30 de junho de 2011
Alemanha vs Grécia - Philosophical football match
O Marx devia ser titular desde o princípio :D
A arte da Revolução Europeia
Ser português no sentido decente da palavra, é ser europeu sem a má-criação de nacionalidade. Arte portuguesa será aquela em que a Europa — entendendo por Europa principalmente a Grécia antiga e o universo inteiro — se mire e se reconheça sem se lembrar do espelho.
Fernando Pessoa
29 de junho de 2011
Em cada janela, uma bandeira da Grécia!
Foi hoje aprovado mais um plano de austeridade na Grécia. Trata-se de uma condição imposta pelo Banco Central Europeu, FMI e Comissão Europeia para que aquele país possa beneficiar de mais um empréstimo internacional. Há mais de um ano fora aprovado um plano semelhante, que se traduziu, tal como em Portugal, em cortes salariais, nas pensões e restantes prestações sociais. A estes cortes, acresceram privatizações de sectores estratégicos que tiveram como consequência o desmantelar do Estado Social naquele país. Ainda ontem, a Grécia viu-se obrigada a colocar à venda aeroportos, portos e até autoestradas, os quais não encontraram compradores. Que mais faltará? Definir um preço para a sua própria independência política e a sua soberania? Nas ruas gregas o povo vai resistindo heroicamente, ocupando espaços públicos, manifestando-se, tentando preservar o valor básico da democracia: a soberania popular.
Tal como o primeiro empréstimo, também este não tem como objectivo o estímulo da economia grega, que possibilite a sua recuperação económica, mas sim permitir que o país possa saldar as dívidas aos seus credores. Acontece que as medidas de austeridade, recessivas por natureza, não só entravam o desenvolvimento económico, como também impossibilitam o pagamento daquela dívida.
E sobra-nos a dúvida: então por que motivo são impostas mais medidas de austeridade? Por que razão se sucedem os empréstimos internacionais?
A razão é simples: destruir a economia dos países periféricos, à cabeça a Grécia, provar a sua falta de "competitividade" e forçar a sua saída da Zona Euro, saída essa que, a verificar-se, agravaria não apenas a situação dos países "incumpridores", como ditaria o "princípio do fim" do projecto de cooperação económica e social da Europa.
A verdade é que a Grécia não é um país qualquer. A sua história confunde-se com a história de toda a Europa, constituindo mesmo aquele país, se não a maior, uma das maiores referência políticas e culturais europeias.
O apoio à Grécia não é "apenas" uma questão de solidariedade internacional. A situação grega é apenas um prenúncio do que poderá vir a acontecer a Portugal e a outros país "perseguidos pelos mercados".
A bandeira grega à janela espelha essa solidariedade internacional, mas simboliza também a resistência popular de todos quantos um dia poderão ter de vir a enfrentar semelhante totalitarismo económico-social.
Bloco e o Futuro por Fernando Rosas
Artigo originalmente publicado no Público de hoje.
Catalogar é fixe!
1. Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?
O Dom Tranquilo (Sholokhov).
2. Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
A Montanha Mágica (Thomas Mann). Bem sei que é sobre o tempo mas...
3. Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?
O Estrangeiro (Camus).
4. Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?
O mundo alucinante (Reinaldo Arenas).
5. Que livro leste cuja “cena final” jamais conseguiste esquecer?
Zorba, o grego (Nicos Kazantzakis)
6. Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?
Todos os da turma da Mônica, Astérix, Mitologia grega (eram uns de capa azul não me lembro de que editora).
7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
Madame Bovary (Flaubert), porque cheguei ao fim nem eu sei.
8. Indica alguns dos teus livros preferidos.
Gabriela, Cravo e Canela (Jorge Amado), Os Miseráveis (Victor Hugo), Cem anos de solidão (Garcia Márques), Assim foi temperado o aço ( Ostrovski), O Germinal (Zola), Os Irmãos Karamazov/ Crime e Castigo (Dostoievski), O Processo (Kafka), Vidas Secas (Graciliano Ramos), Confesso que vivi (Neruda), Os nus e os Mortos (Norman Mailer), O Leopardo (Lampedusa), Memórias de Adriano (Yourcenar), O triunfo dos porcos (Orwell), U.S.A (John dos Passos)
9. Que livro estás a ler neste momento?
O homem que gostava de cães (Leonardo Padura)
10. Indica dez amigos para o meme literário.
Os 10 primeiros militantes do adeuslenine.
28 de junho de 2011
Coisinhas literárias
“É coisa de Verão” =)
Sob desafio do João Delgado
1. Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?
História do cerco de Lisboa + O Homem Duplicado (Saramago), O duplo (Dostoievski), Até ao fim + Para Sempre (Vergílio Ferreira), Demian (Hesse), O meu pé de laranja lima (José Mauro Vasconcelos), Jerusalém (Gonçalo M. Tavares), o remorso de baltazar serapião (valter hugo mãe), Cem Anos de Solidão (García Márquez)
2. Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
O Castelo (Kafka). É que não há paciência...
3. Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?
Folhas Caídas (Almeida Garrett)
4. Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?
Ofício cantante (Herberto Hélder)
5. Que livro leste cuja “cena final” jamais conseguiste esquecer?
Memorial do Convento. “Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda.”
6. Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?
Uma aventura, Os Cinco, Stevenson, Edmundo de Amicis, Hans Christian Andersen, Eça de Queirós, Camões, Garrett, Astérix, Tio Patinhas, A turma da Mónica. E o Demian do Hesse. Assim tudo misturado.
7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
Custou-me ler o 120 dias de Sodoma, mas não propriamente por ser chato. De qualquer forma, obriguei-me a lê-lo por causa do papel importante que teve no redimensionar da Literatura.
8. Indica alguns dos teus livros preferidos.
Resposta 1 e 3 + Crime e Castigo (Dostoievski), uns quantos do Saramago e do Jorge Amado, A paixão de Martin Eden (Jack London), Cartas a Sandra (Vergílio Ferreira), Admirável mundo novo (Huxley), 1984 + O vil metal (Orwell), Memórias de Adriano (Yourcenar), Vidas Secas (Graciliano Ramos), As vinhas da ira (Steinbeck), Asfalto selvagem (Nelson Rodrigues), o apocalipse dos trabalhadores (valter hugo mãe), O prenúncio das águas (Rosa Lobato de Faria), O conde de Monte Cristo (Dumas), Dom Tranquilo (Cholokhov), O Som e a Fúria (Faulkner), Os Maias (Eça), O meu nome é vermelho (Pamuk).
9. Que livro estás a ler neste momento?
Vou começar o Paralelo 42 (John dos Passos) e acabei esta tarde um do Jack London.
10. Indica dez amigos para o meme literário.
Gostava de ler as respostas do Martin Eden, mas como ele é uma personagem mais ou menos fictícia isso será meio complicado.
Radio e Televisão Privada
27 de junho de 2011
Andrea Peniche in Minoria Relativa
Que inveja dos meus pais.
Os bons filmes são os que nos arruínam o dia, que se prendem ao nosso pensamento e nos impedem de tratar das coisas tão chatas e necessárias da vida. É por isso que, hoje, ir ao cinema é uma derrota. É a escolha de quem já não aguarda com anseio as estreias da semana, apenas mantém a esperança de que alguns filmes sejam tragáveis e capazes de nos despertar, por alguns minutos, um alvoroço interior. Cada vez mais raras as vezes em que a respiração se suspende ou os olhos se inebriam no escuro acolhedor da sala.
Ainda há resistentes. Kusturika, Woody Allen, Fernando Meirelles, Paul Thomas Anderson, Tarantino, Ken Loach, Clint Eastwood, Iñárritu ou um revigorado Coppola, capazes ainda de romper a teia comercial e de chegar ao lugar que lhes pertence: a tela de uma grande sala de cinema. Mas a mediocridade venceu. Imperam os filmes banais feitos da mesma receita, com personagens bidimensionais presos a dilemas ordinários e que se libertam na purificação de um final feliz mesmo quando triste. Carros, namoros e piratas, numa mesmice insuportável e aborrecedora.
Resta o refúgio dos filmes entalados à tela do computador ou ao ecrã da TV. É por aí que conseguimos alcançar a emoção de um cada vez mais vibrante cinema brasileiro e mexicano, enternecermo-nos com as obras de Abbas Kiarostami e Samira Makhmalbaf, bem como ser abalroado e dilacerado por um Gaspar Noé. Enquanto isso, no cinema ao lado a escolha é entre velocidade furiosa 17 e Bridget Jones encontra os Piratas das Caraíbas.
Podíamos, eu sei, falar das cinematecas, dos ciclos de cinema, das bibliotecas públicas, mas concentremo-nos, este texto não trata de política cultural ou do estado geral da intelectualidade do português médio, este texto é pura inveja e maledicência. Inveja dolorosa dos meus pais, que viram os filmes do Bertolucci em salas que se abarrotavam de pessoas atentas e que, ingénuos, nem celebravam a inexistência do ruído das pipocas, que enfrentavam o dilema de ver A classe operária vai ao paraíso ou Laranja Mecánica, e acabavam por ver os dois, que se identificavam com a obra de Costa-Gavras e que projectavam boa parte do futuro na construção de Eric Rohmer. Tolos felizes. Pensavam que duraria para sempre.
Tudo pela nação, nada contra a nação.
“O Expresso sabe, também, que em casos muito excepcionais, há notícias que mereciam ser publicadas em lugar de destaque, mas que não devem ser referidas, não por auto-censura ou censura interna, mas porque a sua divulgação seria eventualmente nociva ao interesse nacional.”
Estatuto editorial do Expresso (Ponto 7)
26 de junho de 2011
Um episódio nada verde
A maioria de direita vai propor no Bundestag o adiamento até 2022 do encerramento total de todas as centrais nucleares do país, os Verdes convocaram um congresso extraordinário para esse efeito, tendo a direcção defendido o apoio à proposta do governo de Angela Merkel, contrariando a sua posição original de defesa do encerramento total até 2017.
Hoje foi a votação, tendo o "sim" ganho com esmagadora maioria, para infortúnio da esquerda do Partido e dos activistas anti-nuclear, que defenderam que "Os Verdes" deveria manter a sua posição incial sobre o assunto.
Uma das muitas conclusões que se podem retirar deste episódio é referida pelo líder do "Die Linke" Gregor Gysi:
Tecnicamente falando, seria possível desativar as centrais nucleares já em 2014 ou em 2017, como os Verdes queriam. Mas como eles concordaram em votar a favor do encerramento em 2022, só para mostrar que se podem coligar com os conservadores, acabam por tolerar vários anos nos quais a população continua sob o risco desnecessário de um desastre nuclear como o de Fukushima".
25 de junho de 2011
quero o meu deputado de volta
24 de junho de 2011
Por uma auditoria à dívida portuguesa
Apelo a Iniciativa Unitária por uma Auditoria à Dívida Portuguesa
A austeridade e as medidas de privatização pressionam em primeiro lugar os mais pobres, enquanto as “ajudas” são para quem está na origem da crise. Se as medidas de austeridade anti-popular não forem postas em causa, terão um impacte considerável na Europa durante muitos anos, modificando de forma drástica a relação de forças em favor do capital e em prejuízo do trabalho.
A auditoria da dívida é um passo concreto em direcção à justiça em matéria de endividamento. As auditorias da dívida com participação da sociedade civil e do movimento dos trabalhadores permitem determinar que partes da dívida são ilegais, ilegítimas, odiosas ou simplesmente insustentáveis; oferecem aos trabalhadores o conhecimento e a autoridade necessários para a definição democrática de políticas nacionais perante a dívida; incentivam igualmente a responsabilidade, a prestação de contas e a transparência da administração do Estado.
É urgente, neste contexto, a constituição de uma Comissão Popular, aberta e de convergência unitária, para uma Auditoria à Dívida portuguesa.
Subscritores/as:
Manuel Carvalho da Silva (secretário geral da CGTP-IN, Lisboa), António Avelãs (presidente do SPGL), Pedro Ferreira (economista, Coimbra), Guadalupe Simões (Enfermeira, Faro), Elísio Estanque (universidade, Coimbra), Rui Maia (Precários Inflexíveis, Lisboa), Adriano Campos (FERVE, Porto), Paulo Granjo (universidade, Lisboa), José Rodrigues (sindicalista), José Castro Caldas (universidade Coimbra), Jorge Bateira (economista, Porto), Francisco Alves (sindicalista, Lisboa), Maria da Paz Campos Lima (socióloga, Lisboa), António José Vitorino (bancário, Almada), Joaquim Piló (sindicalista), Viriato Jordão (Lisboa), José Almeida (sindicalista, Lisboa), Guilherme da Fonseca Statter (sociólogo do trabalho), José Rebelo (universidade, Lisboa), Manuel Carlos Silva (professor, sindicalista), Isabel Frutas Carvalho Ascenção (SERAM-Madeira), Janine Rodrigues (enfermeira, SERAM Madeira), Artur Oliveira Baptista (sindicalista, Lisboa), Carlos Valdez Vasconcelos (professor, Lisboa), Carolina Fonseca (trabalhadora, Lisboa), Lídia Fernandes (feminista, Lisboa), Cristina Oliveira Nunes (socióloga, Lisboa), Marco Marques (Precários Inflexíveis, Lisboa), Almerinda Bento (professora, Amora), Manuel Zebral (desempregado, Galiza), Dora Fonseca (Universidade, Porto), Maria da Conceição Sousa (enfermeiro, C. Branco), António Pedro Dores (universidade, Lisboa), Assunção Bacanhim (sindicalista, Funchal), Manuel Martins (CT Autoeuropa, Palmela), Bruno Semeano (CT Faurécia, Palmela), Deolinda Martin (professora, Amadora).
23 de junho de 2011
O (não!) ecologismo dos verdes alemães
Para ler a tradução da notícia de Aerta Van Riel no "Neues Deutschland" basta carregar em "Ler mais"
Um bom começo
Porque afinal de contas do que se trata é do fortalecimento e aumento de representatividade e combatividade de um sector laboral cada vez mais significativo e profundamente desprotegido.
Mais informações sobre este interessante processo, bem como a ficha de pré-inscrição, podem ser encontradas aqui: http://intermitentes.org/?p=438
colete de forças
Maria João Rodrigues teme uma crise de legitimidade democrática na UE, que funciona, neste momento, mais como um "colete de forças" do que enquanto parte da solução para a crise.
O Troikismo
O Troikismo pauta por ser a nova ideologia política em Portugal. É apartidária e visa apenas a degradação do Estado Social e um fortíssimo ataque liberal ao povo. Esta nova ideologia tem três agentes ativos, o PSD, o CDS e o PS. Ora este último seguidor não faz parte do conluio governativo em Portugal neste momento, mas é de não esquecer que faz parte dessa ideologia que já não é assim tão nova em Portugal que é o Troikismo.
22 de junho de 2011
Mas são verdes
Se Rui Tavares estiver a dizer a verdade e Cohn Bendit a mentir estão reunidas as condições para este perder a confiança pessoal e política pelo seu mais recente líder e mudar de grupo parlamentar.
A ter em atenção:
Prefiro os coxos por Andrea Peniche(Arrastão)
Lealdade Política por Vital Moreira(Causa Nossa)
Rui Tavares, devolve-me o voto pá! por J.J. Cardoso (Aventar)
Dos Independentes por Daniel Rosário (Correio Preto)
A insustentável leveza do Ego I (Spectrum)
Rui Tavares por Zé Neves (Vias de Facto)
O assento é seu, seu, seu por Helena Borges (5dias)
Todos os caminhos vão dar a Roma por Manuel Castelo-Branco (31 da Armada)
Luísa Mesquita por Rodrigo Moita de Deus (31 da Armada)
Socialismo sem muros
Era segunda-feira, 30 de maio, faltavam poucos dias para as eleições. Estava na sede nacional, no meio de uma série de tarefas de campanha e em campanha todo o tempo é pouco. Mas houve uma ótima razão para interromper toda essa agitação. Tocaram à porta uma rapariga e um rapaz que vinham da Áustria e queriam conhecer o Bloco de Esquerda.
Falaram-me da política austríaca, nomeadamente da não existência de um partido socialista e anti-capitalista com expressão nacional na Áustria. A jovem e o jovem de que vos falo fazem parte de um pequeno grupo de esquerda chamado Linkswende (Left Turn) ligado à International Socialist Tendency, corrente trotskista da qual é figura destacada Alex Callinicos e que tem como figuras histórica Tony Cliff, fundador do britânico Socialist Workers Party. Contaram-me as dificuldades dos grupos de esquerda na Áustria em gerar uma força de esquerda capaz de conseguir levar a sua voz e as suas propostas ao parlamento nacional. Desses pequenos grupos, os que chegam a conseguir apresentar-se a eleições nacionais têm frequentemente muito abaixo do 1%: os 0,05% (zero vírgula zero cinco por cento) do Sozialistische LinksPartei, nas legislativas de 2006, por exemplo.
Um dos motivos imediatamente apontado pela jovem e pelo jovem para a fraqueza da esquerda socialista austríaca foi o sectarismo.Recomendei-lhes a leitura do artigo do Francisco Louçã: "Sectarismo: um fantasma que ameaça a esquerda" (http://combate.info/media/
A experiência do Bloco de Esquerda interessava-lhes muito. Falei do Começar de Novo (http://www.bloco.org/media/
À data da visita daquela jovem e daquele jovem da Áustria que anseiam por um partido que faça a diferença, que lhes dê voz, esperança e futuro, eu já tinha a percepção da derrota que se aproximava. Dias antes, falava com uma camarada sobre isso. Qual é o pior resultado que nos dão nas sondagens? perguntei-lhe. Respondeu-me um número desagradável que nem estava muito longe do que veio a verificar-se. Depois, questionei a camarada e se tivermos esse resultado no dia 5, o que é que temos no dia 6? A resposta dela foi que tínhamos força para lutar e para dar a volta a isto. E a minha resposta foi esta: que temos um partido para lutar e conquistar o futuro. A história da esquerda é feita avanços e recuos, conquistas e derrotas. O que eu vi na noite de dia 5, na sede nacional, foi muita unidade e muita força, uma estranha força que intrigou os jornalistas.
Nos dias seguintes, a história pública e publicada é sobejamente conhecida e agravam a situação de um partido saído da sua primeira grande derrota. Mas para além disso e sem fugir a essas controvérsias, há um trabalho minucioso, diário, demorado, do debate profundo e multi focado das razões do crescimento e do recuo do Bloco. Tenho participado em muitos desses momentos, formais e informais, de debate e principalmente escutado. Militantes e simpatizantes de vários lugares e com diferentes opiniões têm-me ensinado a ver a questão de vários prismas; estas análises não são simples. É com elas e com eles, com as suas opiniões, o seu trabalho diário e o seu contributo que vamos seguir em frente.
O frenesim das minhas tarefas de campanha parou por um momento, naquele dia. Como socialista, como europeísta de esquerda, tive a percepção de que era importante trocar ideias e experiências com jovens que, como eu, estão comprometidos com a busca de uma alternativa democrática e socialista ao capitalismo. Faço votos para que tão breve quanto possível se possam orgulhar, na Áustria, de ouvir de uma bancada sua uma saudação como a da Catarina Martins à queda do Muro de Berlim: http://youtu.be/7sEc447PWKY.
(também publicado em www.acomuna.net)
Rui Tavares e a nova cor das Melancias
Há mais de duas semanas que o Rui Tavares tomou a decisão de abandonar o GUE/NGL, período mais ao menos coincidente com a derrota eleitoral do Bloco de Esquerda. Durante esses dias, o impoluto e puritano cidadão da esquerda autêntica, tomou a iniciativa de encetar negociações com os Verdes, com vista à sua contratação no presente defeso. Pelo meio dessas duas semanas, fez questão de comunicar essa decisão ao BE, afinal de contas o Partido/Movimento que lhe possibilitou, integrando-o nas listas, a eleição.
Feita essa comunicação, reconheço que estranhei o seu segredo mediático. Pensei: provavelmente está a meditar, reflectir, medir os prós e os contras. Acresce que, à parte este período de fecundação reflexiva do ego do Eurodeputado que ajudei a eleger, havia um Partido/Movimento a tentar sobreviver à onda avassaladora de pressão e crítica mediáticas. Todos os dias um artigo de opinião a "malhar", reportagens e entrevistas sucessivamente, sem contraditório, com os "dissidentes do costume"... Lá fora, a savana repleta de predadores a salivar pela cabeça de Francisco Louçã. O Sr. do BBC Vida Selvagem chama-lhes chacais, quer dizer, aqueles seres que atacam, em especial, em momentos de fragilidade da sua presa. Mas "prontos, a gente foi esperando para ver o que isto ia dar".
Eis que a poeira assenta, o debate interno é iniciado, faz-se a autocrítica, define-se democraticamente um caminho a trilhar e eis que... Com duas semanas de atraso, Rui Tavares anuncia às largas massas populares, ávidas em descortinar finalmente o que é essa coisa da esquerda e dos seus partidos, a sua decisão de romper com GUE/NGL, por motivo de uma nota no Facebook de Francisco Louçã que estranhara que a mesma informação errada, acerca da origem do BE, fosse oriunda sempre da mesma fonte, esse mesmo Rui Tavares, o grande Buda Ideológico da nossa praça Tahir.
Não deixa de me intrigar que alguém tão crítico do pensamento da esquerda, do seu rumo e estratégia política, possa por razões tão apolíticas e fúteis, "abandonar o barco, nestes dias de maré alta". Rui Tavares, afinal os partidos de esquerda são isto? Um programa político sufragado por quase 11% da população é rasgado por estes motivos? E o que faz Rui Tavares? Dá consistência política à sua decisão e deixa o cargo de Eurodeputado? Não. Não só se mantém no Parlamento Europeu, como pura e simplesmente, rasga o pacto eleitoral com os eleitores e muda de bancada parlamentar... Rui Tavares, se não existem partido de esquerda em Portugal, quer dizer que, por alguma hipótese, essa esquerda pode estar representada em si?
Como se não bastasse o oportunismo, Rui Tavares decide agora vestir o fato simultaneamente de vítima e de Juiz. Diz ele: "sabia por exemplo o que se tinha passado em Lisboa com o independente Sá Fernandes e queria de certa forma perceber se o BE tinha aprendido a lição e conseguia finalmente lidar com a independência no seu próprio seio". Será o Rui Tavares um agente especial, ou um magistrado do Ministério Público, com o mandato de integrar as listas do BE, " para ver se a gente se porta bem"? E depois sobre a relação do Bloco com independentes conclui: "Não aprendeu, nitidamente não aprendeu a lidar com independência nem com independentes. Isso é uma coisa que eu hoje posso dizer". Como óptimo historiador que é, Rui Tavares saberá que antes e depois dele, o Bloco integrou independentes nas suas listas. São disso exemplo João Semedo e Catarina Martins no Porto, em 2005 e 2009 respectivamente e tantos outros a nível autárquico. "Diz que" a coisa correu bem por esses lados, mas vem-nos à cabeça a pergunta batida: Por que motivo apenas o exemplo de Sá Fernandes é citado?!
Neste périplo metafísico em volta dos caminhos da esquerda, Rui Tavares é apenas a ponta de um iceberg longo e profundo que vem desde o Arrastão, passa pelo Expresso e enraíza-se na SIC Notícias, qual Eixo do Mal. É aos dois que este texto é dedicado, com amor e carinho revolucionários e um "desejo de tudo de bom".
21 de junho de 2011
Dedicado a todos os Rui Tavares do Mundo!
Rui Tavares vem a público falar duma decisão que tomou há semanas atrás, desvinculando-se do BE no Parlamento Europeu.
Só três notas:
1. RT toma a bela postura da virgem ofendida, exigindo um pedido de desculpas ao FL, em vez de o pedir aos jornalistas que dizem que o citaram sobre o erro no nome dos fundadores do Bloco.
2. Aproveita para mascarar a sua saída do GUE/NGL com esta terrilíssima ofensa à sua pessoa, esquecendo-se que está a mentir a toda a gente, visto que já tinha comunicado o seu afastamento "oficial" para o Grupo dos Verdes europeus há semanas atrás.
3. deixo só mais uma questão: não acham estranho alguém que diz que é a única pessoa de esquerda em Portugal não põe o seu lugar à disposição, desrespeitando quem lutou para o eleger, quem votou no projecto do Bloco para a Europa?
Há, mas são verdes!?
Lembro-me que Rui Tavares disse, no dia 8 de junho, “Portugal não tem partidos de esquerda. A gente olha para eles e é forçoso reconhecer: nem um único.” Incluindo claramente, com todas as palavras, o partido pelo qual foi eleito, o Bloco de Esquerda, nessa lista. Dizia ele, podemos ler, que era uma constatação.
Em coerência, se descobriu agora que foi eleito por um partido que “afinal” não é de esquerda, devia ter-se demitido do lugar de eurodeputado. Mas agora invoca «Perda de "confiança pessoal e política"» para sair do grupo do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu . Que lata! E que confiança se pode ter numa pessoa que insulta o partido e, com ele, todas as pessoas que não só o convidaram para integrar as suas listas, como fizeram a campanha e se empenharam para que fosse eleito???
E qual é o motivo invocado por Rui Tavares? Baseia-se numa nota do facebook em que Francisco Louçã diz:
“Um jornal (o "i") enganou-se e escreveu, com ligeireza, que os quatro fundadores do Bloco foram o Luis Fazenda, o Miguel Portas, este que assina [Francisco Louçã] e o Daniel Oliveira. O Fernando Rosas desaparecia da história. Explicou depois o jornalista que tinha sido levado ao engano por uma informação de uma conversa com o Rui Tavares.
Escreve hoje outro jornal (o "Sol") a mesma coisa. Estou por isso curioso acerca da coincidência de dois enganos tão estranhos.
A história, aliás, é bem conhecida. O Luis Fazenda contactou-me em 1999 e apresentou a ideia da formação de um novo partido. Eu contactei para o efeito o Fernando Rosas e o Miguel. Entre os quatro fizemos cuidadoso trabalho de casa para ver se era possível. E depois decidimos avançar e começamos a reunir com outras pessoas sobre a ideia (incluindo o Daniel). Por isso, é simplesmente uma falsificação a tentativa de retirar o Fernando desta história e de a refazer com novos protagonistas.”
Quem é que acredita que foi esta nota que provocou a saída de Rui Tavares? Entre sexta e terça, lembrou-se de repente que era altura de saltar do tal partido que o elegeu, mas que no dia 8 ele já dizia não ser de esquerda? Entre sexta e terça, lembrou-se que afinal não podia continuar com o partido que o elegeu e até ia sair do Grupo da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde para passar a “independente integrado no grupo dos Verdes europeus”?
Será que o Rui Tavares vai passar a ser o deputado do tal partido que não existe mas que será o único de esquerda, verde, pró-intervenções da NATO e tudo?
20 de junho de 2011
Fernando Nobre: 106, 105 e a descer...
O mesmo que disse: "Dêem-me um tiro na cabeça ou vou para Belém!", hoje, foi "chumbado" para presidente de "São Bento" com um humilhante 106 votos na primeira votação e 105 na segunda...
17 de junho de 2011
16 de junho de 2011
Weber não explica Viriato
Virato Soromenho Marques não é pastor, nem chefe, nem guerreiro. É Professor de Filosofia, pessoa de mérito reconhecido, é uma pessoa que tem, entre muitos outros, contribuído para o engrandecimento da universitas lusitana. É justamente pelo seu mérito e responsabilidade académica que é lamentável o papel a que se presta quando usa argumentos superficiais mascarados de elevados contra Francisco Louçã e o Bloco:
1 - Começa por dar seguimento ao mito inqualificável da confusão entre o Bloco e o PRD. O Carlos Santos já respondeu, há tempos, a esse mito - recomendo a leitura desse texto sobre o Bloco de Esquerda e o PRD.
2 - Weberianamente, diz Viriato que FL incorreu no erro político de estar preso a uma "ética da convicção", quando se devia ter movido pela "ética da responsabilidade", devia ser pragmático e render-se à ÚNICA solução, render-se ao INEVITÁVEL resgate pedido à Troika. O argumento de que a responsabilidade obrigava a rendição a essa solução-única nada tem do "pluralismo" de que Viriato fala no último parágrafo.
3 - Viriato pode discordar das renegociação da dívida proposta pelo Bloco, mas acusar de irresponsabilidade e irrealismo sem o demonstrar é apenas um argumento autoritário, nada esclarecido e sem um pingo de abertura para outras leituras e propostas que se fundamentam na experiência da realidade.
Talvez Weber não subscreva a renegociação, mas muitos concidadãos do Sócrates que sabia que nada sabia CONHECEM empiricamente o que é um ano de FMI & Companhia, vêem que as suas vidas estão piores e que já vão tarde e em péssimas condições RENEGOCIAR A DÍVIDA. E parece que não são só os gregos, há pr' aí uns tais de prémios Nobel que também são partidários da renegociação... A Mariana Mortágua pode falar-vos melhor dessa solução Nobel.
Penso que Weber não explica Viriato, mas estou aberto a outras opiniões.
15 de junho de 2011
Somos todos italianos (!)
Toda a esquerda europeia se tornou italiana nos passados dias, vangloriou-se das derrotas de Berlusconi e até houve quem escrevesse fábulas sobre o assunto. Sem sombra de dúvida foi a democracia que ganhou nos referendos e nas regionais em Nápoles e em Milão, e é igualmente certo, que ao somatório do deslize de popularidade de il Cavaliere e compagnons de route se somou uma aliança de higiene nacional - composta por toda a esquerda e alguns sectores de direita - que permitiu todo este avanço e resistência ao retrocesso civilizacional.
Muito activismo de talk show luso olhou para estes resultados e de peito cheio apontou o dedo à esquerda que navega por mares antes nunca navegados , vejam bem e aprendam! O que infelizmente não se ouve entre riscos e coriscos é a história contada a partir do "era uma vez...". A razão é em si muito simples e bastante objectiva, é que o início do conto teria que começar no governo de coligação do Partido Democrático e da Refundação Comunista, que curiosamente legislaram no sentido da privatização das águas, e que agora na oposição, precisaram do referendo para darem o dito pelo não dito.
Para que não restem dúvidas, celebrei a opção que o povo italiano tomou, a derrota que infringiu a Berlusconi e a importante vitória que obteve na luta anti-liberal. Agora, o que não deixa de ser curioso, é que a esquerda italiana ganha neste episódio, fazendo campanha contra uma lei defendeu quando esteve no executivo.
Que cem frentes anti-liberais floresçam, que cem certezas se confrontem. Toda a pujança para a unidade, e todos os tijolos, cimento e massa para a esquerda grande, mas não me venham com contos, o problema reside mesmo neles, é que a derrota ao liberalismo se tem feito na Europa essencialmente na oposição, quando os radicais defensores dos serviços públicos, dos direitos civis, sociais, económicos e culturais da social-democracia existente, se apoderam do aparelho de estado, executam a gestão corrente do poder instituído tão bem ou melhor que a direita, conseguindo ainda juntar no meio do desmantelamento uma central sindical ou outra.
O que faz com que todo o velho continente, com honrosas excepções, ande de roda gigante em permanência, agora está a direita em cima, depois vai para lá a "esquerda", mas o percurso é sempre fixo, como se tem visto.
Para isso meus senhores (!) já não há pestanas para queimar. A esquerda precisa de ir ao seu reencontro, debater-se e unir-se, definir o que lhe dá coerência, mas isso meus caros, a menos que a esquerda deixe o ser, e para o que nos una mais o que nos separa, não há espaço para cobardias e para confissões com o capital financeiro e suas instituições.
14 de junho de 2011
Quem tem medo de eventos de crédito? – Crónicas de uma regulação financeira desnorteada
Parece que afinal eles existem mesmo e não eram só um vago espaço abstracto, deixado em aberto para manobras de pilotagem de ataques especulativos, da autoria de uma regulação financeira que durante anos manteve a teoria abstrusa de que haveria menos incumprimento (e mais confiança no mercado, imagine-se) se os “seguros” contra eventos de crédito (Credit Default Swaps) não significassem necessariamente que as instituições que os vendiam eram obrigadas a ter reservas para os poder pagar, caso fossem accionados.
A propósito de uma eventual reestruturação da dívida grega, o pânico agora é o de que se viva a edição europeia da AIG, que faliu nos EUA por causa dos CDS accionados depois da falência da Lehman Brothers. A reestruturação da dívida grega faria, não só com que os detentores destes títulos accionassem os CDS correspondentes, mas também com que os prémios exigidos para “segurar” a dívida pública portuguesa e de outros países periféricos disparariam vertiginosamente, arrastando consigo os juros exigidos para detenção desses títulos.
O que é que torna tão poderosa a chantagem do evento de crédito sobre a saída da reestruturação para defesa das economias?
Antes de mais, há que dizer que os Credit Default Swaps, que normalmente são apresentados como seguros contra o incumprimento (default) e outros eventos de crédito (como reestruturação, moratória, etc.), não são seguros nenhuns, mas os produtos de mentes prodigiosas que durante anos se dedicaram a responder, com a cenoura de prémios chorudos à frente dos olhos, à seguinte pergunta: «como podemos lucrar com prémios de seguros vendidos sem incorrermos na obrigatoriedade de deter os níveis mínimos de capitalização exigidos pela regulação aplicável aos seguros?»
Claro que para qualquer um de nós que fosse segurar o carro ou a casa seria uma idiotice optar por uma instituição que afinal nem nos estava bem a vender um seguro – porque na verdade nem era obrigada a apresentar garantias de que se batêssemos com o carro ou tivéssemos um incêndio em casa tinha liquidez para nos pagar –, mas uma «troca», que é o que swap quer dizer.
Então porque é que para os investidores em títulos de dívida pública isto até era um bom negócio? Qual era a contrapartida dessa «troca» que tornava os CDS tão populares?
Voltando ao exemplo do nosso carro e da nossa casa, o que a instituição financeira nos vendia, com o CDS, na prática, era o direito a dizermos aos outros que o nosso carro e a nossa casa estavam segurados por ela. Como esta instituição financeira até tinha um rating que a deixava acima de qualquer suspeita, então a idoneidade dessa cobertura também estaria acima de qualquer suspeita, que é como quem diz, acima de qualquer requisito regulamentar de corresponder a capacidade real de me ressarcir em caso de necessidade.
Neste exemplo o absurdo do esquema resulta óbvio, mas para os investidores em títulos de dívida, que são na sua maioria bancos, sujeitos a requisitos de capital mínimo em função do crédito que concedem (aka títulos de divida que detêm), comprar CDS correspondia a uma operação de cosmética dos seus balanços bastante compensatória, que de resto dava resposta à mesma pergunta que tinha motivado as mentes parteiras dos CDS: «como podemos lucrar com os juros do crédito concedido – e continuar a concedê-lo – fugindo à exigência reguladora de acompanhar este aumento de risco com um aumento de capitalização?» Com o CDS, o título de dívida subjacente ficava com o carimbo do rating da instituição financeira que o vendera, deixando de constar como risco no balanço dos bancos que podiam assim continuar a comprar títulos de dívida.
Chegamos ao desenlace desta história de amor do capitalismo: fruto de uma regulação financeira paradoxalmente orientada para a evasão à regulação, aquela que era a relação perfeita entre o interesse dos bancos e o interesse das instituições vendedoras de derivados como os CDS resulta numa divergência inconciliável: o interesse dos credores na reestruturação das dívidas soberanas dos países periféricos – que é para ver se apesar de tudo recebem tanto quanto possível – e o interesse dos vendedores de CDS em não falirem por estes serem accionados por motivos de “evento de crédito”.