12 de dezembro de 2011

Pérolas revolucionárias

Desde a oficialização "oficial", vale a redundância, da saída do Ruptura/FER do BE, vieram novamente à baila algumas divergências entre a maioria do Bloco de Esquerda e a corrente Ruptura/FER. Vamos por fases:

A saída do Bloco

1. A FER decidiu sair do Bloco no inicio de 2011 por causa do Alegre e do abandono das causas fracturantes? Isso dizem eles agora, porque, na verdade, era um plano bem antigo..

"Em Portugal, fazemos parte do Bloco de Esquerda e trabalhamos no seu interior sem ilusões sobre a sua evolução. No caso do Governo Sócrates não manter a sua maioria absoluta, a pressão para formar uma coligação PS/BE será muito forte. Em todo o caso, considerando as condições actuais, o trabalho no BE e, mais ainda, a actividade nos movimentos sociais enquanto militantes dos Bloco, representa a melhor táctica para chegar outros sectores militantes e a que oferece melhores possibilidades para a construção de um partido, a partir da nossa inserção na juventude e no sector bancário."

In texto Europeu das Teses do congresso da LIT de 2008, página 10

Original em italiano está disponível aqui: http://www.partitodialternativacomunista.org/index.php?option=com_content&task=view&id=810&Itemid=45

A FER nunca publicou este texto no seu site. A versão em espanhol que esteve disponível no site da LIT omitia este momento de franqueza dos militantes da LIT

2. O Ruptura tinha certeza de uma coisa, que iria sair do Bloco não sabia era quando. Aliás entende desde início que o BE é: "um remake pouco original das velhas e reaccionárias utopias do reformismo europeu". (Teses congresso LIT).

A questão dos Talibans:

A direcção do Bloco na sua nota redigiu o seguinte:

"Os membros do Bloco lembram-se de intervenções tão extravagantes como o apelo à constituição de brigadas para apoiar os talibãs no Afeganistão"

Os membros do Ruptura/FER têm-no negado publicamente, ou como Gil Garcia nas inúmeras declarações públicas que fez, têm evitado abordar o assunto, mas vamos aos factos e às fontes:

1. A LIT, a organização internacional da Ruptura/Fer, com sede em São Paulo, enviou uma carta ao Partido dos Trabalhadores do Paquistão (LPP, Labor Party of Pakistan) intimando os seus dirigentes e militantes a combaterem sob o comando dos talibans no Afeganistão. Farooq Tariq respondeu em nome do LPP lembrando simplesmente que, se os militantes paquistaneses, ateus e revolucionários, se colocassem ao serviço dos talibans, seriam sem dúvida gentilmente assassinados por estes e de imediato, tornando pouco útil o seu gesto generoso. Ler o resto aqui

2. A carta da LIT bem como a resposta de Farooq Tariq podem ser lidas aqui

O livre porte de armas

1. Há uns anos atrás debateu-se internamente a questão do livre porte de armas, a posição do BE foi e ainda é de oposição. O Ruptura/FER divergiu, posicionando-se favoravelmente ao porte de armas, posição que o PSTU (secção brasileira) já tinha defendido em matéria de referendo, juntamente com toda a direita brasileira.
"Vote Não! Pelo direito à autodefesa dos trabalhadores O desarmamento não vai resolver a violência. O objetivo dessa campanha é manter nas mãos do Estado o monopólio da violência e da repressão"

As Presidenciais

1. Na convenção de 2007 o Bloco de Esquerda foi acusado pela FER de não querer ganhar as eleições e de apenas lutar pelo fim da maioria absoluta a José Sócrates. Diziam que para isso bastava vontade da Direcção do BE, a solução passaria por uma coligação: Bloco de Esquerda + PCP + Manuel Alegre + CGTP.

2. Chegado o tempo das Presidências a FER mudou diversas vezes de posição, defendeu Manuel Alegre, Fernando Nobre e por fim o voto em branco ou o voto em Francisco Lopes (Spectrum, 5dias, Ruptura/FER). Fernando Rosas sintetizou bem toda a novela num artigo que pode ser encontrado aqui

Portugal em Estado Pré-Revolucionário (em 2008)

1. "A situação política vivida em Portugal hoje aproxima-se bastante da descrita pelo revolucionário russo Vladimir Lenine como aquela em que “os de baixo não querem e os de cima não conseguem” governar. Para estar à altura desta situação, a esquerda não pode se limitar a fazer o mesmo de sempre."

2. "...Em contraste com o refluxo Espanhol posterior à constituição do Governo Zapatero, Portugal tem vivido mobilizações massivas que representam o despertar da classe trabalhadora Portuguesa, passiva durante muito tempo..."
Excerto retirado de Una politica revolucionaria para Europa LIT-CI EUROPA, textos programáticos do penúltimo congresso da LIT.

Um bocado de história

1.Ao longo da sua história, a corrente FER teve múltiplas formas e designações. Fundada como Grupo Marxista Revolucionário, passou pelas siglas ASJ e PRT, entrou e saiu do PSR, fundiu-se e cindiu com o POUS, chamou-se LST e PST. Adoptou a designação FER no quadro de uma curta aliança com a Política Operária (organização fundada por Francisco Martins Rodrigues). Em 2000 entrou no Bloco de Esquerda, em 2011 saiu para criar um novo partido em Março de 2012.

2.Em 1991, nas últimas eleições a que a FER concorreu, as listas de Gil Garcia obtiveram cerca de 6 mil votos (0,1%).

2 comentários:

  1. tem piada que, passados dois dias da sua publicação, este post ainda não tem nenhum comentário. Contra os factos...

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  2. Sobre o porte de arma:

    Em primeiro lugar, quando é que foi esse debate, que eu sou aderante desde a fundação e nunca ouvi falar nisso?

    Em segundo, qual é o problema de, nesse debate, a Ruptura/FER ter defendido uma posiçáo diferente da maioria (a posição da FER que até nem tem nada de extravagante para uma organização marxista - é a linha tradicional do "desaparecimento gradual do aparelho repressivo do Estado e a sua substituição pelo povo em armas")?

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