Alguns leitores do Público não terão ficado indiferentes, nos últimos dias, a dois artigos escritos mais à esquerda e que tratam disso mesmo, da esquerda. Um é o artigo de Ana Benavente, militante do PS, Secretária de Estado da Educação do Governo Guterres, contestaria destacada da política de avaliação dos professores nos último dois anos. Outro é o de Domingos Lopes, ex-chefe de gabinete de Álvaro Cunhal e ex-responsável pelas relações internacionais do PCP.
No seu artigo, já assinalado por MSP no Vias de Facto, Benavente diz: "Serei só eu que vejo no Governo pessoas do PS em quem não acredito? Que falam com chavões cansados e usam retóricas como quem repete uma fórmula já gasta? Sem alma? E que será do PS quando deixar de ser Governo? Travessias do deserto são normais, afirmam. Não concordo. Os coveiros do partido são conhecidos.” Já D. Lopes, pese embora a sua saída tardia e amuada do PCP, em 2009, lança a questão: “Pode uma organização política sobreviver ao longo de décadas e décadas sem renovar o seu pensamento e a sua acção? O que aconteceu no mundo do socialismo está à vista de todos. A falência dos partidos comunistas que dirigiam os países chamados socialistas foi por petrificação e não por renovação.” e ainda “O PCP passou a ser o que o Jerónimo discursa, que, em geral, é a repetição, sem dúvida corajosa, do afrontamento da política desastrosa do PS, PSD e CDS, mas, do ponto de vista de alternativa, não traz um único elemento novo, nem propostas para sair da crise. Esta reactivação interna não impediu a ultrapassagem do PCP pelo BE, coisa inimaginável há poucos anos; a perda de influência no poder autárquico e uma crescente tensão no movimento sindical. É assim que está o PCP hoje: a proclamar que está melhor que nunca e a realidade é o que se vê.”
As palavras de Benavente são um protesto, as de D. Lopes um lamento. Chega a ser paradoxal, pois nunca o PS mereceu tantos lamentos como hoje e é certo que a contestação à direcção do PC continua a ser uma urgência. Mas em ambos os casos encontramos a mesma parede, a mesma redoma política: a ausência do programa. É a ausência de programa de uma esquerda militante e combativa por uma saída socialista da crise que nos permite identificar os chavões de que fala Benavente e a auto-proclamação de que nos fala D.Lopes. Que desmascara um PS instrumentalizado e para quem as palavras tem baixo valor, onde tudo o que se diz apenas maquilha um fazer que tem clientela fixa e refinada e levanta a cortina de um PC agonizante, acossado mas onde o encanto narcisista mantém o feitiço.
Ambas as críticas propõe, então, o mesmo caminho? É claro que não, mas ambas erram o alvo. Por mais corajosas que sejam as convicções de Benavente elas assentam na crença, infantil e fatal, de que o PS se convence por dentro, de que ainda é possível transformar esse partido, que docemente se entregou às soluções neoliberais e que assim se transformou na frente política de confiança da burguesia portuguesa, num partido defensor do povo da esquerda, dos serviços públicos e do valor do trabalho. É outro o caminho. Aceitar que a derrota do PS é o passo fundamental para a afirmação de uma esquerda grande e fiel à luta social é colher o que a história já nos disse há muito: que o PS está do outro lado da barricada. E que cabe, portanto, ao nosso lado impor essa derrota.
Já o PCP tem sido o coveiro de si mesmo, incapaz de aceitar a luta social fora da sua supervisão e insistindo em manter os cânones de um revivalismo enclausurador onde a conquista do poder é mais verbo que acção. Está certo que é o resultado de uma derrota interna e D.Lopes assinala-o. Mas um PCP estático e sem programa é a evidência da urgência de mudança na direcção de um partido que conserva em si tanta gente de esquerda. E ou bem que essa mudança vem de dentro do PCP ou não virá de todo.
No seu artigo, já assinalado por MSP no Vias de Facto, Benavente diz: "Serei só eu que vejo no Governo pessoas do PS em quem não acredito? Que falam com chavões cansados e usam retóricas como quem repete uma fórmula já gasta? Sem alma? E que será do PS quando deixar de ser Governo? Travessias do deserto são normais, afirmam. Não concordo. Os coveiros do partido são conhecidos.” Já D. Lopes, pese embora a sua saída tardia e amuada do PCP, em 2009, lança a questão: “Pode uma organização política sobreviver ao longo de décadas e décadas sem renovar o seu pensamento e a sua acção? O que aconteceu no mundo do socialismo está à vista de todos. A falência dos partidos comunistas que dirigiam os países chamados socialistas foi por petrificação e não por renovação.” e ainda “O PCP passou a ser o que o Jerónimo discursa, que, em geral, é a repetição, sem dúvida corajosa, do afrontamento da política desastrosa do PS, PSD e CDS, mas, do ponto de vista de alternativa, não traz um único elemento novo, nem propostas para sair da crise. Esta reactivação interna não impediu a ultrapassagem do PCP pelo BE, coisa inimaginável há poucos anos; a perda de influência no poder autárquico e uma crescente tensão no movimento sindical. É assim que está o PCP hoje: a proclamar que está melhor que nunca e a realidade é o que se vê.”
As palavras de Benavente são um protesto, as de D. Lopes um lamento. Chega a ser paradoxal, pois nunca o PS mereceu tantos lamentos como hoje e é certo que a contestação à direcção do PC continua a ser uma urgência. Mas em ambos os casos encontramos a mesma parede, a mesma redoma política: a ausência do programa. É a ausência de programa de uma esquerda militante e combativa por uma saída socialista da crise que nos permite identificar os chavões de que fala Benavente e a auto-proclamação de que nos fala D.Lopes. Que desmascara um PS instrumentalizado e para quem as palavras tem baixo valor, onde tudo o que se diz apenas maquilha um fazer que tem clientela fixa e refinada e levanta a cortina de um PC agonizante, acossado mas onde o encanto narcisista mantém o feitiço.
Ambas as críticas propõe, então, o mesmo caminho? É claro que não, mas ambas erram o alvo. Por mais corajosas que sejam as convicções de Benavente elas assentam na crença, infantil e fatal, de que o PS se convence por dentro, de que ainda é possível transformar esse partido, que docemente se entregou às soluções neoliberais e que assim se transformou na frente política de confiança da burguesia portuguesa, num partido defensor do povo da esquerda, dos serviços públicos e do valor do trabalho. É outro o caminho. Aceitar que a derrota do PS é o passo fundamental para a afirmação de uma esquerda grande e fiel à luta social é colher o que a história já nos disse há muito: que o PS está do outro lado da barricada. E que cabe, portanto, ao nosso lado impor essa derrota.
Já o PCP tem sido o coveiro de si mesmo, incapaz de aceitar a luta social fora da sua supervisão e insistindo em manter os cânones de um revivalismo enclausurador onde a conquista do poder é mais verbo que acção. Está certo que é o resultado de uma derrota interna e D.Lopes assinala-o. Mas um PCP estático e sem programa é a evidência da urgência de mudança na direcção de um partido que conserva em si tanta gente de esquerda. E ou bem que essa mudança vem de dentro do PCP ou não virá de todo.
De Manaus, li o seu texto e concordo consigo. Não é por dentro, não, que se muda o PS. Por isso é que eu escrevo e não vou a nenhuma secção do PS intervir. No entanto, isso não dispensa que não me dirija aos socialistas em primeiro lugar. Sei que há muitos que pensam como eu. Por outro lado, também sei o que seria necessário fazer, no Mundo, na Europa e no país. Continuemos o diálogo/debate democr+atico. Já é um bom passo.
ResponderEliminarContinuemos pois. No meu texto refiro-me, claro, à direcção do PS e aos "coveiros" que a Ana tão acertadamente identifica, uma esquerda grande e capaz de inverter a relação de forças actual terá necessariamente de contar com o apoio de muitos e muitas militantes do PS. Cá estaremos para a construir.
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