30 de março de 2010

Ponto de partida

Começar com um “Adeus Lenine” é tarefa que soa dura. Bem o sentem aqueles para quem a imagem de Lenine, na idade tenra das descobertas em livros amarelecidos pelo tempo, desembocava sempre num passado recheado de convicção transformadora, capaz de conformar a impaciência numa espera ilusória pelo retorno das vitorias passadas. Não se trata aqui de negar esse passado ou tomar a via bacoca da personificação de uma luta que se sabe colectiva, e muito menos se trata de uma tentativa de parricídio político na busca pela emancipação. A maturidade política que alcançamos exige, hoje, muito mais do que isso. Saber que o fio da história não se estanca com idolatrias e glorificações é reconhecer que os caminhos tortuosos que percorremos até à acção presente não devem ser esquecidos.
Dizer adeus Lenine é, portanto, uma forma de partilhar com ele o nosso caminho. Gorki, seu amigo íntimo por tantos anos, declarou que “jamais soube de nenhum homem, em parte alguma, que detestasse, desprezasse e abominasse toda a infelicidade, dor e sofrimento tão profundamente, tão vigorosamente quanto Lenine” sendo essa negação da fatalidade do sofrimento humano que fermentou todo o seu percurso até a chegada obstinada, em 1917, à estação Finlândia. Poucos serão os casos na história em que a imagem de uma luta tenha sido usada de forma tão oposta aos seus princípios como no caso de Lenine, sendo essa a fronteira trágica que ultrapassaram os regimes soviéticos, onde a inteligência deu lugar obtusidade e a sagacidade à degeneração. Mas tudo isso já lá vai e, hoje, pensar Lenine é olhar alguém que viveu e transformou o seu tempo. A nossa transformação começa agora.

3 comentários:

  1. CinNaroda
    A pergunta que fica é esta. Os objectivos por Lenine lutou já foram atingidos? Não! As ultimas investidas da burguesia, deixam esse sonho cada vez mais distante.
    Portanto a herança de Lenine não necessita de qualquer transformação. Temos sim que saber preserva-la, adaptando-a a nosso tempo.
    Cumprimentos
    CinNaroda

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  2. e adaptá-la ão nosso tempo não é transformá-la?

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