A maioria intelectual do regime tem estado incansável na defesa da estabilidade do país e no ataque à irresponsabilidade do Bloco. Da rádio à televisão, passando pela imprensa escrita, os espaços opinativos rechearam-se de aparente patriotismo e de defesa do status quo. Uma crise política é que não pode ser, dizem com toda a firmeza. É o que o país menos precisa, agoiram, lançando a ameaça de subida dos juros da dívida.
A menos que se substitua no dicionário o significado da palavra pelo seu antónimo, estabilidade é o que país não tem.
Caso contrário, a pobreza não seria endémica, as assimetrias sociais gritantes, o desemprego não estaria no campo dos recordes europeus, a precariedade na margem dos olímpicos, os serviços públicos a correrem para a meta do utilizador pagador e os apoios sociais a serem submetidos para um saudoso passado.
Em palavras curtas, este é o retrato de um Portugal afundado na estável inevitabilidade. Governado sob as pedras basilares do austeritarismo, por um clube minoritário, congela a vida de toda uma geração.
Portanto, a moção de censura é uma política de maioria, que rejeita o projecto das elites portuguesa e europeia, da austeridade, do retrocesso civilizacional e da pulverização da economia.
Como muitos jovens no país, eu frequento o Ensino Superior. Este foi sempre visto como um catalisador do país e um pólo agregador de esperança nacional. Pelo menos de retórica governamental ninguém pode apontador o dedo ao executivo.
No entanto, esta estabilidade política conseguiu - através de habilidosas jogadas administrativas (Decreto Lei 70/2010 e Normas Técnicas) – cortar em cerca de 30% o total das bolsas de estudos, reduzir o valor médio das mesmas e diminuir a acção social indirecta (direito a residência universitária, aumento do prato social e de todos os serviços sociais).
O resultado destas medidas, adaptadas à estabilidade, está mais que à vista: abandono do ensino superior aos milhares por razões económicas; constrangimentos generalizados; recurso ao endividamento para suportar os elevados custos dos estudos.
A política da encapotada estabilidade não traz nada além da incerteza, da intermitência social e do empobrecimento generalizado. Censurá-la, é abrir caminho para uma alternativa. Para o recentrar da palavra na sua verdadeira essência universal, desprivatizá-la de um núcleo restrito de apadrinhados.
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