20 de janeiro de 2012

Carta Aberta ao Deputado Duarte Marques

No seguimento da intervenção que o senhor proferiu no dia 20 de Dezembro de 2011, nós, cidadãos e cidadãs deste país, de diversas proveniências e idades, vimos por este meio solicitar-lhe que adopte a despudorada recomendação feita por diversos membros, partidários e apoiantes do seu governo e emigre.
Já nos bastam as dificuldades que as políticas governamentais nos colocam no dia-a-dia, o desemprego que enfrentamos, a vida precária que levamos, a dificuldade que temos em suportar os custos do ensino a todos os níveis.
Já nos basta a dor que sentimos sempre que vemos um dos nossos a partir para o estrangeiro porque o país, por vossa vontade, não o acolhe, não lhe dá emprego, não lhe dá oportunidades para prosseguir os estudos, quando transforma o ensino público em escola de elites e o mercado laboral em comércio de escravos.
Já nos basta ver o esforço incomensurável que os nossos pais, os nossos avós, os nossos tios, os nossos vizinhos, os nossos amigos, fazem para pagar as prestações das casas, para pagar a luz, o gás, a água, a alimentação, para manter os postos de trabalho, para manter osseus filhos a estudar, para sobreviver com o salário ou a pensão miserável que recebem.
Já nos basta viver numa precariedade impiedosa, ver os nossos projectos traídos e ter de adiar o futuro.
Por todas as razões enunciadas, por termos um “choque de realidade” (como disse o senhor) todos os dias, quando nos levantamos para trabalhar, quando procuramos emprego, quando lutamos quotidianamente para que as nossas vidas precárias não nos desanimem, quando vemos o desânimo na cara dos nossos pais, dos nossos avós, dos nossos vizinhos, dos nossos amigos, pedimos-lhe que emigre, porque não precisamos de que ninguém na casa da nossa democracia nos humilhe, desonre o esforço de todos os nossos antepassados e parentes e nos tente virar contra as gerações às quais tanto devemos, às gerações que enfrentaram a ditadura e a pobreza e construíram a democracia e os serviços públicos. Às gerações às quais também o senhor muito deve.

Reforçamos, com toda a nossa honestidade: emigre, demonstre o seu mérito no mercado laboral estrangeiro. Será poupado das atrocidades que as alterações laborais nos provocarão, que o senhor diz serem tão benéficas para nós.

Votos de uma boa viagem.

Sem mais,

Os melhores cumprimentos,

Todas as pessoas que querem ter oportunidades neste país sem terem de ouvir os seus familiares a serem humilhados.

Ana Bárbara Pedrosa, Escritora

Ana Beatriz Rodrigues, Jornalista

Catarina Rodrigues Doutoranda (emigrante)

Cláudio Gaspar, Biólogo

Fabian Figueiredo, Sociólogo

Hugo Ferreira, Jurista

Inês Santos, Estudante

João Manso, Químico

Joaquim Rodrigues Administrativo

Laura Diogo, Estudante

Luís Miguel, Estudante

Mª Hermínia Dias Professora aposentada,

Maria Helena Dias Loureiro, Professora

Miguel Pacheco, Técnico de Digitalização

Paula Santos, Estudante

Raquel Misarela Conservadora Restauradora

Rita Andrade, Estudante

Rita Morgada Lemos, Psicóloga

Sandra Camilo, Estudante

2 comentários:

  1. As verdades que eles não aceitam e com que nos bombardeiam sem piedade, num gozo de impiedade e de um cinismo atroz.

    Deviam pô-los a todos a pão e água até morrerem ressequidos...........

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  2. E já agora, já que esteve tão mal no que disse, podia fazer um pedido de desculpa a todos nós. Acho que não é uma ideia muito descabida depois de ter desrespeitado a maioria da população do país que governa.

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