15 de abril de 2010

temos que agradecer à Comissão Europeia o jeitinho!


O Estado Português, através do Instituto de Gestão do Crédito Público, colocou ontem 2000 milhões em obrigações do Tesouro no mercado. Apesar de a procura ter sido cerca do dobro em relação à oferta, o dia foi conturbado para o mercado de títulos da dívida Portuguesa e as yields (rendibilidade destes títulos, ou seja, taxa de juro) apresentaram a segunda maior subida do mundo.

O que é que isto quer dizer, porque é que assim foi e quais as consequências?!

Uma subida das taxas de juro da dívida pública significa que os investidores (ou especuladores) acham que há mais possibilidades de o Estado Portugues não conseguir cumprir os seus compromissos de pagamento, e portanto exigem um maior retorno que compense o risco assumido.
Este movimento nas taxas de juro acabou por se alastrar ontem aos Credit Default Swaps (seguros que os investidores fazem sobre os títulos da dívida), que também subiram de preço, para contentamento dos especuladores, o que contribuiu para agravar a sensação de risco por parte dos mercados.
Todo este alarido deveu-se às declarações da Comissão Europeia sobre a insuficiência das medidas previstas no PEC. Bruxelas exige diminuição dos custos do trabalho (contenção salarial), flexibilização da economia e do mercado de trabalho. Pede ainda a Portugal que aumente as receitas, diminua as despesas e que faça a economia crescer. Easy to say, hard to do.

Qual a ligação entre as taxas de juro da dívida e o PEC?!

A Comissão Europeia quer consolidação orçamental para conter os mercados e as taxas de juro das obrigações e por isso declara que temos que apertar o cinto. As declarações são contraproducentes por dois motivos:

1. As próprias declarações da Comissão fazem crer que o esforço não é suficiente e levam o mercado a exigir juros da dívida mais elevados, o que não ajuda a resolver o problema.
2. Exigir contenção salarial e corte nas despesas públicas provoca, normalmente, um efeito de contracção na economia, e não de crescimento.

Se combinarmos então juros da dívida cada vez mais altos, ou seja, mais encargos para o Estado para pagar essa dívida, com uma política de contracção económica, dificilmente atingiremos, quer a consolidação das contas públicas, quer a retoma da economia.

Até agora este PEC, e tudo o que a ele está associado, serviu apenas os interesses dos especuladores, da banca (que começa agora a apresentar resultados, bastante positivos por sinal) e do grande capital, a quem interessa um Estado e um classe trabalhadora com fraco poder de negociação.

2 comentários:

  1. Finalmente um artigo de Economia. Gostei! É preciso que alguém desmonte o discurso de uma eficiência que é só a eficiência ao serviço dos interesses de curto prazo dos exploradores.

    ResponderEliminar
  2. porreirìssimo pà! mas fora de sarcasmos; belo artigo andrea

    ResponderEliminar