31 de agosto de 2011

Angola: Manifesto Público

"Somos um grupo de jovens, membros da sociedade civil de vários estratos sociais que dentro dos parâmetros da constituição tem vindo a exercer pressão aos líderes políticos angolanos com vista a que se melhore o quadro social em que se encontra maior parte da população angolana;


Vivemos já nove anos de paz e ainda são alarmantes os nossos serviços de saúde e educação, o crescimento económico não se reflecte em nossas vidas, o índice de desemprego, analfabetismo e desenvolvimento humano ainda é preocupante, não se faz sentir a opinião pública nas leis e resoluções aprovadas, é diminuto o acesso ao crédito habitacional, são desumanos os despejos forçados e são constantes vi
olações dos direitos humanos e da constituição da república;



Vimos por meio desta levar ao conhecimento da Comunidade Nacional e Internacional que realizaremos no próximo dia 3 de Setembro de 2011 uma Manifestação Pública pelas 13:00h no Largo da Independência vulgo Largo 1º de Maio;"




29 de agosto de 2011

Volta Willy Brandt, estás perdoado!



O executivo de José Luís Zapatero aprovou a suspensão, até 2013, do limite máximo de 2 anos para os contratos a prazo, justificando-se com a necessidade de promoção do emprego. Sindicatos alegam que se trata de uma "aposta no emprego precário, de má qualidade e com menos direitos".



"Human rights include economic and social rights; the right to form trade unions and to strike; the right to social security and welfare for all, including the protection of mothers and children; the right to education, training and leisure; the right to decent housing in a liveable environment, and the right to economic security. Crucially, there is the right to both full and useful employment in an adequately rewarded job. Unemployment undermines human dignity, threatens social stability and wastes the world's most valuable resource.

Economic rights must not be considered as benefits paid to passive individuals lacking in initiative, but as a necessary base from which to secure the active participation of all citizens in a project for society. This is not a matter of subsidising those on the fringe of society, but of creating the conditions for an integrated society with social welfare for all people."

Socialist International - DECLARATION of PRINCIPLES

Adopted by the XVIII Congress, Stockholm, June 1989

28 de agosto de 2011

disparate é fechar os olhos e fingir que não vê


 Falando em múmias políticas em estado semi-vegetativo tinha pano para mangas. Podia falar do Soares que diz já não ser contra o capitalismo e que o socialismo é a mera rejeição do capitalismo de casino e  que o socialismo democrático é a possibilidade real de regulação desse capitalismo (?). Ou do Alberto João que diz que já não é tão pró capitalismo, que hoje está muito mais à esquerda. Ou falar do Cavaco que entre as agências de raiting, os impostos sobre os ricos e a política de sacrifícios já deu mais cambalhotas políticas que o Durão Barros o ao ir do MRPP para o PSD em tempo recorde. Mas porque não falar dessa múmia política (quase) intocável que é Medina Carreira?



Medica Carreira, homem de curriculum e responsabilidades políticas, saltou de casa para a televisão à pala da sua teatralidade profética. Qual messias sagrado… Medina Carreira faz um papel muito melhor: é um profeta do apocalipse, competentíssimo, independente, sério e inteligentíssimo a que a classe política deveria ter dado ouvidos. Poderíamos perguntar ao doutor se sempre teve o dom do profetismo, porque é que quando foi ministro não previu o fracasso das políticas de desmantelamento do estado? Porque é que não previu a solidificação de uma elite corrupta que domina a política e que está ancorada no partido do poder? Porque é que não previu que a degradação da política era a degradação dos problemas estruturais da economia portuguesa e com isso a degradação da situação financeira do Estado Português? E que havia muita gente a quem tudo isto dava jeito?

Pois de independente Medina não tem nada. E pode agora lançar livros às dezenas à lá Zizek e Nicolas Sparks mas Medina só escreve em livro a peça de teatro que encena na TV e que vemos em cena tantas e tantas vezes, assemelhando-se a sua análise mais à de um papagaio repetitivo que à de um “analista” político.
Mas sobre a análise política, deixo-vos a pérola que me fez escrever este texto sobre tão ilustre pensador: “taxar os ricos é um disparate”. Medina carreira até pensou nisso há uns anos mas pelos vistos mudou de opinião. Ainda assim, poderia o doutor explicar se taxar os ricos é um disparate o que é cortar o subsídio de natal? E o que é cortar pensões e cortar nos subsídios sociais como o RSI ou subsídio de desemprego? E o que é cortar nos salários dos trabalhadores/as e nas bolsas de estudo? E o que é aumentar os transportes públicos? E o que é privatizar serviços públicos essenciais e que até dão lucro ao estado?
Sobre isto nada diz o doutor Medina Carreira? 

Ou pensará também que estes são disparates inevitáveis? Pois respondo-lhe como respondeu o José Luís Peixoto, se nos dizem que é impossível, dizemos que o que é mesmo impossível é não viver! E que taxar seriamente os ricos é uma questão de democracia, disparate é fechar os olhos e fingir que não vê.

O que Carlos Moedas e Kadafi tem em comum?

Carlos Moedas, o nosso Secretário de Estado da Troika, não esconde a sua vida. Depois de trabalhar para o Grupo Suez, o gigante francês privatizador das águas (grupo que em Portugal se dedica aos parques eólicos e ao gás) foi para a Goldman Sachs e mais recentemente é o homem do grupo Carlyle em Portugal a partir do seu crimson investment management.


Kadafi, por sua vez, dedicou-se a massacrar o povo líbio e a acumular uma fortuna de dezenas de milhões de dólares. Onde está essa fortuna? Com os patrões do Moedas.

Muitos dos milhões de Kadafi foram investidos em fundos da Goldman Sachs, que foi a primeira companhia a chegar à Líbia depois do levantamentos das sanções. Já o Carlyle Group, leva outra parte do saque, o que explica a recepção de alto nível para Saif al-Islam Kadafi, o filho de Kadafi, em 2008.

Carlos Moedas deve andar pesaroso pela infeliz condição do seu colega de trabalho.

27 de agosto de 2011

da série vem ai um PS de esquerda

Há vários lugares comuns na ciência política portuguesa, um deles é a postura que o Partido Socialista assume na oposição, nomeadamente a de limpeza do pó que deixa acumular nos anos de governação sob os seus princípios orgânicos, mas como todas as regras, esta também se revela falível ou se justifica pela generalidade da sua acertividade, englobando em si uma quantidade em "N" de excepções.

Talvez seja esse o caso na discussão sobre a taxação do património dos mais ricos, onde a referida organização decidiu doar - mais uma vez - o seu peso político ao espectro que tem vindo a solidificar cultural e socialmente a legitimidade da desigualdade na repartição de sacrifícios em Portugal.

Valha-nos ao menos o esclarecimento que Sónia Fertuzinhos fez ao país sobre o papel do Partido Socialista na sociedade:
Os socialistas vão apresentar uma solução que dizem ser "o mais justa e eficaz possível e que não se resuma à perseguição dos ricos como quer o BE", diz ao i a vice-presidente da bancada do PS, Sónia Fertuzinhos.

25 de agosto de 2011

Enquanto isto, no Chile..


Marcha das famílias pela Educação Pública, contra o aumento de propinas e os ataques neoliberais. O vídeo diz tudo.

24 de agosto de 2011

RUA!

Está marcada uma nova manifestação, para o dia 3 de Setembro, contra o regime de José Eduardo dos Santos. Carbono Casimiro, um dos mais conhecidos "rappers" angolanos, explicou que a manifestação irá realizar-se na Praça da Independência e que já foi dado conhecimento da intenção ao Governo Provincial de Luanda.

Carbono Casimiro e companheiros foram presos no dia 20 de Agosto, antes de uma reunião de preparação da manifestação e libertados horas depois.

23 de agosto de 2011

Slavoj Žižek: Assaltantes de lojinhas do mundo, uni-vos!

Significado das revoltas na Inglaterra, Espanha, etc.
Slavoj Žižek, London Review of Books, vol. 33, n, 16
Shoplifters of the World Unite
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

A repetição, segundo Hegel, tem papel crucial na história: se alguma coisa acontece uma única vez, pode ser descartada como acidente, algo que poderia ter sido evitado se a situação tivesse sido conduzida de modo diferente; mas quando um mesmo evento repete-se, é sinal de que está em curso um processo histórico mais profundo. Quando Napoleão foi derrotado em Leipzig em 1813, pareceu má sorte; quando foi derrotado outra vez em Waterloo, ficou claro que seu tempo acabara. Vale o mesmo para a continuada crise financeira. Setembro de 2008 foi apresentado como anomalia que podia ser corrigida com melhores regulações e controles; hoje se acumulam sinais de quebradeira nas finanças e já é evidente que estamos lidando com fenómeno estrutural.

22 de agosto de 2011

São José Operário


São José Operário não era proletário fabril, nem proletário-bolseiro de investigação científica, mas era carpinteiro, vivia como aqueles, vivia do seu trabalho, e ensinou o ofício ao seu filho Jesus de Nazaré. Já Dom José Policarpo está muito longe de ser operário, sendo cardeal: é um príncipe da Igreja Católica. E embora tenha sido o primeiro José quem deu a linhagem davítica a Jesus, é o segundo José (Policarpo) quem enverga o título de príncipe, enquanto aquele tem por título “Operário”.
Vem a propósito das declarações do cardeal patriarca de Lisboa Dom José Policarpo, que disse na homilia em que celebrava o seu cinquentenário de eucaristias que não gosta (sim foi este o verbo, não gosta) que “grupos estejam a fazer reivindicações grupais, de classe”, neste tempo de medidas difíceis. Falou dos sindicatos como fazendo parte desses grupos que colocam “interesses egoistas” à frente do “interesse nacional”, que são “egoistas” num tempo de “medidas difíceis que até nos foram impostas por quem nos emprestou dinheiro”.
O Cardeal coloca-se do lado da Troika, contra os sindicatos e os interesses de classe de quem trabalha. Imaginará o príncipe da Igreja que a esmagadora maioria das cidadãs e dos cidadãos deste país e a esmagadora maioria dos crentes da Igreja Católica espalhados pelo mundo são também elas e eles como São José Operário? ou seja, que vivem do seu próprio trabalho e não da apropriação do fruto do trabalho alheio? É que há bancos chamados Espírito Santo, há Eduardo e Isabel dos Santos, há famílias inteiras Sereníssimos Donos de Portugal que vivem da sobrexploração do trabalho alheio.
Ora, foi em nome do seu interesse de classe que os banqueiros mandaram o governo chamar o FMI e companhia, a dita Troika – lembram-se como o governo do PS foi rápido a atender ao pedido dos banqueiros? Que eficiência! Que belo exemplo de política de classe! E como não recordar, que os prejuízos de um banco de ex-ministros do PSD, que os prejuízos do BPN foram nacionalizados (sem a SLN) e que a Troika exigiu a apressada e ruinosa privatização? Como não recordar que os vencedores desse negócio ruinoso, que esse crime contra o “erário público da Nação”, foi em proveito dos de sempre: dos sereníssimos donos e as sereníssimas donas de Portugal? Só me ocorre o Felizmente há Luar de Sttau Monteiro:
"Se há guerra, se temos o inimigo à porta - Aqui d'el-rei que a terra é todos e todos a temos que defender, mas, batido o inimigo, chegada a época das colheitas, quando se trata de comer os frutos da tal terra que é de todos, então não! Então a terra já é só deles!"

19 de agosto de 2011

FMI, arranjas-me um emprego?



Na mesma manhã em que o ministro das Finanças anunciava ao país, numa conferência de imprensa sem direito a perguntas, o aumento do IVA do gás e da electricidade, os emissários da troikarespondiam, com disposição, às questões sobre as medidas do plano de intervenção aplicadas pelo Governo. Foi o representante da Comissão Europeia e não Vítor Gaspar ou Passos Coelho que nos informou que o aumento de impostos decretado uma hora antes tinha sido o último…de 2011. Está visto que nesta política de terra queimada fala quem manda. Concentremo-nos nessa fala.

O FMI, pela boca de Poul Tomsen, escolheu somar ao longo elogio do Governo uma apoquentação sentida, dizendo que o dado mais surpreendente em Portugal é o do desemprego jovem. É “inaceitável e escandaloso” uma taxa de 30%, enfatizou Tomsen. E tem toda a razão. Com o desemprego perdemos todos, mais e menos jovens, por isso, uma política que não cria emprego é sempre uma política falhada. Então é justo perguntar: a política FMI cria emprego?

O corte no subsídio de natal, o aumento dos transportes, do gás e da electricidade cobrem um desvio orçamental (onde cabem o BPN e a Madeira), ao mesmo tempo que estrangulam a economia e destroem o emprego. Nada se resolve, tudo o que se justifica com a dívida é o que alimenta a dívida. O ciclo da dependência acelera-se, o FMI elogia mas quer mais. A alteração das leis laborais, votada na calada das férias, diz que se deve aumentar a incerteza da vida para seis anos nos contratos a termo certo e que os trabalhadores a recibo verde se devem contentar com o rebuçado do subsídio desemprego, sendo que este mesmo subsídio é cortado e passa a depender do trabalho gratuito. Menos protecção e destruição do emprego com direitos resultarão em mais precariedade: a fórmula mágica para o roubo dos salários e a antecâmara do desemprego. O FMI exulta mas quer mais. A privatização de serviços públicos permitirá a transferência do que é de todos para as mãos de uns poucos, com Mota-Engil e Sonae a salivar pelos CTT, a REN na mira da Logoplaste de Filipe de Button, a Veolia sedenta pelas Águas de Portugal, e por aí vai. Rendas seguras para estes últimos, menos verbas para o Estado, serviços mais caros e piores para os consumidores, despedimentos para os trabalhadores. Também aqui está a política FMI, com menos emprego e menos vida.

Dúvidas houvesse, olhemos o caso da redução da TSU. O espelho mais perfeito desta escolha ideológica do Governo, do FMI e dos seus parceiros credores. O próprio relatório apresentado pelo Governo diz que a medida é recessiva, que tem um impacto mínimo na redução dos custos das empresas e que cobrir o rombo que abre na segurança social com o aumento do IVA é atacar os salários e portanto, o consumo. Não há lugar a criação de emprego, apenas a mais transferência de capital, redução da receita fiscal e aumento do défice. O cenário perfeito para mais medidas de austeridade.

Está visto. Esta política ou é vencida e substituída ou a criação de emprego, nos próximos anos, não passará de uma hipócrita expressão nos lábios do FMI.

The Communist Smurfs



uma associação em que o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos. (ou também em desenhos animados)

Tenho de ver o novo filme para ver se os smurfs são mesmo camaradas!

16 de agosto de 2011

Communist Humor



Este documentário é reacionário, não pelas piadas mas pela lógica metonímica que faz equivaler toadas e todos @s comunistas e o marxismo em geral aos regimes que perseguiram muitos verdadeiros marxistas por, como é seu dever, terem resistido e lutado pela liberdade contra o desvio ditatorial que a revolução socialista sofreu nos seus países.

Mas nós que sabemos que "Socialism doesn’t mean living behind a wall" somos bem humorados ;) e por isso posto isto.

contra o paraíso multicultural, o racismo

a visão do pnr sobre os motins ocorridos em inglaterra vai muito para lá daquilo que eu poderia esperar. estranho será, por certo, que eu continue desta forma ingénua a espantar-me com o que vem daquela gente e fique sempre chocada com a profundidade da crueldade que sai daquelas cabeças povoadas com suásticas ao invés de neurónios. mas é isso que vai acontecendo, novidade após novidade.

as palavras pesam e, quando usadas sem cuidado, provocam-me o que me provocou este artigo: nojo absoluto. se me espanta que não se condene “a morte do líder de um gangue étnico de delinquentes”, também não me deixa pouco inquieta que a polícia seja santificada, que o assassinato de polícias seja vil, que o assassinato por polícias seja ordeiro.

("Um sem número de britânicos, não olvidou até hoje, o vil assassinato em 1985, de um agente da polícia em Tottenham, chacinado cruelmente a golpes de catana, por um grupo de negros que espalhava o terror na zona.")

do pnr, só espero condenações apolíticas e preconceitos, mas não posso deixar de me sentir enojada e incrédula de cada vez que me deparo com pérolas destas. expressões como “estirpe de marginais” podem ser-me repetidas diariamente e eu vou continuar incapaz de me familiarizar com elas.

toda esta história começou com o mark duggan, que é este menino aqui:


como facilmente observável, o mark duggan era preto. fosse o caso de ele ter sido um adorável loirinho de olhos azuis, como o breivik, aquele amoroso assassino, o pnr iria inverter a situação com a maior das facilidades, dizendo que afinal a culpa era dos ingleses, que não são gente em que se fie e que andam sempre à porrada só porque são estrangeiros. onde é que eu já ouvi esta história? ah, já sei, foi, por certo, em alguma das minhas incursões ao site do pnr. se um dia alguém resolver dizer por aí que o duggan dava beijinhos a meninos, lá teremos o josé pinto coelho e o mário machado, a concubina preferida, a mostrar em praça pública as imagens dos motins, dizendo que o lobby gay está a crescer e se prepara para dominar o mundo de maneira vil e aleivosa. e não nos esqueçamos, por favor, de que "O PNR é o único partido que rejeita a promoção da "cultura gay" e do "folclore amaricado".

no artigo mencionado, a comunicação social é acusada, pasme-se, de “salvaguardar com astúcia a origem étnica dos vândalos” que têm protagonizado os motins. deturpar a realidade dá nisto: em não encontrar a raiz dos problemas, em confundir cor com ideologia. eu sei, o pnr sabe (espero), toda a gente sabe que violência pela violência não é propriamente agradável, que pilhar lojas não é educado, que os motins têm dado asas a algum oportunismo, mas longe estarei eu de julgar - só porque tenho a pele ebúrnea como a cal, não importa o tempo que passo na póvoa - que a culpa é dos pretos só porque são escuros e não precisam de protector solar 60+ for kids como eu. e, no fundo, parece-me que até o pnr deve saber que a morte de um membro de uma comunidade pobre acontecida só porque sim teria de ter resposta. mais cedo ou mais tarde e esperançosamente, claro.

o capitalismo tira vidas, as vidas revoltam-se. ouvi dizer que lhe chamam luta de classes. que queremos, afinal? revolução, sim, mas com maneiras?

Os fogos vão ser apagados. Haverá uma espécie de inquérito patético ou algo semelhante para investigar as razões do assassinato de Mark Duggan, remorsos serão expressos, haverá flores da polícia no funeral. Os protestantes detidos serão punidos e todos terão uma sensação de alívio e continuarão com a sua vida, até que isto tudo volte a acontecer.

15 de agosto de 2011

O que é que os monárquicos andam a fumar?




"Tenho uma opinião que talvez possa ser considerada polémica. Há uma lei que nunca ninguém conseguiu mudar. É a lei da oferta e da procura. Enquanto houver procura, vai sempre haver oferta e enquanto houver pessoas que queiram consumir droga, haverá sempre quem a venda. Por isso, o problema terá de ser resolvido a nível do consumidor. Um adulto que queira consumir drogas leves — e isso não influencie de modo nenhum os adolescentes a consumi-las —, não vejo como se possa proibir. Não faz sentido proibir adultos de fumarem marijuana, acho eu. No entanto, admito o outro lado do problema, ou seja, se hoje quase é proibido o uso do tabaco é porque o tabaco faz mal aos mais jovens. Será que com a legalização do consumo de marijuana é possível evitar que ela seja consumida por adolescentes, a quem efectivamente faz muito mal? O mesmo problema põe-se para o álcool. Penso que mais cedo ou mais tarde vai ser autorizado o consumo controlado de marijuana." Duarte Pio de Bragança

Recebi esta informação (não via 31 da Armada mas) via Rodrigo Rivera - agradeço-te, Rodrigo, esta pérola ;)

Parece que temos aqui um aliado para uma luta unitária pela legalização das drogas leves. Mas como em qualquer luta social, os aliados de uma luta são os adversários de outra e uma coisa não invalida a outra (ver um apontamento sobre partidos e movimentos).

Vejamos o que pensa sobre o casamento livre: "A instituição casamento existe especificamente para proteger os filhos. Esse é o verdadeiro casamento. Como essas uniões não têm por objectivo a procriação, acho que não se deviam chamar casamento." Pois, é isso mesmo, já era esperar de mais do pretendente...

Já agora.. ainda sobre a monarquia:

A questão principal que destrói a ideia de monarquia do ponto de vista socialista nem é a hereditariedade (há monarquias electivas) ou mesmo o tradicionalismo pois a questão principal é a rejeição da ideia da neutralidade e do imaculado-suprapartidarismo na chefia de Estado.

Duarte Pio de Bragança até pode deixar mais ou menos claro o que pensa: "moralmente, sou conservador, mas política, económica e socialmente sou mais reformador. Existem aspectos em que me revejo mais no pensamento socialista". É uma posição política discursivamente centrista que independente da sua sinceridade ou não é uma posição política. O que não é é uma não-posição-política, é que a própria neutralidade e o silêncio (especialmente em quem está na chefia de Estado) influenciam sempre a luta política, a favor de uma parte ou de outra. ~


A posição política que se visse mais defendida na "neutralidade" ou na "actividade" do/a monarca teria garantida a chefia de Estado em permanência e com uma suposta superioridade. Por que razão? É um problema de raíz e que marca bem a fronteira da esquerda, é a nossa "genética" radical, já marcada na topografia da Assembleia Nacional francesa, de facto há partes que disputam o poder e ninguém está a cima das partes.

Um monárquico e crítico da "visão geométrica da política", com quem muito aprendi, ensinou-me nas aulas de Ciência Política que: "Cabe à França ter caracterizado as opiniões políticas a partir da topografia da Assembleia Constituinte. De um lado a direita, dita dos aristocratas ou dos noirs; do outro, a esquerda dita dos patriotes; não tarda que se distingam os reacteurs ou reactionnaires dos progressistes; e depois virá o termo conservateur para qualificar todo e qualquer adversário do changement."

Baron de Gauville disse, pelo menos conforme a versão inglesa da wikkipédia (em francês não encontrei, mas é plausível pois o tal Barão era dos tais que estava naquela primeira direita, que defendia o direito de veto do rei, com oposição da esquerda): "We began to recognize each other: those who were loyal to religion and the king took up positions to the right of the chair so as to avoid the shouts, oaths, and indecencies that enjoyed free rein in the opposing camp".

14 de agosto de 2011

A taxa máxima do João Galamba.

Este aumento [do gás e electricidade], diz João Galamba, “junta-se já ao aumento de 15% no preço dos transportes, ao imposto extraordinário e agora este aumento do IVA de 6% para 23% - que, é preciso dizer, o memorando não impõe. O memorando determina uma subida no caso da electricidade, mas não determina que tenha de ser a taxa máxima”, sublinha.

João Galamba subiu na vida. A partidária, claro. Ultimamente é o porta-voz de serviço do PS. Quem fez do seu blog a maior caixa-de-ressonância de Sócrates deve-a sentir como um sopro de redenção, esta elevação de posição. E também assim fica provada a coerência, que não desaloja nunca do largo do rato. Este PS já percebeu que não se livra do memorando da troika nem com benzina. Cada medida tem a sua assinatura, o seu cunho, a sua perseverança. Essa também é a luta de João Galamba, sempre pronto a defender a classe trabalhadora e os mais pobres, pois foi um dos que apoiou a carta que o PS escreveu à troika, prometendo uma taxa sobre a electricidade para 2012. Quando este governo antecipa uma medida que o PS tinha mandado para seis meses depois das eleições, lá longe, e lhe confere uma percentagem que o mesmo PS tão cuidadosamente deixou no vazio, João Galamba não hesita na sua luta, pois também ele tem uma taxa máxima para a sua tolerância.

'big society'



"Things that fire you up in the morning, that drive you, that you truly believe will make a real difference to the country you love, and my great passion is building the big society."

"We should not be naive enough to think that simply if government rolls back and does less, then miraculously society will spring up and do more."

These schemes and others in the future, he said, would represent "the biggest, most dramatic redistribution of power from elites in Whitehall to the man and woman on the street".




David Cameron - 19 de Julho de 2010.


Desviar o foco da política é sempre a via mais perigosa para não se perceber o porquê das coisas.


13 de agosto de 2011

tornar a austeridade um bocado mais austera, até para não habituar mal as pessoas

A taxa de IVA sobre a electricidade e o gás natural sobe da taxa mínima (6%) para a máxima (23%). Contas feitas, numa casa onde a factura da luz ande pelos 50 euros, mais 8 euros e meio serão gastos. A ideia era que esta adorável medida de austeridade entrasse em vigor só em 2012, mas o Governo resolveu presentear-nos mais uma vez com o seu hercúleo desejo de melhorar as nossas vidas e pôr a (nossa) economia a andar. No meio disto tudo, espante-se, até Poul Thomsen está preocupado com a excessiva austeridade. Coisa estranha, diga-se de passagem, já que eu sempre ouvi dizer que a austeridade era a única solução e que quão mais agressiva for melhor para nós, que somos banqueiros.

Temos visto Portugal a aplicar medidas de austeridade por vontade externa, que a troika é que é a culpada. Mas, para fazer da austeridade uma coisa mais a sério, o Governo tem ainda inventado algumas medidas, até para não perder o cunho da originalidade almejada e para não dar a ideia de que só fazemos o que a dona Angela quer. Mas, pá, não se queixem. O Passos Coelho passou a campanha a dar entrevistas em que falava não do seu programa de Governo nem do seu talento para endireitar o país, passe a ambiguidade, mas do seu talento para fazer farófias*. Eu sempre disse que o rapaz estava melhor a pasteleiro do que a Primeiro-Ministro, mas ninguém me quis ouvir.

*Acho que ninguém sabe muito bem o que são farófias, mas, só para que me levem mais a sério, gostava de dizer que sei fazer pastéis de nata. Pelo menos toda a gente sabe o que são.

11 de agosto de 2011

Socialismo ou pastiche?

Perdidas as chaves do socialismo engavetado; depois de tantos anos e de tantos Blairs mais thatcheristas que a sua Dama de Ferro; depois de tantos patrocínios a violações grosseiras do direito internacional pela NATO e aliados; depois de criarem as regras monetaristas do euro e o défice democrático da UE; depois de caberem na Internacional Socialista o director do FMI e expulso-em-fuga Mubarak; depois de todas as privatizações de serviços e bens públicos e de todas as nacionalizações de prejuízos: o PS e os "socialistas europeus" querem ir à procura da social-democracia.


Boa sorte! Apenas vos posso deixar como apoio:

a)a revisitação do documentário À procura do socialismo:



b) e a releitura de Antero de Quental, aquele que fundadou em 1875 o extinto Partido Socialista Português: "O socialismo, tão antigo como a injustiça e a opressão do pobre pelo rico, do desvalido pelo poderoso, não é mais do que o protesto dos que sofrem contra a organização viciosa que os faz sofrer. (...) neste século científico e positivo o povo proletário, depois de iludido, durante centenas de anos, por falsas promessas de melhoramento que nunca se realizavam, da parte dos reis, dos sacerdotes e dos poderosos, convenceram-se, finalmente, que não era dessas classes interessadas na miséria que deveriam esperar o livramento, mas só de si, do seu esforço, da sua virtude, da sua união."

Quanto a mim, que com tantas e tantos camaradas ando também à procura do socialismo mas como quem o costrói e não como quem dele quer fazer bandeira para esconder a vergonha de quem destruiu e destrói fundamentais conquistas das lutas sociais; quanto a mim, faço parte desse conjunto de pessoas que costrói um socialismo sem muros e que diz muito bem que “não espera nada do PS nem fica à espera do PCP”.


Como escreveu recentemente a Joana: "O PS dá mau nome ao nosso projecto. Resgatemos o socialismo."

10 de agosto de 2011

Mark Duggan and the streets of London.

Quando alguém condena o pilhagem e a violência sobre lojas que são o sustento de outros trabalhadores e incita os revoltosos desta forma: fight for a fuckin cause!; quando isso acontece, é porque there is a fuckin cause e porque algo dessa fuckin cause parece ficar esquecido ou desvirtuado nas ações concretas de muitas das revoltosas e revoltosos.

No documento citado nas anteriores ligações: a senhora que ouvimos identifica essa causa com Mark Duggan e fala em unidade comunitária.

Como bem assinala este artigo do blog Penny Red: Panic on the streets of London.: "Unquestionably there is far, far more to these riots than the death of Mark Duggan. (...)"

Quer a blogger do Penny Red, quer Nina Power (esta no Comment is Free do The Gardian) falam sobre a questão do contexto em que surgem estas revoltas.

É tempo de fazer muitas perguntas, digo isso em geral e não somente por estas revoltas. Tempo de aprender, aprender, aprender.

Why here, why now? são as perguntas a que Tariq Ali procura responder.

9 de agosto de 2011

Cobertura jornalística portuguesa dos motins em Inglaterra

PEGA, MATA, ESFOLA

(o 5dias e o arrastão já trocam mimos, esperemos que desta vez cheguem às vias de facto.)

a violência doméstica é uma coisa muito feia


parece que o ex-deputado do psd jorge nuno de sá foi acusado de violência doméstica pelo marido carlos maceno. oh, nem é que eu seja grande fã de violência, de pancadaria ou mesmo de agressividade, mas a verdade é que um tipo que casa com um gajo do psd bem merece duas lambadas para acordar.

AA+notações, mini-crashes e (des)apontamentos



Continuam as perdas nas bolsas europeias na sequência dos mini-crashes de Frankfurt, de Wall-Street, São Paulo e Tóquio. O epicêntro que gerou estas réplicas chama-se Standard & Poor's. Enquanto isso, Obama diz que não precisa das agências de rating para saber o que fazer com o défice. Noto estranhas semelhanças de coerência em Obama e Cavaco.

(também publicado aqui)

8 de agosto de 2011

JOÃO DUQUE: "Apercebemo-nos de que há coisas que, em determinadas fases, não podem ser votadas."


A indumentária combina em tudo com a entrevista deste aprendiz de Medina Carreira.

'Capitalism: A Love Story'

Àparte de umas referências idílicas às virtudes do mundo pré-Regan, um documento com interesse:



Houve um tempo em que o povo trabalhador dos Estados Unidos podia criar uma família e enviar as crianças à faculdade com o rendimento de um só dos pais. Um tempo em que pessoas só trabalhavam cinco dias por semana e oito horas por dia. Esse tempo terminou no dia 5 de Agosto de 1981. Artigo de Michael Moore aqui.

6 de agosto de 2011

Casamento livre na tribo Suquamish



Heather Purser, jovem lésbica da tribo dos Suquamish (Estado de Washington), conseguiu ver aprovada pela sua tribo a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Na passada segunda-feira foi dada a boa notícia: a lei foi aprovada por unanimidade pelos sete membros do Conselho Tribal.

A Suquamish é uma das "domestic dependent nations" reconhecida pelo Governo Federal dos EUA e tem cerca de 1050 membros. Antes desta, também a Tribo Coquille (Estado do Oregon) decidiu, em 2008, reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo, com uma votação que neste caso, foi 5 contra 2 no Conselho Tribal. Ambas as tribos reconhecem o casamento a casais de pessoas do mesmo sexo desde que uma delas seja da tribo.

Nem o Estado de Washington, nem o do Oregon reconhecem o casamento livre, porém o Governo Federal reconhece "soberania interna" às "domestic dependent nations" pelo que estas são independentes do Estados federados em que se situam.

Os seis Estados federados onde o casamento livre é legal são: Nova Iorque, Connecticut, Iowa, Massachusetts, New Hampshire, Vermont e Washington D.C.. Na California, a legalização só durou entre 16 de junho e 4 de novembro de 2008, quando em referendo foi aprovada a proibição.

Ver mais em: A Justiça é lésbica ... e casou com a Liberdade

5 de agosto de 2011

ainda se lembram do sócrates?




foram 6 anos com ele e soube sempre que jamais iria esquecê-lo. dia após dia, a memória dele embriagava-me os nervos, juntava-me com as amigas para saber as novidades, procurava onde podia informações que me esclarecessem acerca do modo como a vida dele corria. até a vida profissional do rapaz, imagine-se, eu segui atentamente. não sei se era um amor, mas procurava o olhar dele em busca de um abrigo. foram 6 anos de convivência, de comentários, de ilusões colectivas e de desgostos meus, de peitos feridos e de peles rasgadas. a sua cor sadia, o seu sorriso terno. oh, eu não sei se o idealizava, se me afogava em memórias. 6 anos de convívio. e, de repente, parece que o sócrates foi esquecido, que não enlevou estas terras, estas vidas, com o porte sedutor que o passos jamais terá. esquecido como se não tivesse sido nada, como se tivesse sido só uma ilusão. ilusão, sim, e apenas, como se todas as passadas cenas e recordações amenas tivessem sido riscadas por nova paixão. mas eu não traio assim quem faz vida comigo durante 6 anos e não esqueço tão depressa. não esqueço nada. e confesso até que já estou um bocadinho farta do passos. quanto ao sócrates, custa-me um bocado o que lhe fizemos. foi finalmente para paris, terra do amor, mundo de fantasias, ouvir umas histórias sobre o seu homónimo, não deixando mais que este pequeno país à beira-mar plantado perturbe o seu desenvolvimento, ainda que digam que o sócrates é que perturbou o desenvolvimento de portugal.

mas estou triste. sinto que o sócrates fugiu assim de mim, como se eu não lhe tivesse dado atenção diária, como se jamais me tivesse deleitado com os discursos que ele fazia, de fato e gravata, que até parecia um doutor. e custa-me que este meu pequeno tesouro não fique pela terra de camões para ter a ideia concreta do que as suas belas ideias criaram, sendo precursoras deste arrombo neoliberal que vivemos e para sentir que, afinal, não está assim tão esquecido.

eu, pelo menos, jamais esquecerei o sócrates, que o amor comigo não brinca. mas chateia-me, oh se me chateia, que se tenha posto a andar para o país do balzac como se eu nunca tivesse tido qualquer importância na vida dele. ainda por cima, deixou-me com cromos como o passos, o portas e o crato. eles pioram dia após dia. pelo menos com o sócrates, tantos anos de convivência, eu já sabia bem com o que contava.

4 de agosto de 2011

a educação é tão bonita


um resumo da brejeirice que me enleva. hei-de agradecer a nosso senhor que está no céu por ter permitido que esta criatura se cruzasse comigo.

O Ministro que era líder parlamentar de um partido que dizia defender os recibos verdes.



assembleia da república, o recreio d@s jotinhas




parece que uma deputada do psd decidiu brincar às casinhas com o 112. se umas vozes poderão vociferar com esta atitude canalha, outras poderão enternecer-se com o carácter adorável que a infantilidade pode ter. ninguém poderá, contudo, surpreender-se por aí além, já que nós já sabemos o que a casa gasta e já sabemos em que é que se tornam os pupilos da jsd.

com toda a legitimidade do mundo, são pedidas explicações sobre a chamada falsa do PSD. contudo, até as acho escusadas. a criança brincou, os profissionais ficaram chateados. fim da história. ter-me-ia sido muito mais penoso se a joaninha tivesse decidido pôr o são bento a arder só para testar a rapidez e a eficiência dos bombeiros voluntários de vizela.

Para que servem as Associações Académicas?





AUMENTO NOS TRANSPORTES

ATRASOS NO PAGAMENTO DAS BOLSAS



ESTUDANTES OBRIGADOS A TER MELHORES NOTAS PARA TER BOLSAS DE ESTUDO


UNIVERSIDADES PÚBLICAS- FUNDAÇÃO DE DIREITO PRIVADO




MILHARES DE ALUNOS ABANDONAM ENSINO SUPERIOR



o partido dos casamentos gays e a minha quase perene heterossexualidade

Diz-nos o inefável Alberto João Jardim que o Bloco de Esquerda é o partido dos casamentos gays e ainda nos pediu que casássemos uns com os outros (certamente à espera, digo eu, de um simpático convite que o levasse para o meio da orgia anti-capitalista, entre whisky, marijuana, abortos e loucura).

Mas acho engraçado que o AJJ diga que somos o partido dos casamentos gays, como se nada mais tivéssemos para dar e como se a luta pela igualdade fosse só uma birra caprichosa desta esquerda caviar (acho que são umas coisas pretas dos peixes, não sei bem, nunca comi, nem é que seja vegetariana, mas...). E o inefável senhor atira-nos à cara que sejamos a vanguarda do progresso social e da justiça como se isso fosse um insulto, uma coisa asquerosa da qual devêssemos ter vergonha. Talvez o conservadorismo deste poeta se sinta preocupado, quiçá minimizado, com o progresso que o Bloco simboliza e com a força que o Bloco, resistente a derrotas, é, para seu pesar e para meu glorioso gáudio.

Mas já sei que as minhas palavras vão ser mal interpretadas. As pessoas adoram interpretar mal as palavras de quem é e faz o Bloco de Esquerda. E já sei que me vão dizer que eu até nem tenho nada de político contra o AJJ e que é por ser gay que lá me vou virando contra ele, movida pelo ódio e pela esquisitice que caracterizam tod@s @s gays. Mas é mentira. A minha heterossexualidade nunca esteve em causa. Passei até algumas tardes a tentar entender se a pessoa mais heterossexual do país era eu, o Zezé Camarinha ou o José Castelo Branco. Porém, vi isto





e deixei que a vitória fosse atribuída a um dos dois elementos masculinos. Se contribuo para que o Bloco seja o partido d@s gays, a culpa é somente do tronco peludo de Alberto João Jardim.

desta vez foi um loiro de olhos azuis


Graças à crueldade crua de gestos hediondos, o nome de Anders Brevik será recordado muito para lá dos limites fronteiriços da Escandinávia e a frieza da violência que exerceu terá de acordar, finalmente, a consciência colectiva. Convém, no entanto, que a monstruosidade dos seus actos desumanos não iluda nem abafe a capacidade intelectual humana que alicerçou politicamente cada vida desperdiçada. Planos meticulosos não são obras de doidos, chacinas não são passatempos de monstros animados. Mil e quinhentas páginas mostram-nos que, escondida pela monstruosidade humana, está a extrema-direita a espreitar. Brevik não foi só um maluco que se lembrou de andar aos tiros sem saber o que fazia. Brevik foi movido por ideias políticas repugnantes e foi isso que fez dele um monstro.

Um monstro, sim, mas que a monstruosidade não se esconda na loucura, que a monstruosidade não se iluda na loucura. Que esta hediondez escancare portas e janelas para a percepção mais pura do que é o terrorismo e de como ele se alicerça e não existe só nos barbudos encapuçados do Médio Oriente. Andreas Brevik é loiro, tem olhos azuis e é do mais execrável que a espécie humana alguma vez produziu. Como, aliás, qualquer asqueroso elemento da extrema-direita.

Com sistemas políticos que, volta e meia, lá vão explorando e estimulando o ódio, não será talvez de pasmar que este tipo de nojo humano lá vá tendo atitudes deste género. E, como o preconceito e o ódio são cegos e carniceiros, podemos concluir que já ninguém se safa da estupidez.

No meio disto tudo, realce-se o gesto bonito de Brevik ter pedido um psiquiatra japonês.

Flamenco anticapitalista



A dança também é uma arma e desde o ano passado que o "flamenco anticapitalista" vai atacando os bancos.


25 de janeiro de 2011, banco BBVA de Sevilla



Ação de flo6x8 em colaboração com a Semana de Lucha Social.
Sevilha, 13 de maio de 2011

3 de agosto de 2011

cegueira ideológica


Depois de ter caído o carmo e a trindade devido à descida do rating da República e toda a direita ter mudado de posição sobre as agências de notação (| e ||), a Europa do directório ter acordado a reestruturação da dívida grega (mesmo que tenha sido ao sabor dos credores) há quem resista aos sinais dos tempos e continue apostado a resistir com a sua vulgata.

O que me leva a duas possíveis conclusões, o editorial de política da revista focus está envolto numa bolha actimel que a impede apreender os dados do exterior ou está apostado em ser o Vaticano do liberalismo português.

"valha-nos" Bruno Faria Lopes:

Agência de rating, reestruturação da dívida e Europa: o que antes era a coutada da esquerda radical está a entrar na opinião dominante do regime

Moody's. A direita indigna-se, a esquerda diz "bem-vindos a bordo"

Guns need hate as ammunition: Solidariedade com a Noruega


Acaba de ser lançada uma petição de solidariedade com as vítimas dos atentados na Noruega, promovida por várias organizações (lista no fim do texto), que está disponível AQUI para recolha de assinaturas individuais.

Será dado conhecimento da iniciativa a várias organizações sociais norueguesas

Acompanhámos, num misto de choque, fúria e profunda tristeza, o horror que aconteceu em Oslo e Utoya no dia 22 de Julho. Antes de mais, pensamos, obviamente, nas vítimas, famílias, amigos e camaradas. Aceitem as nossas mais sentidas condolências e solidariedade.

Enquanto activistas de diferentes movimentos sociais e políticos portugueses, estendemos as nossas condolências à Liga dos Jovens Trabalhistas e também ao povo norueguês. E ainda a todos aqueles que, como nós, na Europa e no resto do mundo, compreendem a ameaça representada por ideologias racistas, xenófobas e fascistas, sobretudo quando encontram eco nos discursos e crenças políticas que nos entram pelas casas dentro todos os dias.

Quando se vota no ódio e na exclusão, quando líderes políticos põem em causa os valores do multiculturalismo, quando as minorias são transformadas em bodes expiatórios para os erros de sistemas políticos que promovem a exclusão e a discriminação, o ódio passa a ser aceite na política. E as armas precisarão sempre do ódio como munição.

Podia ter sido qualquer um de nós. Por isso, a maior homenagem que podemos prestar a todos os que morreram, ficaram feridos ou perderam entes queridos é o nosso compromisso com a luta pelo respeito, diversidade, justiça e paz e por uma sociedade verdadeiramente democrática e inclusiva. Responderemos com mais democracia.

Artigo 21.º * Associação 25 de Abril * Associação Abril * Associação República e Laicidade * ATTAC Portugal * Bloco de Esquerda * Convergência e Alternativa * Crioulidades - Arte e Cultura na Diáspora * Fartos/as d'Estes Recibos Verdes * M12M * Movimento Escola Pública * Não Apaguem a Memória * Opus Gay * Panteras Rosa * PES Portugal * Portugal Uncut * Precários Inflexíveis * Rainbow Rose Portugal * Renovação Comunista * Sindicato dos Professores da Grande Lisboa * União de Mulheres Alternativa e Resistência * Vidas Alternativas

P.S. – O Adeus Lenine pede a todos que por aqui passarem que ajudem a divulgar esta iniciativa nos seus blogues.

O julgamento do ditador Mubarak


O ex-presidente egípcio Hosni Mubarak começa hoje a ser ouvido em tribunal pelo seu envolvimento na morte de centenas de pessoas. O ditador que governou o Egito durante três décadas está acusado da morte de opositores e de enriquecimento ilícito.

Mubarak tem 83 anos e tem estado hospitalizado, conforme a imagem da Televisão Estatal Egípcia. Os seus opositores afirmam que apenas está a tentar evitar ser julgado pelos seus crimes.

O julgamento será transmitido em direto. O povo quer ver o julgamento do ditador, é um sinal da democracia: o ditador não é nem reciclado, nem linchado, é julgado. Um sinal positivo para o futuro do Egito.

2 de agosto de 2011

Restruturar o orçamento para ajudar... a banca

Victor Gaspar é um peão estranho na estruturação da política do Governo. Muito estranho aliás. Quase não fala e quando fala não diz nada de importante. E ainda assim, ele assume o controlo da tão estruturante política financeira do Governo. Diz-nos o Ministro que vai introduzir alterações cirúrgicas ao orçamento, em que mais de metade do possível endividamento público sirva para apoiar a banca. Mas para isso prevê-se a subida de 14 por centro dos limites de endividamento. O que me causa estranheza é fundamentalmente o processo e a história do processo.


1 - A crise financeira é originada pela especulação de uma máfia financeira fixada em bancos privados, a crise económica é provocada pelos reflexos da acção especulativa e da crise da banca na economia real, a crise social é fundada nas condições estruturais da economia e agravada pela crise económica que fez aumentar o desemprego e as dificuldades.

2- Para compensar a crise financeira os estados endividam-se para salvar os bancos e os lucros dos banqueiros e dos bancos quase não se fazem sentir. Endividando-se o estado, adopta-se a austeridade como solução e sacrifica-se a vida das pessoas que trabalham, dos reformados e dos jovens, para salvar o estado.

3 – Os contribuintes e os mais pobres pagam a factura de um orçamento que os penaliza e sacrifica, e são agora, avisados por Vítor Gaspar, que vai haver um orçamento rectificativo em que mais de metade do possível endividamento público vai servir para apoiar a banca.

No meio disto tudo fomos do discurso das nacionalizações, da regulação e do fim dos off-shore , ao discurso da austeridade, do sacrifício, so salvamento do estado e do apoio à banca.

No meio de isto tudo, juro que fico confuso. Porque a burguesia financeira que controla os bancos, que tem ligações e representantes no poder político e que controla sectores estruturantes da economia Portuguesa, sai sempre a ganhar, e quem vive a vida a trabalhar sai sempre a perder.

A luta de classes continua a ser isso: a luta de quem perde sempre contra quem sai sempre a ganhar !



E os quatro maiores bancos em Portugal tiveram 2,2 milhões de euros de lucro por dia no primeiro trimestre...

Parabéns José Afonso


"Os jovens, e digo, os jovens de todas as classes, estão um pouco à mercê de um sistema que não conta com eles, mas que hipocritamente fala deles - o 25 de Abril não foi feito para esta sociedade, para aquilo que estamos agora a viver.
Aqueles que ajudaram a fazer o 25 de Abril, imaginaram uma sociedade muito diferente da actual, que está a ser oferecida aos jovens.
Os jovens deparam-se com problemas tão graves, ou talvez mais graves do que aqueles que nós tivemos que enfrentar - o desemprego, por exemplo. E, por vezes, não têm recursos, porque o sistema ultrapassa-os, o sistema oprime-os, criando-lhes uma aparência de liberdade. Eu creio que a única atitude foi aquela que nós tivemos - por nós, eu refiro-me à minha geração - de recusa frontal, de recusa inteligente, se possível até pela insubordinação, se possível até pela subversão do modelo de sociedade que lhes está a ser oferecido, com o fundamento da liberdade democrática, com o fundamento do respeito pelos direitos dos cidadãos. É de facto uma sociedade, que é imposta aos jovens de hoje, teleguiada de longe por qualquer FMI, por qualquer Deus banqueiro.
Tal como nós, eles têm que a combater, têm que na destruir, têm de a enfrentar com todas as suas forças, organizando-se para criarem a sociedade que têm em mente.

Zeca Afonso - 1984

Faria hoje 82 anos.

Raptaram-nos a silly season

A tradicional “época dos incêndios” (seja o que isso for), as operações stop, as pré-épocas dos clubes de futebol, as demais peripécias em zonas balneares e a capacidade de elasticidade informativa dos meios de comunicação habituaram-nos a rechear o espaço público português. Tudo o resto que faz o mundo girar adiava-se até Setembro, o presente solene ficava a cargo dos bombeiros, nadadores-salvadores, polícias e jornalistas sem direito a férias, no entanto, parece que em ano de crise até o catolicismo da silly season foi obrigado a fazer o seu concílio.

Não é que não tenhamos o supracitado em abundância, sem qualquer desprimor pelo suor dos actores sociais em acção, mas parece que este Verão ficará teimosamente na história sem qualquer influência do mau humor de S.Pedro. As razões são várias com raízes profundas em várias estações transactas.

A continuação pode ser lida no esquerda.net

Como é que isto se lê?


A Câmara dos Representantes aprovou o aumento do limite de endividamento dos EUA para evitar o default. O acordo é importante para a China enquanto maior credor da dívida americana, dívida essa que representa 70% das reservas monetárias estrangeiras chinesas...

Tendo em conta que os EUA são a maior economia do mundo, o maior devedor e maior importador mundial e a China é a segunda maior economia do mundo, o maior credor (com dívida americana na referida proporção), e o maior exportador, a ligação umbilical EUA-China e a ideia do "Too big to fail" aplicada aos EUA torna-se uma evidência.

Nos tempos que correm, há cada vez mais gente (embora seja ainda uma minoria) que começa a compreender estas coisas da política mundial. A razão deste esclarecimento parcial de algumas pessoas é simples: não só sai nos jornais, como problemas que são primos ou parentes daqueles lhes entram em casa e lhes vão doendo no bolso. Apesar disso, maioritariamente pensam que não é bem política, que é "apenas" economia. Já a "economia política" é uma ideia que na comunicação de massas soa estranho. E uma "critica da economia política", pior ainda.

Muitos deturpadores, líderes da opinião do "português médio", esse ser nacional e masculino, não deixam que se faça o filme completo, não deixam porque ou têm outra visão do mundo, ou lhes convêm outra visão do mundo - e frequentemente ambas as coisas, sendo a primeira sobredeterminada pela segunda.

Ao nível académico, muitos duvidam da utilidade da tradição marxista das Relações Internacionais, ao ponto de ser silenciada nas faculdades. Entretêm-se com debates entre liberais e realistas, deliciam-se com a disputa neo-neo entre os respectivos herdeiros, admitem como terceira via um construtivismo social que mói mas não mata e lá surge encolhido e meio a medo, da tradição marxista, apenas um neo (mas sem que com isto eu o queira diminuir) das teorias da dependência e do sistema-mundo.

A concepção materialista e dialética da história é coisa que no provincianismo colonizado por fotocópias da academia americana não existe. E nem é preciso aprender alemão, pois o inglês que lê as fotocópias americanas também poderia ler livros das universidades britânicas mais detalhados na diversidade teórica das Relações Internacionais.

Não venho aqui vender a velha Teoria do Imperialismo (de Lenine ou de Rosa), quem a compreende para além do dogma sabe que já não vivemos na era do monopólio nacional e as consequências disso. Venho defender a concepção que permitiu criar, naquele tempo, aquela teoria e que permite, também hoje, novas leituras sobre a política mundial. Fica esta sugestão de leitura, o artigo tem um ano, mas no essencial mantém-se actual e a autora é adeusleninista e tudo: Joana Mortágua, JOINT VENTURE NO CENTRO DO IMPERIALISMO GLOBAL, A Comuna nr. 22, pp. 29 a 35.

1 de agosto de 2011

O passado não é um lugar estranho



A JS e a JSD não têm serventia numa política séria. São uma réplica adestradora do partido-mãe, a táctica é tudo e tudo vale para o epidérmico reconforto de um lugar ao sol. É certo que na JS tudo é mais refinado, os seus quadros berram menos e lêem mais, mas a JSD é a campeã das filiações, é popular no sentido mais chunga do termo, é a política pimba dos jantares e da disputa caciquista dos votos internos, dos autocarros descapotáveis e das homilias cantantes das bebedeiras em comunhão do espírito laranja. Tudo cabe na JS e na JSD menos o programa político, ele nunca acontece no seu tempo, não há posições ou lugar a escolhas, a via é sempre a numérica, a de quem tem mais para chegar mais além.


Não deixa de ser consentâneo que a vitória dos Jotas, com Passos e Seguro à frente do centrão, se cumpra numa época de tutela externa. Quando lêem e obedecem às missivas da troika, tanto Passos como Seguro, sentem que uma lógica se cumpre na sua inteligência e que o passado lhes roça a cara, tudo é como sempre foi. Ainda bem.