agora. É a ideia de que é impossível conceber algo para lá de determinadas barreiras e muros. É a ideia, na prática, de que há aspectos da nossa vida que têm de ser assim e não há mais possibilidades, a ideia de que a desigualdade é inevitável porque “sempre existiu”, a ideia de que sempre fomos e seremos naturalmente “egoístas” e “gananciosos” e que não há espaço para pensar algo fora desse prisma, a ideia que perante o que está mal o único espaço político é o que está menos mal, a ideia de que a luta por uma vida melhor é utópica (no seu sentido burguês) e que portanto nos temos de contentar ao que temos, ainda que seja possível alterarmos pequenas coisas, a ideia da rejeição de qualquer proposta avançada por ser idealista (no seu sentido burguês) tendo em conta a nossa “realidade”, a ideia de que o socialismo é algo desfasado da realidade.

Esta ideia, ou ideias, que ouvimos e que se sentem quando sentimos a permeabilidade social da “inevitabilidade” é uma ideia que estrutura o discurso dos dominantes, que cultiva o conformismo e que tem um papel muito importante no sistema: a dominação ideológica. A produção e reprodução deste discurso é uma arma fortíssima que a burguesia tem nas mãos e que é tão difícil para a Esquerda desconstruir (até em nós mesmos) quando trabalhamos com pessoas. É por isso que os dominantes temem tanto as revoltas e revoluções do Magrebe.

No Egipto, mas também nos locais que os Mass Média deliberadamente esqueceram, na Tunísia, na Jordânia, no Iémen, na Argélia, em Marrocos, na Líbia, na Palestina e no Irão, esse discurso ideológico está a ser completamente desmontado. Assim como os donos dos escravos desde o Iluminismo para cá perderam a hegemonia do discurso da inevitabilidade da escravatura, assim como no século XIX o discurso da burguesia industrial da inevitabilidade da exploração caiu às mãos das grandes transformações operárias tidas como inconcebíveis, assim como se perdeu no vazio o discurso da segregação racial, assim como caiu o discurso da impossibilidade de os Estados terem serviços públicos que sejam uma garantia da igualdade e da democracia, também nestas revoltas (que já não são apenas no Magrebe, mas que ainda não são do mundo árabe) provam de que a realidade nunca é estática, a realidade está nas mãos das pessoas que a tentam transformar e que decidem em certos períodos históricos (como o nosso) tomar a sua realidade nas suas mãos e transformar essa construção ideológica de que “isto é como é” em mísero pó!

Isto não “é como é”, isto é “aquilo que nós queiramos que isto seja” essa é a transformação do discurso que tanta assusta os dominantes da nossa história e do nosso presente. Mas estas revoltas também têm uma lição para nos dar, a nós, comunistas: a única característica que podemos ter como certa sobre uma determinada sociedade é a de que qualquer sociedade é imprevisível. E é aí que o comunismo é tão rico: na possibilidade de olhar para o real desconstruindo as relações de força, tendo a capacidade de fazer da imprevisibilidade uma oportunidade estratégica, uma guia para acção.

Os povos do Magrebe, assim como os povos de todas as partes do Mundo têm nas suas mãos o seu maior trunfo: a sua realidade!

João Mineiro

Públicado na segunda Tribuna da Conferência da UDP - Asociação Política.

O Anti-Duque




Lembrando o Artur Portela, cada jornal tem o João Duque que merece, acontece que o do Expresso chama-se, precisamente, João Duque. O emérito professor, presidente do ISEG, veio para durar no discurso económico português. Como todo o bom economista, a política é o seu campo de batalha, os trabalhadores a sua mira, a burguesia a sua paixão. João Duque percebe muito da polaridade das coisas, sente o rumo da maré antes mesmo dela se levantar. Os seus avisos são feitos com seriedade, seriedade de quem conhece as soluções. Em Novembro, João Duque avisou, “não façam greve”, “o país caminha para a falência”. Três milhões de pessoas contrariaram-no, mas esse facto não alterou o seu entendimento das coisas. Entendimento catedrático, registe-se bem.

No último sábado, da sua tribuna no Expresso, João Duque lançou a sua erudição contra a “geração Deolinda.” O eixo de ataque é o mesmo dos outros, os Lombas e Fernandes: a confrontação geracional. Para Duque o problema da geração Deolinda é realmente geracional (pelo nome era difícil lá chegar), mas Duque inverte a premissa do discurso e carrega no sofrimento e sacrifício das gerações passadas. Nós, os novos, somos a “geração Erasmus”, que fomos “levados de carro à escola”, que nos queixamos da “falta de estacionamento”, que levamos as “namoradas a casa”, enquanto antigamente é que a coisa era a doer. Eles, os velhos, iam a “pé para a escola”, faziam “16 meses de serviço militar”, não tinham “acesso à universidade”, e levar a namorada a casa nem em sonhos.

Nestes tempos de confusão é um alívio contar com mentes como a de João Duque. Ele desfaz ilusões, recoloca no trilho a crítica desencontrada da direita, sabe que culpabilizar os direitos de quem tem salários de 700 euros, reformas de 200 e uma conta cheia de nada nos bancos é um convite à união, a da geração que amargou os ditames da ditadura com a dos seus filhos que agora se organizam. Imaginem a dificuldade de conter tal associação de interesses. Duque não o permitiria, e por isso põe as coisas no seu lugar, as regalias são as da geração à rasca que não percebem que a vida é difícil e que tudo isto já foi pior. Aproveitem enquanto podem, os amassos no sofá da sala, o doce poder do volante, o semestre lá fora.

O vosso futuro é duro, e é assim que tem de ser.

2 de março de 2011

1 de março de 2011

Dignidade

"Existem hoje duas classes: a dominante e a que se deixa dominar, seja pela força da propaganda ou pela força das armas."

“Os Poderes Criativos de uma Civilização Livre” - parte 2: A ciência da escolha


Lionel Robbins: [a economia é a] “ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos”


O Público dava ontem conta de outro bom exemplo da exploração oportunista dos limites institucionais existentes, que é a essência da ordem económica neoliberal.

Muitas empresas têm iniciado processos judiciais e apresentado queixas nas associações empresariais e na Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) no seguimento de perdas gigantescas, associadas a produtos financeiros vendidos por alguns bancos (sobretudo o Santander).

Estes produtos, contratos de permuta (swaps) de taxas de juro, constam de um acordo estabelecido entre duas partes, digamos uma empresa qualquer e o Santander, que funciona assim: esta empresa tem um determinado montante de dívida, fruto de um empréstimo qualquer que tenha contraído, por exemplo, e, para se proteger de eventuais subidas nas taxas de juros de referência (que aumentariam os seus encargos com essa dívida), ela compra ao Santander um produto financeiro que “troca” a taxa indexada (variável) por uma taxa fixa. Na troca, a empresa acorda pagar uma taxa fixa, em contrapartida recebe a taxa variável, indexada à taxa de juro de referência (Euribor).


Quer dizer que a empresa lucra se essas taxas subirem acima de determinado valor e perde se elas descerem abaixo desse nível contratado.


Segundo a teoria convencional – e segundo o Santander – as empresas que compraram estes produtos financeiros, e que perderam milhões desde que as taxas de referência desceram a pique a partir de Setembro de 2008, tinham à sua disposição toda a informação necessária à tomada de decisão.

Mas à “ciência da escolha” destas empresas faltou muito provavelmente a informação de que o BCE desceria a taxa de juro de referência alguns dias depois de contratualizarem estes swaps com o Santander (em muito melhor posição, evidentemente, para antecipar esta situação), como dá conta o Jornal de Negócios. E na “ciência da escolha” destas empresas, também entrou, por outro lado, as avaliações das suas necessidades e perfis de risco feitas pelos vendedores destes produtos, e nas quais elas confiaram.

A escolha começa a parecer-nos ter muito pouco de científica, mas é importante lembrar que, segundo a teoria neoliberal, o Santander limitou-se a pôr em prática o postulado do agente empreendedor que tira o máximo partido do seu conhecimento particular (sim, das assimetrias de informação também; não faz mal, que tudo há-de correr pelo melhor) e do campo de possibilidades aberto pelos arranjos institucionais existentes.

Teoricamente, e para informação dos que decidem desses arranjos institucionais, esta criatividade dos agentes libertos de constrangimentos regulatórios dinamizaria a inovação e estimularia o crescimento económico. Na prática vemos que é só a predação do sector financeiro improdutivo sobre a economia real a hipotecar o seu futuro.

Celebrar o passado olhando para o futuro

No dia em que o Bloco de Esquerda faz 12 anos chegamos à conclusão de que a luta de esquerda pela defesa dos direitos sociais é cada vez mais necessária e, neste momento, não há dúvida de que o BE esteve, está e continuará a estar empenhado nesta luta.

Poderia fazer uma retrospectiva de todas as lutas importantes feitas até hoje, mas a necessidade de olhar para o futuro torna-se cada vez mais urgente a cada dia que passa. Hoje é o dia em que a vontade de atacar ainda mais os trabalhadores foi anunciada por Sócrates[i]. Percebe-se que não há limites para o ataque social que já atingiu grandes proporções, em que a bem da “estabilidade” e da “credibilidade” do país, tudo será feito para atingir um défice de 4,7%.

Depois de 3 PEC’s sucessivos e de um Orçamento de Estado que deixam de rastos o Estado social mas acima de tudo, todos nós, parece que tudo isso pode não ser suficiente, e o Governo vai ter que voltar a atacar os trabalhadores, os precários, os reformados, os estudantes, os desempregados. Mas será que há mais alguma coisa para atacar neste campo? Os vínculos precários aumentam, os estudantes têm menos bolsas e propinas de 1000€, os desempregados estão cada vez mais desprotegidos e com maior dificuldade em encontrar emprego, os direitos dos trabalhadores estão a ser alvo de remodelações profundas e que beneficiam as empresas e o capital.

E a pergunta mais lógica mantém-se sem respostas práticas: porquê a escolha de continuar a não tomar medidas políticas de esquerda, fortes e decididas a ir buscar o dinheiro onde ele está? Porque já há muito que este governo não é de esquerda e a falta de vontade política de fazer frente ao grande capital é cada vez mais visível.

(...)

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Porque a censura também se faz na rua, a moção de censura do BE permite a agilização entre parlamento e movimentação social, algo que já está a ser conseguido. E eu pergunto: então valeu ou não valeu a pena apresentar esta moção? Valeu e voltou a demonstrar que o Bloco de Esquerda continua fiel a si mesmo, lutando na Assembleia da República e nas ruas contra as políticas neoliberais de direita, que a cada dia que passam se descridibilizam aos olhos do povo. O momento político é favorável à luta social e o Bloco de Esquerda não se vai demitir do papel que sempre teve na luta social.

“A última conclusão é também um compromisso dos signatáris: chegou a hora de convocar quantos partilhem o essencial destes pontos de vista para uma nova iniciativa política, um Bloco de Esquerda capaz de ser portador de propostas fortes e se assuma como sinal de esperança. O nosso projecto inscreve-se nessa luta urgente para abrir caminhos e faz parte de um projecto de civilização que constitui a modernidade da esquerda.”[iv]

Isto foi escrito há 12 anos. Os caminhos foram abertos e o Bloco está a caminhá-los, com segurança, à esquerda e com o objectivo de alcançar tudo a que se propõs. E a cada dia que passa estamos mais perto disso!



O resto do artigo encontra-se em acomuna-net

Horas de vida(s)




Os trabalhadores da Transtejo estão em greve às horas extraordinárias e os professores protestam conta a batota no cálculo das mesmas. Entretanto o governo já recuou na retenção das horas dos médicos. Não se pode baixar os braços perante as várias formas de roubar as horas da nossa vida.

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