15 de fevereiro de 2011

Ir à luta, pois claro

A multiplicação de textos sobre a moção de censura traz aquele lastro de ressentimentos variados, da convicção ao programa, ou melhor, da confusão programática à convicção rasteira, todos querem dar a sua dentada no Bloco de Esquerda. Coisa que à direita, sabemos, faz parte da essência, um burguês cumpre a tarefa que o faz burguês, por isso Santana, Pacheco Pereira, Pulido Valente, disseram o que lhes cabe dizer, nada mais.

Mas nestas lides há sempre opiniões mais refinadas. António Costa realizou um interessante diagnóstico, ao “BE interessa ultrapassar o PC e destruir o PS”, acerta apenas na segunda parte, mas complementa “Com o PCP, embora seja difícil alcançar um acordo, é um partido de confiança” sendo o BE, claro, “essa gente” de malandros instáveis e traiçoeiros. António Costa tem o antídoto para solucionar este problema à esquerda: o bipartidarismo. Ou seja, defende o programa político que PS e PSD já colocaram em prática.

O aviso do António Costa é o resumo das batalhas à esquerda. A estabilidade do centrão depende de um PS forte que consiga empurrar o BE para fora do sistema. Que isto quando era a 4 era bem mais fácil. Partindo deste ponto é possível ver que muito boa gente de esquerda está a perder os horizontes da moção de censura. O primeiro espanto é confundir propaganda com programa, pois é esse o engodo do centrão que acusa a moção de vazio e ser “a brincar”. Esta moção é uma posição de quem sabe que pode governar melhor. Não é um arrivismo à esquerda para afrontar o PC, é um confronto com um centrão que destrói as nossas vidas e em particular, com um PS que não se convence. Quem nos meteu na crise não nos tira dela, lembram-se?

O segundo erro é desviar o olhar da janela e não perceber o que por aqui vai acontecendo. 2010 foi um ano de lutas no meio do pântano da crise. 2011 é um ano para provar que o protagonismo político pode ser alargado como nunca até agora. O ataque ao valor do trabalho é o ataque ao respeito daquilo que somos e fazemos, e sendo certo que o medo é o instrumento de quem manda, uma direcção política forte e um movimento social renovado é o primeiro passo para a mudança. A moção de censura é o instrumento de uma direcção que diz que não é possível estar calado quando se põe os trabalhadores a pagar o seu próprio despedimento, que não se fica parado quando milhares de jovens passam o dia em casa à espera de um telefonema para um emprego onde vão ganhar menos de 500 euros e outros tantos milhares abrem cartas da segurança social a informá-los de uma dívida que não lhes cabe, e que um governo que faz mais de 20 mil estudantes do Superior perderem as bolsas, empurrando-os para fora do ensino, não tem capacidade para governar este país.

Esta é uma moção de quem vai à luta por uma vida melhor e não desvia a cara à luta social.

1 comentário:

  1. O que dizem agora sobre a moção de censura, e quase exactamente os mesmos protagonistas (excepção de Passos Coelho), é o mesmo que disseram aquando da moção de censura do PCP em Maio de 2010.
    Na altura, e face à abstenção do PSD, também este partido teve críticas de Sócrates uma vez que, dizia, era tão visado na moção de censura quanto o PS. O mesmo Sócrates atacava o PCP dizendo que a apresentação da moção era a "prova de vida" do PCP.
    Um ano passado e o filme é o mesmo.

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