10 de dezembro de 2010

Intervenção no Martim Moniz

Pouco passava das 3:00 pm quando o Martim Moniz foi invadido por mais de 200 agentes da PSP, SEF, Inspecção Tributária e ASAE, identificando mais de 700 pessoas e detendo outras tantas dezenas cuja situação no país é tida como “irregular”(à data ainda não existem números concretos).

Os agentes actuaram nos estabelecimentos comerciais do Martim Moniz, pedindo que lhes fosse facilitado o título de residência e um documento de identificação válido. Quando tal não era possível, as pessoas eram encaminhadas para postos de controlo, onde era efectuado um rastreio e, desse modo, conhecida a situação do indivíduo em Portugal.

Curiosamente, esta rusga acontece no mês em que a associação SOS Racismo festeja 20 anos de existência, mostrando – infelizmente – que ainda há muito trabalho e muita luta pela frente no que toca à integração/inserção social (e a tudo o que a ela diz respeito: direitos salvaguardados, educação, saúde, etc.) das comunidades migrantes em Portugal

É premente – senão urgente – levar estes assuntos (imigração, integração, direitos dos imigrantes) até à praça pública e discuti-los sem preconceitos e demagogias. Somos seres humanos e não “gado”, i. e. temos – ou deveríamos ter – direitos independentemente da nacionalidade. Afigura-se-me triste que, enquanto tantos outros lutam pela humanização de todos estes serviços, o Governo seja o primeiro a dificultar/travar a legalização de milhares de imigrantes que procuram dias melhores.

Por isso e muito mais, entristeço-me quando assisto ao discurso de uma opinião pública de um país SUPOSTAMENTE de tradição emigrante, que não só apoia a força policial e medidas xenófobas consentidas pelo Poder Dominante, como pelo facto de desconhecer PROFUNDAMENTE a realidade em que a maioria de nós – e bem está de ver, da alteridade – vive.

Pode alguém ser livre se “outro” não o é?

Eu acredito que não. E os imigrantes não o são. Livres.

Precisamos mudar de políticas. Precisamos ser humanos. Precisamos de um novo paradigma. Reinventemo-nos, portanto.

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