Se
ainda não foram ver a animação Brave - Indomável (ou Valente, na versão
brasileira), aconselho. Bem como previno que o melhor será guardarem a leitura destas notas, se for o caso. Em todo o caso não vou falar
nem da Pixar (que produz), nem da Disney (que distribui este filme) ou
de análise mais profunda (e necessária) da indústria cultural. Ficarei
por umas notas sobre o filme.
Esta que é a décima-terceira animação produzida pela Pixar é também a primeira·
cujo roteiro foi escrito (e inicialmente dirigida) por uma mulher:
Brenda Chapman. Junta-se a isto o facto de, também pela primeira vez
para a Pixar, a personagem principal ser uma mulher.
A princesa
Merida recebeu do pai um arco, quando era pequena. Tornou-se uma
talentosa arqueira, porém a sua mãe, a rainha Elinor, está sempre a
lembrá-la que não é isso que se espera dela. "As princesas não usam
armas!" A rainha está sempre a corrigir a postura, os modos e os atos de
Merida, quer que ela se comporte "como uma princesa". A situação
agrava-se quando os outros três clãs do reino respondem à chamada para
apresentarem um pretendente à mão da princesa.
Merida recusa-se a
cumprir a tradição. Chega a hora da princesa indicar a prova pela qual
têm de passar os pretendentes dos clãs Dingwall, McGuffin e Macintosh.
Naturalmente que foi o arco a prova escolhida por Merida. Após os três
jovens prestarem provas, a princesa apresenta-se também ela como
primogénita do seu clã e portanto apta a concorrer para conquistar a mão
da princesa, a sua própria mão. A mãe não a consegue impedir e a
princesa "humilha" com as suas capacidades de arqueira os jovens
pretendentes.
Este e outros atos de recusa da tradição que lhe
impunha casar com um dos três pretendentes gerou conflitos entre os
clãs. A quebra da tradição implicaria um risco para o reino: a divisão e
a guerra entre os quatro clãs.
Aqui vale a pena pararmos para notar
que além da contradição de género, também as contradições entre clãs
marcam lugar. Note-se que a união dos clãs e formação do reino em torno
do pai de Merida, rei Fergus do Clã DunBroch, é feita pela necessidade
de defesa frente a um povo invasor. Já contradição do trabalho não tem
lugar no plano central do filme.
Um contributo fundamental para a
virgem do enredo é o feitiço que Merida pede a um bruxa (que se afirma
uma artesã) para fazer a mãe mudar de ideias. Como efeito secundário, o
feitiço torna a rainha numa ursa. A elegante rainha Elinor no corpo de
um animal peludo vai alternar entre os trejeitos de senhora elegante e
os gestos de animal selvagem.
O urso tem um papel importante na história, que inicialmente esteve para chamar-se The Bear and the Bow (O urso e o arco), posto que o pai de Meirda tem como objetivo vingar-se do urso que lhe tirou uma das pernas.
A
fuga do castelo para a floresta, à procura da bruxa e de uma solução
para o feitiço vão reaproximar mãe e filha. Para matar a fome, a
princesa usa o arco para apanhar peixes e faz ironia com a mãe/ursa que,
contente com a pesca, se devia lembrar que "as princesas não usam
armas". Para ajudar a mãe a saciar a fome de ursa, Merida ensina-a a
comportar-se como uma ursa e a pescar, o lado mau disso era que a rainha
tendia a esquecer-se que não era uma ursa.
De regresso ao castelo
após descobrir, por interpretação de uma mensagem da bruxa, que era
necessário concertar a tapeçaria rasgada por Merida quando brigou com a
mãe, a mãe/ursa acaba perseguida pelo marido e por todos os clãs.
A
princesa parte velozmente no seu cavalo para salvar a mãe de ser morta
pelo marido e pelos clãs. Enquanto cavalga vai cosendo a tapeçaria a
linhas rudes, para quebrar o feitiço. Um papel que dificilmente verão um
herói-príncipe a fazer. Conciliar o cavalo e a tapeçaria pede-se a uma
princesa.
A batalha entre Merida e o próprio pai (e os demais homens)
para defender a mãe lembra os actos em que filhas têm de defender as
mães da violência doméstica. Mas isto é um cérebro feminista a pensar,
porque no caso o rei pensava estar a lutar contra o urso que teria feito
a sua mulher desaparecer.
Tudo acaba em bem, como seria de esperar.
Mas acaba especialmente bem porque a princesa não encontrou nenhum
"quarto" príncipe nem nenhum plebeu tornado guerreiro. Não se apaixonou
por ninguém, não teve de passar para a tutela de nenhum homem. Ainda
quando estavam no castelo para tentar restaurar a tapeçaria e quebrar o
feitiço, Merida faz um discurso indicado pela mãe/ursa com gestos em que
apela à unidade do reino, baseada na amizade e entreajuda entre os clãs
nas batalhas passadas, mas também diz que a tradição deve acabar e cada
primogénito deve escolher com quem casar. Os outros jovens também
concordam. É uma lição do feminismo, quando se libertam as mulheres, os
homens também ficam mais livres.
Tinha o desejo secreto de que a
princesa, por exemplo, encontrasse a mulher da sua vida. Mas isso não
acontece neste tipo de produção. Ou que dois dos príncipes usassem a sua
liberdade de casar com quem quisessem para se escolherem um ao outro.
Mas também isso, nem hoje no século XXI é aceite na maior parte das
latitudes. Só espero que o filme não seja "estragado" por uma sequela em
que a "indomável" encontra o homem que a vai domar.
Bruno Góis (originalmente publicado aqui)
encontra o homem que a vai domar....os filmes da Pixar disney já têm fases porno à manga?
ResponderEliminarhentai hentai...