26 de setembro de 2010

As surpresinhas do Exército português!


A propósito do projecto-lei do Bloco de Esquerda que propõe que o Dia de Defesa Nacional passe a ser facultativo (que o José Soeiro aqui bem expõe os argumentos) recupero um texto de Fevereiro deste ano para relembrar um acontecimento que é um exemplo de mais um dos métodos de aliciamento usados pelo Exército e que PS, PSD, CDS e PCP fazem vista grossa.

“Fábio Gonçalves nem queria acreditar quando, ontem, um grupo de quatro militares do Centro de Recrutamento de Braga interrompeu a aula que assistia para lhe fazer uma surpresa. Aluno do 12ºR da Escola Secundária Carlos Amarante, Fábio Gonçalves ganhou ainda mais ânimo para ingressar no Exército português”. Assim começa a notícia do jornal Correio do Minho desta terça-feira.

Tudo terá começado na semana passada quando este diário, que desde há muito mantém estreitos laços com Mesquita Machado, lançou um inquérito de rua a jovens indagando o que estes esperavam do futuro após concluírem o secundário. O Fábio terá respondido que queria seguir o exército. Tendo lido isto os militares do Centro de Recrutamento de Braga não estiveram para meias medidas, contanto com os holofotes do jornal e com a conivência dos professores fizeram uma surpresinha ao aluno e a toda a turma. O resultado, para além da impagável capa de jornal, ao que parece não poderia ser melhor, a “operação de charme”, como diz a notícia, teve tanto sucesso entre os alunos que até terá ficado o desejo de uma futura palestra sobre o ingresso no Exército.

A cena aqui relatada, apesar de burlesca, não é nova. Quem já ouviu relatos de jovens que são obrigados a participar no dia da defesa nacional (são 70 mil jovens por ano) com certeza identificou a similitude. Nestes espaços, de verdadeiro aliciamento moral, a discussão sobre o papel do exército em Portugal, nos campos do Afeganistão ou na construção identitária de cada um de nós é coisa que passa longe, muito longe. As promessas de infindas oportunidades e benesses aos jovens que ingressem numa carreira militar, da qual a maioria tem apenas uma imagem caricaturada e cinematográfica, parece fazer caminho apoiando-se num sentimento insuflado de amor à pátria e belicismo extremado.

O nosso campo de combate nesta área é múltiplo. Em 2007 o Bloco apresentou um projecto-lei para acabar com a obrigatoriedade da participação dos jovens no Dia da Defesa Nacional, foi chumbado por todos os outros partidos, é hora de voltar à carga. A organização da contra-cimeira anti-NATO este ano relança o debate sobre o militarismo e as agressões imperialistas, avançar na contra-corrente das representações belicistas e patrióticas será uma das chaves para o seu sucesso. Finalmente, casos, como este de Braga, intensificam a urgência de um movimento estudantil crítico e participativo, capaz de levar para o seio das escolas a discussão de temas como a guerra, criando, pela sua acção e pensamento, um sentimento de internacionalismo solidário, ao mesmo tempo dotando os alunos de uma práctica democrática que lhes permita dizer não a estes engodos militaristas

4 comentários:

  1. Finalmente, casos, como este de Braga, intensificam a urgência de um movimento
    que crie oportunidades de emprego em Braga

    porque a paga do exército é boa, melhor do que alavancar 8 horas por salário mínimo

    não dura muito, uns anitos mas há promessas de viagens e excitação
    e pagamentos futuros em missões de risco

    estudantil crítico e participativ?
    a discussão de temas como a guerra?
    há guerra?

    há guerrilhas para não haver guerra
    esmaga-se num lado para manter o status quo

    pequenas guerras desde 71 matam mais de fome
    que dos combates


    criando, pela sua acção e pensamento, um sentimento de internacionalismo solidário?
    ou seja outro tipo de doutrinação....pois

    ao mesmo tempo dotando os alunos
    como que por magia de
    práctica democrática que lhes permita dizer não ....mas não lhes permita dizer sim
    ou talvez
    há gente que gosta de armas e de fardas
    há gente que acha que lhe dá status

    isto é de um Harry Putterismo extremo

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  2. Mais a mais que, agora, até se lembraram que as raparigas também têm que ir... Começam por obrigar a ir um dia e daqui a nada começam a pensar que é um dever... blá blá blá que quem anda por aqui há meio século até já sabe ler nas entrelinhas ;)

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  3. Mikael,

    deste-me uma vontade incrível de ler o Harry Potter...

    cumprimentos

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  4. O Exército faz o seu papel, agora que só há voluntariado.

    Os pacóvios que näo entendam que os soldados têm a caratterística aborrecida de MORRER EM COMBATE ou FICAR ESTROPIADOS e se alistam, se calhar, säo exemplos de Darwinismo.

    O Exército paga bem? Está bem, mas eu posso ser pobre materialmente mas näo sou pobre espíritualmente (i.e. estúpido).

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