26 de novembro de 2010

Para quando uma Greve Geral?



A Greve Geral foi uma resposta à altura dos tempos que vivemos. Dignificou os trabalhadores, deu alento aos desempregados e reformados e convocou (com sucesso) os estudantes. Mas foi além, mostrou a barreira que separa no quotidiano disfarçado e sofrido, aqueles que trabalham e aqueles que usurpam. Se alguma sensação ficou de dia 24 é que um lado levantou a cabeça e o outro sentiu calafrios (disfarçados é claro). Não há tarefa política mais importante, mais premente e actual, que demarcar e aprofundar essa divisão, entre quem é a favor e quem é contra o Estado Social, entre que está na defesa do trabalho e quem está na linha da frente do ataque aos salários.

Mas a Greve Geral trouxe também a Portugal a iminência de um movimento que já arrancou um pouco por toda a Europa. Um movimento de revindicação e revolta que desperta depois de um longo tempo de hibernação e paz social, com uma autenticidade bem própria. E esse é já um movimento que convoca a decisão e acção das direcções políticas. Foi a dimensão da paragem que nos fez ver um PSD exultante com o desgaste de Sócrates rapidamente se multiplicar, via os arautos do costume, em avisos e recordações dos perigos de uma agitação social sem controlo. Foi a Greve, sobretudo a Greve, que fez Sócrates acenar com uma intenção de diálogo social (anunciado após uma reunião com as 10 principais empresas exportadoras, pois claro) e António José Seguro chegar-se à frente na declaração de voto do orçamento. Foi também a Greve que permitiu ver, mais uma vez, de que lado estão BE e PCP na contenda, e como se viu.

Mas ver só não chega. A queda de governos na Europa não tem tido como resposta uma subida da esquerda, o caso Grego, Francês e Irlandês mostram como ainda tudo está por fazer, como bem aqui assinala o Carlos Carujo. Pois, se um processo de radicalização se torna indispensável no abalo das estruturas políticas do centrão, ele se descontrola, esmorece ou se torna perigoso à direita na ausência de um programa mobilizador por uma esquerda grande. Nessa equação o primeiro passo é aceitar que o PS é a peça central, o segundo é perceber que fôlego político é coisa que não lhe falta e que não lhe arrepia nada o lugar futuro na oposição. Perceber que o lugar ocupado pelo PS na actual estrutura social vai muito para lá do plano governativo conjuntural é aceitar que para arrepiar caminho no seu terreno político é preciso que, ao processo sempre culminante de uma nova Greve Geral, se juntem lutas sectoriais que tanto já mostraram – Professores, estudantes do secundário, Enfermeiros, trabalhadores dos transportes, Autoeuropa; e outras que ainda mal despertaram – Ensino Superior, precários, sector privado. É preciso fazer com que o PS responda e que essa resposta se faça clara à maioria, em toda a sua sordidez.

Nesse caminho, instável e até certo ponto ainda imprevisível, importa não cometer erros básicos. Enveredar pelo caminho do fechamento nacional e do apelo patriótico é o pior deles, e é preciso recuar bastante para encontrar um erro tão colossal como este que o PCP tem vindo a cometer. A candidatura de Francisco Lopes tem sido o centro deste apelo nostálgico e ignorante à uma identidade nacionalista bacoca e politicamente paralisante. Outro erro, bastante infantil, é tomar a Greve Geral como a derrocada da confiança política do Governo e do centrão que o sustenta, como certa esquerda tão facilmente se apressa em clamar. Afirmar que o centrão se encontra desprovido da confiança da maioria (e bem sei que se pode discutir longamente este conceito) é inverter a tarefa que temos pela frente, ou seja, conquistar e ser o movimento vivo dessa mesma confiança política.

Por fim, a Greve Geral impôs a urgência de se saber uma nova data de luta. Dia 15 de Dezembro haverá uma jornada europeia de luta convocada pela Federação Europeia de Sindicatos, muito bem, mas acho não errar ao dizer que aquilo que passou pela cabeça de todos os activistas e grevistas que se deitaram no dia 24, depois de um dia tão marcante, foi: e agora, para quando uma Greve Geral?

4 comentários:

  1. Há coisas que eu não percebo. Isto começa com uma reflexão sobre a Greve Geral, depois vem com elogios e apelos ao PS, passando por críticas ao candidato patriótico do PCP e depois termina com um apelo a mais um dia igual.

    Ora, pois bem:
    1. A Greve Geral foi um passo importante de muitos passos que terão de ser dados se queremos mudar as coisas. Não me parece que sirva para clarificar quem é a favor e contra o Estado Social porque existirá sempre aquela dúvida - para muitos - se o PS é a favor ou contra. Mas querer que essa seja a grande vitória da Greve parece-me completamente ridículo e pequeno.

    2. O PS é uma das peças centrais a destruir. O Partido Socialista é um dos maiores responsáveis pela forma como vivemos e esta Greve Geral foi, também, contra o PS. Não quero um PS diferente, quero uma vida diferente.

    3. O candidato do PCP, Francisco Lopes, pelo qual não tenho qualquer especial simpatia, rivaliza com o patriotismo de todas as restantes candidaturas: de Cavaco Silva a Fernando Nobre. Pior, um apoiante de Manuel Alegre - que é pela unidade só pela unidade, sem esta servir para rigorosamente nada - criticar o patriotismo de Francisco Lopes soa a um neo-nazi criticar o assassinato de portugueses na África do Sul: uma pura e falaciosa demagogia. Manuel Alegre usa e abusa do discurso da pátria desde que começou a conseguir articular palavras.

    4. A parte do «centrão» e da «confiança política» é tão vaga e desprovida de sentido que se torna incompreensível. Essa tentativa de parafrasear o discurso oficial convém não deixar o sentido - mesmo que eu não concorde - de lado.

    5. De data em data até à vitória final. O Estado Social.

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  2. se for como nos anos 70 teriamos greves gerais para marcar a diferença da greve global praticada
    sempre gostámos muito de greves

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  3. 24 de Dezembro não dá, talvez 23
    esta não deu para fazer ponte
    para a próxima greve para uma 6ª ou 2ª...

    ou a uma 3ª assim começamos a grevar na 2ª

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  4. Agora um imbecil que se esquece que um dia de greve é um dia sem salário... As férias não costumam ser pagas?

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