O Duplo Movimento (Polanyi, 1944): momento #1) uma agenda política de emancipação da economia do controlo político – liberalizações, privatizações e independência legal das autoridades de regulação – que desincrustra o mercado do tecido social; momento #2) a sociedade reage intuitivamente para se proteger da desagregação produzida pela mercadorização extensiva da vida social, que destrói as relações sociais e destrói a natureza.
Joseph Stiglitz, sobre as políticas macroeconómicas liberais na Rússia, nos anos 90, após a intervenção do FMI:
“(…) Os empréstimos eram, na sua maioria, empréstimos
do sector privado feitos a privados; há uma forma convencional de lidar com situações em que os devedores não podem pagar o que devem: falência. A falência é um elemento central do capitalismo moderno. Mas o FMI disse ‘não’, que a falência seria uma violação da santidade dos contractos. Mas não tiveram qualquer pudor em violar um contracto ainda mais importante, o contracto social. Preferiram disponibilizar fundos aos governos para salvar os credores estrangeiros, que haviam falhado na sua actividade de concessão de crédito. Ao mesmo tempo, o FMI forçou políticas com custos enormes para inocentes, os trabalhadores e pequenas empresas sem qualquer papel na crise.”
“(…) não só as políticas económicas contribuíram para uma ruptura de relações sociais antigas: a ruptura nas relações sociais teve efeitos económicos muito adversos.”
“A fuga maciça de capitais não foi surpreendente. Dada a ilegitimidade do processo de privatizações, não existia um consenso social por detrás dele. Aqueles que mantinham o seu dinheiro na Rússia tinham toda a legitimidade para temer perde-lo assim que um novo governo se instalasse. Mesmo sem estes problemas políticos, é óbvio porque é que um investidor racional preferiria colocar o seu dinheiro no florescente mercado accionista dos Estados Unidos, em vez de num país em verdadeira depressão.”
Prefácio a The Great Transformation, de Karl Polanyi [2001(1944)]
“Enquanto a economia laissez-faire foi o produto da acção deliberada do Estado, as restrições subsequentes ao laissez-faire iniciaram-se de forma espontânea. O laissez-faire foi planeado; o planeamento não. (…) [A] ideia de um mercado auto-regulável era utópica e o seu progresso foi obstruído pela autoprotecção realista da sociedade."
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