4 de abril de 2010

Da Violência Divina na África do Sul ao Apartheid na Suécia

Era para escrever hoje, Domingo de Páscoa, sobre Teologia e Materialismo. Contudo a Comuna de Paris não espera pelo Capital, e julgo que a análise concreta da realidade concreta me obriga a falar de Apartheid.
O líder da extrema-direita sul-africana Eugène Terre'Blanche foi ontem espancado até à morte. Não sei se é o momento de falar de violência divina, mas a vale a pena chamar à atenção para os avanços da extrema-direita lá como cá.
O assassinato do líder da supremacia branca ocorreu na sequência [embora não esteja ainda provado o nexo de causalidade] de uma brica com dois empregados (um deles menor) por causa de salários não pagos. Parece que esta morte poderá ser aproveitada como mais um novo incêndio do Incêndio do Reichstag posto que o movimento da extrema-direita considera que este assassinato foi uma declaração de guerra.

1) Não é terrível pensar que o apartheid avança tanto na África do Sul … e na Suécia?

2) E alguém tem alguma coisa a dizer além de: ele era tão boa pessoa?

14 comentários:

  1. "O Movimento de Resistência Afrikaner (AWB), de Terre’Blanche, afirmou que vingaria o assassínio do seu líder carismático, mas também aconselhou os seus militantes a não actuarem antes de uma reunião que, no dia Primeiro de Maio, deverá determinar o futuro do grupo, cuja intenção tem vindo a ser a proclamação de uma república boer independente, um Boerestaat, como chegou a haver no século XIX, quando era clara a supremacia branca, não tendo os negros quaisquer direitos."
    Uma morte é sempre uma morte. De qualquer maneira, fico com alguma curiosidade sobre as condições dos supostos assassinos.

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  2. Post-scriptum: Sobre a parte do valor da vida e da morte, estou de acordo contigo, Nuno. Entrar em contabilidades de quem matou (ou quer matar)mais é ir pelo caminho errado.

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  3. Ridículo quê? A parte de esconder a persistência da discriminação das mulheres atrás da liberdade religiosa? Se sim, concordo. "Ah e tal, a minha cultura é bater na minha mulher e coisas parecidas". "Então e se for só as coisas parecidas?". E eu respondo: "Que tal termos a cultura que quisermos desde que não colida com os direitos das mulheres e coisas parecidas?" Não falo na proibição do véu nem estúpida proibição dos minaretes, que apenas excitam fascismos de ambas as partes. Falo de não haver apartheid na observação dos direitos e deveres universais.

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  4. Ora bem, ridículo, isso.
    O problema é que essas pequenas excitações dão força à demagogia e populismo mais fácil, e ao som disso, as alas conservadoras e a extra-direita especificamente, ganham ânimo.
    Não diminuindo obviamente a última parte que falas dos apartheids na observação dos direitos e deveres universais. Acho que não há qualquer ponto a acrescentar.
    De qualquer maneira, acho que são nas discussões sobre casos concretos que ilustram perfeitamente as visões e as perspectivas que os vários lados têm, que mais causa mudanças de opinião (de fundo). Não será certamente discutindo o materialismo dialéctico com o Zé da Esquina.
    São nestes casos que o conservadorismo cresce e a esquerda (a que não é conservadora) não tem grandes soluções para isso.

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  5. Bem visto, Nuno. O meu amigo, dito filósofo materialista dialéctico, Slavoj Zizek diz uma coisa curiosa: que a batalha política passa muito pela batalha pelo senso comum. Concordo contigo e com ele.

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  6. Amigos em comum. Passei 24 horas no aeroporto de Fiumicino em Roma a ler, entre outros, o Mao (On Practice and Contradiction). Vá, no mínimo, interessante!

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  7. Sobre a Suécia... Posso dizer que é um país que não discrimina culturalmente, uma vez, que residi lá 7 meses até Fevereiro do ano passado. Existiam muitos muçulmanos onde fiquei, uma cidade relativamente pequena chamada Linköeping e eram respeitados por toda a comunidade, tendo mesmo uma mesquita. Tive um colega meu no corredor onde residia que era muçulmano (os pais emigraram para a Suécia vindos do Bangladesh) e ele falava-me com entusiasmo do quão bem os muçulmanos eram tratados no país. Aliás no 1º dia de Universidade veio um padre falar, que se fosse preciso os estudantes estrangeiros entrarem em contacto com as respectivas congregações religiosas (e mencionou as islâmicas), ajudaria de bom grado. Creio que o facto de teres ido buscar a um site muçulmano esse artigo e o facto de o mesmo site aparentar ter um carácter pessoal (e de vitimização) põe-me a duvidar se foi assim que aconteceu. Obviamente pode haver algum caso excepcional, até porque um dos desenhadores das caricaturas que tanto ódio provocaram no mundo árabe era sueco (se bem que uma crítica válida ao perigo da religião muçulmana, obviamente que para mim, um ateu, também gostava de ver a mesma crítica feita a outras religiões, em vez de escolhermos quase sempre a mesma do bando mas infelizmente é a mais fanática). Obviamente que também concordo que se deva respeitar as crenças pessoais das pessoas (desde que estas não sejam completamente desvairadas e racistas como o Mormonismo). Se de facto o que aconteceu foi um simples recusar de aperto de mão E o homem INDICOU que fazia parte da sua crença então o senhor tem razão. Quanto ao Apartheid, concordo com o Nuno, uma morte é uma morte. Para mim como o momento em que vivemos é o único que temos, o castigo aos nossos erros, pequenos ou grandes, deve ser feito na nossa vida.

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  9. Para André Thomashausen, professor de Direito Internacional Comparado na Universidade da África do Sul, «o assassínio brutal e extremamente violento de Eugene Terreblanche insere-se num quadro de homicídios igualmente brutais e sistemáticos de brancos de origem Afrikaner proprietários de fazendas, com um saldo de cerca de quatro mil vítimas desde 1994».

    http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Desporto/Interior.aspx?content_id=1535936

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  10. 1 – É à escolha: notícia original do Jornal sueco em sueco http://www.dn.se/ledare/kolumner/belonad-apartheid-1.1044711
    ou de um jornal sueco em inglês http://www.thelocal.se/24862/20100208/

    2 - De acordo com Carlos Santos, não podemos aceitar que as religiões/culturas "justifiquem" atitudes racistas, mas podemos aceitar atitudes misóginas. (Seria mais ou menos isto: “A minha religião não me deixa apertar a mão a um preto ou olhá-lo nos olhos”. Isso é reprovável, mas se for a uma mulher está ok) Esclarecido e discordante.

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  11. Hein? Não... obviamente que todas as religiões tem algo contra as mulheres, seja a burca ou o: "Tu vieste da minha costela, logo és inferior a mim"... Não aceito nem atitudes racistas nem atitudes machistas nem homofóbicas (pá queres que eu elabore uma lista do que não aceito? sorry, my bad).
    Eu meramente me referia ao facto de na Suécia não haver (ou pelo menos acho) essa discriminação para com os muçulmanos ou outras religiões, agora dentro da religião deles (e de todas as outras) bem podes fazer uma listinha de atitudes misóginas absolutamente malévolas (por exemplo, 20 chicotadas por usarem calças de ganga no Sudão)...
    Penso que foi só um caso de má interpretação da tua parte ou um erro meu de acidental exclusão de partes no raciocínio...
    O artigo do jornal sueco de facto estava no fundo do 1º artigo e eu não reparei (sorry) mas agora que o li fico a pensar: tu referias-te ao facto de o homem ter sido discriminado pela sua religião ou ele é que teve uma atitude machista para com a mulher da empresa à conta da sua crença religiosa? Ou ambos os motivos? A mim pareceu-me que defendeste o facto de ele ter sido discriminado pela sua crença pois no artigo fala-se em motivações religiosas e não raciais.

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  12. Ok, expliquei-me mal possivelmente. Referia-me ao facto de se invocar a "liberdade religisa" contra a igualdade. Sou intolerante quer com a misoginia dum cristão, quer cm a misoginia de um muçilmano: sou contra o apartheid, portanto.

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