29 de outubro de 2010

Chinese democracy...



It don't really matter
Gonna find out for yourself
No, it don't really matter
I'm gonna leave these thing to
Somebody else

If they were missionaries
Real time visionaries
Sittin' in a Chinese stew
To view my disinfatuation

I know that I'm a classic case
Watch my disenchanted face
Blame it on the Falun Gong
They've seen the end
And you can't hold on now

Cuse it would take a lot more hate than you
To end the fascination
Even with your iron fist
More than you got to rule the nation
When I all I've got is precious time

It don't really matter
I guess I'll keep it to myself
Said, it don't really matter It's time I look around
For somebody else

Cause it would take a lot more time than you
Have got for masturbation
Even with your iron fist
More than you got to rule the nation
When all we got is precious time
More than you've got to fool the nation
When all I've got is precious time

It dont really matter
I guess you'll find out for yourself
No, it don't really matter
So you can hear it now
From somebody else
You think you got it all locked up inside
And if you beat them enough, they'll die
It's like a walk in the park from a cell
And now you're keeping your own kind in hell
When your Great Wall rocks, blame yourself

While their arms reach up for your helpAnd you're out of time

PCP + PCC = ?x?x?x?x? (2)

Escrevi ontem sobre a profunda incoerência do PCP e do PCC. Lamento ferir susceptibilidades mas a realidade não foge e é clara como água. E a realidade é que o PCP mantém, de olhos fechados, uma absoluta veneração ao regime Chinês. Regime esse que declara oficialmente o apoio aos planos de austeridade e à política privatizados e anti-social que o PCP em Portugal tanto critica. Como é que será uma discussão entre o PCP e o PCC sobre a política da austeridade e as privatizações? O PCP diz que são um roubo, o PCC diz que vão conduzir ao desenvolvimento económico… No final, somos todos amigos e camaradas na mesma luta, na luta pelo avanço civilizacional, pelo avanço da luta anti imperialista e pela conquista do poder pelo proletariado. Perdão?


Bem, mas se há duvidas, é fácil constatar qual a posição do PCP sobre o PCC:

«Ao XVII Congresso do Partido Comunista da China

Em nome dos comunistas portugueses, o Comité Central do Partido Comunista Português saúda calorosamente o XVII Congresso do Partido Comunista da China, formulando os melhores votos de sucesso aos seus trabalhos e à acção dos comunistas chineses em prol do desenvolvimento e progresso social, fortalecendo o objectivo proclamado da construção de uma sociedade socialista.«Estamos certos que o sucesso do processo de grandes transformações económicas, sociais, políticas e culturais na China, tornando já hoje a China um factor de primordial importância das relações internacionais, possui um inegável significado para a luta dos povos pela sua soberania e dignidade e é um contributo para a sua resistência à tentativa do imperialismo de reforçar a prática unilateralista e instaurar uma nova ordem mundial exploradora e totalitária.« (Outubro 2007)

Ou então…

“O PCP lamentou, esta segunda-feira, a atribuição do prémio Nobel da Paz 2010 ao dissidente chinês Liu Xiaobo, considerando que é «mais um golpe na credibilidade» deste galardão e que representa «pressões económicas e políticas» à China.

Num curto comunicado divulgado esta segunda-feira, o Partido Comunista considera que a decisão de distinguir Liu Xiaobo é «inseparável das pressões económicas e políticas dos EUA à República Popular da China». «É, na linha da atribuição do prémio Nobel da Paz de 2009 ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mais um golpe na credibilidade de um galardão que deveria contribuir para a afirmação dos valores da paz, da solidariedade e da amizade entre povos», refere ainda o PCP. “ –



Bem, não se trata aqui de divisionismos de esquerda. Eu faço acção política com pessoas do PCP, pessoas que são comunistas e não aceitam a repressão e a hipocrisia do regime Chinês. Trata-se de coerência. Não podemos em nome da unidade esconder que o PCP declara oficialmente o seu apoio a uma das maiores ditaduras do Mundo, quer do ponto de vista das liberdades individuais, quer do ponto de vista económico e militar. A uma ditadura assassina!

Lamento, mas eu não fecho os olhos nem aceito auto censuras em nome de coisa nenhuma.

PCP + PCC = ?x?x?x?x?

Os “comunistas” Chineses não param de nos surpreender. A incoerência do PCP essa vive em absoluta monotonia. Ao que parece, a China declarou o seu apoio aos planos de austeridade de Socrates em Portugal. Dizem que os planos conduziram Portugal ao crescimento económico. Já o PCP apoia de olhos fechados o sentido ideológico do regime Chinês. Em Portugal diz que a austeridade é um roubo. Imagino um encontro entre o PCP e o PC Chinês sobre planos de austeridade e privatizações. Certamente será o diálogo dos bêbados…

28 de outubro de 2010

Orçamento modelo T


As agências de comunicação ao serviço do PS e do PSD, vulgo comunicação social vieram contaminar todo o debate sobre o orçamento de Estado.

Desde o início que há uma ideia abertamente transmitida: Ou há este orçamento PS com ou sem voto favorável do PSD, ou o orçamento será gerido por duodécimos.
Propositadamente ou não, a discussão ainda não incidiu sobre que propostas apresentam os outros partidos, inclusivé o PSD poderia apresentar um orçamento diferente e não apenas umas alterações que o mais significativo que têm é o seu cheiro eleitoralista.

Chegados aqui podemos partir para outra questão: as agências de comunicação, vulgo comunicação social, notíciam de megafone na mão que este orçamento é apenas para acalmar os mercados, aliás tal como todo o governo e opinion-makers do establishment afirmam "ter" de ser...

Mas então quando os mercados perceberem que o orçamento é uma leviana maquilhada de senhora séria será que vão acalmar?
Não seria melhor ter um orçamento sério em vez de um que pareça sério?

Entretanto os mais pessimistas que fiquem descansados, a senhora Merkel já tem um orçamento para nós feito á medida dos seus interesses e preocupações.

"Portugal pode ter o orçamento que quiser, desde que seja neo-liberal."



*parabéns ao José Vitor Malheiros por ser um dos verdadeiros jornalistas que resistem.
Para quem ainda não leu recomendo o seu artigo sobre a comunicação social.

27 de outubro de 2010

"Pepsi ou Coca-Cola?"

“O PSI-20 encontra-se a negociar em terreno negativo depois do rompimento das negociações do Orçamento de Estado tornada pública esta manhã por Eduardo Catroga e pelo Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, com consequente subida de 20 pontos base para 5,781% na “yield” da dívida portuguesa a 10 anos.” (Jornal de Negócios)


“Os sociais-democratas têm prevista para hoje à tarde uma reunião da Comissão Política Nacional. À hora dos telejornais, o PSD anunciará uma posição formal sobre o assunto. A posição final, sabe o PÚBLICO, dependerá da reacção dos mercados às notícias das negociações falhadas.” (Público)


Ao longo da novela das negociações para o OE 2011, os grandes arautos da suma racionalidade do mercado encenaram um conjunto de actos à partida contraditórios com o seu dogma de que não faz mal nenhum as dinâmicas dos mercados financeiros condicionarem/determinarem as decisões de política económica porque, se lhes forem criadas as melhores condições, porque são a mais eficiente forma de alocação de recursos, tudo eventualmente correrá pelo melhor.

Só que, desde a sugestão de há uns dias de renegociar o défice com Bruxelas ao anúncio de Catroga do falhanço das negociações (sem esquecer todos os think tanks e aglomerações de economistas de orientação social-democrata que não se têm coibido minimamente de classificar como recessivas as medidas de austeridade), vemos que nem tudo vai bem no melhor dos mundos possíveis da despolitização da decisão económica.

O problema de Passos Coelhos e do PSD com o OE não se reduz a divergências sobre política económica. Há uma dimensão táctica, da esfera do estritamente político, que não tem como ser (pacificamente) traduzida ou articulada nos sinais dados ao mercado. As motivações e estratégia políticas de Passos Coelho não são do domínio do mercadorizável e, nesse sentido, vemos já como uma construção institucional de mercado armadilha os seus próprios defensores: da mesma forma que um Orçamento de um Estado institucionalmente confinado a agradar aos mercados não tem muito por onde escolher – como descreve Friedman, “é Pepsi ou Coca-Cola” –, também a oposição vê a sua capacidade de negociação, e, nesse sentido, o seu capital político, esvaziados pela mesma chantagem.

Não é que Passos Coelhos e o PSD não saibam as consequências que para o financiamento da economia portuguesa (da dívida soberana ao acesso das empresas e famílias ao crédito) tem agitar as águas das negociações com sugestões de que as medidas de austeridade contidas no OE podem não ser aprovadas. Claro que sabem lindamente que o funcionamento mecanicista do projecto institucional que advogam resulta no encarecimento do financiamento obtido nos mercados a cada sinal de instabilidade política. Mas politicamente o PSD não se pode colar ao PS e, tacticamente, Passos Coelho deve ser contraponto a Sócrates.

Da dependência relativamente ao mercado só resulta o esvaziamento do significado político das escolhas. A circunscrição das margens de negociação significa o cilindrar das diferenças politicamente significantes entre as forças partidárias envolvidas nas negociações. Isto é mau para qualquer táctica política, mas acima de tudo, como é óbvio, é muito mau para a democracia.

A competitividade de Pedro Ferraz da Costa

Na mesma edição de hoje do Diário Económico, já muito bem assinalada pela Mariana, podemos encontrar mais uma preciosidade do pensamento político do patronato português. O economista, Ex-Presidente da CIP e actual Presidente do Fórum para a Competitividade, Pedro Ferraz da Costa, questionado sobre qual a via de evitar uma contestação social com uma subida do IVA e uma redução da Taxa Social Única para os 3,75% (medida proposta pelo emérito e respeitoso Fórum ao qual preside Ferraz da Costa), brinda-nos com a seguinte resposta:

-“Estamos a viver acima das nossas possibilidades e temos de reduzir o consumo e as importações. Seria melhor uma medida destas do que entrarmos em ruptura de pagamentos. Invocam-se as taxas reduzidas por causa das pessoas com menores rendimentos, mas esquecemos que os mais ricos também beneficiam dessas reduções. Era preferível criar, à semelhança do que fazem outros países, como o Brasil, um cabaz familiar de compras para os mais carenciados. E acho que esta polémica à volta do leite com chocolate não faz sentido, se tivermos em atenção que 40% das nossas crianças são obesas.”

Sempre que alguém, com ar muito sério e distinto, vos falar de competitividade, lembrem-se de Pedro Ferraz da Costa.

as prioridades do PSD

O PSD veio dizer agora que aceita um aumento do IVA em troca de uma diminuição de três pontos da Taxa Social Unica (descontos que as empresas fazem para a Segurança Social de acordo com o numero de trabalhadores). Onde é que eu já li isto?!




(Parece-me que lá bem no fundo o objectivo nunca foi o IVA)




26 de outubro de 2010

"eu bem tinha avisado"



Há por aí uma ordem de economistas a dominar as nossas praças que insistem neste tipo de argumentos:




A lógica é esta:
Temos um PEC, que impõe medidas de austeridade que conduzem à recessão. Para resolver o problema impomos novas medidas de austeridade. Não é preciso ser sequer economista para perceber que as contas não batem certo!
Economistas consagrados, todos os dias chamados a emitir a sua opinião sobre o estado de (des)graça do nosso país, confundem défice com recessão e ignoram, irresponsável e inconsequentemente, o carácter pró cíclico das medidas que defendem.
Perante a pressão dos mercados financeiros e das potências europeias exigem cortes salariais, menos investimento público e prestações sociais. Quebram não só o poder de compra das famílias mas também as suas possibilidades de guardar algum dinheiro no final do mês. Mas advogam mais dinamismo na economia e poupança interna. Dizem que a economia não cresce mas não lhes vemos uma proposta que vá em direcção contrária. Nunca houve um plano industrial, uma estratégia que fosse. Levantam-se contra o despesismo mas quando tiveram a possibilidade de cortar nas "despesas supérfluas e de luxo", porque muitos deles já foram executivo, não o fizeram.
Os nossos economistas defendem a austeridade como solução para a recessão trazida pela austeridade. Tenho a certeza que quando ela chegar (e a doer) dirão “eu bem tinha avisado”.

Bolo Rei



O discurso de Cavaco no CCB não andará muito longe disto:



Quanto a receber ou não uma herança pesada que nos dificulta a vida...bem Aníbal com heranças destas eu preferia ser deserdado.
A ti e aos teus sai sempre o brinde, a mim e aos meus a fava...
A única coisa justa neste mundo é a Lycra já dizia o poeta.

Enquanto isso, em França



23 de outubro de 2010

Wikileaks : Iraq X-Files

Mais uma lição de jornalismo.
Pode ser que um dia em Portugal haja uma imprensa menos dependente que sirva realmente a Democracia.
O Wikileaks divulgou a maior fuga de informação militar de sempre sobre a ocupação do Iraque.
Não é preciso saber Inglês para perceber o alcance desta "cacha".

At 5pm EST Friday 22nd October 2010 WikiLeaks released the largest classified military leak in history. The 391,832 reports ('The Iraq War Logs'), document the war and occupation in Iraq, from 1st January 2004 to 31st December 2009 (except for the months of May 2004 and March 2009) as told by soldiers in the United States Army. Each is a 'SIGACT' or Significant Action in the war. They detail events as seen and heard by the US military troops on the ground in Iraq and are the first real glimpse into the secret history of the war that the United States government has been privy to throughout.

The reports detail 109,032 deaths in Iraq, comprised of 66,081 'civilians'; 23,984 'enemy' (those labeled as insurgents); 15,196 'host nation' (Iraqi government forces) and 3,771 'friendly' (coalition forces). The majority of the deaths (66,000, over 60%) of these are civilian deaths.That is 31 civilians dying every day during the six year period. For comparison, the 'Afghan War Diaries', previously released by WikiLeaks, covering the same period, detail the deaths of some 20,000 people. Iraq during the same period, was five times as lethal with equivallent population size.


Parabéns!

22 de outubro de 2010

"porque é que a praxe existe? Porque sim!"


Todos os anos, com o começo do ano académico, assistimos ao (re)começo das tradições académicas em praticamente todas as faculdades do país. Entre estas tradições destaca-se a praxe académica.

A praxe académica enquanto conceito, nos nossos dias, surge como resposta à necessidade de integração de estudantes no novo tipo de ensino, o ensino universitário. Mas ela não surge assim. Desde a institucionalização da praxe, na Universidade de Coimbra, muita alteração se fez ao objectivo da praxe, e à sua prática real. Desde a sua proibição por D.João V - "Hey por bem e mando que todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos."-, a praxe sofreu no século posterior, século XIX, uma alteração profunda caracterizada pelo aumento massivo da violência. Só a implantação da República parou a violência praxista. A praxe é recuperada, embora de uma forma diferente, no Estado Novo e novamente é abolida consensualmente a seguir ao 25 Abril, fruto de tempos em que as lutas eram outras…


A praxe, como a conhecemos hoje, é fruto do seu ressurgimento pós Abril, em particular fruto massificação praxista dos anos 70. No Porto, como em Coimbra, em Lisboa, em Évora, a praxe foi (re)implantada ou, no caso especifico de Lisboa, implantada mais seriamente. Esta (re)implantação foi acompanhada pela tomada das Associações Académicas pelas juventudes partidárias do PS e do PSD. Associações Académicas, que mesmo não sendo comissões de praxe, são importantes estruturas de base e apoio da cultura praxista. Com a massificação da praxe, enquanto meio de integração segundo as comissões de praxe, os rituais institucionalizam-se, as hierarquias ganham força, os rituais multiplicam-se de ano para a ano, e cria-se uma tradição académica de praxe. É essa a tradição com que quase todos os estudantes de primeiro ano na faculdade se deparam.

Mais que fazer uma análise histórica do que foi a praxe, interessa-me interpretá-la no hoje. Como é a praxe hoje? Como se processa? Com que objectivos? A quem serve? A praxe deve existir como meio de integração no meio universitário?


- A praxe não é livre. A maioria dos estudantes gosta da praxe e vai à praxe. Isso não a legitima por si só. O que acontece a um estudante que se declara anti-praxe? Tem o mesmo tratamento pelos colegas de curso mais velhos? É convidados para jantares de curso e outras formas de convívio estudantil? Um estudante anti-praxe é um estudante por norma excluído dos convívios de curso e das formas de socialização que se fazem entre os cursos. É mal visto e por isso poucos se declaram anti-praxe, por medo de represálias académicas.

- A praxe é hierárquica. A praxe onde ela está mais fortemente implantada, e destaco muito especificamente a Universidade da Beira Interior, é uma praxe com uma hierarquia muito forte e rígida. O que é que legitima a autoridade hierárquica? O número de matrículas. Para ser mais específico e falar com os termos correctos, quanto mais cadeiras os estudantes deixam para trás e mais acumulação de matrículas têm, mais poder têm na praxe. Na gíria: quanto mais burro mais poderoso! A praxe aproveita-se de uma falsa hierarquica – falsa porque apenas existe dentro dos códigos de praxe -, e a pretexto dessa hierarquia hipótetica, legitima actos de violências, humilhação e subjugação.

- A praxe é violenta fisicamente e psicologicamente. A melhor realidade para descrever é a que observamos. E quanto saímos à rua e damos de cara com a praxe, assistimos à realidade concreta. Os veteranos, grão-mestres, doutores, bispos, e todos esses conceitos praxistas, aplicam sobre os caloiros – ai sim, o conceito é geral -, torturas psicológicas, muitas vezes físicas, que se aproveitam de estigmas e preconceitos pré concebidos para humilhar e subjugar, entre berros, ofensas, ataques pessoais e muitas outras dissimulações absurdas. As praxes aproveitam-se das fragilidades pessoais. Em Castelo Branco há caloiros a dar linguados a porcos (porcos não estou a falar de alguns praxistas mas do animal mesmo), na Covilhã caloiros simulam orgasmos (mesmo que seja sem contacto algum). Em Lisboa caloiros rebolam em lama. No Porto simula-se sexo com uma árvore e fecham-se estudantes em fábricas durante todo o dia. Em Coimbra estudantes (quer dizer…, caloiros) que saiam à rua a partir de determinada hora e sejam apanhados cortam-lhe o cabelo. E já para não falar dos exemplos clássicos de uma rapariga que foi violada, ou outra que ficou durante um dia cheia de bosta de vaca ao sol… Os exemplos são tanto!!!

- A praxe ilusória. É obvio que cria uma dinâmica grupal entre os caloiros importante para o resto dos anos. Mas, mais uma vez, isso não serve como legitimação. A praxe esconde um dado muito importante: é possível criar dinâmicas grupais entre cursos que não se baseiem em praxes. Aliás, há exemplos concretos: visitas à universidade promovidas pelos núcleos de curso, jantares alargadores de cursos, jogos, tertúlias, chill-out sessions, noites de copos, acções culturais, enfim há todo um campo vasto de ideias por explorar. E a isso os membros das comissões de praxe nunca responderam nem nunca quiserem responder.

- A praxe é machista. Em inúmeras praxes existe uma submissão da mulher perante o homem. Seja ao nível da submissão sexual, seja a exploração da opressão machista, seja às praxes em que o objectivo é a mulher dançar para um veterano, ou um caloiro simular uma conversa de “engate” a uma caloira, ou os desfiles de caloiras com pouca roupa em discotecas e bares.

- A praxe é brutalmente homofóbica. Em quase todas as canções e hinos de praxe se exorta a opressão homofóbica. Em todas as letras das músicas de curso são metidas palavras e expressões como gay, paneleiro, maricas, levar no cú, ou outras insinuações rascas que escondem um preconceito brutal, que é altamente opressor para com homossexuais e degradante, ainda por cima dito por pessoas adultas a estudar no ensino superior!

- A praxe não é democrática. Aos caloiros os dados são impostos e não discutidos. A ninguém é perguntado “olha queres fazer esta praxe?”, “caloiro, tem alguma objecção a olhar para o chão quando fala com estudantes com mais matriculas?” ou qualquer outra pergunta deste género. O caloiro faz, simplesmente porque sim, sem justificação e nem tem o direito de perguntar nada. São “regras” dizem eles.

Por todas estes argumentos e dezenas de outros que não descrevo, e por toda a realidade que vejo como estudante em Lisboa, que conheço por relatos de amigos em Coimbra, que conheço por relatos de amigos no Porto, que conheço por relatos de amigos em Braga, que conheço por relato de amigos em Évora, que conheço concretamente na cidade da Covilhã, que a minha rejeição à praxe é absoluta. O que a realidade concreta me mostra é que a praxe é uma forma medieval de opressão e de submissão pré laboral, de aproveitamento de preconceitos e de fraquezas pessoais, de exploração de fragilidades e de diferenças entre as pessoas, e de subjugação não-livre à vontade de alguém que não tem autoridade nenhuma. Numa Universidade livre a praxe não tem de existir.

Eu rejeito a praxe numa frase: porque é que a praxe existe? Porque sim!

Originalmente publicado na Mafia da Cova

21 de outubro de 2010

Morreu Bob Guccione, fundador da Penthouse

Aguardam-se os comentários da Rita Rato.

David Harvey e as explicações da crise



Roubado ao Minoria Relativa

Le bateau en carton

Esta noite fui ver um documentário sobre a problemática da vida(?) de uma comunidade cigana em Paris do ponto de vista de alguém que conhece bem a realidade.
Ao contrário do que é o preconceito geral eles não param um momento para estar a preguiçar.
Entre armar as suas tendas, serem despejados, procurar local para acampar de novo, ser expulso para a Roménia, voltar a França...os ciganos não têm um momento de descanso.
Há uma cena em que a polícia francesa os força a entrar num comboio rumo a uma outra qualquer localidade de França que faz terrivelmente lembrar os vagões que iam para Auschwitz-Birkenau.
São pessoas como nós, membros de pleno(?) direito da Comunidade Europeia.
Cada vez mais é necessário combater as ideologias que levam a executar políticas que continuem a achar razoável que haja um "resto do mundo", caso contrário quem nos garante que não seremos nós os próximos?
nos bidonvilles de Paris?
Não foi assim há tanto tempo.

In the late 1960s, there were eighty-nine bindonvilles on the outskirts of Paris. During this time, bidonvilles were often associated with immigrant groups from Northern Africa. However this is partly an exaggerated stereotype, as the largest bidonville of the Paris area in the 1960s (Champigny-sur-Marne) was comprised mostly of Portuguese.[10] That being said, a Ministry of the Interior census carried out in 1966 suggested that the majority of the 46,827 people living in the 119 Parisian bidonvilles were of North African origin. [11] Other bidonvilles were concentrated north-west of Paris, including near Nanterre, Gennevilliers, Asnières, and Colombes.

Le bateau en carton
José Vieira
França, 2010, 80’
COMPETIÇÃO INTERNACIONAL - LONGAS
Abril de 2008. José Vieira descobre um acampamento de ciganos à beira de uma auto-estrada perto de Paris. Lembra-se de quando era criança e vivia num local semelhante. Decide filmá-los, seguindo o seu dia-a-dia mais íntimo e a luta que travam quando a polícia destrói as suas casas com bulldozers. A expulsão de ciganos em França, vista no tempo presente.
20 OUT. 21:00 - CULTURGEST - Grande Auditório
21 OUT. 15:30 - CULTURGEST - Pequeno Auditório

20 de outubro de 2010

Ninguém morre sozinho

É por isso que tenho dito que não há alternativa à aprovação do Orçamento. Os protestos da esquerda radical resultam simpáticos para os que têm de apertar muito o cinto e se sentem injustiçados. Mas não passam disso. Se, por hipótese absurda, chegassem ao poder, por voto dos portugueses, a única alternativa diferente da actual seria voltarmos ao "orgulhosamente sós" de Salazar - num contexto internacional muito mais difícil - ou a um modelo económico tipo cubano, que hoje todos reconhecem ser de partido único e de miséria extrema.

Não quero com isto dizer - como os leitores já perceberam - que concorde com as receitas economicistas para ultrapassar a crise recomendadas pelo Banco Central Europeu, que, a meu ver - e não sou economista - nos vão conduzir à recessão e à decadência, não só a nós mas à União, se não mesmo à sua desintegração. Quero só dizer que o nosso combate tem de ser feito no quadro europeu, partidário e sindical, e não no plano nacional, que, como tentei explicar acima, só nos pode conduzir a uma situação pior do que aquela em que estamos.


Realmente, o modelo europeu, económico e financeiro neoliberal, ainda em voga, só pode levar-nos a um desastre, a nós todos, europeus

Mário Soares,Diário de Notícias,19 de Outubro de 2010

opção A - o Bloco de Esquerda tem propostas que Soares displicentemente e de modo desonesto se recusa a analisar e qualifica como um orgulhosamente sós.
opção B - o modelo cubano (será o PCP?)
opção C - o modelo neo-liberal que nos leva à ruina

Soares escolheu a resposta "C".
Há quem diga que foi já há muito tempo que ele fez esta escolha
Parece que a idade ao avançar traz com ela o medo da solidão, assim sendo mais vale morrer acompanhado que viver sozinho.
Reparem que Soares revela uma ideologia profundamente suicidiária na sua escolha: ele está consciente que a opção que escolheu nos leva à degradação e desgraça e outros apocalipses, no entanto considera essa a melhor opção.
O pensamento de Soares revela muito do futuro do PS:
Depois deste orçamento, depois deste Sócrates, depois deste Partido "Socialista", só daqui a 500 anos os portugueses vão querer voltar a ouvir falar do que é isso do socialismo.

A Direita agradece.

18 de outubro de 2010

dizem eles...


O nosso ex-primeiro, agora primeiro ao combate ao tráfico de seres humanos, diz que o tráfico humano 2,5 mil milhões de euros na União Europeia. O que é que podiamos esperar? É o (eterno) problema das contas públicas. A EU precisa de se financiar para poder financiar a irresponsabilidade dos povos que viveram acima das suas possibilidades e tem défices altissimos. E além disso, para que serve a imigração? Não podem ser só desvantagens, já que vivemos de fronteiras semi abertas ao menos sabemos canalizar os recursos que nos chegam… Além disso, a prostituição é uma causa fracturante…


… dizem eles!!

15 de outubro de 2010

Entende-te no Intendente!

Mais vigilancia!
Esta programada, prevista e orcamentada uma entrada maritima Rua Augusta acima, para vigiar o Intendente com o segundo submarino. Aquele que custou mais que custaria a reabilitacao de todo o Intendente.
Mas como o submarino sera insuficiente para os larapios da Almirante Reis, estao a ser desenvolvidos uns robots-camara-de-vigilancia que filmam e agem em conformidade. Por exemplo, quando o robot-camara detectar algum delinquente a meter-se com uma "mulher da vida", prontamente o obriga a colocar o preservativo e a pagar o parquimetro de onde o carro serve de quarto de hotel.
Se os robots-camara nao chegarem, nao ha problema. Vem ai uma Super-Esquadra com Super Agente Super Bem Formados para Super-Prender quem Super-merecer.
E ha mais! O Sr Presidente da Camara tambem vai para o Intendente tomar conta daquele pedaco de Lisboa. Eu acho bem. Estou mortinho por ve-lo a admoestar quem pisar os jardins, quem assustar o pavoes, quem sujar a agua dos belos fontanarios. O Sr Presidente sera eximio a proteger um local inospito, um espaco abandonado e destruido, esquecido e abusado.
Assim que esta gente toda (Portas, Submarino, Antonio Costa, Robots-Camara, Super-Policias, e todos os outros) chegarem ao Martim Moniz, ja o Intendente esta morto, enterrado e pronto para Condominios Privados (que, como toda a gente sabe, sao o futuro).

Mais vigilancia? Paulo Portas, mais vigilancia ainda? Impossivel. Nunca tiro o olho de ti!
--

O Papa (móvel) Sou Eu
opapasoueu@gmail.com

a coerência

its never enough





Nada como sentir o cheirinho do PS logo pela manhã, já dizia a minha avó



"Os refrigerantes e os leites achocolatados são apenas alguns dos produtos que vão passar a ser imputados com a taxa normal de IVA, de 23%, de acordo com uma proposta preliminar do Orçamento do Estado para 2011.

Deixarão a taxa reduzida de 6% os produtos como "leites achocolatados, aromatizados, vitaminados ou enriquecidos", "bebidas e sobremesas lácteas", "refrigerantes, sumos e néctares de frutos ou de produtos hortícolas, incluindo os xaropes de sumos", "as bebidas concentradas de sumos e os produtos concentrados de sumos"."

14 de outubro de 2010

propinem as grandes fortunas !!!

Como diz o reitor do ISCTE sobre propinas, em resposta a um estudante no conselho geral : eu nunca vi ninguém comprar um Ferrari barato... Excelente metáfora. Entretanto o PS diz que quer o ensino secundário tendencialmente gratuito, nada contra, os outros que paguem propinas porque as faculdades como o mesmo reitor diz são como lojas, que para terem bons clientes tem que ter os preços muito altos.

Deslumbrante :)

Bons Filmes!


Realizado por Costa Gravas em 1969, “Z” é um filme político emocionante e que ainda hoje faz jus à influência que na época desempenhou no cenário político à esquerda. É inspirado nos acontecimentos que resultaram na morte de Grigoris Lambrakis, parlamentar de esquerda grego, vítima de um ataque em Salônica, enquanto discursava durante uma manifestação pela paz em 1963. A morte Lambrakis alavancou o movimento pela paz na Grécia e acelerou o processo que haveria de culminar com a tenebrosa ditadura dos coronéis em 1967. A título de curiosidade a filha de Costa Gravas, Julie Gravas, estreou-se na realização em 2006 com o tocante “La faute à Fidel” (Por culpa de Fidel).

13 de outubro de 2010

É a política, estúpido!

Agora já percebi de onde vem o dinheiro para a modernização(?) da Força Aérea com aviões holandeses de segunda mão comprados por 80 milhões, modernizados pelos EUA por 120 milhões, a "transformação" dos F-16, etc, etc.

Se tem dois filhos em idade escolar e o seu rendimento familiar ultrapassa 600 euros brutos perde o direito à acção social escolar por inteiro - o escalão A, que comparticipa a totalidade dos manuais, refeições e transportes. O caso agrava-se para as famílias com menos filhos. O mesmo valor para um casal com um filho dá direito apenas ao escalão B (metade das comparticipações).

Casais com um filho precisam de receber menos de 400 euros mensais para terem direito ao escalão A, o que equivale a 133 euros por cabeça. Para ter direito a metade dos apoios sociais, uma família com um filho terá de receber, no máximo, 830 euros. Logo, famílias com mais de 275 euros de rendimentos mensais por cabeça estão automaticamente excluídas da acção social escolar.

Agora só falta perceber o motivo, de facto. Augusto Santos Silva, Ministro da Defesa, disse há uns dias que era para defender a independência nacional. Junto-me ao nosso Papa sou Eu e digo que me alisto já se alguém conseguir provar que a nossa independência nacional está em perigo por razões militares.

A independência e a sobrevivência nacional está em perigo com estes cortes - ia chamá-los de cegos, mas erroneamente, são feitos de olho bem aberto e mente lúcida - nos apoios sociais. Santos Silva dá a imagem péssima à NATO de um país que age como uma criança que quer impressionar o pai que volta do trabalho.

Talvez, como diz Tiago Mesquita no Expresso, o país esteja a preparar-se para bombardear a Galiza. Talvez o plano seja voltar a conquistar Ceuta! Maravilhas saudosistas do glorioso Império Português!

Ou então, vamos só ficar com aviões de segunda mão parados e um país de cidadãos de bolsos vazios.

12 de outubro de 2010

Um capital de oportunidades!


Olhando para o momento político em que nos encontramos, facilmente concluímos que a esquerda tem em mãos um dos cenários mais gravosos a que podíamos estar submetidos, mas tem também em mãos uma oportunidade única para criar movimento social e exigir transformações sociais concretas. O cenário é evidentemente negro, foi anunciado o novo pacote de austeridade, recessivo e que estabelece uma escolha política, a de ir buscar recursos a quem menos tem, os cortes na acção social para o ensino superior são uma realidade já no terreno, a guerra imperialista avança a ritmo desenfreado, o PSD ganha base eleitoral e planeia hipoteticamente o seu sonho – um governo, um presidente, uma maioria -, para avançar com a revisão constitucional que planeiam há anos. E perante tudo isto como reage a esquerda e como reagem os movimentos sociais?


Não sou daqueles que acha que quanto pior, melhor, quanto pior viverem as pessoas melhor, porque mais revolta irá surgir e mais acção daí irá advir. Mas sou daqueles que acha que perante o estado em que nos encontramos, chegámos ao momento em que a esquerda e os movimentos sociais têm que provar a sua existência. Chegou, até, o momento de quebrar o medo. Todos os dias pessoas estão a ser despedidas, os subsídios sociais estão a ser cortados, os impostos aumentados, os serviços públicos a ser privatizados, o Estado a entregar ao mercado a vida das pessoas. As pessoas não podem ter medo, porque tudo o que elas receavam já está acontecer e portanto só existe uma solução, sair à rua e lutar por outras respostas.


Dia 24 deNovembro, temos em mãos uma greve geral, que tem que ser vitória. E a esquerda deve empenhar-se fortemente nessa luta e ampliar um consenso social de luta por futuro melhor. Dia 17 de Novembro, temos em mãos, uma manifestação nacional pelo ensino superior, mais uma oportunidade de dizermos não ao desinvestimento no futuro e à elitização das Universidades e do conhecimento. Dias 19 e 20 de Novembro temos a Contra Cimeira da NATO, uma ocasião impar para resistir contra a guerra e as políticas belicistas da NATO. Pelo meio a Cultra organizará um debate sobre o papel da NATO, a resistência às portagens nas SCUT vão continuar, e muitas outras formas de luta vão emergir.

Todas estas lutas, bem diferenciadas, mas que põem em cheque o modelo de desenvolvimento escolhido vão mobilizar milhares de Portugueses, e isso não pode ser em vão, todas estas jornadas tem de ser aproveitadas para uma mobilização crescente contra o este modelo de desenvolvimento que é errado, que prejudica sempre os mesmos, e que é conivente com a guerra aos povos.

É neste quadro de lutas, a candidatura do Alegre pode ser fulcral. Ter um presidente de esquerda capaz de condenar a destruição do Estado social, dos serviços públicos, a elitização do ensino e as acções imperialistas ao invés de um presidente de direita, conversador, que não só é conivente como apoia integralmente estas políticas, é uma oportunidade ouro. E nós não a podemos perder, não hoje, não agora!

Vamos à luta!

Publicado originalmente aqui.

Do patriotismo bacoco à fulanização do "jornalismo" em 30 segundos

Capas como estas fascinam qualquer um, a qualquer hora do dia.

Nada melhor que uma pitada de orgulho nacional temperado com saudosismo pós-colonial para enaltecer uma corte coesa e vaidosa, que vai demonstrar "aos outros" como a civilização joga futebol.

E assim vai o "jornalismo desportivo", aguerrido na tarefa de matar as saudades aos ex-leitores do 24horas.

11 de outubro de 2010

PCP: sempre pronto para não nos surpreender


Agora que o PCP estava em boa posição nas sondagens, não consegue conter-se e lança este tiro no pé em forma de comunicado. Anacrónico e completamente absurdo para um partido de esquerda que diz lutar por uma democracia "avançada". Concordo plenamente com os valores que o PCP diz que o Nobel da Paz tem de afirmar: da paz, da solidariedade e da amizade entre os povos.

Aqui entre nós, penso que é claro que ser amigo de um povo não é bem a mesma coisa que ser amigo do Partido que está no Governo, mesmo numa democracia liberal. E o PCP não consegue abster-se de desprezar o povo chinês e sua luta pela democracia e pela liberdade de expressão e defende um Governo que censurou a própria notícia da atribuição do Nobel da Paz na China.

Agora para juntar mais alguém à festa ditatorial, parece que a esposa de Liu Xiaobo está em prisão domiciliária e impedida de falar com o mundo exterior.

O aperto no coração



O aperto no coração "do" governo. Será que sentem mesmo?

Estudante sem bolsa e precária

Conheci há uns anos uma rapariga chamada Joana. Vinda de uma família trabalhadora e esforçada, a Joana foi da minha turma durante o secundário. Foi uma das quatro pessoas da minha turma que continuou os estudos para além do 12º ano. Os meus restantes 29 colegas não ingressaram no Ensino Superior porque não tinham dinheiro. Não tinham dinheiro para continuar a estudar, nem nunca a sociedade as incentivou a continuar.

A Joana era até o ano passado uma estudante deslocada em Lisboa. Tinha como gastos correntes a renda, as contas, os manuais, os transportes, etc. A Joana só conseguia estudar porque trabalha num callcenter e recebia a bolsa mínima, que só chegava para pagar os 1000 euros de propinas anuais. A Joana trabalha num callcenter onde recebe 2,75 EUR por hora onde 60% do seu salário é roubado por uma Empresa de Trabalho Temporário.

Este ano a Joana vai perder a bolsa. A Joana vai sofrer na pele as consequências do decreto-lei 70/2010, que apesar da sua designação aparentemente complicada, vai, entre outras coisas, reduzir o valor e cortar provavelmente cerca de 20 mil bolsas. Sem a bolsa, a Joana não tem dinheiro para pagar as propinas. Ela vai ter de deixar de estudar.

A Joana, que só participou na última manifestação de estudantes, quer ir à manifestação de estudantes do ensino superior marcada para dia 17 de Novembro. Mas não pode ir. A Joana não pode porque estará a trabalhar a vender internet móvel, a cumprir funções permanentes, mas a recibos verdes.

A Joana também quer, obviamente, participar da greve geral de dia 24 de Novembro. Mas não participará. A Joana não pode fazer greve porque trabalha a falsos recibos verdes. Para uma crescente parte da população portuguesa, de que a Joana faz parte, a greve não é uma hipótese real. Greve significa despedimento. E despedimento significa não receber subsídio de desemprego ou qualquer apoio social. E com sorte ainda ganha "fama" nas empresas de trabalho temporário.

Todos os dias fogem 3 milhões de euros por dia em impostos não pagos pela banca, gastam-se milhares de milhões de euros em submarinos, equipamento miliar, blindados para a PSP. Há Joanas, Tiagos, Marias e Mários a deixar de estudar, a serem exploradas, despedidas, desprezadas, que estão a pagar as contas de uma elite irresponsável e corrupta do PS com D ou sem D.

Por isso, a mobilização para a manifestação de dia 17 de Novembro e sobretudo para a Greve Geral de 24 de Novembro é fundamental. Temos de lá estar todos e todas, a representar a Joana precária, a Joana estudante, a Joana desempregada, todas as Joanas exploradas de Portugal e do mundo.

Também publicado em Esquerda.net

A CULTRA e a rede europeia Transform! organizam em conjunto um encontro a 16 e 17 de Outubro no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) uma série de conferências intitulada «NATO PARA QUÊ?». A iniciativa tem o apoio do International Coordinating Commitee No to War No to NATO (ICCNWNN).

16 DE OUTUBRO

10h- Portugal e a NATO (da Guerra Colonial ao Afeganistão)
João Paulo Guerra (jornalista)
Manuel Loff (historiador, FL - Universidade do Porto)

10h - As prioridades da política externa portuguesa e o papel das intervenções militares
Fernando Rosas (deputado e historiador, IHC - Universidade Nova de Lisboa)
Teresa Cravo (investigadora, CES - Universidade de Coimbra)
11h30 - Os primórdios: a NATO nos Balcãs
Carlos Santos Pereira (jornalista)
11h30 - Irão: a próxima guerra da NATO?
Miguel Portas (deputado europeu)
Walter Baier (Transform!)
13h - ALMOÇO
14h30 - A NATO e o(s) novo(s) conceitos estratégicos
José Manuel Pureza (deputado e professor, CES - Universidade de Coimbra)
16h30 - O imperialismo depois da Guerra Fria
Gilbert Achcar (professor, Universidade de Londres)

17 DE OUTUBRO

10h - A política externa de Obama: a guerra sem fim
Sandra Monteiro (directora do Le Monde Diplomatique, ed. portuguesa)
Mário Tomé (coronel na reserva)
10h - A guerra do Afeganistão e o conflito geoestratégico na Ásia Central
Luís Leiria (jornalista)
Reiner Braun (ICCNWNN)
11h30 - Palestina
José Goulão (jornalista)
Alan Stoleroff (sociólogo, ISCTE)
11h30 - Iraque: da mentira ao impasse
Jorge Costa (jornalista)
Arielle Dennis (ICCNWNN)
13h - ALMOÇO
14h30 - Sessão de encerramento: há vida fora da NATO?
Francisco Louçã (deputado e professor, ISEG - Lisboa)
Mariam Rawi (militante da RAWA - Associação Revolucionária das Mulheres Afegãs)

10 de outubro de 2010

A Guerra Imperialista por quem a conhece

Muitos falam de Guerra. Poucos falam com algum conhecimento de causa.
Seja por ideologia ou por demagogia há sempre os Nunos Rogeiro do costume que acham que "essas coisas das guerras" é como um pueril jogo de Risco.
Felizmente o mais próximo que conheço de uma guerra foram os relatos dos familiares que não ficaram enterrados na Guiné por um qualquer capricho do destino.
Por isso deixo aqui o relato na primeira pessoa de um Veterano do Exército Americano que descreve com uma incrível lucidez o que é isso da Guerra.
Mike Prysner de seu nome.

Entrevista com Robert Bryan, advogado de defesa de Mumia Abu-Jamal



Vale a pena ver a entrevista feita ao advogado de Mumia Abu-Jamal, principalmente pelo relato de factos, que na sua maioria nunca viram a luz do dia na imprensa dominante.

8 de outubro de 2010

Nobel da Paz 2010



I have no enemies: my final statement

June 1989 was the major turning point in my 50 years on life’s road. Before that, I was a member of the first group of students after restoration of the college entrance examination after the Cultural Revolution (1977); my career was a smooth ride, from undergraduate to grad student and through to PhD. After graduation I stayed on as a lecturer at Beijing Normal University. On the podium, I was a popular teacher, well received by students. I was also a public intellectual: in the 1980s I published articles and books that created an impact. I was frequently invited to speak in different places, and invited to go abroad to Europe and the US as a visiting scholar. What I required of myself was: to live with honesty, responsibility and dignity both as a person and in my writing.. Subsequently, because I had returned from the US to take part in the 1989 movement, I was imprisoned for “counter-revolutionary propaganda and incitement to crime”, losing the platform I loved; I was never again allowed publish or speak in public in China. Simply for expressing divergent political views and taking part in a peaceful and democratic movement, a teacher lost his podium, a writer lost the right to publish, and a public intellectual lost the chance to speak publicly. This was a sad thing, both for myself as an individual, and, after three decades of reform and opening, for China.

Thinking about it, my most dramatic experiences after June Fourth have all been linked with the courts; the two opportunities I had to speak in public have been provided by trials held in the People’s Intermediate Court in Beijing, one in January 1991 and one now. Although the charges on each occasion were different, they were in essence the same, both being crimes of expression.

Continua aqui

Liu Xiaobo (December 23, 2009)

7 de outubro de 2010

Quantos mais... Mais!

Absolutamente essencial? Indispensavel? Avioes em 2a mao por 1,5 mil milhoes de euros e sao indispensaveis para a "independencia nacional"?
Mas esta em risco a independencia nacional desde quando? Esta alguma coisa em risco? Temos de nos preocupar? Fazer alguma coisa?
Sr. Ministro, se a patria periga, eu alisto-me ja, consigo!
Ou o sr. ministro sabe que nada periga e esta a gozar com a gente? Seja no conteudo das suas palavras, seja no conteudo da nossa carteira, grande descaramento tem o sr ministro!
E ainda vem a PSP contar que vai cortar nas despesas - menos lavagens aos carros e televisoes desligadas mais horas.
Haja decencia intelectual.
Basta de srs ministros e sras ministras que dia-sim dia-sim nos enganam e nos roubam. Gastar dinheiro numa suposta seguranca com uma alegada falta dela, e roubo! Tal como gastar dinheiro nosso, numa suposta crise dos ricos.

Com calma, muita calma e respiracao profunda, conseguiremos dizer a esta gente que queremos um pais seguro, com base na confianca, nao no armamento. E dizer-lhes que, quanto melhor as pessoas viverem, mas seguras sao as ruas.
Nao precisamos de cortes em prestacoes sociais, como nao precisamos de despesa extra no armamento.

Ja agora, que a Greve Geral de 24 de Novembro sirva tambem para alertar para estes despesismos (alias, negociatas!).
--

O Papa (móvel) Sou Eu
opapasoueu@gmail.com

5 de outubro de 2010

Viva a República!

“É perigoso o tipo de governo estabelecido por Sócrates: são sempre os mesmos que detêm a autoridade, o que pode ser causa de revolta (…)”
Política livro II – crítica da propriedade comum dos bens, Aristóteles

No passado dia 29 houve uma manifestação contra as políticas de austeridade que o governo implementou, os famosos PEC.
No mesmo dia, enquanto milhares de trabalhadores se dirigiam para casa, ainda na ressaca da manifestação, Sócrates decide numa atitude reaccionária, cobarde e despudorada apresentar mais uma série de medidas de austeridade.

Esta atitude tem duas importantes componentes políticas que gostaríamos de debater.
São elas a ideia e o método.

A ideia base já a conhece: no seguimento do que tem sido sugerido pelos astrólogos da economia, foge à crise quem pode, paga a crise quem deve.

Quem pode fugir à crise? A alta finança que na sua senda gloriosa pela acumulação expôs a autofagia do sistema e revelou que a sua máquina alimenta-se de pessoas.

O Capitalismo de rosto humano espelhado no fim da história deixou cair a máscara por um instante e revelou na sua nudez algo que uns poucos já diziam, mas que no fundo ninguém queria acreditar: para se obter uma boa colheita de capital, é preciso debulhar centenas e centenas de hectares de seres humanos.

Quem deve pagar a crise então aos olhos desta ideologia são as pessoas.
O cidadão comum que não consegue fugir de maneira nenhuma à extorsão de um Estado que todos os dias deixa escorrer milhões pelas malhas largas dos offshore.

Um Estado que no centenário da República apresenta uma corte clientelista de boys and girls que faria corar de vergonha todos aqueles que lutaram para escrever há 100 anos um ponto final na história da monarquia em Portugal.
O método traz-nos também de volta ao tempo das princesas.

Fechado na sua torre e rodeado do seu exército, o príncipe déspota (Sócrates) que tomou o poder após ter assassinado o seu pai (PS), em conluio com o outro herdeiro ao trono (P. Coelho) que também assassinou o seu pai (PSD), apresentou a receita para pôr em ordem o tesouro real que desbaratou nos seus luxos, festas e ostentações.

Apresentou-o quando os camponeses regressavam a casa depois de um protesto contra as suas taxas injustas e cada vez mais insuportáveis.

Com este método cobarde, os principezinhos esperavam que os camponeses ganhassem consciência que cada protesto apenas iria servir para aumentar as suas penas, como se fosse uma espécie de punição pela sua impertinência.
Na sua inexperiência política não percebem ou não querem perceber que os portugueses já demonstraram diversas vezes ao longo da sua história que não suportam ser acossados.

Até agora temos tido um povo que compreendeu e aguentou tudo o que lhe foi sendo imposto.

Com este novo método arriscamo-nos a ter mais uma revolução Republicana contra a corte de irresponsáveis que governa este país.
Quando cada Ministério é um parque de diversões e quem paga as voltas são sempre os mesmos, Sócrates cria um governo perigoso.
Não é só para a soberania e tesouro do País que o governo de Sócrates é perigoso.

O príncipe perfeito e a sua corte estão agora também em risco.
Os camponeses acossados já marcaram nova manifestação vamos ver quanto tempo irá passar até que as manifestações se transformem em cerco e exijam o exílio da corte e o fim da monarquia.

É perigoso o tipo de governo estabelecido por Sócrates: são sempre os mesmos que sofrem com a austeridade, o que pode ser causa de revolta.

artigo publicado na revista A Comuna

100 anos de República! Viva a Revolução de Outubro ;)


"Os socialistas em todos os parlamentos da Europa expressaram, o melhor que puderam, a sua simpatia com o povo Português e os Republicanos Portugueses"

V.I Lenin

(a propósito do regicídio de 1908 em “O Sucedido ao Rei de Portugal”)

4 de outubro de 2010

CARTA-TESTAMENTO de Manuel Buíça (28/1/1908)


“Manuel dos Reis
da Silva Buiça, viuvo, filho de Augusto da Silva Buiça e de Maria Barroso, residente em Vinhaes, concelho de Vinhaes, districto de Bragança. Sou natural de Bouçoais, concelho de Valpassos, districto de Vila Real (Traz-os-Montes); fui casado com D.Herminia Augusta da Silva Buíça, filha do major de cavalaria (reformado) e de D.Maria de Jesus Costa. O major chama-se João Augusto da Costa, viuvo. Ficaram-me de minha mulher dois filhos, a saber: Elvira, que nasceu a 19 de dezembro de 1900, na rua de Santa Marta, número… rez do chão e que não está ainda baptisada nem registada civilmente e Manuel que nasceu a 12 de setembro de 1907 nas Escadinhas da Mouraria, número quatro, quarto andar, esquerdo e foi registado na administração do primeiro bairro de Lisboa, no dia onze de outubro do anno acima referido. Foram testemunhas do acto Albano José Correia, casado, empregado no comércio e Aquilino Ribeiro, solteiro, publicista. Ambos os meus filhos vivem commigo e com a avó materna nas Escadinhas da Mouraria, 4, 4º andar, esquerdo. Minha família vive em Vinhaes para onde se deve participar a minha morte ou o meu desapparecimento, caso se dêem. Meus filhos ficam pobrissimos; não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e compaixão pelos que soffrem. Peço que os eduquem nos principios da liberdade, egualdade e fraternidade que eu commungo e por causa dos quaes ficarão, porventura, em breve, orphãos. Lisboa, 28 de janeiro de 1908. Manuel dos Reis da Silva Buiça. Reconhece a minha assignatura o tabelião Motta, rua do Crucifixo, Lisboa.“


Escrita (e reconhecida) em 28 de janeiro, quatro dias antes do regicídio.
via facebook de Pedro Ferreira