3 de março de 2011

O Anti-Duque




Lembrando o Artur Portela, cada jornal tem o João Duque que merece, acontece que o do Expresso chama-se, precisamente, João Duque. O emérito professor, presidente do ISEG, veio para durar no discurso económico português. Como todo o bom economista, a política é o seu campo de batalha, os trabalhadores a sua mira, a burguesia a sua paixão. João Duque percebe muito da polaridade das coisas, sente o rumo da maré antes mesmo dela se levantar. Os seus avisos são feitos com seriedade, seriedade de quem conhece as soluções. Em Novembro, João Duque avisou, “não façam greve”, “o país caminha para a falência”. Três milhões de pessoas contrariaram-no, mas esse facto não alterou o seu entendimento das coisas. Entendimento catedrático, registe-se bem.

No último sábado, da sua tribuna no Expresso, João Duque lançou a sua erudição contra a “geração Deolinda.” O eixo de ataque é o mesmo dos outros, os Lombas e Fernandes: a confrontação geracional. Para Duque o problema da geração Deolinda é realmente geracional (pelo nome era difícil lá chegar), mas Duque inverte a premissa do discurso e carrega no sofrimento e sacrifício das gerações passadas. Nós, os novos, somos a “geração Erasmus”, que fomos “levados de carro à escola”, que nos queixamos da “falta de estacionamento”, que levamos as “namoradas a casa”, enquanto antigamente é que a coisa era a doer. Eles, os velhos, iam a “pé para a escola”, faziam “16 meses de serviço militar”, não tinham “acesso à universidade”, e levar a namorada a casa nem em sonhos.

Nestes tempos de confusão é um alívio contar com mentes como a de João Duque. Ele desfaz ilusões, recoloca no trilho a crítica desencontrada da direita, sabe que culpabilizar os direitos de quem tem salários de 700 euros, reformas de 200 e uma conta cheia de nada nos bancos é um convite à união, a da geração que amargou os ditames da ditadura com a dos seus filhos que agora se organizam. Imaginem a dificuldade de conter tal associação de interesses. Duque não o permitiria, e por isso põe as coisas no seu lugar, as regalias são as da geração à rasca que não percebem que a vida é difícil e que tudo isto já foi pior. Aproveitem enquanto podem, os amassos no sofá da sala, o doce poder do volante, o semestre lá fora.

O vosso futuro é duro, e é assim que tem de ser.

Sem comentários:

Enviar um comentário