15 de junho de 2011

Somos todos italianos (!)

Toda a esquerda europeia se tornou italiana nos passados dias, vangloriou-se das derrotas de Berlusconi e até houve quem escrevesse fábulas sobre o assunto. Sem sombra de dúvida foi a democracia que ganhou nos referendos e nas regionais em Nápoles e em Milão, e é igualmente certo, que ao somatório do deslize de popularidade de il Cavaliere e compagnons de route se somou uma aliança de higiene nacional - composta por toda a esquerda e alguns sectores de direita - que permitiu todo este avanço e resistência ao retrocesso civilizacional.

Muito activismo de talk show luso olhou para estes resultados e de peito cheio apontou o dedo à esquerda que navega por mares antes nunca navegados , vejam bem e aprendam! O que infelizmente não se ouve entre riscos e coriscos é a história contada a partir do "era uma vez...". A razão é em si muito simples e bastante objectiva, é que o início do conto teria que começar no governo de coligação do Partido Democrático e da Refundação Comunista, que curiosamente legislaram no sentido da privatização das águas, e que agora na oposição, precisaram do referendo para darem o dito pelo não dito.

Para que não restem dúvidas, celebrei a opção que o povo italiano tomou, a derrota que infringiu a Berlusconi e a importante vitória que obteve na luta anti-liberal. Agora, o que não deixa de ser curioso, é que a esquerda italiana ganha neste episódio, fazendo campanha contra uma lei defendeu quando esteve no executivo.

Que cem frentes anti-liberais floresçam, que cem certezas se confrontem. Toda a pujança para a unidade, e todos os tijolos, cimento e massa para a esquerda grande, mas não me venham com contos, o problema reside mesmo neles, é que a derrota ao liberalismo se tem feito na Europa essencialmente na oposição, quando os radicais defensores dos serviços públicos, dos direitos civis, sociais, económicos e culturais da social-democracia existente, se apoderam do aparelho de estado, executam a gestão corrente do poder instituído tão bem ou melhor que a direita, conseguindo ainda juntar no meio do desmantelamento uma central sindical ou outra.

O que faz com que todo o velho continente, com honrosas excepções, ande de roda gigante em permanência, agora está a direita em cima, depois vai para lá a "esquerda", mas o percurso é sempre fixo, como se tem visto.

Para isso meus senhores (!) já não há pestanas para queimar. A esquerda precisa de ir ao seu reencontro, debater-se e unir-se, definir o que lhe dá coerência, mas isso meus caros, a menos que a esquerda deixe o ser, e para o que nos una mais o que nos separa, não há espaço para cobardias e para confissões com o capital financeiro e suas instituições.

3 comentários:

  1. A diferença é que este referendo partiu de baixo, das pessoas. Os partidos aproveitaram a boleia. E quando as pessoas pegam nas coisas com as suas mãos é que as coisas tremem.

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  2. Sem dúvida Youri. Mas estamos certamente de acordo que o movimento plebiscitário foi impulsionado pela Esquerda, ao qual o PD se colou, contrariando a sua prática governativa.

    Quando os de baixo já não querem as coisas mexem-se em cima.

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  3. ó netinho somos uma europa de velhotes

    e os belhotes de esquerda são ex-hippies ou do P.C

    e mesmo os de maio de 68 andam bem instalados

    só se for uma esquerda à moda da Calabria

    ou de Lafite

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