Faleceu na manhã de quinta-feira, no Rio de Janeiro, o académico e
político marxista brasileiro Carlos Nelson Coutinho (1943-2012).
Durante muitos anos Professor Titular de Teoria Política na Escola de
Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tinha recebido
no passado junho o título de Professor Emérito e era reconhecido
internacionalmente como especialista em Gramsci, sendo um dos
vice-presidentes da International Gramscian Society.
Defensor de
que "Sem democracia não há socialismo, e sem socialismo não há
democracia", Carlos Nelson nasceu na Bahia em 1943 e consagrou-se no
estudo do marxismo no Brasil como introdutor (junto com Leandro Konder)
e tradutor do húngaro György Lukács e do italiano Antonio Gramsci.
Foi militante do PCB - Partido Comunista Brasileiro e posteriormente
do PT - Partido dos Trabalhadores, de onde saiu por causa daquilo que
chamou "alianças oportunistas, como aquelas que Lula fez para ser
eleito e governar". Foi, então, um dos fundadores e também membro da
direção do PSoL - Partido Socialismo e Liberdade.
No que se refere à
introdução de Gramsci no Brasil, foi responsável pelas seguintes
publicações da obra do dirigente político italiano: apresentou junto
com Leandro Konder e traduziu a
Concepção dialética da história (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966; 6a. ed., 1986), selecionou os textos e traduziu
Literatura e vida nacional (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968; 3a. ed., 1986) traduziu
Os intelectuais e a organização da cultura (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968; 5a. ed., 1987) (1).
Enquanto autor, publicou vários livros, entre os quais:
De Rousseau a Gramsci: Ensaios de teoria política (São Paulo: Boitempo Editorial, 2011)
O marxismo na batalha das idéias (São Paulo: Cortez, 2006),
Gramsci. Um estudo sobre seu pensamento político (3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007),
Marxismo e política. A dualidade de poderes e outros ensaios (3. ed. São Paulo: Cortez, 2008),
Contra a corrente: ensaios sobre democracia e socialismo (Cortez, 2. ed., 2008) e
O estruturalismo e a miséria da razão (Expressão Popular, 2. ed., 2010 [1. ed. 1971]). É também editor das
Obras de Antonio Gramsci (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 10 vols., 1999-2005).
Talvez
a melhor homenagem a tenha feito sem saber. Quando chegou esta notícia
do seu falecimento, estava curiosamente com a sua grande obra de
juventude
Estruturalismo e Miséria da Razão, originalmente
publicada em 1971 e reeditada em 2010 com um indispensável Posfácio de
José Paulo Netto, de onde havia retirado, ontem, esta citação em que
Carlos Nelson Coutinho resume os três elementos progressistas
fundamentais que o estruturalismo negou ao rejeitar Hegel:
"o
humanismo, a teoria de que o homem é um produto de sua própria atividade, de sua história coletiva; o
historicismo concreto,
ou seja, a afirmação do caráter ontologicamente histórico da
realidade, com a conseqüente defesa do progresso e do melhoramento da
espécie humana e, finalmente, a
Razão dialética, em seu duplo
aspecto, isto é, o de uma racionalidade objetiva imanente ao
desenvolvimento da realidade (que se apresenta sob a forma de unidade
de contrários), e aquele das categorias capazes de apreender
subjetivamente essa racionalidade objetiva, categorias que englobam,
superando, as provenientes do ‘saber imediato’ (intuição) e do
‘entendimento’ (intelecto analítico)." (2)
Bruno Góis
Notas:
1 - Concepção dialética da história, Os intelectuais e a organização
da cultura , Literatura e vida nacional junto com Maquiavel, a política
e o Estado moderno (esta não traduzida por Carlos Nelson mas por Luiz
Mário Gazzaneo; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968; 8a. ed.,
1987) formam a primeira edição brasileira em quatro volumes dos
Cadernos do cárcere (1929-1935), um organização temática, simétrica à
primeira edição italiana, dos cadernos escritos pelo dirigente do
Partido Comunista Italiano António Gramsci na prisão durante o regime
fascista em Itália.
2 - Carlos Nelson Coutinho – O Estruturalismo e a Miséria da Razão.
2ª com Posfácio de José Paulo Netto . Ed. São Paulo: Expressão Popular:
2010. p. 28. (itálicos originais).