29 de janeiro de 2011

Resistir aos presságios da nossa morte


Era uma imagem desfocada, quase imperceptível, aquela que me chegava da noite eleitoral de 23 de Janeiro. A saliva dos chacais do regime, escorria pelas TV´s do país. Aquele era o dia pelo qual esperavam. As sondagens, esses audazes e inovadores tempos de antena de Cavaco Silva, trataram de consciencializar as presas, leia-se o eleitorado anti-Cavaco, da certeza da sua morte. Depois, no próprio dia das eleições e com a "abstenção forçada", todos pudemos sentir na pele o país do simplex.

Com os primeiros resultados divulgados, Marcelo Rebelo de Sousa e António Vitorino, acotovelavam-se para serem os primeiros a depositar a coroa de flores da pretensa morte política de Manuel Alegre e de toda a esquerda que ele humanizou. José Sócrates, que na sua declaração política dizia que "os portugueses preferiram a estabilidade", voluntariava-se para carregar o caixão durante o funeral. A ele se juntou, de pronto, Paulo Portas. De seguida, apareceu o clone político do Primeiro-Ministro, Silva Pereira, dizendo que o PS tinha apoiado Manuel Alegre, porque "não houve sinais de disponibilidade de qualquer outra figura relevante". Por fim, chegou com um sorriso de orelha a orelha, aquele que há 5 anos havia feito reserva para este evento: Mário Soares.

É verdade que a abstenção pode ajudar a explicar este resultado. No Açores, círculo eleitoral estratégico para as aspirações da candidatura de Manuel Alegre, a taxa de abstenção fixou-se nos 68%. Por outro lado, esta candidatura falhou nos grandes centros urbanos, Porto e Lisboa, onde obteve em média 20.88%. Fosse a abstenção nos Açores similar à média nacional e tivesse Manuel Alegre chegado aos 25% no Porto e Lisboa e a conversa pudesse ter sido outra. O problema, em meu entender, é todavia, mais profundo.

Há muito que Eduardo Lourenço nos diz que um dos problemas da esquerda, é o de acreditar no mito da sua maioria político-social. Segundo ele, a relação de forças em Portugal, é claramente desfavorável àquele espectro político. Como é óbvio, é o seu entendimento de quem é a esquerda, das forças que a compõem, que o fazem divergir dos propagandista daquele mito. Talvez com este resultado de Manuel Alegre, fosse tempo de reflectir sobre isso. Note-se, contudo, que não é pretensão de Manuel Alegre, muito menos minha, falar em nome de toda a esquerda. Há mais vida na Esquerda, para lá da candidatura de Manuel Alegre e ainda bem que é assim.

Quem, de facto, esteve com Manuel Alegre na rua e não a miná-la surrateitamente no seu interior, ou melhor, aqueles que apareceram nas arruadas, que andaram pelas juntas de freguesia a distribuir propaganda, mesmo na ausência do chinfrim mediático (das câmaras de televisão ou dos flashs), têm agora a responsabilidade de juntar forças para abrir aquele caixão, antes que a esperança que lá está depositada, pereça num qualquer crematório da SIC Notícias. Mas é bom que se relembre que tal só será possível, depurando o oportunismo eleitoral daqueles que se serviam de "canivetes para dar palmadinhas nas costa" de Manuel Alegre, num exercício cruel de cumprimento de calendário.

Acontece que, o dia 23 de Janeiro nos provou que só esta (s) Esquerda(s) não chega(m), para o que agora vivemos e para o que aí vem. Só uma plataforma das esquerdas ampla, popular, mas coerente, poderá ser o agente político de resistência a esta compilação de inevitabilidades socialmente destrutiva. Mas dizer isto, não é reavivar romântica e voluntaristicamente velhas teses de unidade, carregadas de pó histórico. O idealismo transformador que germina na Esquerda, é o oposto do oportunismo eleitoralista da Direita. Não é de frentes eleitorais que falo, portanto. É de um cordão humano plural que seja capaz de barrar e de resistir nas ruas, nas fábricas, nas escolas e faculdades, à entrada do FMI em Portugal, à austeridade selectiva que vem de uma Europa cada vez mais anti-democrática (e do governo português que, de joelhos, diz que sim), à liberalização dos despedimentos, ao aniquilamento do SNS, da escola pública, etc.

Resistir é, neste momento, a palavra da esquerda. Resistir à tentação de voltar a acreditar nas "3ª, 4ª, 5ªs vias que virão" por mais Segur(as) que elas se mostrem para nos proteger as Costa(s). Resistir ao sectarismo e ao purismo ideológico que ainda floresce em todos nós. Resistir à desilusão de uma derrota eleitoral e voltar a ser o insurgente do passado e "o nosso companheiro de viagem do futuro". É isso que pedimos a Manuel Alegre.

Invocar a palavra esperança, a propósito de um candidato ou de um partido tem o seu quê de sebastiânico. É um expediente sob a forma de trapo, de tanto usado que é. Só a luta e a resistência social, poderão voltar a fazer da Esquerda a "luz ao fundo do túnel", a esperança que já simbolizou, mas, por culpa própria, deixou de espelhar.

2 comentários:

  1. A saliva dos chacais do regime escorria pelas TV´s do país

    ALEGRE é menos chacal que os restantes?

    a esquerda gere melhor os bens públicos que as suas contrapartes?

    olhe que não olhe que não

    para receber 800mil euros de fundos
    vão-se desgastar 4milhões num edifício em obras no meio do Inverno

    com votos favoráveis da CDU BE e PS
    e provavelmente do PSD

    as moscas podem ter cores diferentes
    mas comem todos do mesmo

    e o caçador Simão com armas de caça a 2500 e 4000 euros a peça
    pode ter apenas uns milhões da sua parentela aristocrática

    e pode falar mais na defesa..de sei lá do que é este estado que de social sempre teve pouco

    é uma figura de regime tal como cavaco e soares
    nenhum é um santo

    pouco diferem dos políticos no mundo àrabe

    é uma res publica em que a manjedoura se democratizou a uns centos de milhares

    agora 4 ou 5.000.000 continuam ligeiramente melhor do que em 1974

    os filhos das mulheres que trabalhavam à jorna ou faziam greves nas fábricas
    vivem na mesma pobreza que as suas mães
    vivem em casas camarárias e poucos em barracas

    é a única diferença
    dantes não andava tanta gente na gandaia

    o lixo também tinha pouco para tirar

    GaNDAIA - rOMEU CORREIA

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  2. No worries babe! quando a direita apresentar a moçao de censura vais ter nova oportunidade pra ver a esquerda moderna e plurar que o Bloco eh, ao votar ao lado do governo...

    eh que ja tou memo a ver a conversa da burocracia bloquista:

    "barrar o assalto da direita ao governo"
    "impedir a vinda do FMI"
    etc., etc., etc.

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