6 de agosto de 2010

Anti, Anti, Anticapitalistas! Anti, Anti...


Sim, é verdade. Eles eram mesmo revolucionários!
Não faziam ditados do Capital, não liam o Manifesto todos os dias antes de dormir...
No trabalho de rua que faziam, nos centros de emprego que visitavam logo de manhã cedo, pediam aos trabalhadores desempregados que olhassem para trás da fila imensa em que se encontravam e sentissem a força do exército industrial de reserva...
Da concentração capitalista, falavam de quando em vez, se bem que sem aquele capacete teórico antigo e massador...
Era sobretudo naquelas ocasiões em que era preciso dar a mão ao operário que abria o seu negócio, mas que não conseguia concorrer com o grande burguês do outro lado da rua.

Diziam sempre nos seus comícios: "O horizonte é de quem o conquistar com a sua luta e o mantiver com a sua esperança transformadora! Não está destinado a ninguém!".
Era um discurso que agradava às massas, fartas de sistemas ontologicamente perfeitos e que, ao mesmo tempo, as responsabilizava directamente na gestão da sua vida.

Na mobilização popular, na distribuição de propaganda, não negavam um panfleto, um jornal, àqueles que atravessavam a rua de fato e gravata... Agiam assim, porque não existiam vacinas de purificação ideológica na sua intervenção política.

Na fábrica e na escola, no escritório ou no pátio da faculdade, nos cafés, em casa com a família, não se limitavam ao cacique inócuo... Questionavam a situação actual, falavam do novo carro do patrão que os despedira umas semanas antes, da quebra do sigilo bancário para os miseráveis do RSI, até que no ar do ouvinte se desenhasse o cenho revolucionário da indignação!

Estes revolucionários não eram daqueles que gostavam de vomitar a palavra "Revolução" como se ela, por si só, constituísse um sémen social de transformação...
Falavam em condições objectivas e subjectivas, mas não naquele sentido de "dia glorioso para a classe operária".
E era assim, porque entendiam a Revolução não como um acto, mas como um processo ininterrupto de emancipação humana, mutável, relativo e incompleto, se bem que iniciado sob a forma de acto.
Por isso, para eles, Marx não era, nem o Jesus da Modernidade, nem o romancista perfeito do século XIX que enunciara um mundo perfeito, se bem que utópico...
É que, esse (outro) mundo, para além de possível, não era perfeito.

Se estes revolucionários fossem como os outros, esta estória terminaria com o assalto do poder das massas, ou melhor, da sua vanguarda a um palácio, a um largo, ou assim.
Seguir-se-ia depois a Revolução Mundial e quando se fosse virar para a página seguinte, surpreender-se-iam com o fim do livro .
Acontece que, os revolucionários que me escolheram para narrar a sua estória, querem ser mais do que meras personagens de uma história já de si entulhada delas.
São daqueles tipo, digamos, altruísta que quer passar a razão que julga ter a muitos mais (se bem que a todos nunca é possível)... Às vezes penso que fazem isso porque querem fazer das palavras massas e vanguarda sinónimos!
Chamam-lhe MDR: Momento de Democratização Revolucionária!

Eles lá sabem.

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