Ainda não se falou aqui deste livro que conta, como os próprios autores assinalam, com o importante contributo de uma militante desta casa, a Mariana Mortágua. Os Donos de Portugal: Cem anos de poder económico (1910-2010), escrito por Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório, Francisco Louçã e Fernando Rosas é, além de uma análise lúcida sobre a formação, as estratégias e alguns dos percalços da burguesia portuguesa, um livro necessário.
É daquelas obras que num primeiro folhear rápido nos dá vontade de começar pelo fim, ou seja, pelo último e mais demolidor capítulo, “A recomposição da burguesia (1974-2010)”. O retrato de uma burguesia parasitária e acoitada pelo Estado, alicerçada em incessantes estratagemas e ardis pelo controlo e rentabilização segura do sector financeiro é apresentado de forma bastante clara. O verdadeiro pavor pelo investimento produtivo de risco presente nesta elite reflecte-se na busca por um poder político amigo, íntimo e prestativo. PSD e PS encontram no BES, BCP e BPN um aconchego seguro para os seus quadros. E o Cavaquismo, claro, aí aparece como a concentração de forças que derrubou os limites políticos para o ataque conjunto aos monopólios e serviços públicos, movimento continuado por Guterres, Barroso e Sócrates. Quem recuar e se concentrar nos primeiros capítulos poderá perceber que esta é uma elite que se forjou desde há muito, e tem nas suas origens um cruzamento (sexual e matrimonial) das principais famílias: os Champalimaud, Mello, Ulrich, Roquete, Espírito Santo, entre outras.
Não resisto a deixar aqui apenas 3 trajectórias, apresentadas no livro, de homens fortes da burguesia portuguesa:
Álvaro Barreto
1959-1968: Profabril, chefe de projectos
1969-1971: Lisnave (Mello), director administrativo
1971-1974: Setenave, administrador-delegado
1974-1978: Lisnave (nacionalizada), administrador-delegado
1978-1979: Ministro da Industria e Tecnologia do Governo Mota Pinto
1979: TAP, presidente
1980-1981: Ministro da Industria e Energia do Governo AD (pelo PSD)
1981: Ministro da Integração Europeia do Governo AD (pelo PSD)
1982-1983: Soporcel, Presidente CA
1983: Ministro do Comércio e Turismo do Governo do Bloco Central (pelo PSD)
1984-1990: Ministro da Agricultura dos Governos do Bloco Central e do PSD
1990-1997: Deputado
1990-2000: Plêiade CA não-executivo
1990-2002: Sonae, conselho consultivo
1990: Soporcel, presidente
1990: Somincor CA não executivo
1990-2007: Grupo Mello: Nutrinveste e Mellol (na Tabaqueira com Philip Morris) CA não-executivo
1990-2007: Portugália, Presidente AG
1990-2007: Tejo Energia, Presidente não-executivo
1990-2000: Cometna AG Presidente
1991-1997: Câmara de Comêrcio Luso-Britânica, Presidente
2002-2004: Deputado
2004-2005: Ministro de Estado da Economia e do Trabalho do Governo do PSD-CDS
2004-2006: Semapa (Queiroz Pereira) CA
2005-2007: Portucel e Soporcel CA
2007: BPP Privado Holding, conselho consultivo
2010: Integra a Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva às presidenciais de 2011. [acrescento meu]
Joaquim Ferreira do Amaral
1979: Secretário de Estado das Industrias Extractivas e Transformadoras do Governo AD (pelo PSD)
1981: Secretário de Estado da Integração Europeia do Governo AD (pelo PSD)
1982-1983: INDEP armamento (pública), vice-presidente, Instituto do Investimento Estrangeiro, vice-presidente; EDIG European Defense Industrial Group, vice-presidente.
1984-1985: Secretário de Estado do Turismo do Governo do Bloco Central (pelo PSD)
1984-1985: Ministro do Comércio e Turismo do Governo do Bloco Central (pelo PSD)
1985: Assembleia Municipal de Cascais, Presidente
1986: IFADAP, Presidente
1987-1990: Ministro do Comércio e Turismo do Governo PSD
1990-1995: Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações do Governo PSD
1991-1999: Deputado e membro do Conselho Superior de Defesa Nacional
1997-2001: Câmara Municipal de Lisboa, Vereador
2000: Candidato à Presidência da República
2001: Cimianto CA
2001: Deputado
2002-2005: Galp CA chairman
2005-2010: Lusoponte, Presidente
2006-2010: Semapa CA e comissão de auditoria
2009-2010: Consultor do Dresdner Bank, da Transdev transportes e da Lisboa Vista do Tejo.
2010: Integra a Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva às presidenciais de 2011. [acrescento meu]
Joaquim Pina Moura
1972- 1991: Militante do PCP [acrescento meu]
1976-1979: Dirigente da União dos Estudantes Comunistas (UEC) [acrescento meu]
1992: Docente universitário
1995-1997: Secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro do Governo PS
1997-1999: Ministro da Economia do Governo PS
1999-2007: Deputado
2004: CA BCP consultor do CA para a Energia
2004-2007: Galp CA
2004-2010: Iberdrola Portugal presidente
2007-2009: TVI MediaCapital chairman
2009: Pina Moura declara publicamente que o programa eleitoral do PSD para as Legislativas é mais “claro”, “divisor de águas” e “mais duro e focado” do que o programa apresentado pelo PS. [acrescento meu]
Já agora agradecer a boa publicidade no
ResponderEliminarhttp://diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=9739:os-donos-de-portugal&catid=42:laboraleconomia&Itemid=57