5 de novembro de 2010

Os novos rumos do dragão

O Bureau Político do Partido Comunista Chinês reuniu no passado dia 15 de Outubro, para iniciar a discussão das novas linhas orientadoras do Partido para os próximo cinco anos.

Apesar das teses ainda serem secretas, avizinham-se algumas alterações, que são essenciais para a China se solidificar como superpotência no cenário internacional e reduzir a sua dependência em relação ao exterior.

Após largos anos de crescimento económico essencialmente baseado na exploração intensiva da mão-de-obra barata e exportações a baixo custo, a nomenclatura chinesa parece estar fortemente inclinada em expandir socialmente os frutos desse mesmo crescimento.

O que passará pelo desenvolvimento de políticas de aumento do consumo e da procura interna, de forma a reduzir a sua dependência perante o exterior, e por outro lado aumentar o poder de compra da sociedade chinesa.

Destas intenções podem-se retirar várias ilações, existe a vontade em criar uma classe média forte no país, que é essencial para servir de tampão à crescente luta de classes, e desta forma prolongar a sobrevivência da via chinesa do capitalismo como a conhecemos. Economicamente isto também significa reduzir o ritmo do crescimento, uma vez que o valor do trabalho terá que aumentar e os investimentos em assistência e apoio social também.

A grande questão é, como é que a economia chinesa se vai comportar com esta alteração, caso ela se revele significativa? O mais certo, e o PCC sabe disso, é vir a existir um período de quebra da economia chinesa, enquanto o consumo interno não substitui uma provável perda da competitividade das exportações, fruto do aumento do custo do trabalho, em relação a outros países em vias de desenvolvimento onde a proletarização é superior.

Politicamente também se esperam mudanças. Há duas semanas, 23 ex-dirigentes dos PCC publicaram uma carta aberta onde reivindicaram reformas políticas no regime afirmando "Caso não seja reformado, irá morrer de morte natural”. Também o actual primeiro-ministro Wen Jiabao disse que até 2012 tudo faria para que se executassem reformas de abertura política no país. O mais curioso deste facto, é que estas mesmas declarações foram censuradas e não passaram na televisão estatal chinesa.

No entanto não se espera que estas mudanças sejam mais do que a necessidade do próprio sistema garantir a sua sobrevivência e a sua reprodução futura, de forma a não eclodir com as frinchas e as tensões que as suas contradições criam.

Por último, e para esclarecer as dúvidas ao candidato presidencial Francisco Lopes, a China continuará a aprofundar o seu capitalismo. A mais que certa ascensão de Xi Jinping, um adepto entusiasta da economia de mercado, a Presidente é um sinal claro disso.

Publicado na Comuna.Net

1 comentário:

  1. Bom post Fabian, continuas a ser uma mais-valia para o panorama da blogosfera portuguesa (tu e o Bruno de Góis, principais motivos de interesse no blog, sem desprimor por os restantes). Continua a escrever e mais regularmente se possível. O facto de alguns tanto de criticarem é a prova de que tens valor, pensas por ti mesmo e isso incomoda muita gente. Respect, mesmo que possa haver alturas em que não concorde com tudo o que dizes.

    Voltando ao post gostaria de deixar uma duvida/questão: como será que se irá adaptar o próprio estado chinês a um desenvolvimento de uma classe média e conseguinte crescimento do poder reivindicativo da população? Será o estado viável a médio-longo prazo, apesar do forte fulgor económico?

    Abraço e continua o bom trabalho

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