Motivos diversos de gente diversa, da indignação de quem pergunta “porquê não tenho direito a subsídio desemprego se sempre trabalhei?” ou “adoeci e sou pago a recibos verdes, vou viver de ar?”, passando pela afirmação do direito à luta “ luto por mim, pelos meus filhos e pelos meus amigos” até à proposta concreta, “fim dos falsos recibos verdes”, “fim dos estágios não remunerados”. São testemunhos e propostas que falam entre si, comunicam e se completam, que apontam problemas: a precariedade, o desemprego, os salários baixos, a falta de apoios sociais, um sistema político carente de democracia e transparência.
O que a manifestação de 12 de Março mostrou e que estas folhas (muitas delas escritas ali mesmo, no calor emocional dos Aliados) vêm reforçar é que é na precariedade e no desemprego que se joga hoje o destino de um modelo social e económico, modelo que dita a vida das pessoas, pessoas que nesse dia tiveram uma voz a dizer sobre esse modelo. O 12 de Março inverteu a lógica própria da precariedade e do desemprego que é a individualização e a divisão dos trabalhadores, ganhar a rua foi, naquele dia, comungar e perceber uma identidade que nos é arrancada no trabalho, no ensino e na vida. Naquele dia ser precário e desempregado deixou de ser apenas a nossa realidade pessoal, do colega do lado ou do familiar, para passar a ser uma identidade colectiva e visível. A espera amarga no centro de emprego ou a pesquisa de emprego desesperançada e solitária transformou-se numa nítida sensação de partilha e união pela mudança.
Construir essa identidade é um primeiro passo. O segundo é organizar a indignação e confrontar quem dita as regras. Uma organização da diversidade de quem se encontra em pontos comuns, pontos para ir à luta pelo direito ao trabalho com direitos.
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