No mesmo documento em que admite uma recessão em 2011 (-1,4%) e a perda de 60 mil postos de trabalho nos próximos dois anos, o consenso da Almirante Reis recomenda mais austeridade ao país para sair da crise.
Não existe fundamento racional para o austeritarismo. As relações de causalidade são sempre complexas em economia, o facto de existir uma correlação entre A e C não significa que A tenha causado C , ou o contrário. Mas neste caso a relação é clara e inequívoca: Austeridade leva ao aprofundamento da Crise.
Ao corroer os salários e o emprego a austeridade não está a resolver nenhum dos problemas estruturais do país. O nosso problema de competitividade não está directamente relacionado com o equilíbrio das finanças públicas e muito menos com a evolução dos salários.
Para a determinação da competitividade concorrem outros custos (como a energia) e a adopção de uma moeda forte, excessivamente valorizada em relação ao escudo, que introduz um desequilíbrio na proporção entre transaccionáveis e não transaccionáveis produzidos. A dependência excessiva do sector não transaccionável tem ainda outra causa, senão a principal, que se prende com o continuo favorecimento por parte do Estado dos grandes grupos económicos portugueses que exploram estes sectores, muitos deles oferecidos a preço de saldo durante os processos de privatização nos anos 90.
É neste desequilíbrio que podemos encontrar uma das causas do nosso endividamento e fraco crescimento, não nos salários excessivos ou no défice orçamental. O Banco de Portugal deveria começar a olhar a identidade A = C.
Sem comentários:
Enviar um comentário