25 de junho de 2011

quero o meu deputado de volta

Parece que o eurodeputado que ajudei a eleger, fosse com a campanha que fiz ou com o voto que dei, resolveu trair as vontades de quem acreditou num programa e o quis levar avante. Posto isto, seguiram-se algumas declarações atípicas de quem quer ser a única esquerda e típicas de quem quer fermentar o ego sob falsos pretextos e sob a capa ilusória da ofensa mimada.
Com todos os abutres a salivar pela carne de Francisco Louçã - geralmente sob a capa ideológica neoliberal e, portanto, com justificações mais do que políticas para isso -, vem o Rui Tavares, tal qual malograda vítima de violentas palavras de Louçã, dar um ar da sua graça com gestos de menino ofendido pela crueza e pela força poética das palavras. Mas nós já sabíamos que as palavras pesavam. E, mais do que as palavras do FL, pesaram as declarações, de patente irresponsabilidade e oportunismo, do nosso historiador.
Tivesse a desculpa (porque é mesmo uma desculpa) alguma razão de ser - que não a tem, porque RT se esquece da lealdade que deve a quem, como eu, votou não nele mas num programa que, infelizmente para a dignidade dele, não é o dos Verdes – e a única acção coerente a tomar seria, obviamente, a de abandonar o Parlamento Europeu. Manter-se lá, no lugar que conquistou à custa da campanha feita por quem queria e fazia outro programa, dos votos que escolheram outro programa, por razões apolíticas e birrentas, é digno só de quem quer dar a folga à esquerda e construir o ego com tricas que se erguem sob desculpas esfarrapadas.
Parece que RT até queria abandonar o PE, mas também não quis dar o gostinho da lealdade a quem votou num programa que ele não seguirá. (“Mas nesse caso seria também demasiado fácil a qualquer partido desfazer-se de um independente, não é?”). Para RT, o importante é mostrar-se hercúleo nesta resistência feroz contra os grilhões atemorizadores do sufrágio democrático. “Beneficiar o infrator” é que não e respeitar a vontade da democracia muito menos. E assim vemos agir alguém tão humildemente crítico das esquerdas e que incorpora o que de mais baixo e oportunista há na política toda.
Diz também RT que "sabia por exemplo o que se tinha passado em Lisboa com o independente Sá Fernandes e queria de certa forma perceber se o BE tinha aprendido a lição e conseguia finalmente lidar com a independência no seu próprio seio". Após a observação participante susceptível de dar a RT uma visão mais abrangente e assertiva da realidade e a não menção de casos como os da Catarina Martins, o historiador, trabalho de campo feito, permanece perto do terreno a observar, com a acalmia aparente de quem não sente nas veias a lava do oportunismo, esse monstro terrível que não lida com a independência incapaz de ter a humildade e a decência de respeitar o que e quem a elegeu.
No meio disto tudo, parece que as declarações de Cohn-Bendit não ofendem RT e muito menos o deixam quedo, mudo, ultrajado, sem confiança política no infractor e com a doce vontade de não lhe dar benesses. Diga-se também de passagem que seria complicado andar de pouso em pouso e que as desculpas se vão esgotando.
Num país em que a direita me vai ao bolso, a única esquerda verdadeira vem-me ao voto. Não gostei. A deslealdade é coisa para, volta e meia, me chatear um bocado. Se fosse só o meu voto nem seria assim tão mau. Mas são muitos, muitos mais. Tantos mais que fazem um deputado. Pode o RT ficar com a alegria de ter tido o meu humilde voto, peço-lhe só que me devolva o deputado.

1 comentário:

  1. Pois eu cá aplaudo, e de pé, a atitude do Rui Tavares. Também eu lhe dei o meu voto ao ter votsdo no BE: votei na altura convictamente no Bloco, não só mas em boa medida pela sua presença nas listas. Exultei com a sua eleição, não só por ter sido por uma unha negra que me fez sentir o meu voto mais útil que nunca, mas também por o deputado que em última análise elegi ser quem é.
    Lamento discordar, mas a democracia não se resume a votar em listas fechadas e no programa que as suporta. A democracia resulta na eleição de pessoas que, por nelas termos votado, são legitimadas para o exercício de um mandato. Poderão exercê-lo bem ou mal, e caberá aos eleitores, sobretudo os que lhe deram o seu voto, avaliar se esse mandato é exercido bem ou mal. Há os que pensam que Rui Tavares apenas foi eleito para defender as posições do Bloco. É legítimo. Há os que defendem que Rui Tavares foi eleito pelas suas ideias - naturalmente enquadradas na lista que o integrou, também, supõe-se, por de alguma forma se rever nas suas ideias ou achar que elas serão utéis para a actividade política do partido em causa - pelas suas ideias, repito, e para encontrar forma de as projectar na actividade para a qual foi eleito. Será também legítimo, penso. Como natural me parece pessoas diferentes votarem numa mesma lista e nos mesmos candidatos com motivações diferentes.
    Mas o mandato é de 5 anos, não tem a duração que os líderes do partido em questão decidem que têm. Isso sim é a subversão do princípio democrático, porque os líderes políticos não são eleitos, pelo menos não pela totalidade dos eleitores portugueses. Como tal, não devem por princípio alterar o que foram os legítimos resultados dessas eleições. Que, neste caso, resultaram na eleição de Rui Tavares. Sentir-me-ia defraudado se ele abandonasse o seu cargo "apenas" por ter entrado em colisão com o partido que o albergou na sua lista.
    Repito, podemos concordar ou discordar das atutudes tomadas por RT e dos seus motivos, mas não podemos acusá-lo de desrespeitar a democracia que o elegeu. Pelo contrário, RT enaltece a democracia que o elegeu.

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