
Podem tirar os Simpsons da luta mas não nunca vão tirar a luta aos Simpsons!
Roubada daqui, a propósito disto
Motivos diversos de gente diversa, da indignação de quem pergunta “porquê não tenho direito a subsídio desemprego se sempre trabalhei?” ou “adoeci e sou pago a recibos verdes, vou viver de ar?”, passando pela afirmação do direito à luta “ luto por mim, pelos meus filhos e pelos meus amigos” até à proposta concreta, “fim dos falsos recibos verdes”, “fim dos estágios não remunerados”. São testemunhos e propostas que falam entre si, comunicam e se completam, que apontam problemas: a precariedade, o desemprego, os salários baixos, a falta de apoios sociais, um sistema político carente de democracia e transparência.
O que a manifestação de 12 de Março mostrou e que estas folhas (muitas delas escritas ali mesmo, no calor emocional dos Aliados) vêm reforçar é que é na precariedade e no desemprego que se joga hoje o destino de um modelo social e económico, modelo que dita a vida das pessoas, pessoas que nesse dia tiveram uma voz a dizer sobre esse modelo. O 12 de Março inverteu a lógica própria da precariedade e do desemprego que é a individualização e a divisão dos trabalhadores, ganhar a rua foi, naquele dia, comungar e perceber uma identidade que nos é arrancada no trabalho, no ensino e na vida. Naquele dia ser precário e desempregado deixou de ser apenas a nossa realidade pessoal, do colega do lado ou do familiar, para passar a ser uma identidade colectiva e visível. A espera amarga no centro de emprego ou a pesquisa de emprego desesperançada e solitária transformou-se numa nítida sensação de partilha e união pela mudança.
Construir essa identidade é um primeiro passo. O segundo é organizar a indignação e confrontar quem dita as regras. Uma organização da diversidade de quem se encontra em pontos comuns, pontos para ir à luta pelo direito ao trabalho com direitos.
Três cadeias de televisão, da Alemanha, Áustria e Suíça, estão a rever e censurar capítulos da série Os Simpsons que têm alusões a acidentes nucleares. O lobby nuclear nem os desenhos animados respeita.frase do dia aqui
Caiu aquele que era o governo "de facto" PS/PSD/CDS, mas a governação austeritária persiste. Num golpe de salvação do que lhe sobra e para se safar, o PS voltou em força à tática da vitimização.
A esquerda parlamentar, por iniciativa do Bloco de Esquerda, censurou o Governo. Os sindicatos e comissões de trabalhadores de vários sectores, com muitas jornadas de luta, censuraram o Governo. E todas as gerações de um país precário, corporizadas em 300 mil a 400 mil pessoas nas ruas do 12 de Março, já tinham censurado o Governo e a governaçao falhada.
Todos os comentadores da direita e do centro gritavam que em nome de um qualquer "interesse nacional", não podia haver uma "crise política" que se juntasse à crise económica.
Falavam e falam de "interesse nacional" como se os interesses da maioria deste "país precário" não fossem diferentes e contrários, por exemplo (!), aos de uma certa minoria famílias portuguesas (Lima Mayer, Mello, Champalimaud, Espírito Santo, Pinto Basto, Bensaúde, Ulrich, Azevedo) a que se junta uma família angolana (a do presidente José Eduardo dos Santos). Os "donos de Portugal" não gostam nada dos incómodos que lhes causa a participação popular na democracia.
Queriam, em rigor, os tais comentadores, esconder o facto de que é a estabilidade da política austeritária (que serve aqueles poucos) que condena a esmagadora maioria do povo a vidas precárias e instáveis, a vidas em crise.
Também menino de boas famílias políticas, há muito vendidas ao liberalismo, o PS sabia para onde, com o forte apoio do PSD e do CDS, nos estava a levar. O PS sabia que de PEC em PEC era o FMI que ia entrando de assalto na casa de cada um e cada uma e não queria pagar sozinho os custos políticos dessa traição ao povo. Censurado à esquerda no parlamento, censurado nas ruas, querendo ou passar a factura aos companheiros de PECado (PSD e CDS) ou partilhá-la com eles, o PS só viu uma hipótese de se safar: desviar as atenções para um novo conflito interno no Bloco Central, para que o povo se "esqueça" que o conflito maior é entre o a política austeritária e os interesses do povo explorado.
Perante a queda do Governo, sabemos que todos os PECadores querem que a mudança seja para que tudo ficar na mesma, no mesmo caminho de lapidação da democracia e do roubo do salário em várias vertentes. E, também por isso, há muita gente de esquerda que hesita perante eleições por ter deixado condenar o seu pensamento e ação à inevitabilidade da alternância sem alternativa entre PS e PSD. Esses não queriam eleições por temer a vinda da direita. Mas é preciso sair da prisão dessa lógica miserável do melhorismo e do menos-mauismo. Uma esquerda de coragem e confiança, deve aprender com a luta popular e não ter medo de eleições.
É com essa coragem e essa determinação a esquerda vai continuar a lutar pelos interesses das trabalhadoras, dos precários, das imigrantes, dos estudantes, das pensionistas pobres e dos jovens a quem o futuro é roubado. É a hora da democracia, de devolver a palavra ao povo. É preciso chumbar a governacão falhada!
A Moody's saúda o PEC4 e a união de facto PS-PSD, mas corta o rating português de A1 para A3 e diz que a austeridade ainda não chega. Como boa madrinha, a Moody's declara também que ou o PS e o PSD assumem a relação e se casam ou é melhor vir o FMI.
A luta ideológica, quando feita por meras tentativas de decepar verdades, leva-nos obrigatoriamente ao caminho errado e o anelo de se provar um dogmatismo puro leva-nos à inflexibilidade de pensamento e à cegueira na argumentação. O 5 dias, na voz do Renato Teixeira, para obedecer à sua já ancestral tradição, pouco se preocupa com a verdade, com a difamação, com a falta de vergonha ou simplesmente com a forma vil e cobarde como tenta manchar imagens. Isto, claro, porque tudo serve para dizer que o Bloco de Esquerda é uma farsa. A argumentação é desnecessária, que o ódio é cego e a falta de vergonha também.
À mentira demagógica - e, diga-se de passagem, sem pés nem cabeça - publicada aqui, já o Fabian deixou a resposta da Marisa Matias e do Miguel Portas aqui.
Entretanto, o Renato vai continuar a dizer que somos maus, uma espécie de Lord Voldemort da política ou de um Dark Veder da ideologia. Se não disser que somos maus por ideias fantasiosas relativas à acção d@s eurodeputad@s, vai dizê-lo quando descobrir que o Francisco Louçã come cenouras ou que o Fernando Rosas gosta de nadar. Eu, entretanto, vou sair daqui antes que ele me venha chamar reaccionária por ter lido o Harry Potter.
Sob o título “BE vota a favor da intervenção da NATO na Líbia”, Renato Teixeira no blogue 5 dias decidiu promover uma infame campanha contra o Bloco de Esquerda através do ataque aos eurodeputados deste partido. Em situação normal nem comentaríamos. Mas como uma mentira mil vezes repetida faz o seu efeito, aqui vai:
1.
Na semana passada, Miguel Portas representou o grupo da Esquerda Unitária (GUE/NGL) nas negociações para uma resolução de compromisso sobre a Líbia e no debate em plenário.
Para quem não saiba, cada bancada apresenta a sua resolução e depois negoceia-se. Só se votam as resoluções de grupo se não existir compromisso ou este for chumbado. No caso da Líbia, o problema nem se punha: por razões diferentes, todas as bancadas procuraram um compromisso.
2.
A maioria dos grupos - conservadores, direita tradicional, liberais e verdes – queriam que a resolução defendesse explicitamente uma zona de exclusão aérea independentemente de um mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas e da especificação dos contornos dessa putativa decisão. Por outras palavras, existia uma razoável maioria no Parlamento Europeu para aprovar uma moção intervencionista a menos de 24 horas de um Conselho Europeu que iria decidir sobre o assunto. A importância desta Resolução decorria precisamente de poder ser usada como meio de pressão pelos governos que defendiam a intervenção.
3.
O GUE/NGL era o único grupo parlamentar com uma posição contrária à criação de uma zona de exclusão aérea. Os socialistas, por seu lado, encontravam-se divididos. Por isso propuseram uma redacção cautelosa: a zona de exclusão foi apresentada como “possibilidade” e não como “exigência” e subordinada a um objectivo estrito – “impedir o regime de atacar a população civil”. O parágrafo impunha ainda que esta eventual medida fosse “conforme com um mandato das Nações Unidas”, e que devia “assentar numa coordenação com a Liga Árabe e a União Africana (...) que deveriam conduzir os esforços internacionais”.
Entre esta posição – a que constou do compromisso final - e a defesa de uma intervenção militar da NATO, não é difícil descortinar as diferenças. A sério, é a que mede a distância entre a verdade e a calúnia; a brincar, é a que mede a fértil imaginação de alguém que acorda diariamente com uma única obsessão: “como é que eu, Renato, os vou tramar hoje”?
4.
Em face da concreta relação de forças na mesa de negociação, ou a esquerda se desinteressava do assunto – e o resultado mais do que provável seria um parágrafo imposto pelas forças mais à direita, neste caso com apoio dos verdes - ou procurava segurar e melhorar a versão proposta pelos socialistas.
Foi com pleno sentido das responsabilidades que o Miguel Portas optou pelo segundo caminho. O condicionamento da hipótese desejada pela maioria do Parlamento, sujeitando-a a um mandato do Conselho de Segurança, nada tinha de ingénuo. Com efeito, é público que a China, a Rússia e vários governos europeus preferem, de momento, a prudência à aventura.
Se a nossa preocupação fosse simplesmente ideológica e propagandística, o voto não apresentava dificuldade. Mas se o objectivo fosse, como foi, dificultar a instrumentalização do Parlamento em favor de uma operação de contornos mais do que imprecisos e decidida à margem das Nações Unidas, então a táctica que seguimos foi acertada.
5.
Esta decisão impunha, contudo, uma medida adicional obtida nas negociações – garantir uma votação electrónica separada para o parágrafo em questão. Com esta salvaguarda, a esquerda podia deixar bem clara a sua oposição à possibilidade de uma zona de exclusão aérea. Foi o que aconteceu. Ambos votámos contra esse parágrafo, aliás como a grande maioria da bancada. E foi porque o fizemos que pudemos, simultaneamente, dar um voto favorável a uma resolução que condicionava fortemente a possibilidade de uma medida desta natureza.
6.
Podíamos ficar por aqui, mas há mais duas ou três coisas que nos ocorre dizer em face da insultuosa campanha que está em curso. A primeira: o bloco não tem, nunca teve, uma posição de princípio contra intervenções de natureza militar sob mandato da ONU. Já as defendemos em situações de genocídio ou espiral de massacres. A segunda: uma das razões porque fomos contra a possibilidade de criação de uma zona de exclusão aérea é porque o parágrafo não esclarecia o que se queria dizer com isso. Com efeito, uma zona de exclusão aérea tradicional, aplicada a toda a Líbia, impõe, devido às dimensões do país, a destruição das posições anti-aéreas no terreno. Contra esta opção seremos sempre. Mas existe outra variante de “exclusão aérea”, reivindicada pelo levantamento popular armado e pela Liga Árabe: que a comunidade internacional impeça, por meios militares, qualquer tentativa de bombardeamento das cidades sublevadas pela força aérea do ditador. Se a situação se degradar e Kadafi optar pelo massacre da insurgência e das populações civis, esta possibilidade não deve ser posta de lado.
É que há momentos em que o pseudo-pacifismo de quem nunca foi pacifista se confunde perigosamente com a defesa do ditador. Esta atitude não é mais nem menos cínica do que a dos governos europeus que, debitando loas aos Direitos Humanos, apoiaram durante anos a clique de Kadafi. Sinceramente, para peditórios de cinismo é que já demos mesmo.