1 de setembro de 2010

Uma espécie de resposta a: "Mas, afinal, o que quer, o que é o Bloco de Esquerda?"

O post do Rafael Fortes no 5 dias, abre um debate e uma reflexão interessante. Por um lado, dispensou a crítica gratuita e tendencialmente corriqueira - ao qual o 5 dias nos tem habituado, neste tema - por outro, diz-nos muito, sobre o que é o PCP, e como era construtivo para a Esquerda portuguesa, não ser (em muitos aspectos) o que ainda é.

O Bloco de Esquerda, quando nasce há mais de uma década, no cenário político português, foi generalizadamente atacado por diversos agentes e actores políticos, da esquerda à direita, sem excepção. O PCP foi um deles e continua a sê-lo. O mais recorrente, para além das piadas de oportunidade (sempre envoltas de preconceitos, usualmente ligadas aos direitos sociais pelas quais o Bloco se bate desde que existe - falemos de direitos lgbt ou da legalização das drogas leves), era de que iria fraccionar e enfraquecer a Esquerda portuguesa, traduzindo isto para a realidade portuguesa, tirar votos e apoios à CDU/PCP/PEV.

Coisa que não se sucedeu, aliás, basta olhar hoje para o Parlamento português. Quando é que foi a última vez, que forças à esquerda do PS, tiveram, proporcionalmente, tantos deputados?

De qualquer das formas, não posso deixar de assinalar, as afirmações (abaixo citadas) de RF, é bom saber que existem activistas comunistas, organizados no PCP, que viam e vêm com bons olhos a construção de poder sólido à Esquerda, que faça o PCP atrever-se a saltar as suas fronteiras. Não são muitos, mas continuamos à espera que essa opinião se generalize dentro do Partido.

"Um contributo que podia ser dado junto com o PCP (mas não só) a construir um projecto de poder sólido assente na solidariedade, na democracia participativa, na construção de um Portugal menos desigual. Confesso que tive (às vezes ainda tenho) essa ilusão."


Pegando novamente no que RF escreveu, creio que, para além de estar equivocado, parte de um erro de análise profundo:

Uma social democratização que começa a preparar agora uma relação com um PS pós-Sócrates, um pouquito mais à esquerda. Um PS que aceitará um reformismo do capitalismo, um PS que não se importe em não dar tantos privilégios aos que mais podem. E aí, estarão criadas as condições para um entendimento.

O Bloco de Esquerda, sempre dialogou com todos os sectores de esquerda da sociedade portuguesa que refutam o neoliberalismo, estejam eles em que organizações estiverem. É assim que se constroem maiorias sociais, é assim que se faz frente aos ataques aos direitos dos trabalhadores. Quanto mais alargada a resistência, maior será a sua força. O Partido Socialista, não se insere de todo nesse quadrante, aliás, foi sempre quem mais liberalizou os sectores produtivos do país e quem mais cortou nos direitos, liberdades e garantias, seja na CRP ou em toda a arquitectura jurídica portuguesa.

Por outro lado, o Partido Socialista pós-sócrates, será uma continuidade do mesmo. Não se prevê, nem cresce em lugar nenhum, uma onda de regresso aos princípios da social-democracia, longe disso, o que virá, por mais manicure que tenha, será para continuar a mesma onda galopante de social-liberalismo. Basta olhar para o que é hoje a II Internacional por essa Europa fora ou dar uma vista de olhos ao novo breviário ideológico do Partido Socialista - Os Valores da Esquerda Democrática: Vinte Teses Oferecidas ao Escrutínio Crítico de Augusto Santos Silva (que certamente encontra muitos apoiantes dentro do PSD).

E só para que fique explícito, o espaço do Bloco abriu-se à esquerda da esquerda parlamentar clássica, politica e ideologicamente. E sobre alianças governativas com o PS - o cadastro reformador do PS falo por si. O que é bem diferente de apoiar Manuel Alegre, que ganhou espaço na sociedade portuguesa, opondo-se às principais reformas feitas pelo seu Partido.

E já que se fala em presidências, o PCP apoiou R.Eanes e Jorge Sampaio.

"Aí, o Bloco poderá aparecer como o “aliado temporal da burguesia” ou coisa que o valha."

Nunca encontrei, no seio do Bloco, fãs do Nacional-Desenvolvimentismo, seja da via chinesa ou da via brasileira. E nunca o BE enviou cartas de congratulação ao PT por ter ganho as eleições, ou à ANC, MPLA, etc...

Em suma toda esta discussão sobre o PS e o BE, para além de ter a idade do próprio BE, não passa de neblina retórica e de uma questão académica.

Por fim a parte mais hilariante de todas, na minha opinião, é esta:

"Como se pode esquecer a História, o contributo de praticamente todos os revolucionários do século XX? Como se pode ser socialista no século XXI e ter a pretensão de querer começar a História do zero, apagando da memória o sangue de milhões de revolucionários que deram a vida por uma sociedade livre da exploração, do fascismo, do racismo, da homofobia, do colonialismo e do pós-colonialismo, do intervencionismo e do imperialismo? Como se pode ser socialista no século XXI e ter vergonha dos socialistas do século XX? Como se pode ser socialista no século XXI e não ser revolucionário?"

Ser revolucionário hoje, ou se quisermos, ser comunista hoje, é rejeitar as experiências soviéticas, porquê? Porque não foram socialistas. Evoluir criticamente à esquerda sobre elas, é ser revolucionário. Tapar os olhos às contradições inerentes ao sistema e não fazer uma crítica à burguesia vermelha que se instalou na burocracia do(s) Estado(s) e do Partido(s), é deixar cair o ideal e o horizonte no monolítismo e no acriticismo.

De resto deixo aqui isto, pode ser que tenha escapado ao Rafael:

Pensar o Socialismo hoje

Congresso Karl Marx

O que é ser Comunista Hoje?

1 comentário:

  1. Deve haver um lapso quanto quer negar a realidade…
    Se existe partido que sempre dialogou com todos os sectores de esquerda e pessoas, individualmente, com consciência progressista, foi e é o PCP.
    O que vou dizer não é nenhuma novidade, mas pode acontecer andar distraído, a CDU em todas as eleições congrega elementos que não são militantes, mas são pessoas com consciência progressista.
    Ao PCP não interessa ganhar a todo o custo, não interessa ter na suas listas elementos “bem falantes” e “colunáveis” só para ganhar eleições; Ao PCP interessa sim, ter pessoas nas suas listas que demonstrem seriedade a todos os níveis, inclusive intelectual.
    O PCP tem história, e tem futuro… história que demonstra que o PCP rege-se pela seriedade nos actos e posições que toma, e um futuro constituído com o presente, em que o PCP é formado por jovens conscientes da realidade e dos valores em que se baseia o PCP.
    O PCP não é um partido para ter militantes e “apoiantes”, o PCP são os seus militantes e apoiantes…
    A CDU e o PCP não tem a sua consciência à venda, e nas últimas eleições autárquicas demonstrou, pois preferiu ter menos duas câmaras (Marinha Grande e Sines), do que manter duas câmaras onde o seu presidente e companhia defendem algo prejudicial para as populações…
    Algo que o BE não pode vangloriar-se, e penso que não é necessário referir as diversas situações…
    Quando fala que os militantes do PCP “atacaram” o BE, deve estar equivocado… ou nessa altura não estava por dentro do que se passava no BE; Mas é verdade não somos adeptos, pelo menos eu e outros como eu, de dar a outra face.
    Sabe, apoderar-se dos louros, quando nada fizeram para isso… também é “ataque” e houve muitos quer a nível partidário, quer sindical; Houve muitos elementos que, pelo menos, se intitulavam como sendo do bloco de esquerda, mais não faziam do que deitar abaixo o trabalho dos outros, e quando chegava a hora de fazer algo… já estavam atrasados para saírem.
    Mas é verdade, existem elementos do BE, são é poucos, que trabalham com o objectivo de ajudar na transformação desta politica implementada contra os trabalhadores, em algo que beneficie quem trabalha… algo que para se conseguir é preciso muito trabalho diário, e não uma vez por mês…
    Mas não é por causa destes “muitos interesseiros” que eu trato, ou vou tratar, mal o BE, pois tenho muitos bons amigos que são do BE, mesmo que nem sempre estejamos de acordo em tudo, nomeadamente a forma de chegarmos ao objectivo comum que é fazer desta sociedade uma sociedade justa para quem trabalha.
    Mas para acabar,
    Sabe que nem dentro do BE se entendem, não sabe?
    Sabe que no PCP não existe ninguém que se levante da cama e diga para o espelho, “agora vamos ser amarelos”, pois no PCP quem decide são os militantes e não um iluminado?
    Mesmo a terminar,
    Sabe que existem pessoas que falam muito bem, criticam ainda melhor… mas não magoam, nem querem magoar, simplesmente querem fingir que estão chateados…
    Lembra-se do Manuel Alegre criticar os ataques aos professores?
    Até votou na assembleia contra essa medida do governo.
    Mas votou numa altura que não ia fazer “mossa”, pois na votação seguinte, em que ele e os seus apelidados “apoiantes” através do seu voto podiam chumbar a proposta em causa (atendendo ao numero de votos que estavam em causa), ele e seus apoiantes desapareceram e não votaram…
    A isto chama-se o quê?
    Já agora, e os seus camaradas que tão na UGT não acham que é justo e necessário aderir à próxima greve?
    Bem haja, e bem vindos a todos os “Bloquistas” que queiram, em consciência, lutar por um mundo melhor…

    Há por último... sabe que não basta saber ler, é preciso sentir?

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