28 de junho de 2010

Notas sobre o Mundial de 2010 (4)


No jogo com a Espanha, Portugal deve jogar "olhos nos olhos", ainda que possa ter de servir-se, por vezes, de uns óculos, para atenuar a superioridade espanhola.

Qualquer ortodoxo dirá que a principal virtude de uma equipa é a sua coerência táctica, isto é, a definição e repetição, sem excepções, de uma determinada forma de jogar, independentemente do adversário. Dizem até que, na hipótese contrária, se revela pouca coragem. Tal estratégia é, de facto, eficaz em equipas como o Barcelona, o Brasil, a Argentina... Equipas que, por disporem dos melhores jogadores em todas as posições, podem encarar os respectivos adversário sem grandes cautelas, crendo sempre que a sua mais-valia individual, acabará por esconder as suas (pouquíssimas fraquezas)colectivas.

Isto para dizer que a Espanha tem, efectivamente, melhores jogadores que Portugal, tal como o Brasil tinha(e tem), e nem por isso tal impediu a selecção portuguesa de dispor das principais oportunidades de golo naquele jogo da fase de grupos. A estratégia para o jogo com a Espanha terá, obrigatoriamente, de ser semelhante à do jogo com o Brasil, ainda que com outros executantes. Se a estratégia for jogar "o nosso futebol e a Espanha o seu", decerto, se repetirá a goleada de Novembro de 2008 com o Brasil (6-2)

Assim, Portugal deverá jogar em 4-4-2 losango, apostando numa estratégia de aproveitamento dos erros espanhóis. Para tal, os três sectores da equipa(defesa, meio campo e ataque), deverão ocupar, aproximadamente um terço do campo ( entre os 15metros antes da linha de meio campo e 15 metros depois dessa linha), evitando espaços entre linhas e desposicionamentos suicidas.

A defesa, com a dupla de aço Bruno Alves e Ricardo Carvalho , acompanhada dos laterais Miguel e Fábio Coentrão, deverá evitar posicionar-se muito próxima da grande área, evitando, desta forma, problemas de maior.

No meio campo tudo se decidirá. Alinhar com 4 jogadores neste sector permite esconder eventuais fraquezas dos defesas laterais, assim os médios interiores saibam fazer as devidas compensações. A Pedro Mendes caberá o papel de equilíbrio e transição defesa - meio campo, servindo-se para tal da sua excelente qualidade de passe e capacidade de concentração. À frente dele, deverão jogar Raúl Meireles e Tiago, que para além das devidas compensações se deverão acompanhar de pressionar constantemente Xavi e Iniesta, os dois jogadores mais importantes de Espanha. Evitar que eles construam jogo, eis o seu objectivo sem bola. Com bola, deverão, sempre que possível auxiliar Deco (passado o amuo despropositado). De Deco se espera que seja Deco. Se não estiver interessado em sê-lo, poderá Simão ocupar o seu lugar, ainda que com funções diferentes.

Na frente Liedson, com a missão, não só de concretização, mas, fundamentalmente de desgaste dos defesas espanhóis. Se assim acontecer, poderá Ronaldo, jogando estratégicamente na sua retaguarda, livre, aparecer para fazer jus à sua capacidade de finalização. Jogando embora como um vagabundo em campo, Ronaldo deverá, tendencialmente, recair sobre o lado direito do ataque, aproveitando as fragilidades defensivas de Capdevila. Acresce que, a indefinição posicional de Ronaldo, poderá provocar desposicionamentos na defensiva espanhola, sempre preocupada com as investidas do capitão português.

Três palavras resumem as estratégia para este jogo: Concentração, Rigor e Paciência. Tal estratégia criará, decerto, desgaste a ambas as equipas. Se tal acontecer não faltarão alternativas no banco português que mantenham a forma de jogar (Pepe, Miguel Veloso, Hugo Almeida), ou até a alterem (Danny, Simão).

Mais uma coisa que nas outras fases finais não temos feito: nas bolas paradas defender zonalmente, né Filipinho?!

Depois desta nota, fiquem certos, daqui a 10 anos estou a treinar a Académica!

"Filosofia de Jogo"
"Há vezes em que o jogador vai isolado e pensa... Não me apetece marcar mais!"

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