
Longe de se enquadrar no tipo de bandido nobre, como Robin Hood, Lampião é, ainda hoje, tema de polémica pelos seus feitos de mais de 20 anos de cangaço, onde a violência extrema para com líderes locais e mesmo para parcela dos camponeses nas inúmeras pilhagens de vilas e vilarejos no nordeste brasileiro se contrabalança com a imagem romântica de um cangaceiro de óculos, autor de poesias e exímio bordador. Entre criminoso cruel e sanguinário ou justiceiro social, líder das vítimas de um sistema opressor, Lampião foi conquistando o seu espaço na história e na imaginação colectiva de um país.
O tema do banditismo social foi magistralmente abordado por Eric Hobsbawm em Primitive Rebels: Studies in Archaic forms of Social Movements in the 19th and 20th centuries (1959) e Bandits (1969). Em ambas as obras Lampião e seu bando são alvo de referência, tornando-se a base da conceptualização proposta por Hobsbawm para o tipo de bandido Vingador. Um tipo de banditismo que atinge proporções políticas pela função que exerce na relação de forças sociais e pelo produto violento que é de um sistema de exploração, uma revolta dos debaixo que encontra no facão o seu instrumento de organização.
Se Lampião se enquadra de facto na conceptualização que inspirou é algo longe de alcançar consenso mas, como bem assinalou Hobsbawm, na historiografia do banditismo social importa também analisar o papel do mito nas formas de legitimação do Estado e consequentemente no seu senso de legalidade (ao próprio Lampião foi oferecido um período de legalidade em 1926 em troca do seu apoio no combate à Coluna Prestes). Como já se sabe, o passado também se conquista.
"Alguém aí tem resposta
ResponderEliminarPra pergunta que eu faço?
Lampião, rei do cangaço
Foi bandido ou foi herói?"
Carlos Araújo - Lampião moderno.