31 de dezembro de 2011
ah e tal, mudou o ano
O PS pede explicações ao PS
30 de dezembro de 2011
"AN OPEN LETTER TO THE OCCUPY WALL STREET PROTESTERS"
Há vidas bem piores do que esta, a autora do vídeo "An Open Letter ...", Julie, sabe-o e afirma-o. (imaginem que tínhamos de padronizar a nossa vida pela sorte de "pelo menos" termos vivido mais que a criança que morreu de subnutrição nos primeiros dias de vida, com a boca no peito seco da sua mãe subnutrida, e há dúvidas sobre se esta criança que morreu ao colo da mãe viveu pior que outras que morreram sem ela; por agora é só para os "menos-mauistas").
Este é o testemunho da Julie sobre o seu regresso aos Estados Unidos. Sobre como é viver num país onde a tua saúde depende de um seguro que não consegues pagar.
Não temos de aceitar os Poor Standards que os clientes da Standard&Poor's ou da Dagong nos queiram impor. O que a Julie reclama para si e para todos, poder pelo seu trabalho receber o suficiente para pagar a renda e ir à mercearia, ter acesso à saúde e à educação e, claro, os meios para o conseguir: a taxação das grandes empresas e fortunas; o que a Julie quer é um mundo a que temos direito, um mundo em que conseguimos preencher as nossas necessidades com dignidade. Temos direito a isso e muito mais.
27 de dezembro de 2011
25 de dezembro de 2011
Leituras de fim de ano
Neste livro, Pierre Frank, um líder e participante do movimento revolucionário dá as suas perspectivas sobre estas lutas, ao longo das quais se tornou, provavelmente, o mais conhecido revolucionário anti-estalinista em França."
24 de dezembro de 2011
natal em vizela
ateísmo à parte, criança em época natalícia me confesso. não sou católica, não suporto compras, as multidões trazem-me à lembrança a asma que me arde cá por dentro, fico doida com as esperas nos supermercados, não tenho qualquer apreço por doces de natal, aquelas coisas cheias de açúcar que me deixam o insuportável sabor adocicado na boca, e ai de mim se me põem bacalhau à frente. ainda assim, criança em época natalícia me confesso. se é certo que escrevo hoje, a 24 de dezembro, verdadeiro natal para mim, também não é errado que, para mim, o natal começa em setembro e acaba lá para maio. chega o natal e, olha, de repente tudo é claro, a vida é clara, o norte não traz segredos. vizela não esconde nada, pinta-se nos tons ebúrneos e verdes e as pessoas são inteiras e um livro aberto de passados. a ternura inventada pelas ruas, a solidão que amanhece nestas luzes. a súbita alegria triste e o remorso, a culpa de estar viva. o natal está a chegar e há uma tarde a amanhecer, uma noite que entardece, enquanto se enterra os mortos no açúcar que se esvai. por isso tivemos braços para o adeus, por isso tivemos lábios para sorrir, por isso veio o natal para a acalmia do pesadelo do ciúme. tempo de nostalgia confiante, de edificação tortuosa, alegre na convicção. assim chega o natal e ele acontece no teu corpo e no ritmo dos teus dedos. noite em que nasce a poesia, vida que nasce dos poemas. chega o natal e eu não posso senão amar a agitação palpitante das ruas de vizela, as montanhas que ficam lá em cima, as pessoas que correm e os sorrisos multiplicados nas caras das velhinhas. não posso senão amar o sentimento claro, tão claro como as manhãs de quarta-feira em que o sol penetra as árvores do jardim e o centro se torna num poema prosaico de cesário verde, e a ânsia grande, tão grande, de dar, escondida no embaraço contido de receber. vizela é um mundo à parte do resto do norte, uma imensidão separada do resto de portugal, e lá o natal é mais fácil, acontece mais vezes, mais cedo e dura mais tempo. para mim só há natal porque um dia houve vizela e foi em vizela que o amor nasceu, que fiquei duas horas na varanda da minha avó à espera do pai natal, após ter garantido que daquela vez ele não me conseguiria escapar, vindo depois a descobrir que o malandro tinha entrado pela porta da cozinha e tinha ficado a conversar com os meus pais, que todos os miúdos da rua se riram de mim por ser a única a acreditar no pai natal, que ri de todos os miúdos da rua porque eles achavam que eram o papã e a mamã que compravam as prendas de natal, que fiquei uns três anos a fingir que ainda acreditava no pai natal para que o papá não ficasse triste e achasse que eu ainda era muito pequena, que montei presépios com musgo verdadeiro com metro e meio de comprimento e sujei a cozinha toda, que fui à beira do rio buscar terra para encher o vaso em que ficaria o pinheiro. foi em vizela que vi as primeiras luzes, as da vida e as do natal, e, por curiosidade absoluta, elas fundiram-se e foram sempre as mesmas. a cada dia, um novo ano, mais lento e mais rápido no turbilhão das memórias tão cheias de uma terra que é rainha. a cada ano, um novo dia, porque a vida vai seguindo devagar, ao ritmo vizelense apressado, fugindo das noites que amanhecem. a nostalgia dolorosa e a saudade feliz de ter conhecido um natal em vizela. o remorso indesculpável de o ter perdido para sempre e de saber que ele é meu no cheiro da canela. a culpa, a alegria de estar viva. o natal em vizela é o natal dos sonhos e dos abraços. por ele, os braços que temos para o adeus erguem-se na construção de outro natal. por ele, os lábios para sorrir não perdem tempo com conversas. ternura inventada pelas ruas, o natal acontecerá no corpo dela.
(BRUNO DE GÓIS, COMO É QUE SE MUDA ESTA LETRA, PÁ?!)
23 de dezembro de 2011
Carlos Moedas é sócio de membros do Conselho de Administração da Açoreana Seguros (BANIF), Tranquilidade Seguros(BES), Seguros LOGO.
Já aqui demos conta de como o Secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, o Goldman Sachs boy Carlos Moedas, caridosamente passou a sua empresa do grupo Carlyle para o nome da sua esposa. Carlos Moedas tinha prometido, em Agosto, desfazer-se das participações que detinha em três empresas, por enquanto cumpriu a promessa em uma delas, faltam duas.
Uma é a SHILLING CAPITAL PARTNERS, SGPS, LDA, que se descreve como uma sociedade de "Gestão de Participações Sociais Noutras Sociedades, Como Forma Indirecta de Exercício de Actividades Económicas", traduzindo: especulação bolsista e seguros. O secretário de Estado detém 20% da sociedade, um dos seus sócios é a MOGOPE (18%) - um fundo de investimento que detém participações na SIC, TSF e na Kendall Develops. Esta última é um “veículo de investimento criado por João Rendeiro (BPP)” que até pouco tempo detinha 3,3 por cento da Brisa e 5 por cento da brasileira OHL, e cujo maior accionista é a Privado Holding (dona do BPP).
Outro sócio de Moedas é o Engº. Diogo António Rodrigues da Silveira (20%), Presidente da Comissão Executiva da Açoreana Seguros (BANIF), membro do Conselho de Administração da GIGA - GRUPO INTEGRADO DE GESTÃO DE ACIDENTES e da Associação Portuguesa de Seguradoras.
Segue-se João Peres Coelho Borges (20%), membro do Conselho de Administração de dez empresas, entre as quais podemos encontrar a GENERIS - FARMACÊUTICA, S.A. ( nº 1 no ranking das empresas nacionais em vendas hospitalares e líder nacional de vendas em oncologia) e a MER MEDICAMENTOS.
Por fim, Hugo Mota Canova Canelhas Gonçalves Pereira (2%), que para além de estar no Conselho de Administração da já referida MOGOPE ainda se encontra na direcção da ISQ - SOCIEDADE DE CAPITAL DE RISCO, S.A. que investe sobretudo em ambiente e saúde.
A outra sociedade na qual o secretário de Estado Moedas detém participação é a WIN World, cuja especialidade é a organização de palestras e cursos de formação para empresários (CEO Conference; EGP-UPBS Leadership Grand Conference; Happy Conference and Business Innovation Program). Carlos Moedas juntava, inclusive, a sua participação accionista à função de orador, sendo distinguido o seu “incrível talento para explicar matérias complexas de uma forma fácil e acessível”. Uma opnião de certo partilhada por Passos Coelho.
Como sócio de Moedas na WIN World encontramos: Miguel Maria Pitté Reis da Silveira Moreno, membro do Conselho de Administração da Tranquilidade Seguros (BES), seguros LOGO (BES), Espírito Santo Saúde e a E.S Contact Center, sociedade gestora de Call Centers.
Carlos Moedas é o secretário de Estado responsável pela coordenação do programa da troika, como tal uma das suas funções será supervisionar o processo de privatização dos seguros da CGD. Mas não há problema, quando esse momento chegar provavelmente Moedas já terá cumprido a sua promessa de alienação destas participações, que estarão, seguras e florescentes, na posse da senhora Moedas.
22 de dezembro de 2011
21 de dezembro de 2011
Carlos Moedas para Grupo Carlyle:" a minha esposa trata disso"
Toda a gente já percebeu a minha queda pelo Moedas. Cada um com a sua fraqueza. A minha é conhecer quem me lixa, mesmo que seja com voz suave e cara de bom aluno. E tenho cá para mim que o Moedas também me conheçe, pois de todos os membros deste Governo este é, com certeza, o que mais pesquisa o próprio nome no google.
Agora, o que eu acho que toda a gente gostaria de saber é porque é que este jovem senhor bem composto, o Secretário de Estado da troika, anuncia em Agosto que se encontra em "processo de alienação de todas as participações que tem naquelas empresas", sendo uma dessas empresas a Crimson Investment Management, empresa do qual era o principal gestor e que funciona como testa-de-ferro de um fundo de 2,2 bi do Grupo Carlyle e, em 10 de Dezembro, na 4º Conservatória do Registo Comercial de Lisboa, esta, que era uma sociedade anónima detida pelo Moedas, Miguel Pais do Amaral, João Brion Sanches, Filipe de Button e Alexandre Relvas, passa a ser detida, em exclusividade pela esposa de Carlos Moedas.
nem jovens nem professorxs nem passos coelho. ninguém sai daqui e acabou. oh, pronto, o passos pode ir para a ilha.
eu até compreendo @s belgas. não consigo confiar muito em pessoal que votou num jotinha que, após 6 meses de governo, desiste enquanto pede sacrifícios que persistam.
não vou, no entanto, entrar no jogo inglório dxs jovens que aconselham o governo a emigrar. acho muito injusto, muito umbiguista, muito imaturo da parte delxs. xs desgraçadxs dxs estrangeirxs não têm culpa nenhuma do povo português ter eleito aquele circo. votaram nele, agora aturem-no. não tentem é empurrá-lo para o lado que der mais jeito. eu, se fosse estrangeira, também não quereria aturar disto. sentir-me-ia, aliás, muito magoada se me mandassem aturá-lo só para salvarem a própria pele.
saliento só que eu não tenho culpa nenhuma disto. não seria, portanto, mal pensado que passos coelho, amigxs e votantes fossem para uma ilha deserta qualquer e deixassem o povo decente em paz. deserta. nada de estrangeirxs. elxs são fixes como nós e também não lhe acham grande piada. pelo menos, xs mais inteligentes.
20 de dezembro de 2011
Boicota!
A partir de 1 de Janeiro de 2012 começa já um Boicote ao Pagamento de Transportes Públicos.
O boicote consiste em ocupar os transportes públicos sem validar, sem comprar títulos de viagem, sem pagar mensalidades e sem pagar multas.
Os objectivo deste boicote são:
» Continuação dos passes 4_18, sub23 e sénior.
» Anulação dos aumentos tarifais de Agosto.
» Continuação de todas as carreiras e horários/ não à supressão.
Estratégias como fugir à fiscalização, fornecer moradas falsas no momento do auto e protelar indefinidamente o pagamento das multas são formas de desobediência pacífica e aceitáveis.
Cartaz da Gui.
19 de dezembro de 2011
Carta aberta ao Senhor Primeiro-Ministro
Este testemunho que agora partilho, emotivo e verdadeiro, foi publicado no facebook e roubado por mim aqui. Toda a minha solidariedade, respeito e disponibilidade para ajudar a fazer emigrar Passos Coelho.
"Exmo Senhor Primeiro Ministro
Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.
Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.
Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido.
Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida. Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais. Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de trabalho. "És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui dentro." - disseram-me - "Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado alto na redacção". Fiquei.
Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o desemprego. "Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo, arranjarei trabalho num instante". Não arranjei. Aos 29 anos conheci a precariedade. Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa". Tinha como ordenado 'fixo' 485 euros x 7 meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas...
Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio. Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a besta. Conheci o desespero. Conheci - felizmente! - também outras pessoas que partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor.
Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa. Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim, tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez.
Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana. Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiro-ministro, por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar...
Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que não se torne também ele um excedentário no seu próprio país? Ou, ainda, que venha comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores condições para crescer pois ele é um dos seus melhores - e cada vez mais raros - valores: um ser humano em formação.
Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa. Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca.
Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro.
E como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus.
Myriam Zaluar, 19/12/2011"
Cenas do socialismo real!
18 de dezembro de 2011
Repito: Jovens aconselham o governo a emigrar
“Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras” disse Alexandre Miguel Mestre em visita à comunidade portuguesa e de luso-descendente em São Paulo. O secretário de Estado da Juventude e do Desporto junta assim mais uma peça ao discurso do governo: vamos exportar a juventude!
É uma proposta coerente com a estratégia do Governo PSD-CDS. Lembram-se do ato falhado de José Sócrates, quando disse que queira "um país mais pobre"? Pois bem, o que o Governo PS disse entre dentes, o Governo Passos-Portas afirma solenemente como grande estratégia nacional: temos de empobrecer. E porquê? Para "renascer das cinzas", pois claro. Havia de ser para quê? Tudo isso é coerente, o país empobrece e aumenta-se a exportação de pobres. O secretário de Estado (aliás devia ser promovido a ministro!) quer melhorar a qualidade dessas exportações, o que é uma ótima ideia. A sua proposta é corajosa, diz que não devemos ter medo da "fuga de cérebros", que não devemos ser negativistas. Ou seja, exportações de qualidade, os mais jovens, as mais qualificadas. É um plano com futuro, não haja dúvida.
Há apenas um problema. "Vão viver pior que os vossos pais" não anima nem mais novos nem mais velhos. "Os vossos filhos vão viver pior que pais e avós", muito menos. Podem tentar atirar-nos areia para os olhos, com o discursos dos "horizontes de esperança"1 da emigração. Podem insultar-nos de vivermos na "zona de conforto", esse país que condenam a empobrecer. Mas nós é que temos um conselho para o Governo. Os jovens que não querem ser expulsos por traidores, as trabalhadoras que não querem ser condenadas às paredes do lar, os pais e avós que não fizeram o 25 de Abri para aturar esta contra-revolução que de meia hora em 13º mês nos rouba o passado e o futuro: aconselhamos o governo a emigrar e, como dizia o outro culpado, deixem-nos trabalhar!
1 Referência à obra de David Harvey "Espaços da esperança" (Loyola, 2000).
14 de dezembro de 2011
Assalto à EDP
O Governo abdica de ter posição estratégica na EDP, mas a privatização será para empresas controladas por outros governos.
O Conselho de supervisão inclina-se para a China Three Gorges Corporation e para a alemã E.ON, empresa onde Merkel tem poder e influência. Sobram as brasileiras Eletrobras (governo federal brasileiro) e Cemig (governo do estadual de Minas Gerais).
A E.ON decidiu despedir 11 mil dos seus 80 mil funcionários (jura, por agora, que a EDP ficará de fora). E a isto se juntam os baixos padrões chineses de direitos laborais.
No xadrez de interesses estatais externos e com catalisadores da destruição do emprego e direitos laborais, o futuro não é luminoso.
13 de dezembro de 2011
Desamarras. Rostos do Rendimento Social de Inserção do Porto
Para que serve o Rendimento Social de Inserção?
Financia a preguiça ou é uma medida socialmente útil e indispensável?
Que problemas e questões se levantam na vida de quem dele beneficia?
Estas são algumas das suas vozes.
Realização e produção de João Carlos Louçã, Nuno Moniz, Ricardo Sá Ferreira, com a colaboração de esquerda.net.
Projeção e debate:
Setúbal, dia 15 dezembro às 21h30 na Prima Folia, com Isabel Guerra.
Lisboa, dia 21 dezembro às 21h30 na Ler Devagar/Lx Factory, com Renato Miguel do Carmo.
Brevemente no Porto, Coimbra e Braga.
12 de dezembro de 2011
what/who the fuck is gil garcia?
É apenas fumaça…
Pode o CDS-PP mandar pontapés na (já finada) Maria José Nogueira Pinto numa reunião do Conselho Nacional do Partido, uma facção do PSD puxar o tapete aos santanistas e a Menezes estando estes na liderança do partido, o PCP purificar o partido vezes sem conta e o PS ter Mário Soares e os Socráticos a fazer campanha pública contra Seguro. Tudo como tinha de ser. Agora, basta um partido, cujos militantes (dizem que são 200) também estavam inscritos no Bloco de Esquerda (que para o ano alcançará os 10 mil militantes), anunciarem que renunciam a essa condição e aceleram-se os corações nas redacções, um frio ansioso e festivo toma conta dos directores de informação. Que assim seja não causa admiração, o Bloco segue sendo o Bloco, mas também é certo que uma certa interrogação perpassou muitos dos que leram tanto o anúncio da FER assim como o do Bloco, “o que daqui é verdadeiro ou falso?”. E discutir a política pela política é sempre a melhor via para o entendimento
O António Paço anda distraído e pergunta quando e onde a Ruptura/FER apelou ao voto em branco nas presidenciais. Bastava uma rápida pesquisa na net para saber que isso aconteceu, seguido até do acrescento – “ou em Francisco Lopes”. Quanto ao apoio aos Talibã a polémica pode ser consultada aqui. O Zé Neves diz que isso é boca, eu acho que é uma escolha política, uma escolha de quem se diz que quer ser alternativa. Até poderia ser dito mais, como por exemplo o facto da Ruptura/FER distribuir um documento em sessões públicas do BE no qual constava a defesa do apoio aos ataques do Hamas às populações civis de Israel.
Esse era, é certo, um documento (o Correio Internacional como lhe chamam) da sua internacional – a LIT-QI, mas hoje, como sempre na história, quem distribui um panfleto defende esse panfleto. Coisas de pormenor dirão alguns, “não são questões essenciais”. Até poderia ser, não fosse o caso de se poder perceber, por essa via, a questão essencial desta saída: porquê agora?
Porquê depois de anos de entrismo, de em 2007, no seu congresso a facção do Renato Teixeira ter proposto a saída do Bloco (misericórdia Renato, misericórdia), de em 2010 fazer a tentativa (falhada) de recolher 10% de assinaturas para a convocação de uma convenção extraordinária, de em Março ter anunciado a saída para correr a desmentir, de descrever o Bloco tal como assinala o Fabian no texto abaixo, e de há dois anos não participar na vida do Bloco. Porquê agora?
A resposta foi dada aos seus camaradas internacionais um mês antes do anúncio em Portugal. No congresso da LIT-QI, em Outubro passado, a mesma FER que em Portugal sai do Bloco de Esquerda para “por na ordem do dia a necessidade de uma nova revolução social" é a mesma FER que dita que:
e não me vão dizer que isto foi aprovado à revelia dos camaradas portugueses. Ou seja, a onda mais surfada por Gil Garcia nos últimos dois anos, “um governo BE-PCP”, é isso mesmo, uma onda que corre no terreno da propaganda, mas como a situação é pré-revolucionária (curiosamente o mesmo documento diz que no mundo ela é revolucionária), urge ganhar a vanguarda. Traduzindo: os indignados que se cuidem.
As cortinas levantam-se e vê-se o rabo dos actores: a propaganda justifica-se a si mesmo, não levanta questões, não confronta a urgência da organização nem aponta caminhos. Sair, rápido e em força pois finalmente há uma "vanguarda" a disputar. Por isso não aflige a Gil Garcia o que vai dizer em Março quando criar a recauchutada força política, ou vai propor novamente um governo do PCP (que aqui há poucos anos descrevia como “o partido da aristocracia e da burocracia sindical, o partido que desmobiliza e trai constantemente as lutas operárias e sindicais) e o BE, a quem apelida agora de incapaz? Ou será a FER a alternativa de Governo de um país em situação pré-revolucionária num cenário de suspensão total da dívida e saída do Euro?
Não se sabe, nem interessa. E como tudo cabe na propaganda venha daí o populismo rasteiro dos “financiamentos avultados” (qualquer das principais Associações Académicas do país tem um orçamento superior ao do Bloco) e a tragicomédia de erguer a bandeira das causas fracturantes, o mesmo partido que defendia a primazia do ataque ao Governo sobre a campanha unitária do Aborto e que sempre desvalorizou a MGM ou outras causas.
Para quem está na esquerda, na luta contra a troika e contra a política da bancarrota, há duas perguntas se impõem: 1) o que acrescenta este novo partido dirigido por Gil Garcia? 2) O que este partido contribuiu para os novos movimentos de contestação social? A resposta virá com o tempo.
Pérolas revolucionárias
A saída do Bloco
1. A FER decidiu sair do Bloco no inicio de 2011 por causa do Alegre e do abandono das causas fracturantes? Isso dizem eles agora, porque, na verdade, era um plano bem antigo..
"Em Portugal, fazemos parte do Bloco de Esquerda e trabalhamos no seu interior sem ilusões sobre a sua evolução. No caso do Governo Sócrates não manter a sua maioria absoluta, a pressão para formar uma coligação PS/BE será muito forte. Em todo o caso, considerando as condições actuais, o trabalho no BE e, mais ainda, a actividade nos movimentos sociais enquanto militantes dos Bloco, representa a melhor táctica para chegar outros sectores militantes e a que oferece melhores possibilidades para a construção de um partido, a partir da nossa inserção na juventude e no sector bancário."
In texto Europeu das Teses do congresso da LIT de 2008, página 10
Original em italiano está disponível aqui: http://www.
A FER nunca publicou este texto no seu site. A versão em espanhol que esteve disponível no site da LIT omitia este momento de franqueza dos militantes da LIT
A direcção do Bloco na sua nota redigiu o seguinte:
"Os membros do Bloco lembram-se de intervenções tão extravagantes como o apelo à constituição de brigadas para apoiar os talibãs no Afeganistão"
Os membros do Ruptura/FER têm-no negado publicamente, ou como Gil Garcia nas inúmeras declarações públicas que fez, têm evitado abordar o assunto, mas vamos aos factos e às fontes:
2. A carta da LIT bem como a resposta de Farooq Tariq podem ser lidas aqui
O livre porte de armas
1. Há uns anos atrás debateu-se internamente a questão do livre porte de armas, a posição do BE foi e ainda é de oposição. O Ruptura/FER divergiu, posicionando-se favoravelmente ao porte de armas, posição que o PSTU (secção brasileira) já tinha defendido em matéria de referendo, juntamente com toda a direita brasileira.
"Vote Não! Pelo direito à autodefesa dos trabalhadores O desarmamento não vai resolver a violência. O objetivo dessa campanha é manter nas mãos do Estado o monopólio da violência e da repressão"
As Presidenciais
1. Na convenção de 2007 o Bloco de Esquerda foi acusado pela FER de não querer ganhar as eleições e de apenas lutar pelo fim da maioria absoluta a José Sócrates. Diziam que para isso bastava vontade da Direcção do BE, a solução passaria por uma coligação: Bloco de Esquerda + PCP + Manuel Alegre + CGTP.
2. Chegado o tempo das Presidências a FER mudou diversas vezes de posição, defendeu Manuel Alegre, Fernando Nobre e por fim o voto em branco ou o voto em Francisco Lopes (Spectrum, 5dias, Ruptura/FER). Fernando Rosas sintetizou bem toda a novela num artigo que pode ser encontrado aqui
Portugal em Estado Pré-Revolucionário (em 2008)
1. "A situação política vivida em Portugal hoje aproxima-se bastante da descrita pelo revolucionário russo Vladimir Lenine como aquela em que “os de baixo não querem e os de cima não conseguem” governar. Para estar à altura desta situação, a esquerda não pode se limitar a fazer o mesmo de sempre."
2. "...Em contraste com o refluxo Espanhol posterior à constituição do Governo Zapatero, Portugal tem vivido mobilizações massivas que representam o despertar da classe trabalhadora Portuguesa, passiva durante muito tempo..."
Excerto retirado de Una politica revolucionaria para Europa LIT-CI EUROPA, textos programáticos do penúltimo congresso da LIT.
Um bocado de história
1.Ao longo da sua história, a corrente FER teve múltiplas formas e designações. Fundada como Grupo Marxista Revolucionário, passou pelas siglas ASJ e PRT, entrou e saiu do PSR, fundiu-se e cindiu com o POUS, chamou-se LST e PST. Adoptou a designação FER no quadro de uma curta aliança com a Política Operária (organização fundada por Francisco Martins Rodrigues). Em 2000 entrou no Bloco de Esquerda, em 2011 saiu para criar um novo partido em Março de 2012.
2.Em 1991, nas últimas eleições a que a FER concorreu, as listas de Gil Garcia obtiveram cerca de 6 mil votos (0,1%).
10 de dezembro de 2011
Luto político
"Sob a influência da traição e da degenerescência das organizações do proletariado nascem ou se regeneram, na periferia da IV Internacional, grupos e posições sectárias de diferentes géneros. Possuem em comum a recusa de lutar por reivindicações parciais ou transitórias, isto é, pelos interesses e necessidades elementares das massas tais como são. Preparar-se para a revolução significa, para os sectários, convencerem-se a si mesmos das vantagens do socialismo. Propõem voltar as costas aos "velhos sindicatos", isto é, às dezenas de milhões de operários organizados, como se as massas pudessem viver fora das condições da luta de classes real! Permanecem indiferentes à luta que se desenvolve no seio das organizações reformistas, como se pudéssemos conquistar as massas sem intervir nesta luta! Recusam-se a distinguir, na prática, a democracia burguesa do fascismo, como se as massas pudessem deixar de sentir essa diferença a cada passo.
Os sectários só são capazes de distinguir duas cores: o branco e o preto. Para não se exporem à tentação, simplificam a realidade. Recusam-se a estabelecer uma diferença entre os campos em luta em Espanha pela razão de que os dois campos têm um carácter burguês. Pensam, pela mesma razão, que é necessário ficar neutro na guerra entre o Japão e a China. Negam a diferença de princípio entre a URSS e os países burgueses e recusam-se, tendo em vista a política reaccionária da burocracia soviética, a defender contra o imperialismo as formas de propriedade criadas pela Revolução de Outubro.
Incapazes de encontrar acesso às massas, estão sempre dispostos a acusá-las de serem incapazes de se elevar até as ideias revolucionárias.
Uma ponte, sob a forma de reivindicações transitórias, não é absolutamente necessária a esses profetas estéreis, pois não se dispõem a passar para o outro lado do rio. Não saem do lugar, contentando-se em repetir as mesmas abstracções vazias. Os acontecimentos políticos são para eles ocasião de tecer comentários, mas não de agir. Como sectários, os confusionistas e os fazedores de milagres de toda espécie recebem a cada momento chicotadas da realidade, vivem em estado de continua irritação, queixando-se sem cessar, do "regime" e dos "métodos" e entregando-se a intrigazinhas. Nos seus próprios meios exercem um regime de despotismo. A prostração política do sectarismo apenas completa, como a sua sombra, a prostração do oportunismo, sem abrir perspectivas revolucionárias. Na política prática, os sectários unem-se a todo o instante aos oportunistas para lutar contra o marxismo.
A maioria dos grupos e grupelhos sectários desse gênero, que se alimentam das migalhas caídas da mesa da IV Internacional, levam uma existência organizativa "independente", com grandes pretensões, mas sem a menor hipótese de sucesso, Os bolcheviques-leninistas podem, sem perder seu tempo, abandonar tranquilamente estes grupos à sua própria sorte.
Entretanto, as tendências sectárias encontram-se também nas nossas próprias fileiras e exercem uma funesta influência sobre o trabalho de certa secções. É uma coisa que é impossível suportar mais um só dia. Uma política justa quanto aos sindicatos é uma questão fundamental para pertencer à IV Internacional. Aquele que não procura nem encontra o caminho do movimento de massas não é um combatente, mas um peso morto para o Partido. Um programa não é criado para uma redacção, uma sala de leitura ou um clube de discussão, mas para a acção revolucionária de milhões de homens. "
in: Programa de Transição, 1938
adeus, viscondessa da luz. adeus, rosa montufar. adeus, mais algumas pessoas. oh!, vão, vão; deixem-me, adeus!
Para sempre aos olhos meus
Sumido seja o clarão
De tua divina estrela.
Faltam-me olhos e razão
Para a ver, para entendê-la:
Alta está no firmamento
De mais, e de mais é bela
Para o baixo pensamento
Com que em má hora a fitei;
Falso e vil o encantamento
Com que a luz lhe fascinei.
Que volte a sua beleza
Do azul do céu à pureza,
E que a mim me deixe aqui
Nas trevas em que nasci,
Trevas negras, densas, feias,
Como é negro este aleijão
Donde me vem sangue às veias,
Este que foi coração,
Este que amar-te não sabe
Porque é só terra - e não cabe
Nele uma ideia dos Céus ...
Oh!, vai, vai; deixa-me, adeus!"
9 de dezembro de 2011
8 de dezembro de 2011
Amor Científico
I
Quis rasgar os poemas
E as filosofias
Éticas e estéticas
E as sabedorias
Senti no frio da matéria
O ardor da distância
Descobri nas palavras ao vento
A cúmplice da frustração,
o par da ânsia
E gritei, por fim,
com toda a violência:
II
Não quero mais cantar este sentimento
Não quero mais contar os dias de desalento
Fim à matemática tétrica e funesta
Fim à métrica castradora das canções
Quero é uma ciência dura transformadora da matéria
Quero é uma ciência de fazer revoluções
III
E a revolta materialista esculpiu com dor
e tempo
Os caminhos sonhados das palavras ao vento
Bruno Góis
Nota: Amor Científico foi escritos a 2 de abril de 2009. Junto com Irrealismo necessário do Amor (Científico), escrito a 3 de agosto de 2009, está publicado aqui.