12 de dezembro de 2011

É apenas fumaça…

Pode o CDS-PP mandar pontapés na (já finada) Maria José Nogueira Pinto numa reunião do Conselho Nacional do Partido, uma facção do PSD puxar o tapete aos santanistas e a Menezes estando estes na liderança do partido, o PCP purificar o partido vezes sem conta e o PS ter Mário Soares e os Socráticos a fazer campanha pública contra Seguro. Tudo como tinha de ser. Agora, basta um partido, cujos militantes (dizem que são 200) também estavam inscritos no Bloco de Esquerda (que para o ano alcançará os 10 mil militantes), anunciarem que renunciam a essa condição e aceleram-se os corações nas redacções, um frio ansioso e festivo toma conta dos directores de informação. Que assim seja não causa admiração, o Bloco segue sendo o Bloco, mas também é certo que uma certa interrogação perpassou muitos dos que leram tanto o anúncio da FER assim como o do Bloco, “o que daqui é verdadeiro ou falso?”. E discutir a política pela política é sempre a melhor via para o entendimento

O António Paço anda distraído e pergunta quando e onde a Ruptura/FER apelou ao voto em branco nas presidenciais. Bastava uma rápida pesquisa na net para saber que isso aconteceu, seguido até do acrescento – “ou em Francisco Lopes”. Quanto ao apoio aos Talibã a polémica pode ser consultada aqui. O Zé Neves diz que isso é boca, eu acho que é uma escolha política, uma escolha de quem se diz que quer ser alternativa. Até poderia ser dito mais, como por exemplo o facto da Ruptura/FER distribuir um documento em sessões públicas do BE no qual constava a defesa do apoio aos ataques do Hamas às populações civis de Israel.

Esse era, é certo, um documento (o Correio Internacional como lhe chamam) da sua internacional – a LIT-QI, mas hoje, como sempre na história, quem distribui um panfleto defende esse panfleto. Coisas de pormenor dirão alguns, “não são questões essenciais”. Até poderia ser, não fosse o caso de se poder perceber, por essa via, a questão essencial desta saída: porquê agora?

Porquê depois de anos de entrismo, de em 2007, no seu congresso a facção do Renato Teixeira ter proposto a saída do Bloco (misericórdia Renato, misericórdia), de em 2010 fazer a tentativa (falhada) de recolher 10% de assinaturas para a convocação de uma convenção extraordinária, de em Março ter anunciado a saída para correr a desmentir, de descrever o Bloco tal como assinala o Fabian no texto abaixo, e de há dois anos não participar na vida do Bloco. Porquê agora?

A resposta foi dada aos seus camaradas internacionais um mês antes do anúncio em Portugal. No congresso da LIT-QI, em Outubro passado, a mesma FER que em Portugal sai do Bloco de Esquerda para “por na ordem do dia a necessidade de uma nova revolução social" é a mesma FER que dita que:


Sobre Portugal, também se abordou o caráter da situação política e, a partir dessa definição, como ordenar as consignas dentro do programa a propor às massas. Neste sentido, deu-se outra discussão sobre que localização (na agitação ou na propaganda) deve ter as consignas de poder. Isto é, que papel teriam palavras de ordem como: Por um governo operário e popular. Definiu-se que a situação é pré-revolucionária e que as consignas de poder ainda estão no terreno da propaganda, ainda que sejam muito importantes para ir disputando a vanguarda.


e não me vão dizer que isto foi aprovado à revelia dos camaradas portugueses. Ou seja, a onda mais surfada por Gil Garcia nos últimos dois anos, “um governo BE-PCP”, é isso mesmo, uma onda que corre no terreno da propaganda, mas como a situação é pré-revolucionária (curiosamente o mesmo documento diz que no mundo ela é revolucionária), urge ganhar a vanguarda. Traduzindo: os indignados que se cuidem.

As cortinas levantam-se e vê-se o rabo dos actores: a propaganda justifica-se a si mesmo, não levanta questões, não confronta a urgência da organização nem aponta caminhos. Sair, rápido e em força pois finalmente há uma "vanguarda" a disputar. Por isso não aflige a Gil Garcia o que vai dizer em Março quando criar a recauchutada força política, ou vai propor novamente um governo do PCP (que aqui há poucos anos descrevia como “o partido da aristocracia e da burocracia sindical, o partido que desmobiliza e trai constantemente as lutas operárias e sindicais) e o BE, a quem apelida agora de incapaz? Ou será a FER a alternativa de Governo de um país em situação pré-revolucionária num cenário de suspensão total da dívida e saída do Euro?

Não se sabe, nem interessa. E como tudo cabe na propaganda venha daí o populismo rasteiro dos “financiamentos avultados” (qualquer das principais Associações Académicas do país tem um orçamento superior ao do Bloco) e a tragicomédia de erguer a bandeira das causas fracturantes, o mesmo partido que defendia a primazia do ataque ao Governo sobre a campanha unitária do Aborto e que sempre desvalorizou a MGM ou outras causas.

Para quem está na esquerda, na luta contra a troika e contra a política da bancarrota, há duas perguntas se impõem: 1) o que acrescenta este novo partido dirigido por Gil Garcia? 2) O que este partido contribuiu para os novos movimentos de contestação social? A resposta virá com o tempo.

1 comentário:

  1. É mesmo preciso ter perdido toda a vergonha. Mas deste-te ao menos ao trabalho de ir ler os textos que lincaste, acerca da discussão da direcção da LIT (e não o Ruptura) com o Farooq Tariq? Parece-te mesmo que eles autorizam um organismo de direcção de um partido político a falar de "intervenções tão extravagantes como o apelo à constituição de brigadas para apoiar os talibãs no Afeganistão"? Tudo nesta frase convida a pensar que isso terá sido uma intervenção de um militante do Ruptura numa reunião do Bloco quando sabemos, eu, tu e a comissão política, que isso pura e simplesmente não corresponde à verdade.

    ResponderEliminar