12 de abril de 2012

A regra de ouro


O PS revelou hoje que é à esquerda, enquanto partido, um ator definitivamente ausente. Qualquer cidadão de esquerda, independentemente da sua árvore genealógica, percebeu que a regra de ouro de défice estrutural de 0,5% a ser inscrita numa lei para-constitucional, ou mesmo na Constituição, é a tradução para a arquitetura jurídica portuguesa do liberalismo extremado eterno e da austeridade permanente.

Não se pode defender retórica e esteticamente o Serviço Nacional de Saúde, a Segurança-Social, a Escola Pública, em suma, o Estado Social e depois promulgar o seu assassinato com o voto favorável ao tratado europeu, imagine-se - depois deste teatrinho todo da adenda do "crescimento económico" - com disciplina de voto. A lucidez da discussão dos factos e dos efeitos atesta automaticamente a incoerência e a mentira política. A troika e o Estado Social, pertencem à partida, a campos radicalmente opostos, sem qualquer nexo ou fio de correlação possível.

Honestamente, não era de esperar outra coisa na prática nem nos argumentos. O voto favorável dos "socialistas" deve-se ao sentido de estado e à responsabilidade de defesa dos superiores interesses da nação, quando a coisa chega a este ponto, entende-se que o PS não tem um único argumento que fuja para lá da política austeritária, para defender a sua posição política à esquerda. O interesse nacional é em todas as circunstâncias, enquanto argumento, o mais barato, populista, demagógico e vazio, e ao mesmo tempo, a última divisão da discussão política e ideológica.  

Não é de estranhar que se tenha ouvido por parte de Francisco Assis e de Mota Amaral ataques viscerais às propostas da esquerda parlamentar anti-troika, de abnegação total do papel da democracia enquanto processo de decisão coletiva, criando uma narrativa que toda e qualquer proposta plebiscitária ou de consulta popular é um entrave político, uma não solução, uma reação conservadora. No passado, o argumento era parecido, mas apesar de tudo diferente, recordo-me que o Tratado de Lisboa não foi referendado porque o "povo não estava informado para o efeito". O espírito desta ideia em toda a sua forma e conteúdo é profundamente autoritária. Quando a democracia e o direito de participação pública cidadã são uma barreira à condução da vida do país, sabe-se que a soberania popular é algo que a elite portuguesa tem prazer em abdicar para conduzir seguramente o seu programa de extorsão. Não fosse o povo votar mal.

A saída do troikismo cabe à união de todos que se lhe opõem, o Partido Socialista relembrou hoje aos esquecidos que não está nessa.


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