Na sua última edição o Expresso voltou a uma das especialidades desta casa: o caso Carlos Moedas. O
semanário questionou o Secretário de Estado Adjunto de Passos Coelho sobre a
escolha da NORFIN para a gestão do fundo do “Mercado Social de Arrendamento”. A
pergunta impõe-se quando se observa que o quadro de accionistas da NORFIN é uma
fotocópia do da ex-empresa liderada por Moedas – a Crimson Investment Management,
sociedade testa-de-ferro do Grupo Carlyle
em Portugal, que com a ascensão política meteórica de Moedas foi repassada à sua esposa, não fosse alguém pôr em causa o seu bom nome.
(crimson investment mangement)
(norfin)
O gabinete do governante respondeu dizendo que o
Secretário de Estado “conhece muito bem todas, mas todas, as empresas do sector
e manteve com todas relações profissionais”, ou seja, no reino de Moedas todos
são iguais, resta saber se Miguel Pais do Amaral, João Brion Sanches, Alexandre
Relvas, António Vilhena e Filipe de Button são mais iguais do que os outros. Para
não falar de Pelayo Primo de Rivera, que juntava a condição de accionista da
Crimson à qualidade de director executivo da NORFIN em Madrid.
Os encontros de Moedas
com estes cavaleiros alados da alta finança não começaram em 2008 (ano de
constituição da Crimson), uma vez que o Secretário de Estado já liderava ,desde
2004, a Aguirre Newman (onde ingressou
depois da sua passagem pelo Goldman Sachs) – uma das maiores consultoras da
área do imobiliário da Península Ibérica. Como o próprio gabinete de Moedas
afirmou quando questionado pelo Expresso sobre a sua ligação com João Brion
Sanches “posso dizer-lhe que se conheceram em 2004, já que o Dr. João Brion
Sanches faz parte do grupo de profissionais de relevo no mercado imobiliário em
Portugal”. Já dizia o Vinicius de Morais que a vida é a arte do encontro;
Moedas e Brion Sanches cultivaram essa arte por muito tempo.
Logo em 2005, Carlos Moedas
intermediou as negociações que valeram à NORFIN a gestão do fundo de 200
milhões de euros da Quinta da Trindade, no Seixal. Já em 2006, Carlos Moedas
representou o grupo Allianz na compra do “Edifício Entrecampos 28”, por 43,3
milhões de euros, o edifício pertencia ao fundo Vision Escritórios, gerido, claro, pela NORFIN. Este fundo esteve,
aliás, no centro da polémica do Freeport (que como se sabe foi comprado em 2007
pelo futuros patrões de Moedas, o Grupo Carlyle). A parceria continuou em 2007,
desta vez com a Aguirre Newman de Moedas a representar a própria NORFIN na venda
do “Edifício Tetra Pak”, em
Carnaxide, à Johnson Controls.
Mas esta história não
termina aqui. Quando em 2008 a NORFIN ameaçou privatizar o “Office Park Expo” –
o espaço que viria a ser ocupado pelo actual Campus da Justiça num negócio ruinoso para as contas do Estado –
foi a Aguirre Newman de Moedas a escolhida para intermediar o processo. Meses
depois Sócrates e Alberto Costa assinaram o contrato com a NORFIN e Carlos
Moedas rumou à Crimson, onde finalmente conseguiu consumar o acto nupcial com a
NORFIN. É sabido, contudo, que nos noivados de longa duração o leito sem mácula
tende a ser uma lembrança doce no coração dos adúlteros: Carlos Moedas rapidamente
se deixou arrebatar por um novo amor, o PSD de Passos Coelho, que o transformou
no troikaman de serviço.
O
embuste do “mercado social de arrendamento”.
A criação do chamado
mercado social de arrendamento, incluído que está no “programa de emergência
social”, representa uma oportunidade que “abre um novo nicho de mercado entre o
mercado livre de arrendamento e o da habitação social” – é deste modo que o
Ministério da Solidariedade e Segurança Social apresenta o programa,
acrescentando que entre os seus benefícios está a rentabilização “do crescente
património imobiliário que os bancos tem herdado”, traduzindo, dar vazão às
casas perdidas pelas famílias. Não é a toa que também as imobiliárias tenham
saudado a medida pois “tudo o que seja retirar imóveis ao mercado é positivo”.
À NORFIN
cabe gerir o fundo que seja capaz de criar este novo nicho, e não se pode queixar
pois ainda esta semana o Instituto da
Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), seu parceiro estatal no fundo,
anunciou o aumento das rendas sociais até 400%.
Tudo fica bem quando termina bem.
Tudo fica bem quando termina bem.
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