Na passada terça-feira, cumprindo a rotina, fui tomar aquele café àquele sítio do costume. E mais uma vez questionei-me o porquê de continuar a fazê-lo dia-após-dia e ano-após-ano, não é que o espaço e o ambiente não sejam agradáveis, mas aquele líquido que servem em chávena fria não pode de todo ser apelidado de café.
E o que tem isto a ver com política? Tudo. É que no meio deste meu lamento diário dei de caras com Vital Moreira, é verdade, ali estava ele, na página 37 do jornal "Público". Foi remédio santo, encontrei não só um parceiro para o queixume, como uma outra alma farta do sabor azedo das coisas.
Obviamente que a solução para o meu dilema é muito mais simples do que para o dele. A mim basta-me deslocar para o estabelecimento ao lado, coisa que para o Vital é bem mais complicado, pois significaria ir para o PSD - coisa que acho, que não quer.
Observações à parte, Vital Moreira conta-nos de forma bastante revoltada que a social-democracia europeia está em crise.
(- Bom dia Vital, mais vale tarde do que nunca.)
Entre os 27 membros da União Europeia, apenas 4 têm governos social-democratas (Portugal, Espanha, Grécia e Eslovénia), e na maioria dos outros países, a social-democracia não tem hipóteses de disputar o poder.
E como chegamos aqui?
Diz-nos o autor da crónica que as razões são predominantemente duas "é a recessão económica e as suas consequências sobre o emprego e as políticas sociais; outra estrutural, que tem a ver com a erosão das condições económicas, sociais e financeiras do Estado social e do modelo social europeu (...) que esteve na base da recessão económica, ter sido gerada essencialmente pelas políticas neoliberais dominantes desde dos anos 80 quanto à desregulação financeira e à desintervenção económica do Estado - que a esquerda sempre denunciou com maior ou menor veemência".
É certo que a crise económica deve-se à desregulação e ao enfraquecimento generalizado do papel do Estado, que foi promovido pelas políticas neoliberais dominantes. A esquerda sempre denunciou isto? Sim, a maior parte da esquerda social-democrata é que não. Ora vejamos, Vital Moreira identifica como auge do domínio das políticas neoliberais os anos 80, que ao contrário do que se quer fazer crer, não foram governados sozinhos pelos conservadores, mas sim , com conivência e participação dos partidos social-democratas. O mesmo sucedeu na década seguinte, onde o mundo conheceu Tony Blair, Gerhard Schröder, Bill Clinton, Felipe González, António Guterres… Seguindo o doce canto da Sereia, que a Terceira-Via, o social-liberalismo e o amor ao mercado proporcionavam, limitaram-se a ser uma força de continuidade, alterando pouco ou nada ao legado conservador que lhes antecedera.
A social-democracia europeia não travou o desmantelamento do Estado, muito pelo contrário, fez e faz parte dessa tarefa, tal como não se opôs ao ascenso do mercado sobre todos os aspectos da vida social.
Tal como hoje, em tempos de austeridade, faz parte do problema e não da solução, corta nos direitos sociais e laborais, como qualquer outro governo conservador. Que não se admire que vá esvaziando à esquerda e ser comparada à direita e com isto perca força eleitoral e apoio popular.
É como o meu café, posso aguentar o seu sabor azedo durante mais uns tempos, mas mais tarde ou mais cedo mudo de estabelecimento em procura de melhor.
E o que tem isto a ver com política? Tudo. É que no meio deste meu lamento diário dei de caras com Vital Moreira, é verdade, ali estava ele, na página 37 do jornal "Público". Foi remédio santo, encontrei não só um parceiro para o queixume, como uma outra alma farta do sabor azedo das coisas.
Obviamente que a solução para o meu dilema é muito mais simples do que para o dele. A mim basta-me deslocar para o estabelecimento ao lado, coisa que para o Vital é bem mais complicado, pois significaria ir para o PSD - coisa que acho, que não quer.
Observações à parte, Vital Moreira conta-nos de forma bastante revoltada que a social-democracia europeia está em crise.
(- Bom dia Vital, mais vale tarde do que nunca.)
Entre os 27 membros da União Europeia, apenas 4 têm governos social-democratas (Portugal, Espanha, Grécia e Eslovénia), e na maioria dos outros países, a social-democracia não tem hipóteses de disputar o poder.
E como chegamos aqui?
Diz-nos o autor da crónica que as razões são predominantemente duas "é a recessão económica e as suas consequências sobre o emprego e as políticas sociais; outra estrutural, que tem a ver com a erosão das condições económicas, sociais e financeiras do Estado social e do modelo social europeu (...) que esteve na base da recessão económica, ter sido gerada essencialmente pelas políticas neoliberais dominantes desde dos anos 80 quanto à desregulação financeira e à desintervenção económica do Estado - que a esquerda sempre denunciou com maior ou menor veemência".
É certo que a crise económica deve-se à desregulação e ao enfraquecimento generalizado do papel do Estado, que foi promovido pelas políticas neoliberais dominantes. A esquerda sempre denunciou isto? Sim, a maior parte da esquerda social-democrata é que não. Ora vejamos, Vital Moreira identifica como auge do domínio das políticas neoliberais os anos 80, que ao contrário do que se quer fazer crer, não foram governados sozinhos pelos conservadores, mas sim , com conivência e participação dos partidos social-democratas. O mesmo sucedeu na década seguinte, onde o mundo conheceu Tony Blair, Gerhard Schröder, Bill Clinton, Felipe González, António Guterres… Seguindo o doce canto da Sereia, que a Terceira-Via, o social-liberalismo e o amor ao mercado proporcionavam, limitaram-se a ser uma força de continuidade, alterando pouco ou nada ao legado conservador que lhes antecedera.
A social-democracia europeia não travou o desmantelamento do Estado, muito pelo contrário, fez e faz parte dessa tarefa, tal como não se opôs ao ascenso do mercado sobre todos os aspectos da vida social.
Tal como hoje, em tempos de austeridade, faz parte do problema e não da solução, corta nos direitos sociais e laborais, como qualquer outro governo conservador. Que não se admire que vá esvaziando à esquerda e ser comparada à direita e com isto perca força eleitoral e apoio popular.
É como o meu café, posso aguentar o seu sabor azedo durante mais uns tempos, mas mais tarde ou mais cedo mudo de estabelecimento em procura de melhor.
Publicado no esquerda.net
Afinal o diplomata és tu. Muito bem, a tomar café com o Vital Moreira :) Não me espanta, és um homem civilizado e não temos problemas em sentarmo-nos à mesa com os nossos adversários políticos, nem tampouco em fazer as necessárias lutas unitárias com eles.
ResponderEliminarMas isso não nos impede, como tu bem demonstras, de salientar as culpas dos partidos da social-democracia europeia pelo estado a que chegámos. Aliás, nem fizeram mea-culpa, nem mudaram de rumo. É melhor, os que ainda não o fizeram, mudarem para um café mais à esquerda: www.esquerda.net
o vício do café
ResponderEliminaré como o vício dos luxos
super-consumidores de tudo
que nada pouparam e pouco produziram
confiando num estado que lhes devia dar tudo
corta nos direitos? a quê
um país que ñunca produziu senão uma percentagem do que come
tem direito a ser alimentado eternamente pelos outros?
um estado parasita numa sociedade parasita
que fala de ...
sociais e laborais, como qualquer outro governo conservador
e tem tempo para tomar café e outros luxos burgueses
esquerda ? operariado? camponeses com menos de 40?
onde? eu cá cada vez vejo menos
só licenciadozitos e mestres e doutorados da tanga
sem poder para auto-análise
e que escrevem bacorada após bacorada
vão sujar as mãos
vão alombar com cargas no lombo
protecção para quem trabalha...decerto
um trabalhador da agro-indústria 15,78 euros por dia de baixa durante uns dias antes de ser chamado à junta
um funcionário do estado dos quadros....6 meses 1 ano até conheço casos de 5 anos
são eternos...passar bem alimárias
Diplomata: Se lesses o artigo todo terias reparado que o Vital Moreira chegou à minha mesa do café quando cheguei à página 37 do Jornal Público, onde estava a crónica dele. E caso tivesses chegado ao fim do artigo terias também reparado que afirmo que a social-democracia se queixa hoje do que ela própria provocou.
ResponderEliminarالرجل ذبح بعضهم البعض ولكن الخيول باهظة لثمنTemo que a tua análise social sobre o consumo do café está algumas largas décadas atrasado.
Sobre a primeira parte, era brincadeira... sobre a segunda, não leste a parte em que digo: "como tu bem demonstras".
ResponderEliminarJá tomas café seu peneleiro???
ResponderEliminarNo Tropical ou na Sereia *a sombra da bananeira que te meteram no cú?
Mas que café?
Café às nove???
O Vital também te descobriu o botão de rosa???