30 de março de 2010

Estado do Ensino Superior

Na passada quarta-feira, dia do Estudante, várias centenas de estudantes do Ensino Superior saíram à rua. Vieram sobretudo de Lisboa, mas também de outras cidades do país para protestar contra o estado do Ensino Superior, pela segunda vez este ano. Vieram comemorar um dia que é de luta desde a crise académica de 1962 que abalou o regime. Na época os motivos para o protesto sob um regime repressivo eram inúmeros, actualmente também não são poucos.

Olhando para o estado do Ensino Superior Público em 2010 o panorama é desolador. Segundo um Estudo de Belmiro Cabrito da UL, desde a implementação da actual política de propinas já um terço dos estudantes mais pobres foi empurrado para o mercado de trabalho sem diploma, por não ter como pagar o valor cada vez mais exorbitante que nos pedem. Deturpações estatísticas do PS à parte, toda a gente sabe que estudar no Ensino Superior hoje é um fardo muito pesado para a maior parte das famílias.

A Acção Social Escolar, que poderia ser uma oportunidade para muitos, está completamente desfasada da realidade, com cálculos injustos, atrasos em média de 4 meses na entrega de bolsas, fecho de cantinas, de residências. Cerca de 70% dos estudantes que recebem a bolsa, é a mínima que só cobre o valor das propinas. Perante isto, o PS não atribuiu nem mais um cêntimo à ASE no Orçamento de Estado de 2010.

Apesar disto, o protesto de dia 24 de Março foi na prática convocado por apenas duas Associações de Estudantes (AE-ESAD e AE-FCUL). A Manifestação teve mais de 500 estudantes, muitos deles mobilizados por movimentos e colectivos de estudantes que lutam por outra Universidade. As grandes Académicas recusaram-se a participar no protesto, presas na gestão de pequenos problemas, com pequenas soluções, mas alimentando grandes ambições e gigantescos egos.

A necessidade de reconstruir o movimento estudantil em Portugal é cada vez mais urgente. Já chega de AEs que são ensaios do Bloco Central, que oferecem festas académicas e brindes mas que em reuniões com Mariano Gago pisam nos interesses dos estudantes. É urgente construir uma corrente estudantil de Esquerda que seja fortíssima, aberta e mobilizadora que seja capaz de organizar estudantes para transformar a sua realidade. É esta a nossa tarefa, construir uma alternativa tão envolvente, tão grande, tão combativa que transforme o Ensino Superior.
Continuemos o combate!

2 comentários:

  1. Hoje em dia na Universidade a indumentária negra já não é símbolo de luto usado em manifestações sérias e sim símbolo de festa usado em latadas e queimas.

    Como tal nunca vesti nem vestirei a indumentária da minha Universidade nos tempos que correm pois sei o que significa e não é apenas um pedaço de pano para receber o mijo, a cerveja ou o vómito do típico estudante Português que em coma alcoólico não se apercebe da realidade ou se está a marimbar para um movimento estudantil com significado.

    Mas isso é difícil quando quem tem algo a reclamar pois sofre na 1ª pessoa são os primeiros a cair na frente de batalha e a desistir do curso, enqquanto que quem fica é quem não sabe que o sonho comanda a vida.

    As Associações de Estudantes só servem como desculpa para se ter acesso a previlégios que estudantes não-eleitos não têm e como incubadoras muitas vezes da futura maioria: a que sabe ganhar eleições e sabe que o bloco central lhes dá outra comodidade.

    Quanto às propinas, eu não acho que devam ser mais baixas para todos ou sequer inexistentes.
    Acho isso sim que cada um deve contribuir com o que pode (o rico paga propinas consoante as possibilidades, o pobre pode até receber algum apoio, a classe média paga um valor mais justo, o multimilionário doa uma percentagem da sua riqueza, etc).

    O que não é justo é que haja uma propina fixa para todos, seja máxima, seja € 0.

    ResponderEliminar
  2. Como estudante que precisou muito da bolsa da acção social e a quem muito custaram os atrasos da bolsa... e hoje (terminado o curso e depois da travessia do deserto do desemprego) como trabalhador, tenho a dizer: o importante é a clareza, o tratamento desigual do que é desigual devia ser feito em sede de IRS (quem tem mais, paga mais; quem tem menos, paga menos) e nos demais impostos. Depois disso, a Educação e Saúde deviam ser gratuitas e de qualidade para todos os cidadãos por igual. Deve haver clareza, pois quem é aldrabão no IRS é beneficiado várias vezes. As pessoas que não aldrabam, pagam várias vezes. Lutei contra as propinas não tanto por mim, mas pelos que vieram e virão depois. Não podemos continuar a perder direitos.

    ResponderEliminar