30 de abril de 2012

Amores de primavera - Yusef Lateef

Há músicos que quando os ouvimos pela primeira vez percebemos que a relação vai durar bem mais do que uma noite. Esta primavera o meu coração é todo ele deste respeitável Gentle Gigant, Yusef Lateef. Para ouvir sem moderação.






29 de abril de 2012

Ventos Árabes




El caso de Siria es el más doloroso. Tan legítima y espontánea como la de sus hermanos árabes, su revolución democrática contra 40 años de dictadura parece amenazar el orden regional y la paz mundial y resucitar el fantasma de la Guerra Fría. Su insistencia heroica frente a la represión ha activado la intervención de toda una serie de potencias y subpotencias que tratan de explotar o anular el movimiento popular sin alterar de manera significativa el “equilibrio” de las últimas décadas.

SANTIAGO ALBA RICO, dIAGONAL

27 de abril de 2012

Se gostaste do filme vais adorar o livro



A imagem tem mesmo muita força. Depois de muitos terem resistido à hora tardia da estreia do documentário do Jorge Costa “Donos de Portugal”, muitos milhares já o viram na internet. São 48 minutos e 6 segundos em que se expõem os contos proibidos da burguesia portuguesa e se percebe a teia de interesses que faz de Portugal um país agrilhoado.




O documentário chegou até à Forbes, que perante estes dois gráficos disse num impulso de honestidade: "Percebe-se tudo". A partir daí até o Público já se serviu dos gráficos que circulam pela internet em alta velocidade. Mas como nesses milhares cabe muita gente não tardaram a surgir algumas críticas, com a Fernanda Câncio a queixar-se da sonorização e do Jorge Costa não lhe dar ouvidos (um problema de comunicação sério) e o Ricardo Lima do Insurgente a queixar-se do tom panfletário. Até o poderia ser – há panfletos que mudaram o mundo – mas não precisa. Quem o viu e partilhou logo concordou, “percebe-se tudo”.


Mas os sensíveis e os avessos à denúncia têm sempre uma alternativa, a mesma que se apresenta como complemento a quem gostou do filme: ler o livro

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Recordo aqui um post de Dezembro de 2010 sobre o livro

Os Donos de Portugal: Cem anos de poder económico (1910-2010), escrito por Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório, Francisco Louçã e Fernando Rosas é, além de uma análise lúcida sobre a formação, as estratégias e alguns dos percalços da burguesia portuguesa, um livro necessário.

É daquelas obras que num primeiro folhear rápido nos dá vontade de começar pelo fim, ou seja, pelo último e mais demolidor capítulo, “A recomposição da burguesia (1974-2010)”. O retrato de uma burguesia parasitária e acoitada pelo Estado, alicerçada em incessantes estratagemas e ardis pelo controlo e rentabilização segura do sector financeiro é apresentado de forma bastante clara.

 O verdadeiro pavor pelo investimento produtivo de risco presente nesta elite reflecte-se na busca por um poder político amigo, íntimo e prestativo. PSD e PS encontram no BES, BCP e BPN um aconchego seguro para os seus quadros. E o Cavaquismo, claro, aí aparece como a concentração de forças que derrubou os limites políticos para o ataque conjunto aos monopólios e serviços públicos, movimento continuado por Guterres, Barroso e Sócrates.

 Quem recuar e se concentrar nos primeiros capítulos poderá perceber que esta é uma elite que se forjou desde há muito, e tem nas suas origens um cruzamento (sexual e matrimonial) das principais famílias: os Champalimaud, Mello, Ulrich, Roquete, Espírito Santo, entre outras.

Não resisto a deixar aqui apenas 3 trajectórias, apresentadas no livro, de homens fortes da burguesia portuguesa:

Álvaro Barreto
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1959-1968: Profabril, chefe de projectos
1969-1971: Lisnave (Mello), director administrativo
1971-1974: Setenave, administrador-delegado




1974-1978: Lisnave (nacionalizada), administrador-delegado
1978-1979: Ministro da Industria e Tecnologia do Governo Mota Pinto
1979: TAP, presidente
1980-1981: Ministro da Industria e Energia do Governo AD (pelo PSD)
1981: Ministro da Integração Europeia do Governo AD (pelo PSD)
1982-1983: Soporcel, Presidente CA
1983: Ministro do Comércio e Turismo do Governo do Bloco Central (pelo PSD)
1984-1990: Ministro da Agricultura dos Governos do Bloco Central e do PSD
1990-1997: Deputado
1990-2000: Plêiade CA não-executivo
1990-2002: Sonae, conselho consultivo
1990: Soporcel, presidente
1990: Somincor CA não executivo
1990-2007: Grupo Mello: Nutrinveste e Mellol (na Tabaqueira com Philip Morris) CA não-executivo
1990-2007: Portugália, Presidente AG
1990-2007: Tejo Energia, Presidente não-executivo
1990-2000: Cometna AG Presidente
1991-1997: Câmara de Comêrcio Luso-Britânica, Presidente
2002-2004: Deputado
2004-2005: Ministro de Estado da Economia e do Trabalho do Governo do PSD-CDS
2004-2006: Semapa (Queiroz Pereira) CA
2005-2007: Portucel e Soporcel CA
2007: BPP Privado Holding, conselho consultivo
2010: Integra a Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva às presidenciais de 2011. [acrescento meu]


Joaquim Ferreira do Amaral
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1978: Director Geral das Indústrias Electromecânicas
1979: Secretário de Estado das Industrias Extractivas e Transformadoras do Governo AD (pelo PSD)
1981: Secretário de Estado da Integração Europeia do Governo AD (pelo PSD)
1982-1983: INDEP armamento (pública), vice-presidente, Instituto do Investimento Estrangeiro, vice-presidente; EDIG European Defense Industrial Group, vice-presidente.
1984-1985: Secretário de Estado do Turismo do Governo do Bloco Central (pelo PSD)
1984-1985: Ministro do Comércio e Turismo do Governo do Bloco Central (pelo PSD)
1985: Assembleia Municipal de Cascais, Presidente
1986: IFADAP, Presidente
1987-1990: Ministro do Comércio e Turismo do Governo PSD
1990-1995: Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações do Governo PSD
1991-1999: Deputado e membro do Conselho Superior de Defesa Nacional
1997-2001: Câmara Municipal de Lisboa, Vereador
2000: Candidato à Presidência da República
2001: Cimianto CA
2001: Deputado
2002-2005: Galp CA chairman
2005-2010: Lusoponte, Presidente
2006-2010: Semapa CA e comissão de auditoria
2009-2010: Consultor do Dresdner Bank, da Transdev transportes e da Lisboa Vista do Tejo.
2010: Integra a Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva às presidenciais de 2011. [acrescento meu]


Joaquim Pina Moura
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1972- 1991: Militante do PCP [acrescento meu]
1976-1979: Dirigente da União dos Estudantes Comunistas (UEC) [acrescento meu]
1992: Docente universitário
1995-1997: Secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro do Governo PS
1997-1999: Ministro da Economia do Governo PS
1999-2007: Deputado
2004: CA BCP consultor do CA para a Energia
2004-2007: Galp CA
2004-2010: Iberdrola Portugal presidente
2007-2009: TVI MediaCapital chairman


25 de abril de 2012

Donos de Portugal (documentário completo)


Donos de Portugal é baseado no livro homónimo de Jorge Costa, Cecília Honório, Luís Fazenda, Francisco Louçã e Fernando Rosas, editado em 2011 pela Afrontamento e que mais de 12 mil exemplares vendidos.
Donos de Portugal é um documentário sobre cem anos de poder económico. O filme retrata a proteção do Estado às famílias que dominaram a economia do país, as suas estratégias de conservação de poder e acumulação de riqueza. Mello, Champalimaud, Espírito Santo – as grandes famílias cruzam-se pelo casamento e integram-se na finança. Ameaçado pelo fim da ditadura, o seu poder reconstitui-se sob a democracia, a partir das privatizações e da promiscuidade com o poder político. Novos grupos económicos – Amorim, Sonae, Jerónimo Martins - afirmam-se sobre a mesma base. Quando a crise desvenda todos os limites do modelo de desenvolvimento económico português, este filme apresenta os protagonistas e as grandes opções que nos trouxeram até aqui.

24 de abril de 2012

Até já Miguel. Até amanhã Camarada.

Comecei a conhecer pessoalmente o Miguel na última Convenção do Bloco, veio dar-me os parabéns pela intervenção viva que tinha feito, ao estilo da Assembleia Magna de Coimbra, disse-me ele. Antes disso convidara-me várias vezes para aparecer em Bruxelas, apesar dos anos de militância e das oportunidades, acabei por nunca ir, hoje já é tarde demais para o arrependimento. 
Tive o gosto de fazer grande parte da campanha eleitoral das legislativas transatas com ele, de Vila Real, a Coimbra e Lisboa, passaram-se centenas de quilómetros, demasiado curtos para tanta conversa. 
No passado mês de Março, juntamente com outros camaradas jovens de Coimbra, organizei uma das últimas - senão a última - sessão pública em que esteve em Portugal como Eurodeputado do Bloco. A Europa deve estar louca, assim optamos por a designar, a vivacidade que empreendeu no debate não fazia adivinhar o dia de hoje. No final, convidou-me novamente, desta vez para jantarmos pela cidade, tive que declinar, tínhamos Assembleia Magna.

Não vale a pena acentuar os desencontros, de nada valem, ficam as conversas, as histórias, e a curiosidade pelos episódios que não me chegara a contar.


Fica um até já para o Miguel, e um ate amanhã para o camarada.

A luta continua.

Assim somos à esquerda.

22 de abril de 2012

Lições francesas


1. Em tempos de austeridade parece ter-se tornado regra que a força política que está no poder perde. Depois do PS, PSOE, parece ter chegado a vez da UMP de Sarkozy. Só um milagre poderá impedir que não se passe o mesmo com o PASOK na Grécia, e tudo indica que a CDU/CSU de Merkel após escrutínio será despejada do Bundestag.

2. As alianças de sectores de esquerda com a social-democracia europeia continuam a dar derrotas certas. Depois de terem tido 16% nas eleições europeias, os Verdes com Eva Joly ficaram-se por uns míseros 2%. É de relembrar que estes fizeram um pré-acordo com o PSF para as legislativas de Junho, que lhe garantirá entre 30 a 40 deputados, caso Hollande não decida rasgar o acordo após este desaíre eleitoral. Depois dos Verdes alemães de Joska Fischer e da Refundação Comunista de Fausto Bertinotti, fica registado mais um caso para memória e debate.

3. Deixado de lado o sectarismo e a desconfiança, Jean-Luc Melénchon e a Front de Gauche, conseguiram agregar um conjunto de forças de esquerda que de eleição em eleição têm vindo a crescer em força social e eleitoral. A França e a Europa precisavam de um paradigma de massas alternativo à esquerda, que se demarque pelo socialismo do social-liberalismo e das cedências às políticas de austeridade. Sem ilusões perante a praxis política do PSF, propõe-se a consolidar um projeto que os afirme como a maior força de esquerda em França, em alturas de crise e de aparente falta de saídas, é com estas mobilizações e fenómenos que o futuro se arquiteta. Os recuos significativos do NPA e da Lutte Ouvriére deviam obrigar as respetivas direções partidárias a uma reflexão profunda sobre o papel que pretendem desempenhar, sob pena de se diluírem definitivamente.

4. A Extrema-Direita tem marcado passo na Europa, depois dos fenómenos dos Partidos da Liberdade em 2009, do qual Geert Wilders é o expoente, da fascização da Hungria com o Jobbik, do crescimento eleitoral dos Verdadeiros Finlandeses, das sondagens gregas apontarem a entrada dos neo-nazis do Golden Dawn para o Parlamento, os 20% de Marine Le Pen são alarmantes e demonstrativos dos efeitos perversos que a narrativa austeritária e do racismo social provocam. Não olhar consequentemente para este tendência pode alimentar um monstro imparável que a história do século XX desaconselha vivamente.


20 de abril de 2012

Donos de Portugal

RTP 2: 24 para 25 de Abril, às 2h



Donos de Portugal é um documentário de Jorge Costa sobre cem anos de poder económico. O filme retrata a proteção do Estado às famílias que dominaram a economia do país, as suas estratégias de conservação de poder e acumulação de riqueza.

Mello, Champalimaud, Espírito Santo – as fortunas cruzam-se pelo casamento e integram-se na finança. Ameaçado pelo fim da ditadura, o seu poder reconstitui-se sob a democracia, a partir das privatizações e da promiscuidade com o poder político. Novos grupos económicos – Amorim, Sonae, Jerónimo Martins - afirmam-se sobre a mesma base.

No momento em que a crise desvenda todos os limites do modelo de desenvolvimento económico português, este filme apresenta os protagonistas e as grandes opções que nos trouxeram até aqui.

Produzido para a RTP 2 no âmbito do Instituto de História Contemporânea, o filme tem montagem de Edgar Feldman e locução de Fernando Alves.

A estreia televisiva insere-se no Dia D, iniciativa de divulgação de documentários de produção nacional na RTP2, e está prevista para cerca das 2h00, de 24 para 25 de Abril. A partir desse momento, o documentário estará disponível na íntegra em www.donosdeportugal.net.
Donos de Portugal é baseado no livro homónimo de Jorge Costa, Cecília Honório, Luís Fazenda, Francisco Louçã e Fernando Rosas, editado em 2011 pela Afrontamento e que mais de 12 mil exemplares vendidos.

17 de abril de 2012

A praxe por quem a tutela

“A praxe é hierárquica, é machista, é sexista. São características intrínsecas à praxe da UC e quando isso deixar de existir, deixa de ser a praxe da UC”.
 João Luís Jesus 
Dux Veteranorum 

16 de abril de 2012

Bola de neve


26 empresas por dia abrem falência. Aumento de 143 por cento de falências de restaurantes. O aumento do IVA e a quebra do consumo são os responsáveis. E assim se perde em postos de trabalho, IRC, Taxa Social Única. Uma bola de neve que arrasta micro, pequenas e médias empresas, que arrasta negócios familiares e famílias de trabalhadores. Que futuro tem um país sem mercado interno?
Este caminho para onde nos levam só nos destrói a economia e a vida. Destrói as nossas vidas. Só a oposição popular pode travar este rumo à miséria. Só da resistência nascerão as alternativas para recuperar a economia e defender uma democracia com direitos sociais para as pessoas, liberdade para cada um e cada uma e soberania para o povo.
Fora com a Troika! Fora com o governo colaboracionista! O que desta dívida for justo pagar só poderá ser pago nas condições determinadas por um povo soberano, de acordo com os seus interesses e não nas condições desta tutela criminosa.

13 de abril de 2012

Educa, mas pouco.


A educação em tempos de democracia precária.
Qualidade, muito pouca.
Investimento, nenhum.
Futuro... isso é coisa do passado!

12 de abril de 2012

Todos "Jacintos Leite Capelo Rego" já podem voltar a pagar quotas no CDS/PP

 

Jacinto Leite Capelo Rego é um dos supostos doadores do partido então e agora presidido por Paulo Portas, apesar das óbvias dúvidas sobre a existência deste nome. Além disso, a maioria dos recibos - cujas guias de transporte e facturas da tipografia fazem perceber que foram feitos em 2005 - apresenta só dois nomes e não tem escrito qualquer número de contribuinte, inviabilizando o apuramento da identidade dos "mecenas".
Fonte: JN

(via Nelson Fraga)

A regra de ouro


O PS revelou hoje que é à esquerda, enquanto partido, um ator definitivamente ausente. Qualquer cidadão de esquerda, independentemente da sua árvore genealógica, percebeu que a regra de ouro de défice estrutural de 0,5% a ser inscrita numa lei para-constitucional, ou mesmo na Constituição, é a tradução para a arquitetura jurídica portuguesa do liberalismo extremado eterno e da austeridade permanente.

Não se pode defender retórica e esteticamente o Serviço Nacional de Saúde, a Segurança-Social, a Escola Pública, em suma, o Estado Social e depois promulgar o seu assassinato com o voto favorável ao tratado europeu, imagine-se - depois deste teatrinho todo da adenda do "crescimento económico" - com disciplina de voto. A lucidez da discussão dos factos e dos efeitos atesta automaticamente a incoerência e a mentira política. A troika e o Estado Social, pertencem à partida, a campos radicalmente opostos, sem qualquer nexo ou fio de correlação possível.

Honestamente, não era de esperar outra coisa na prática nem nos argumentos. O voto favorável dos "socialistas" deve-se ao sentido de estado e à responsabilidade de defesa dos superiores interesses da nação, quando a coisa chega a este ponto, entende-se que o PS não tem um único argumento que fuja para lá da política austeritária, para defender a sua posição política à esquerda. O interesse nacional é em todas as circunstâncias, enquanto argumento, o mais barato, populista, demagógico e vazio, e ao mesmo tempo, a última divisão da discussão política e ideológica.  

Não é de estranhar que se tenha ouvido por parte de Francisco Assis e de Mota Amaral ataques viscerais às propostas da esquerda parlamentar anti-troika, de abnegação total do papel da democracia enquanto processo de decisão coletiva, criando uma narrativa que toda e qualquer proposta plebiscitária ou de consulta popular é um entrave político, uma não solução, uma reação conservadora. No passado, o argumento era parecido, mas apesar de tudo diferente, recordo-me que o Tratado de Lisboa não foi referendado porque o "povo não estava informado para o efeito". O espírito desta ideia em toda a sua forma e conteúdo é profundamente autoritária. Quando a democracia e o direito de participação pública cidadã são uma barreira à condução da vida do país, sabe-se que a soberania popular é algo que a elite portuguesa tem prazer em abdicar para conduzir seguramente o seu programa de extorsão. Não fosse o povo votar mal.

A saída do troikismo cabe à união de todos que se lhe opõem, o Partido Socialista relembrou hoje aos esquecidos que não está nessa.


Resistência Cultural

Resistência Cultural via J.L.Mélenchon 
 

11 de abril de 2012

Da coerência com o passado

Como o preço do combustível não está a bater preços históricos em Portugal não há necessidade para grandes dramas, nem para acusar o governo que está a agir tarde e a más horas.

10 de abril de 2012

eu acho bem que o josé antónio saraiva assuma publicamente a sua estupidez

Após ter lido este texto do José António Saraiva, uma série de ideias passou-me pela cabeça. Passam agora neste blog em regime de paráfrase.

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À minha frente, no computador, mais um texto execrável de José António Saraiva, dos seus 487 ou 488 anos. Pelo modo como escreve, espirra as mais cruas boçalidades e não parece aperceber-se da frieza ignorante do que diz, percebo que daqui vem mais do mesmo.


José António Saraiva descreve um momento de epifania da sua vida em que contactou com um ser humano que lhe parece, imagine-se o choque, gay. Tal aconteceu no edifício da FNAC do Chiado. Saraiva trabalha naquela zona e, pelo menos duas vezes por dia, sobe e desce a Rua Garrett, que deixou de ser mais uma rua lisboeta para se tornar no local preferido para uma espera tão colorida quanto o arco-íris.

Ao ler o texto de Saraiva, apercebi-me de que provavelmente em todos os países haverá gente baixa, reles, torpe, vil, miserável, pouco inteligente, estúpida, desumana, desconhecedora, ignorante, cega, incolor, etc, etc, etc, a escrever em jornais. Obviamente, Portugal não é excepção. Não sei as razões que conduzem a que tais idiotas tenham tempo de antena, mas o facto é que até já chegaram à Internet. O site do Sol é uma dessas zonas – e, de facto, cruzamo-nos aí constantemente com “pessoas” de uma estupidez enorme, atingindo esta o seu sublime e etéreo cume com Saraiva.

Julgo ser um facto notório que a estupidez de Saraiva cresce de dia para dia. Há quem afirme que não é assim – e o que se passa é que o autor tem cada vez menos receio de se assumir, cada vez menos receio de revelar as suas inclinações, tendo orgulho (e não vergonha) de ser como é.

Talvez esta explicação seja parcialmente verdadeira.

Mas, se for assim, é natural que a estupidez de Saraiva esteja mesmo a crescer. O assumir da estupidez publicamente acabará forçosamente por ter um efeito multiplicador, pois funciona como propaganda e como auto-incentivo.

Até à passagem de Maria de Lurdes Rodrigues pelo Ministério da Educação, a estupidez era reprimida socialmente, pelo que grande parte das pessoas estúpidas teria pejo de assumir a sua própria estupidez - acabando algumas por ler uns livros, estar caladas ou mesmo fingir que entendiam piadas para afastar eventuais suspeitas. Conheço vários exemplos desses: a Vânia, por exemplo, que andou na escola comigo, raramente entendia as minhas piadas elmanistas, arrisco a dizer que nem sequer sabia quem era Elmano, mas ria para que ninguém desconfiasse da fraqueza dos parcos neurónios que povoavam aquele cérebro.

Ora hoje passa-se o contrário: mesmo cronistas não têm uma estupidez evidente acabam por ser atraídos pelo mistério que ainda rodeia a estupidez em público e pelo fenómeno de moda que ela assumiu em determinados sectores. Não duvido de que há estúpidos que nascem estúpidos. Bem pelo contrário. Saraiva até me parece um deles. Mas também há estúpidos que se tornam estúpidos – por influência de amigos, de Saraiva, por pressão do meio em que se movem (no ambiente do Sol isso é claro) e por outra razão que explicarei adiante e me levou a escrever este artigo.

Ao ler o texto de Saraiva que motivou este meu texto, pensei: será que há 20 anos ou 30 anos ele teria a mesma atitude, assumiria tão ostensivamente a sua estupidez? E, indo mais longe, se ele tivesse sido jovem nessa altura seria assim tão estúpido?

Não tive dúvidas. Quando não há inteligência, não há realmente nada a fazer. Tive a percepção clara de que a sua forma de estar, assumindo tão evidentemente a estupidez, correspondia a uma evidente falta de sexo homossexual e, com aquela cara de parvo, não estou mesmo a ver que menino o quereria encostar a, por exemplo, sei lá, uma parede do elevador da FNAC do Chiado e fazer o amor com ele.

Mas certos mitos desabaram e nasceram formas de recusa do modelo de sociedade em que vivemos.

Ora uma delas é a estupidez. Já quando eu era miúda toda a gente queria ser inteligente. Para alguns cronistas, contudo, a estupidez surge não só como uma forma de ganhar dinheiro sujo mas também como uma forma de mostrar a sua ‘diferença’, de manifestar a sua recusa de uma sociedade inteligente, de lutar contra a hipocrisia daqueles que não têm coragem de se mostrar como são, de demonstrar solidariedade com aqueles que são discriminados ou perseguidos pelas suas parvas capacidades intelectuais.

Ser estúpido, para muitos cronistas, é tudo isto. É uma forma de insubmissão. E, está claro, é um desafio aos gays. Se antes os cronistas desafiavam os pais tornando-se poetas, hoje desafiam-nos recusando a ‘família gay” e mostrando-lhes que há apenas uma forma de relacionamento e de constituir família. Aliás, assumir-se como estúpido talvez seja, por muitas razões, o maior desafio que um cronista pode fazer aos gays.

Todas as gerações, desde os idos de 60, tiveram os seus sinais exteriores de revolta. Foram os cabelos compridos, as drogas, as calças à boca-de-sino, as barbas à Fidel Castro, os posters de Che Guevara colados na parede do quarto.

Ora a exposição da estupidez é hoje uma delas. E a opção estúpida é uma forma de negação radical: porque rejeita os direitos humanos, ou seja, o respeito e a felicidade da espécie. Nas relações com gente estúpida, há um niilismo assumido, uma ausência de utilidade, uma recusa do futuro. Impera a ideia de que tudo se consome numa ausência de cérebro – e que o amanhã não existe. De resto, o uso de palavras negras, a fuga da cor e o ódio ao arco-íris vão no mesmo sentido em direcção ao nada.

O fenómeno da estupidez como forma de contestação deste modelo de sociedade em que vivemos, de afirmação radical de uma diferença – enquadrada num fenómeno contestatário iniciado nos anos 60 –, nunca foi abordado.

Mas olhando para aquele texto que li e que estava à minha frente no computador Samsung, percebi que era isso que movia Saraiva quando escrevia uma série de frases boçais. Ele dizia a quem o lia: «Eu sou diferente, eu não sou como vocês, eu recuso esta sociedade hipócrita, eu assumo que sou estúpido.».

PS Que ninguém fique com a ideia de que discrimino “gente” estúpida. A minha “opção sexual” é que é menina para meter mais facilmente uma menina no meu quarto do que “gente” assim.

9 de abril de 2012

A minha austeridade é muito melhor do que a tua.


João Galamba é um pit-bull do pensamento socialista à solta em São Bento, morde calcanhares e faz tremer os membros do Governo que, apressados, se desviam nos corredores, de pasta em punho para evitar o ataque iminente. Pelo menos é isso que nos dá conta certa e determinada blogosfera, para quem basta uma opereta de bullying onde Vitor Gaspar é o visado para tomar João Galamba como o salvador da boa austeridade. Ah, a boa austeridade. Aquela austeridade que vinham em PEC's, que era numerada, defendida com ousadia no parlamento e que nos separava do poço escuro do FMI. E Galamba lá está, na luta justa contra a deturpação suja e incompetente do acordo da troika. Gaspar faz o PIB cair 3,3% quando Galamba Galamba assinou 1,8%, Gaspar reduz o consumo privado para 5,8% quando Galamba assinou 3,8%, e pior, onde Galamba assinou a redução de 4,6%, na redução do consumo público, Gaspar só alcançou 3,3%. Inadmissível.

Ora, os contratos são para cumprir. A boa austeridade foi negociada com seriedade, apresentada de forma clara, traduzida e especificada a todo o País. E o João Galamba lá estará, na votação do pacto orçamental europeu, sem trela nem arreio, a votar com uma estrondosa abstenção. Ou talvez não.


A Maternidade Alfredo da Costa vai fechar ainda durante esta legislatura

A Maternidade Alfredo da Costa vai fechar ainda durante esta legislatura. Isto representa um golpe brutal no direito à saúde. A Maternidade Alfredo da Costa é um polo indispensável no Serviço Nacional de Saúde português, sendo o único hospital ao nível nacional com um banco de leite materno, aquele cuja tecnologia no serviço de cuidados neo-natais é a mais avançada do país tendo sido, aliás, alvo de elevados investimentos para melhoria das infra-estruturas. A MAC acompanha pacientes desde a tentativa de concepção até ao parto, tendo ainda serviço de pediatria. Não é possível ter esta qualidade de serviço num só piso de outros hospitais e não me venham dizer que a MAC é um luxo para um país tão pobre como Portugal. Não existe saúde de luxo: existe apenas saúde.

Deixo-vos a intervenção de Francisco Louçã (que anunciou a intenção do governo de encerrar a MAC) na Assembleia da República, dia 5 de Abril.



convite

8 de abril de 2012

A revolução será nesta década

"Em Toulouse esta quinta-feira reunimos 70 000 cidadãos, Mitterrand tinha reunido 30 000 em 1981 e 40.000 em 1988. E ainda há pessoas que pensam que nós não estaremos na segunda volta?"

 Toulouse la rouge via Jean-Luc Mélenchon

Pascoa Feliz!

6 de abril de 2012

Não deixa der curioso...


Que esta golpada das reformas antecipadas seja promulgada por um Presidente da República que já está ele mesmo na sua reforma política antecipada.

Vídeo da Páscoa (da saga Gaspar e o Coelhinho)



A nota sobre isto já aqui a fiz ontem ("trata-se naturalmente de um lapso") mas este vídeo ilustra bem a canção de embalar do Gasparzinho.

5 de abril de 2012

"Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem. "

Prenez le povouir!

Deixo para uma próxima vez, uma reflexão mais alargada sobre o fenómeno e o movimento de reunificação da esquerda que a Front de Gauche está a impulsionar em França, como conseguido agregar forças e estilhaçar sectarismos e sectários. Até lá fica um artigo de Ignacio Ramonet cuja leitura recomendo.

Divulgado o vídeo da reunião do grupo parlamentar do PS

"trata-se naturalmente de um lapso"

Ainda ontem de madrugada escrevi esta pequena nota, não é preciso ser bruxo: "Bruxelas abre a porta para mais um ataque à Constituição: a retirada permanente dos 13º e 14º mês. O Governo bem pode jurar que não, mas o povo não pode esperar nenhuma fidelidade da parte de um governo que, submisso a interesses externos, aceita a imposição de um garrote de 0,5% ao desenvolvimento e à democracia."

Ora não precisámos de esperar muito. Ainda durante a quarta-feira Passos Coelho disse "Eu creio que é depois de 2014, porque o nosso programa de ajustamento decorre até 2014, portanto, só depois disso, como é evidente, e tem uma base anual. Portanto, a partir de 2015 haverá reposição desses subsídios".

Tragicómico foi Vítor Gaspar ter dito seis vezes, hoje no debate do orçamento retificativo, que o governo sempre disse o mesmo sobre estes cortes. Confrontado com a citação de umas declarações suas em que falava sobre o fim dos cortes em 2013, respondeu Vítor Gaspar "trata-se naturalmente de um lapso". Ora lá está, disse sempre 2015, tirando aquelas vezes em que disse 2014, aliás, 2015... E de "forma gradual", provavelmente "ao longo de 12 meses"... Já estamos a ver a volta que querem dar.

3 de abril de 2012

E as Europeias aqui tão perto

Por estes dias um telespectador mais desavisado em pachorrenta tarde de domingo poder-se-ia espantar com a presença de um teórico anarquista sentado à cadeira de um programa tragicómico que é transmitido pela SIC notícias. Pelo que se deu a perceber a presença era por destacamento, em substituição do comentador habitual (o que já havia acontecido no passado). Mas mais do que a presença, importa referir a fala do teórico anarquista. Dizia ele que não existe alternativa à esquerda porque a esquerda não se leva a sério como alternativa, ela não expurga os seus pecados nem referenda internamente as suas diferenças – por esquerda entendia-se, atente-se bem, o PS, o PCP e o BE – pois, vejam só, passado quase um ano das eleições Seguro não firma os arreios do PS e o BE (gente imponderada) por e simplesmente não reflecte sobre a sua derrota. O PCP, pronto, não se fale mais nisso.

Ora, o mesmo telespectador que na segunda-feira de labuta se transmutou em leitor do Público teve uma segunda surpresa, lá está novamente o teórico anarquista. Desta vez o teor da fala é laudatório e dirigido a Ribeiro e Castro (político com P maiúsculo) e Isabel Moreira, que mostraram aos seus respectivos grupos parlamentares a quem pertence o voto do povo, votando contra a proposta de Código Laboral. Estes dois cavaleiros da esperança independentista marcharam contra aquilo que este anarquista e teórico chama de “feudalismo na política”, que atinge tudo e todos e ainda por cima, o Bloco de Esquerda, que mais uma vez não reflecte, por e simplesmente não reflecte (gente disparatada).

O teórico anarquista fecha o texto com um aviso sério: “trinta e oito anos de democracia ainda não chegaram para Portugal se convencer de uma coisa: quando as pessoas são propriedade dos partidos, somos nós que acabamos escravos.” Se somos nós o “Portugal” ou o “nós” que acabaremos escravos não se percebe, a única certeza é que as pessoas e partidos andam irremediavelmente desavindos. Um aviso sério. O telespectador, leitor e eleitor deve pensar nisto, pois não quer acabar “sendo um servo voluntário do baronete ou do tiranete de serviço” como diz o teórico anarquista, e deve pensar rápido pois veja só, as Europeias aqui tão perto.

O Governo da troika é isto

Marcelo que amava António que amava Pedro.

Marcelo ataca Seguro que responde a Marcelo que responderá no domingo próximo. Seguro responderá quiçá logo de seguida, indignado como veio ao mundo mas mudo e calado no que toca ao Código do Trabalho, o ataque ao SNS ou o congelamento do salário mínimo (lá para o verão inventa-se umas jornadas sobre o interior ou um plano contra a corrupção).

Que a longa caminhada de penitência do Partido Socialista coincida com a morte de Cristo é algo digno de registo, feito ao alcance apenas dos que escrevem a sua própria história, pena é que este ping-pong dominical tenha o seu fim à vista. Daqui uns meses Marcelo elogiará o deslizar firme do pulso de Seguro na mesa de assinaturas do 2º plano da troika, naquela que será para o PS, como alguém já uma vez disse, a mais longa carta de suicídio da história.


2 de abril de 2012

Concerto de Cariz Homofóbico

Exmo. Sr. Luís Ribeiro, sócio-gerente da Greetings For All

O artista jamaicano Sizzla Kolonji é conhecido pelo teor homofóbico de algumas das suas canções (numa delas canta "Faggots should die", algo como "os p*neleiros devem morrer") e pela sua posição marcadamente homofóbica.

Entendendo que o rapper não se encontra a violar directamente nenhuma legislação, mas que viola o artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, referente à Universalidade dos direitos do Homem, "Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.(...)", esta petição visa o apelo ao cancelamento do concerto de Sizzla, dia 5 de Abril, no TMN ao Vivo, em Lisboa.

Neste website, a Amnistia Internacional alerta para o facto de este artista violar os direitos da comunidade LGBT: http://web.archive.org/web/20090624202721/http:/www.amnestyusa.org/lgbt-human-rights/country-information/jamaica/page.do?id=1106567.

Este concerto não deve ser realizado com base no princípio da liberdade de expressão, uma vez que a música de Sizzla infringe e oprime, claramente, os direitos e as liberdades da comunidade LGBT. Entendemos que a liberdade de um indivíduo acaba onde a liberdade de outro começa e este é um exemplo claro disso.

Portugal, à semelhança de outros países da Europa, como Espanha e Suécia, deve tomar uma posição quanto à realização deste espectáculo de carácter homofóbico e violento, não compactuando com o mesmo.

Assina aqui a petição: http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2012N22814&fb_source=message

Apresentação do Livro "Jovens em Transições Precárias"

No próximo dia 4 será apresentado o livro “Jovens em Transições Precárias” da autoria de um grupo de sociólogos investigadores do ISCTE-IUL, CIES-IUL: Nuno de Almeida Alves, Frederico Cantante, Inês Baptista e Renato Miguel do Carmo.

A apresentação, às 18:00 na Fnac de Stª Catarina, no Porto, contará também com a presença e comentários de Nuno de Almeida Alves (ICS-UL), João Teixeira Lopes (professor FLUP) e Adriano Campos (Ativista do FERVE).

Este livro procura entender como da precariedade laboral se pode passar à precariedade enquanto como modo de vida, focando-se na situação dos jovens inseridos em postos de trabalho pouco qualificados e de baixa remuneração. Procura perceber as condições que levam à precariedade laboral, nomeadamente, o percurso escolar, a entrada no mercado de trabalho, os tipos de contrato e salários. O livro tem por base um estudo qualitativo baseado em 80 entrevistas a jovens trabalhadores com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos. Esta análise permite perceber como a precariedade extravasa a condição laboral e contamina os restantes aspectos da vida pessoal, encobrindo as perspectivas de um futuro melhor.

Este é um grande contributo para o estudo da precariedade em Portugal e para as consequências que este problema tem na vida das pessoas que vivem diariamente a instabilidade contratual e o desemprego, que depois se reflecte numa sensação de estado de limite permanente e que dificulta a autonomização pessoal destes trabalhadores.

1 de abril de 2012

Candidato da Front de Gauche a subir nas sondagens




O candidato da Frente de Esquerda (Front de Gauche) às eleições presidenciais francesas Jean-Luc Mélenchon está a subir nas sondgens, tendo passado de 11% para 15%. O candidato do PSF François Hollande obtém nas mesmas sondagens 28,5%, o recandidato de direita Nicolas Sarkozy 27,5% e a candidata da extrema-direita Marine Le Pen 13,5%.

Para Libération, Jean-Luc Mélenchon é o principal evento desta campanha eleitoral. Seu discurso bem mais à esquerda do que o do candidato socialista responde às preocupações de eleitores exasperados com a incapacidade do governo de reagir à longa crise económica.

A Frente de Esquerda surgiu como aliança eleitoral entre o PCF e o Parti de Gauche (cisão de esquerda do PSF) para as Europeias de 2009 sob o nome «Front de gauche pour changer d'Europe». Entretanto a aliança eleitoral foi estendida a outros actos eleitorais (regionais de 2010, cantonais de 2011, senatoriais de 2011, presidenciais de 2012 e legislativas de 2012) e convergiram na Frente de Esquerda outras organizações mais pequenas, nomeadamente: Gauche unitaire, Fédération pour une alternative sociale et écologique, République et socialisme, Convergences et alternative, e o Parti communiste des ouvriers de France.