21 de junho de 2011

Há, mas são verdes!?


Lembro-me que Rui Tavares disse, no dia 8 de junho, “Portugal não tem partidos de esquerda. A gente olha para eles e é forçoso reconhecer: nem um único.” Incluindo claramente, com todas as palavras, o partido pelo qual foi eleito, o Bloco de Esquerda, nessa lista. Dizia ele, podemos ler, que era uma constatação.

Em coerência, se descobriu agora que foi eleito por um partido que “afinal” não é de esquerda, devia ter-se demitido do lugar de eurodeputado. Mas agora invoca «Perda de "confiança pessoal e política"» para sair do grupo do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu . Que lata! E que confiança se pode ter numa pessoa que insulta o partido e, com ele, todas as pessoas que não só o convidaram para integrar as suas listas, como fizeram a campanha e se empenharam para que fosse eleito???

E qual é o motivo invocado por Rui Tavares? Baseia-se numa nota do facebook em que Francisco Louçã diz:

“Um jornal (o "i") enganou-se e escreveu, com ligeireza, que os quatro fundadores do Bloco foram o Luis Fazenda, o Miguel Portas, este que assina [Francisco Louçã] e o Daniel Oliveira. O Fernando Rosas desaparecia da história. Explicou depois o jornalista que tinha sido levado ao engano por uma informação de uma conversa com o Rui Tavares.

Escreve hoje outro jornal (o "Sol") a mesma coisa. Estou por isso curioso acerca da coincidência de dois enganos tão estranhos.

A história, aliás, é bem conhecida. O Luis Fazenda contactou-me em 1999 e apresentou a ideia da formação de um novo partido. Eu contactei para o efeito o Fernando Rosas e o Miguel. Entre os quatro fizemos cuidadoso trabalho de casa para ver se era possível. E depois decidimos avançar e começamos a reunir com outras pessoas sobre a ideia (incluindo o Daniel). Por isso, é simplesmente uma falsificação a tentativa de retirar o Fernando desta história e de a refazer com novos protagonistas.”

Quem é que acredita que foi esta nota que provocou a saída de Rui Tavares? Entre sexta e terça, lembrou-se de repente que era altura de saltar do tal partido que o elegeu, mas que no dia 8 ele já dizia não ser de esquerda? Entre sexta e terça, lembrou-se que afinal não podia continuar com o partido que o elegeu e até ia sair do Grupo da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde para passar a “independente integrado no grupo dos Verdes europeus”?

Será que o Rui Tavares vai passar a ser o deputado do tal partido que não existe mas que será o único de esquerda, verde, pró-intervenções da NATO e tudo?

4 comentários:

  1. Caro Bruno,

    Eu li o texto em que Rui Tavares dizia que ''não havia esquerda em Portugal'' e duvido que ele o estivesse a dizer em sentido literal do termo. Não sei, não conheço o Rui Tavares de lado algum, mas pareceu-me que aquela afirmação era subsidiária de uma outra ideia que ele afirma no mesmo texto, a saber, a esquerda é ''uma aliança''. Afirmando ele que PCP BE e PS dizem mutuamente uns dos outros que nenhum dos outros é de esquerda, Rui Tavares conclui que nenhum dos partidos partilha esse princípio ou vontade de ''aliança''. Portanto, o texto em causa parecia-me ser mais um apelo à aliança da esquerda e menos um juízo de facto sobre qualquer um destes partidos como sendo política e ideologicamente de Esquerda. Conclusão: independentemente de tudo o mais, só enquadrando uma frase no seu contexto é que se faz justiça sobre o seu sentido.

    Rui

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  2. Aquele texto é um sinal. Obrigado pela observação. Sugiro esta leitura "O líder parlamentar dos Verdes europeus, Daniel Cohn-Bendit, disse hoje que Rui Tavares lhe comunicou a decisão de se juntar a esta família política na semana passada, contrariando a versão do eurodeputado português." http://aeiou.visao.pt/-begin-sttagtitle--a-classdred-bold-stylefont-size12px-displayblock-hrefgenplpstoriesopviewfokeyvsstories609208be-cohn-bendit-diz-que-rui-tavares-lhe-comunicou-decisao-de-se-juntar-aos-verdes-ja-na-semana-passadaa--end-sttagtitle-=f609208

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  3. "Rui Tavares terá preparado transição para "Os Verdes" há dois meses", http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=94&did=161535

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  4. O texto do Rui Tavares sobre a esquerda é quase irónico. Se não for lido assim perde o sentido.

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