“Os juros da dívida de Portugal continuam a subir. Avançam pela quarta sessão consecutiva, e estão já no nível mais elevado e duas semanas, acima da fasquia dos 6,1%” (Negócios, 2.11.2010)
“Even apart from the instability due to speculation, there is the instability due to the characteristic of human nature that a large proportion of our positive activities depend on spontaneous optimism rather than mathematical expectations” (Keynes, 1936)
Como sublinha Robert Shiller (2010), a noção keynesiana de espíritos animais é crucial para compreender as dinâmicas dos mercados financeiros. Num entendimento mais lato, a ideia que Keynes pretende veicular é a de que as dinâmicas de alteração da confiança na base das decisões dos agentes económicos não podem ser reduzidas a razões estritamente lógicas, na medida em que denotam matizes emocionais e psicológicas impossíveis de modular matematicamente.
Os espíritos animais revolucionaram a teoria microeconómica, constituindo um dos mais relevantes contributos para o debate sobre a (ir)racionalidade dos mercados.
E não há dúvida nenhuma de que as várias crises financeiras que ocorreram desde o início da agenda neoliberal de liberalização e desregulação dos mercados financeiros vieram demonstrar a falência da teoria microeconómica dominante: nos mercados financeiros, as decisões dos agentes têm muito pouco de reacções racionais a sinais objectivos do estado real das economias. Não só porque essa informação é imperfeita e assimétrica (como as investigações de Stiglitz bem exploram), mas sobretudo porque essas decisões pertencem muito mais ao domínio da intersubjectividade: elas são, isso sim, reacções a expectativas de reacções, isto é, cada agente individualmente responde segundo as expectativas que tem, não do que será o comportamento real da economia, mas do que será o conjunto das reacções dos outros agentes.
Isto significa que a relação dos mercados financeiros à economia real é justamente a inversa à publicitada pelas teorias dominantes: os mercados financeiros não são um mecanismo racional promotor da alocação de recursos que é mais eficiente para um estado dado da economia, antes põem em marcha profecias auto-realizáveis, orientadas pelo espírito mais ou menos optimista, mais ou menos pessimista que genericamente anime as expectativas.
Como explica Shiller aqui, a bolha especulativa associada ao subprime, que esteve na base da crise financeira de 2007-2009, cai bem sob a descrição de uma escalada do sentimento de optimismo: a disponibilidade para assumir riscos derivava muito menos de sinais positivos da economia real, ou sequer da capacidade efectiva de os produtos financeiros eliminarem de facto esses riscos, do que da percepção de um sentimento geral de confiança e inclinação para investir.
Da mesma forma, o que temos hoje é o contrário, uma espiral de pessimismo. Os mesmos mercados que com pessimismo relativamente à capacidade do Estado cumprir os seus compromissos exigem um OE de austeridade reagem à promessa da sua viabilização com mais pessimismo ainda, desta vez relativamente ao seu carácter recessivo, o que volta a aumentar o risco associado à dívida pública, e por aí fora, como já foi explicado aqui.
Um bilhete para outro planeta, please...
ResponderEliminarE o tem a dizer a isto:
ResponderEliminarhttp://www.publico.pt/Política/alegre-entende-que-nao-cabe-a-um-candidato-a-presidencia-fazer-apelos-a-greve_1463969
a serio, por favor, esquerdalhos horriveis, comentem isto
ResponderEliminarhttp://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=3491
O Poeta está tentar NÄO alienar a ala esquerda do PS. Se calhar faz bem, sei lá!
ResponderEliminarO que está a alienar é o pessoal à esquerda, o que säo óptimas notícias para o Elettricista!