Artigo de Joana Mortágua no 12 de Março de 2011:
«Há dias em que vale a pena voltar a Brecht. Dizia ele no seu Diário de Trabalho de 1940 que “nos países democráticos não é revelado o carácter de violência que a economia tem; Nos países autoritários acontece o mesmo com o carácter económico da violência”.Das revoltas a que temos assistido no Norte de África e que tanto nos têm entusiasmado, qual...quer que seja o seu desfecho, podemos desde já retirar uma lição: a História não está do lado dos cínicos . As ditaduras que todos os cínicos dizem que são para sempre também caem, quando o povo ganha consciência e luta para as derrubar.
Compreender que as classes e os povos podem ter a História nas mãos, quando às condições objectivas da sua exploração juntam a subjectividade de uma consciência determinada, compreender isto é estar munido de um olhar transformador, instrumento fundamental para a conquista do futuro.
A actual geração de precários, a primeira condenada a viver pior do que a dos seus pais, dá hoje um passo determinado para a conquista do futuro, rebelando-se contra a violência da economia capitalista. Fá-lo em nome próprio mas também em nome de uma solidariedade mais ampla.
Esta não é uma luta entre gerações. Jovens precários, pensionistas pobres, desempregados de longa duração, trabalhadores rejeitados pelo mercado, todos sofrem da estrutura de humilhação sucessiva que começa nos mercados financeiros e termina na casa de cada um.
Hoje é dia de sair de casa. Há dias em que a humilhação se transforma em revolta e a censura popular contra uma economia traficante de escravos desce as avenidas da Liberdade.
Os cínicos bem podem querer condenar-nos a um mundo sem esperança. Roubam-nos a vida todos os dias e querem-nos consolados com a “sorte” de que “há alguém bem pior do que eu na TV”. Contra esse presente sem futuro, afirmamos que a História é nossa. Contra os cínicos e os exploradores, tomemos a História na mãos.»
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