Na sua crónica de hoje no DN, Mário Soares cita o artigo de Moisés Naim intitulado “Adeus, Europa”. No passado domingo, escrevia Naim no El País “precisamos de mais Europa e não de menos Europa, mas não significa mais Bruxelas, mais burocracia, nem mais incompetência”.
Mário Soares concorda e eu também. O problema é que a Europa mais democrática e mais solidária que Soares reclama ao vento devia ser reclamada junto da sua própria família política: os partidos socialistas europeus. São raríssimos os momentos em que deu para distinguir entre os governos dos PS's e os dos PSD's CDS's da Europa. Os PSD's e os CDS's da Europa fazem parte da família política dos partidos populares europeus, que se caracterizam por ser populistas no discurso e neoliberais na prática.
Mas essa convergência das famílias políticas que governam a Europa, a que se juntam os liberais europeus, deve ser bem vista por Mário Soares. Deve ser. Não pode ser lida outra coisa nestas palavras: “Não esqueçamos que bastou uma simples conversa cordial, entre Sócrates e Passos Coelho, para que a Bolsa, antes muito conturbada, subisse e o ambiente europeu especulativo, contra nós se moderasse”.
Já eu nem percebo porque demoraram meia-hora a combinar que iam dizer em coro que a culpa desta crise é das desempregadas e dos desempregados. Já concordavam com esse discurso antes da dita “conversa cordial”. E nada daquilo tem a ver directamente com o défice. Aliás, ainda ontem, Helena André dizia que o resultado financeiro do que classificamos como “populista” é pouco relevante. Ou seja, as famílias políticas dos PS's e PPD's, cúmplices europeias do sistema financeiro mundial, culpadas de uma Europa muito pouco democrática e predadora dos serviços públicos, essas famílias de bem e de bens nada querem mudar nas condições que geraram a crise na vida das pessoas e na economia. Apenas querem apontar culpadas e pagadoras nas principais vítimas da crise: os imigrantes, as trabalhadoras e os desempregados.
Bem pode igualmente Soares querer atribuir as culpas políticas aos “partidos radicais, da Esquerda e da Direita”. Bem pode querer de forma paternalista dar conselhos aos tais radicais: “por mais que lhes custe, devem compreender que ou mudam de comportamentos ou se arriscam a perder cada vez mais os seus eleitorados...”. Soares devia antes preocupar-se com o crescimento da direita e extrema direita por toda a Europa. E devia preocupar-se igualmente por serem esses os aliados das coligações formais e informais dos PS's europeus.
Quanto aos ditos “radicais da Esquerda”, agradecemos mas dispensamos o conselho de conversão ao liberalismo: já existem partidos suficientes para a política liberal, preferimos dar a oportunidade às cidadãs e aos cidadão para escolherem a política socialista e o europeismo de esquerda.
Vocês dizem adeus a qualquer um. Eu já nem passo cartão a esse senhor...
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